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Efeitos do 'Programa Melhor Idade Brasil Telecom' de condicionamento físico sobre a força dos
membros inferiores de praticantes idosos

   
Faculdade de Educação Física
Universidade de Brasília
(Brasil)
 
 
Profa. Dra. Marisete Peralta Safons
Prof. Ms. Marcio de Moura Pereira
Prof. Esp. José Francisco Alves Rodrigues

mari7@unb.br
 

 

 

http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 11 - N° 98 - Julio de 2006

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I. Introdução

    Dentre as características típicas do processo de envelhecimento, três destacam-se por correlacionarem-se fortemente com o aumento na incidência de quedas em idosos: as perdas musculares, as perdas neuro-sensoriais, as doenças e drogas prescritas para os males prevalentes nesta idade (RAY & GRIFFIN, 1990; BAUMGARTNER et al., 1998; KENNY, O'SHEA & WALKER, 2002). Destas três características, as perdas musculares têm sido referidas como uma das mais facilmente modificáveis e cujos incrementos, por menores que sejam, são capazes de melhorar a estabilidade postural e reduzir significativamente os eventos de quedas (CAMPBELL et al., 1997).

    As perdas tanto de força quanto de massa muscular ocorrem naturalmente com o passar da idade. A força muscular diminui a uma taxa de 15% por década entre os 60 e 80 anos e 30% por década a partir dos 80 anos, enquanto que a massa muscular aos 90 anos chega a diminuir até 50% em relação aos valores do indivíduo jovem (LARSON, 1978; MURRAY et al., 1985; HARRIES & BASSEY, 1990).

    A fraqueza muscular pode diminuir a capacidade para realizar as atividades da vida diária, levando o idoso à dependência. Além disso, quando se perde força nos membros inferiores, aumenta-se o risco de traumas em conseqüência das quedas (BAUMGARTNER et al., 1998). Por outro lado, a prática regular de exercício físico tem sido citada como importante fator para a redução de quedas (JARNLO, 1991; JUDGE et al., 1993; LORD et al., 1995; WOLF et al., 1996).

    Correlações positivas entre melhoras na força muscular dos membros inferiores e nas capacidades funcionais, já estão bem estabelecidas (ANIANSSON, GRIMBY & RUNDGREN, 1980; LANKHORST, VAN DER STADT & VAN DER KORST, 1985).

    Para que haja longevidade com qualidade de vida, manutenção da capacidade funcional e da autonomia é necessário que os indivíduos idosos estejam envolvidos em programas com abordagem multidisciplinar, com destaque para a atividade física e exercício, com intuito de prevenir e minimizar os efeitos deletérios do envelhecimento. (MATSUDO, MATSUDO & BARROS NETO, 2000).

    Entretanto, os estudos são reticentes quanto à contribuição específica dos diferentes programas de atividade física oferecidos aos idosos para o aumento da força nos membros inferiores.


II. Objetivo

    Avaliar os efeitos do "Programa Melhor Idade Brasiltelecom" de condicionamento físico sobre a força dos membros inferiores de praticantes idosos.


III. Justificativa e relevância

    A prevalência de quedas é alta nas pessoas acima dos 65 anos de idade: aproximadamente 30% sofrem pelo menos uma queda por ano e essa taxa sobe para 50% naquelas acima dos 80 anos. Sabe-se também que as quedas representam 40% dos atendimentos de idosos nos hospitais, sendo comuns os traumas das mais diversas gravidades em, no mínimo, 30% destes atendimentos (MEANS, O'SULLIVAN & RODEL, 2000; CLOSE, 2001). Um dado estatístico preocupante é que 50% dos pacientes hospitalizados em decorrência de quedas morrem em menos de um ano após o evento, enquanto que os sobreviventes apresentam um quadro psicológico denominado "síndrome pós-queda", caracterizado pelo medo de cair, que os leva à hipocinesia, à perda de autonomia e, finalmente, à dependência física, psicológica e econômica, com relação à família e à sociedade (MAZZEO et al., 1998; CASTILHO, 2002). Como, dentre os fatores responsáveis pelos eventos de queda, a diminuição da força muscular nos membros inferiores aumenta, isoladamente, em seis vezes o risco de queda em idosos (GUIMARÃES, 1999) e como o exercício físico tem-se mostrado eficiente na prevenção de quedas (CAMPBELL et al., 1997), fazem-se necessários estudos que elucidem questões relativas às alterações causadas pela prática de diferentes programas de atividade física sobre a fisiologia do idoso que justifiquem tal achado, mormente no que tange às alterações relativas à força da musculatura dos membros inferiores.


