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Análise do processo de aprendizagem na performance do salto em atletas de futebol da categoria infantil
Analysis of the process of learning in the performance of the jump in athletes of soccer of infantil category

   
1. Faculdade de Educação Física - Universidade Estadual de Campinas
2. Departamento de Educação Física - Universidade Federal de São Carlos
3. Associação Atlética Ponte Preta
4. GEPEMENE -Grupo de Estudo e Pesquisa em Metabolismo, Nutrição e Exercício
5. NEPEF- Núcleo de Estudos em Formação Profissional (UNESP-RC)
6. Grupo de Estudos dos Fundamentos Metodológicos do Treinamento Desportivo
 
 
Nelson Prudêncio1,2
Carlos Eduardo Bassi1,3
Alexandre Janotta Drigo1,5,6
Claudinei Ferreira dos Santos1,4
Antônio Carlos de Moraes1

acmoraes@fef.unicamp.br
(Brasil)
 

 

 

 

 
Resumo
    Este estudo teve como objetivo verificar se a instrução melhora o rendimento do salto, e o efeito desta instrução em um teste posterior. Fizeram parte da amostra 20 atletas de futebol pertencentes à categoria infantil (14 anos), divididos aleatoriamente em 2 grupos (N=10), Grupo 1 (G1) e Grupo 2 (G2). As instruções foram dadas por um único instrutor de acordo com o "princípio de utilização das articulações e ordem de execução". Foi utilizado o teste de salto contra movimento com auxílio dos braços (CMJA), tendo como instrumento de avaliação a plataforma de contato e software Jump Test. No momento 1 (M1), somente G1 recebeu instruções em relação a correta técnica de salto. No momento M2, somente o G2 recebeu instruções. Em relação a média da altura dos 3 saltos e velocidade do salto só houve diferença significativa entre os grupos no M1, a favor do G1. Quando a comparação foi feita entre os momentos, somente o G2 aumentou significativamente a variável média da altura e velocidade do salto (p<0,05). Vale ressaltar que os resultados do grupo 1 no M2 (sem orientação), foram superiores significativamente em relação aos resultados do grupo 2 no M1 nas duas variáveis (p<0,05), evidenciando o efeito positivo da orientação na performance do salto. De acordo com os resultados podemos concluir que apenas uma orientação possibilitou a melhora de desempenho no CMJA e a instrução inicial foi suficiente para que os dados avaliados se mantiverem no M2.
    Unitermos: Aprendizagem. Saltos. Futebol.
 
Abstract
    This study had as objective verifies the instruction it improves the income of the jump, and the effect of this instruction in a subsequent test. They were part of the sample 20 soccer athletes belonging to the infantile category (14 years), divided randomly in 2 groups (N=10), Group 1 (G1) and Group 2 (G2). The instructions were given by a single instructor in agreement with the "beginning of use of the articulations and execution" order. The jump test was used against movement with aid of the arms (CMJA), tends as evaluation instrument the contact platform and software Jump Test. In the moment 1 (M1), only G1 received instructions in relation to correct jump technique. In the moment M2, only the G2 received instructions. In relation to average of the height of the 3 jumps and speed of the jump there was only significant difference among the groups in M1, in favor of G1. When the comparison was made among the moments, only the G2 increased the medium variable of the height and speed of the jump significantly (p <0,05). it is Worth to stand out that the results of the group 1 in M2 (without orientation), they were superior significantly in relation to the results of the group 2 in M1 in the two variables (p <0,05), evidencing the positive effect of the orientation in the performance of the jump. In agreement with the results we can conclude that just an orientation made possible the acting improvement in CMJA and the initial instruction was enough so that the appraised data if they maintain in M2.
    Keywords: Learning Jumps. Soccer.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 11 - N° 98 - Julio de 2006

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Introdução

    Atualmente as equipes de futebol têm buscado aperfeiçoar cada vez mais a qualidade do treinamento de seus atletas, iniciando este trabalho desde as chamadas categorias de base, formadas essencialmente por adolescentes.

    Dentro do treinamento realizado com categorias de base, Bunc & Psotta (2) mostraram a importância do estímulo das capacidades físicas dos garotos em competições oficiais, utilizando a preparação física concomitante com o trabalho específico das habilidades motoras relacionadas com o futebol. Uma das mais importantes habilidades motoras dessa prática é o salto, determinante em situações de jogadas aéreas em todas as regiões do campo.

    Para identificar resultados da preparação de atletas é necessária a mensuração utilizando-se testes motores. Esses testes visam diagnosticar uma ou várias características motoras relacionadas às atividades esportivas, através do rendimento de um movimento padronizado (4). Desta maneira Diallo et. al, (3) sugere o salto tipo countermovementjump (CMJ), como instrumento tanto na avaliação das capacidades físicas, quanto no programa de treinamento físico. Ainda sugere que este tipo de esforço resultou em uma significante melhora das capacidades físicas de jovens atletas de futebol.

    Tendo em vista a importância da realização deste tipo de atividade para a prática do esporte, devemos atentar para correta realização do salto, para que possamos corrigir uma possível realização incorreta deste, o que pode diminuir a performance física e predispor o jovem atleta à lesão (9, 5). Dentre as lesões relacionadas ao salto, a mais conhecida é a "Jumper's Knee" ou Joelho de Saltador, que segundo Andrade et. al., (1) é um processo inflamatório do tendão patelar na junção com o pólo inferior da patela, causado por microtraumas no tecido devido à ação excêntrica do quadríceps como ação desaceleradora no membro inferior. Apesar de no futebol o salto não ser realizado de maneira contínua, Romeo & Larson (11) encontraram incidência desta patologia no neste esporte.

    Devido ao jovem atleta estar passando por um período de constantes modificações estruturais, é comum apresentar um déficit da coordenação e uma estrutura músculo-esquelética imatura, fatores que tornam as articulações mais susceptíveis a patologias causadas por sobrecarga (5).

    Concomitantemente a essa observação ressalta-se a necessidade do conhecimento do processo de aprendizagem para que o salto seja realizado de maneira correta e conseqüentemente proporcionar uma melhora da performance. Segundo Maguil, (7) o processo de aprendizagem é uma alteração na capacidade da pessoa em desempenhar uma habilidade, que deve ser inferida como uma melhoria relativamente permanente no desempenho, devido a pratica ou à experiência.

    Em suma, o processo de aprendizagem da técnica correta do salto é importante tanto para o aumento da performance nesta habilidade motora, quanto para a prevenção de lesões decorrentes da sua má realização.

    Para o proposto de técnica correta de salto considerou nesse estudo a proposta de Verkhoshansky (13), onde o salto contra movimento instruído consistiria na execução de um salto tradicional em que nele a referida instrução se baseia na elevação consciente da extremidade proximal (região glútea) dos membros inferiores em apoio, entre o início da fase de projeção e completa extensão das articulações do quadril, joelho e tornozelo, de tal forma que a força de aceleração possa ser aplicada em uma menor unidade de tempo, possibilitando desta forma que a velocidade do centro de massa do corpo seja também elevada e acelerada como conseqüência da velocidade de encurtamento dos músculos extensores da perna, dada ao menor percurso à ser desenvolvido pelos ângulos articulares.


Objetivo

    Esse estudo tem como objetivo:

  • Verificar se a instrução para o salto possibilita melhora no rendimento de altura e permanência aérea do salto;

  • Verificar se o efeito da instrução se manteve em um teste posterior, refletindo a aprendizagem pela mesma.

  • Verificar, em relação à altura alcançada e permanência aérea, a habilidade de saltar de jovens futebolistas da categoria infantil;


Metodologia

Sujeitos

    Participaram do experimento 20 jovens atletas do time de futebol da Associação Atlética Ponte Preta, pertencentes a categoria infantil (14 anos) federados junto a FPF (Federação Paulista de Futebol). Foi obtido de todos os sujeitos termo de consentimento esclarecido e assinada pelos responsáveis pelos atletas. Os sujeitos foram divididos aleatoriamente em 2 grupos. O Grupo 1 (n=10) com média de peso 62,85±7,33 e estatura 174,95±8,63 e o Grupo 2 (n=10) com peso 61,80±3,14 e estatura 171,96±2,72. Não foi evidenciada diferenças significativas entre os grupos para o peso corporal e estatura, caracterizando a amostra como sendo homogênea.