IV. Revisão de literatura

4.1. Envelhecimento e força muscular

    No Brasil, os idosos representam 8,5% do total da população. Caso sejam mantidas as taxas atuais de crescimento, é bem provável que até 2025 o país contabilize aproximadamente um quinto de sua população no grupo dos idosos. Isso gera demandas para os Sistemas de Saúde e Previdenciário e também para toda a sociedade, dadas as características e necessidades especiais desse segmento, mormente no que tange à atividade física (OLIVEIRA, 2002).

    Além das perdas sociais e cognitivas, ao envelhecimento está associada uma série de outras perdas nos níveis antropométricos, neuromotores e metabólicos, capazes de comprometer seriamente a qualidade de vida do indivíduo idoso (MAZZEO et al., 1998).

    Os efeitos dessas perdas começam a ser notados a partir dos 50 anos de idade, ocorrendo a uma taxa aproximada de 1% ao ano para a maior parte das variáveis da aptidão física. Na antropometria detecta-se aumento do peso corporal, diminuição da estatura e aumento da gordura corporal, em detrimento da massa muscular e da massa óssea. O envelhecimento é também acompanhado de menor desempenho neuromotor, explicado pela diminuição no número e no tamanho das fibras musculares, levando a uma perda gradativa da força muscular. Quanto às variáveis metabólicas, o principal efeito deletério é sobre a potência aeróbia que diminui aproximadamente 1% ao ano, mesmo nos idosos ativos (MATSUDO, MATSUDO & BARROS NETO, 2000).

    Apesar disso, o envelhecimento é também um processo natural que pode ocorrer de maneira saudável, e com menores perdas, se algumas alterações no estilo de vida forem introduzidas. Dentre os hábitos a serem adquiridos, a participação em atividade física regular desempenha importante papel. Já está estabelecido que a maior parte dos efeitos negativos atribuídos ao envelhecimento deve-se, na verdade, ao sedentarismo, que leva ao desuso das funções fisiológicas por imobilidade e má adaptação, e não devido ao avançar dos anos, nem ao desenvolvimento das doenças crônicas prevalentes neste grupo etário (OLIVEIRA et al., 2001).

    Entre os estudiosos do envelhecimento humano há consenso quanto ao fato de que a força muscular diminui com o avançar da idade e, também, quanto ao fato de que esta redução da força está diretamente relacionada ao processo de sarcopenia, caracterizado por perda progressiva de massa muscular, observada tanto do ponto de vista quantitativo quanto qualitativo. Este fenômeno, além de fazer com que o idoso chegue aos 90 anos com metade da massa muscular da juventude, está ligado à maior incidência de doenças crônicas como o diabetes e a osteoporose, aos distúrbios do equilíbrio e da marcha e, também, ao aumento de quedas (MAZZEO et al., 1998; MATSUDO, MATSUDO & BARROS NETO, 2000; CASTILHO, 2002).

    Em idosos, a fraqueza muscular pode diminuir a capacidade para realizar as atividades da vida diária, levando-os à perda de autonomia e conseqüente dependência. Quando a perda de força nos membros inferiores torna-se importante, principalmente na musculatura do quadríceps, aumenta em até 6 vezes o risco de lesões em razão das quedas que são a sexta principal causa de morte entre indivíduos acima de 65 anos (GRYFRE, AMIES & ASHLEY, 1977; RUBENSTEIN et al., 1988; BAUMGARTNER et al., 1998; GUIMARÃES, 1999).