Salto vertical

    Foi utilizado o teste de salto contra movimento com auxílio dos braços (CMJA), devido a utilização de todo segmento corporal durante a sua execução possibilitando a maior eficiência em relação à altura alcançada e tempo de permanência no ar, sendo também o salto que mais se aproxima com as características dos saltos realizados no futebol.

    Para a avaliação dos saltos foi utilizado como instrumento de coleta a plataforma de contato e o software Jump Test, que consiste num cronômetro digital com precisão de aproximadamente 0,001 segundos, ligado por um cabo a uma plataforma sensível. O cronômetro é acionado no momento em que os pés do sujeito deixam de contactar com a plataforma e é desligado no momento em que o contacto tem novamente lugar, após a fase de suspensão do salto. É registrado o tempo de vôo durante salto, sendo a altura atingida pelo centro de gravidade, isto é a altura do salto, calculada através da fórmula proposta por Komi & Bosco, (6). Os indivíduos realizaram 3 saltos e para análise foi considerada a média dos 3 saltos.


Instrução para o salto

    As instruções foram dadas para os grupos antes da entrada no laboratório de coletas de dados por um único instrutor com experiência em relação ao protocolo, de acordo com o "princípio de utilização das articulações e ordem de execução".


Delineamento experimental

    As coletas foram realizadas em dois momentos. No momento 1 (M1) o Grupo 1 (G1) recebeu instrução em relação a correta técnica de salto, enquanto o Grupo 2 (G2) realizou os saltos sem instrução. No momento 2 (M2), após 15 dias, o G1 realizou os saltos sem instrução enquanto o G2 realizou os saltos após receberem instrução.


Tratamento estatístico

    A análise descritiva e a estatística inferencial de todos os dados foram conduzidas no pacote STATISTICATM. Para a avaliação das mudanças que ocorreram entre os momentos dentro de cada grupo, o teste t de Student para amostras dependentes foi empregado. As variações dos valores da média dos 3 saltos observadas entre os momentos em cada grupo foram contrastadas pelo teste t de Student para amostras independentes e pareadas. O nível de significância adotado para todas as comparações foi de p<0,05.


Resultados

    Os resultados obtidos nos dois momentos para ambos os grupos são apresentados na tabela 1. Não foram evidenciadas diferenças significativas entre os grupos para o peso corporal e estatura, caracterizando a amostra como sendo homogênea. Em relação a média da altura dos 3 saltos e velocidade do salto só houve diferença significativa entre os grupos no M1, com os melhores resultados a favor do grupo 1.

    Quando a comparação foi feita entre os momentos, somente o grupo 2 apresentou modificações significativas nas variáveis média da altura dos 3 saltos e velocidade do salto, aumentando seus valores em relação ao M1.

Tabela 1. Desempenho no teste de salto vertical nos dois momentos do estudo.


1 Diferença estatisticamente significante entre os grupos no M1 (p<0,05)
2 Diferença estatisticamente significante entre os momentos (p<0,05)
3 Diferença estatisticamente significante em relação ao grupo 2 no M1 (p<0,05)

    Vale ressaltar que os resultados do grupo 1 no M2 (sem orientação), foram superiores significativamente em relação aos resultados do grupo 2 no M1 nas variáveis média da altura dos 3 saltos e velocidade do salto, evidenciando o efeito positivo da orientação na performance do salto.


Discussão

    O trabalho buscou isolar no salto, uma habilidade específica utilizada no futebol em jovens treinados e participantes regulares de torneios esportivos. O salto como percebemos em uma partida de futebol é amplamente utilizado, quer seja para a jogada de cabeceio, disputa de bola aérea, ou até mesmo para escapar de faltas, porém os dados coletados possibilitam a reflexão de quanto essa habilidade é trabalhada ou desenvolvida isoladamente. Para o estudo, a instrução mostrou-se efetiva quando comparamos os grupos e momentos, demonstrada pela diferença significativa existente entre os saltos instruídos quando comparados com os não instruídos (Grupo2, momento1). Esses dados podem sugerir a necessidade de um maior atenção para o trabalho com a aprendizagem da habilidade de saltar pelos profissionais que trabalham com a modalidade.