4.2. Exercício físico e força muscular

    Se, por um lado o avançar da idade favorece a sarcopenia e a redução na força, por outro verifica-se que a atividade física pode contribuir diretamente para a manutenção e para o incremento das funções do aparelho locomotor, amenizando os efeitos do sedentarismo, do desuso, da imobilidade, da má adaptação e das doenças crônicas (SINGH, 2002).

    Melhora no condicionamento físico e redução das quedas em idosos tem sido relatada como resultado da prática de exercícios físicos tais como caminhada, dança, musculação, ginástica, alongamento, ioga, Tai Chi Chuan, dentre outras (JARNLO, 1991; JAIN et al., 1993; JUDGE, 1993; LORD et al, 1995; WOLFSON et al., 1996; WOLF et al., 1996; GIMBEL, 1998; KAMEI et al.,2000; ROBERTSON et al., 2001).

    O trabalho resistido é indicado para o condicionamento físico de idosos, sendo apontado como uma das atividades de maior aderência para essa faixa etária, sendo capaz de promover incremento na força muscular, potência aeróbia, equilíbrio e massa magra, assim como redução de quedas e adequação da composição corporal (WOLINSKY & FITZGERALD, 1994; RABELO, 2002).

    Já se sabe também que a prática regular do Tai Chi Chuan, um exercício físico de intensidade moderada que também desperta alto grau de interesse nos idosos, pode produzir efeitos benéficos nesta população, reduzindo a progressão das perdas relacionadas ao envelhecimento (LAI et al., 1995).

    BLAIR & GARCIA (1996) afirmam que o Tai Chi Chuan é uma modalidade capaz de manter força muscular, potência aeróbia e equilíbrio de indivíduos idosos. WOLF et al. (1997) e FEDER et al. (2000) sugerem possível redução de quedas com a prática desta modalidade.

    Estudando mulheres de meia idade portadoras de artrite nos joelhos, situação que leva a perdas musculares semelhantes à dos idosos, inclusive com aumento do risco de quedas, GÜR & ÇAKIN (2003) afirmam que os ganhos na estabilidade obtidos pelo fortalecimento dos membros inferiores devem-se aos incrementos simultâneos tanto na musculatura extensora quanto flexora do joelho.

    Correlações positivas entre melhoras na força muscular dos membros inferiores e aumento nas capacidades funcionais já estão bem estabelecidas (ANIANSSON, GRIMBY & RUNDGREN, 1980; LANKHORST, VAN DER STADT & VAN DER KORST, 1985).


4.3. Programas de exercício e redução de quedas em idosos

    A literatura científica traz consigo uma gama de estudos que comprovam os benefícios da atividade física para a população idosa. Verifica-se que a atividade física pode contribuir diretamente na redução dos déficits motores e sensoriais (psicomotores), bem como amenizar os efeitos das medicações a partir das mudanças fisiológicas geradas pelo exercício uma vez que, segundo KURODA e ISRAELL (1988), a maior parte dos efeitos atribuídos ao envelhecimento deve-se na verdade ao desuso das funções fisiológicas, por imobilidade e má adaptação e não devido às doenças crônicas.

    BLAIR et al. (1996) citam que existem no mínimo três componentes da aptidão física que são importantes para preservação das funções em indivíduos idosos: força muscular, potência aeróbica e equilíbrio.

    BLAIR et al. (1996) lembra que, embora o American College of Sports Medicine recomende atividades físicas leves a moderadas para otimizar a saúde e reduzir a freqüência de deterioração relacionada com a idade em numerosas funções fisiológicas, há casos em que o exercício de alta ou baixa intensidade pode ser necessário para gerar adaptações no sistema cardiovascular e nos fatores de risco cardiovascular

    NAHAS (2003) sugere que, para a promoção da atividade física entre idosos, um programa de exercícios deve incluir atividades individuais e em grupos, com a associação de vários tipos de atividade física, de maneira a atender as necessidades de flexibilidade, relaxamento, capacidade aeróbia, força, lazer, sucesso no desempenho das atividades da vida diária e prevenção de doenças e quedas. As atividades devem ser moderadas e simples. E o programa também deve estar de acordo com as necessidades e expectativas do grupo, além de ser uma atividade prazerosa e regular (de preferência diária).

    É consenso nos estudos que a queda é um evento de causa multifatorial de alta complexidade terapêutica e de difícil prevenção. No entanto, a pobre estabilidade postural tem sido associada com quedas freqüentes (LORD et al. 1995), neste caso a melhora da estabilidade postural, por meio de atividade física específica é claramente um objetivo merecedor de atenção na prevenção de quedas.


V. Metodologia

5.1. População e amostra

    Após aprovação do projeto de pesquisa pelo Comitê de Ética em Pesquisa, foram realizados os procedimentos para seleção dos voluntários e início da intervenção.

    Os participantes caracterizaram-se como amostra de conveniência composta por 60 indivíduos idosos, de ambos os sexos, cadastradas no Programa Melhor Idade BrasilTelecom, da Parceria Universidade de Brasília/BrasilTelecom/GDF-Parque da Cidade, com idade entre 61 e 80 anos, divididas em 1 Grupo Controle (G1) e 2 Grupos Experimentais (G2, G3).

    A participação na pesquisa foi voluntária e o recrutamento se deu a partir de convite pessoal aos alunos do Programa e da comunidade para comporem, respectivamente, os grupos experimentais e grupo controle. A inscrição efetivou-se mediante assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (Anexo 1), após os voluntários serem informadas dos objetivos, procedimentos, possíveis riscos e benefícios do estudo, conforme orientação do Comitê de Ética em Pesquisa e da Resolução nº 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS), que contém as diretrizes e normas regulamentadoras para pesquisas envolvendo seres humanos. Foram, então, designados o dia e o local em que os voluntários deveriam apresentar-se para início do trabalho.

    Foram adotados como critérios de exclusão a presença de sintomas de doenças que comprometam a mobilidade e a força dos membros inferiores, no momento da avaliação, tais como as lesões do aparelho locomotor (tendinite, tenossinovite, artrose, etc.) e síndromes dolorosas (fibromialgia).


5.2. Procedimentos

    O procedimento experimental teve duração de 24 meses e o de coleta de dados teve duração de 2 semanas. Os dados necessários para a caracterização da amostra (sexo, idade), bem como os valores relativos à Força dos Membros Inferiores foram coletados durante a Avaliação Física e registrados em formulário próprio (Anexo 2). Todos os testes foram aplicados por avaliador treinado e experiente.

    O Programa de Treinamento foi desenvolvido no Parque da Cidade, nas proximidades do Bloco da Administração, em espaços abertos, nivelados e sombreados, com fácil acesso a banheiros, bebedouros e lanchonete. As aulas foram ministradas por professores formados em Educação Física, Especialistas em Fisiologia do Exercício e em Atividades Físicas Terapêuticas, experientes em ministrar aulas de Educação Física para Idosos.

    Tanto os protocolos de avaliação quanto a metodologia de treinamento foram selecionados com base em estudos anteriores que relataram baixo risco e segurança para o público alvo, com a utilização destes procedimentos (RIKLI, 2004; SAFONS & PEREIRA, 2004).


5.2.1. Avaliação da força dos membros inferiores

    A Força dos Músculos dos Membros Inferiores foi mensurada através do Teste de Sentar e Levantar de acordo com o protocolo sugerido por RIKLI e JONES (1999), considerado seguro para a mensuração de idosos.


5.2.2.1. Protocolo

    O teste consiste em: Sentar e Levantar no banco de 43 cm do Circuito do Idoso. O indivíduo deve ficar totalmente em pé e retornar a uma posição completamente sentado. O avaliado é encorajado a realizar o maior número possível de movimentos completos em 30 segundos.