    Uma informação provocou mudanças em direção a aprendizagem nesse estudo, pois verificou uma melhora nas performances avaliadas e essas melhoras puderam ser observadas e mantidas no momento de reteste. Seria interessante também ressaltar a necessidade de acompanhamento do grupo de atletas para verificar a manutenção dessas mudanças e sua permanência para ser considerada efetivamente como um processo de aprendizagem, ou seja, torne-se permanente no esquema motor do participante (7).

    Temos também como sugestão para estudos posteriores indicar duas limitações do protocolo empregado. A primeira refere-se sobre a necessidade de um acompanhamento de estudo biomecânico e cinesiológico para verificar a dinâmica do salto em relação a seu desenvolvimento e, também refletir sobre a possibilidade de transferência dessa habilidade para a realidade de jogo.

    Sendo assim, os dados emergem para a necessidade do ensino da técnica correta do salto às categorias de base. Uma maneira a ser considerada é o ensino da aplicação do princípio de "utilização das articulações e ordem de conexão". Neste princípio pode-se dizer que quanto maior o número de articulações envolvidas na realização de um movimento, maior será a força aplicada ao mesmo (13). Contudo uma seqüência rítmica, sem interrupções deve ser utilizada. As articulações que se encontram próximo ao centro do corpo e que são sustentadas por grandes grupos musculares devem entrar em ação antes das articulações suportadas por pequenos grupos musculares que se encontram nas extremidades dos membros inferiores de forma a poder acelerar o corpo tão rápido quanto possível.

    Tendo essas possibilidades de execução dessas habilidades, pode-se esperar como resultado a diminuição de processos lesivos freqüentemente observados por atletas futebolistas. No caso específico da faixa etária de sujeitos desse estudo, Reider (10) identifica um comum aparecimento de patologias do aparelho extensor como a Tendinite Patelar e a Epífisite Tibial, conhecida como patologia de "Osgood-Schlater". Vê-se então a possibilidade de uma melhor dinâmica do salto com a utilização não apenas de articulações isoladas, mas a coordenação otimizada entre as do tornozelo, joelho e quadril, como possibilidade de redução da incidência de lesões e a utilização dos braços como melhoria da propulsão. Conhecendo o trabalho de Stefanyshyn & Nigg (12), o qual apresentam os seus resultados e de outros trabalhos da literatura, comprovando o aumento da energia absorvida durante o salto nas articulações metatarsofalangianas, no tornozelo, no joelho e no quadril, possibilitando verificar que através da correta instrução e da execução correta do gesto, podemos prevenir as lesões relacionadas a este tipo de atividade (5, 9).

    Como sugestão, o trabalho de Pääsuke et. al. (8) afirma que o treinamento pliométrico tem importante influência em várias modalidades esportivas que utilizam predominantemente os membros inferiores. Sua justificativa é que através da adaptação neural e conseqüentemente um aumento da ativação e sincronização das unidades motoras, ocorre um ganho de força e potência destes grupos musculares com o processo de treinamento.


Conclusões

     De acordo com os resultados, podemos refletir sobre alguns apontamentos que se apresentaram no estudo:

  • A necessidade de dar maior ênfase na aprendizagem de habilidades pertencentes ao futebol;

  • Os dados mostraram que não houve preocupação prévia ao estudo com a aprendizagem do salto;

  • Apenas uma informação (orientação) possibilitou a melhora de desempenho para a altura e tempo de vôo;

  • A instrução inicial foi suficiente para que os dados avaliados se mantiverem no reteste;

  • Sugere que estudos biomecânicos e cinesiológicos sejam elaborados para a melhor compreensão do salto em relação a eficiência do movimento e conseqüentemente diminuir a incidência de lesões.


Bibliografia

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  • VERKHOSHANSKY, I. V. Treinamento desportivo teoria e metodologia. Porto Alegre: Artmed, 2001. 19-29.

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