5.2.4. Programa de exercício

    O Programa de Treinamento foi desenvolvido durante 24 meses, na forma de aulas de 50 minutos de duração, com duas aulas matinais diárias e uma freqüência de 5 práticas semanais. Os exercícios aplicados nas aulas foram planejados levando-se em consideração a segurança dos praticantes com base nas metodologias propostas por SAFONS (2003), PEREIRA & SAFONS (2003a), PEREIRA & SAFONS (2003b), SAFONS & PEREIRA (2004); PEREIRA & SAFONS (2004) conforme a seguinte estrutura:

1ª Aula: Alongamento e Consciência Corporal

2ª Aula: Condicionamento Físico


5.3. Tratamento estatístico

    Esta é uma pesquisa com delineamento experimental do tipo Analítico Transversal (Cross-sectional) e caracterizou-se pela comparação das médias obtidas no Teste de Força dos Membros Inferiores (Teste de Sentar e Levantar) em um grupo de 60 indivíduos idosos selecionados por Amostragem de Conveniência. A amostra foi dividida em 1 Grupo Controle (G1) e 2 Grupos Experimentais (G2 e G3).

    O grupo G1 (n = 33) foi constituído por indivíduos não praticantes habituais de atividade física. Os grupo G2 (n = 17) e G3 (n = 10) constituíram-se de indivíduos submetidos ao Programa de Treinamento pelos períodos de 1 ano e 2 anos, respectivamente. O desenho experimental está mostrado na Tabela 1.

Quadro 1: Desenho experimental do projeto

    Na estatística descritiva calcularam-se a Média e o Desvio Padrão. A comparação entre as médias obtidas para a variável dependente Força foi feita utilizando-se a aplicação da Análise de Variância ONE WAY ANOVA, testando a Hipótese Nula (H0) de que não há diferenças significativas entre os grupos.

    Em todos os testes adotou-se o nível de significância menor ou igual a 5% (p £ 0,05).

    Os cálculos foram realizados utilizando-se o programa SPSS - Statistical Package for the Social Sciences, versão 10.0, para Windows (SPSS, 1999).


VI. Resultados

6.1. Análise descritiva

6.1.1. Caracterização da amostra

    A média e o desvio-padrão das idades dos 60 sujeitos que participaram deste estudo foi de 68,48 ± 5,13 anos. As médias e desvios-padrão no Grupo Controle (G1) e nos Grupos Experimentais (G2 e G3) estão apresentadas na Tabela 1.

Tabela 1. Médias e Desvios-Padrão de idade dos grupos controle (G1) e experimentais (G2 e G3)

    Na análise exploratória dos dados descritivos dos três grupos não foram observados casos faltosos (missing cases). O teste de Kolmogorov-Smirnov (K-S) não apresentou significância (p > 0,05) para as mensurações de idade e de força, confirmando a Hipótese Nula (H0) de que a distribuição é normal em todos os grupos. O Teste de Levine também não apresentou significância (p > 0,05) para as mensurações de idade e de força, demonstrando que a variância é homogênea, garantindo a homocedasticidade. Verificou-se, portanto, que a amostra cumpre os pré-requisitos de normalidade e homocedasticidade para submissão à Análise Paramétrica (Tabela 2).

Tabela 2. Testes normalidade e homocedasticidade


6.2. Análise paramétrica

6.2.1. Efeitos do Programa de Exercícios sobre a força dos membros inferiores

    Os valores das médias e desvios-padrão obtidos para a variável dependente Força nos grupos controle (G1) e experimentais (G2 e G3) são apresentadas na Tabela 3. As médias foram comparadas através da Análise de Variância (One-Way ANOVA) que indicou diferenças significativas entre os grupos (p = 0,001). Rejeita-se, portanto, a Hipótese Nula (H0) de que não ocorreram diferenças significativas na força dos músculos extensores dos joelhos durante o experimento.

Tabela 3. Médias e Desvios-padrão da força nos grupos controle (G1) e experimentais (G2 e G3)

    Estes resultados demonstram que as diferenças significativas ocorreram entre os grupos G1 e G2 (p = 0,001), bem como entre os grupos G1 e G3 (p = 0,003). Entretanto, não foram verificadas diferenças significativas entre os grupos G2 e G3 (p = 0,987).

    Os resultados da comparação múltipla das médias obtidas para a força dos membros inferiores entre os grupos controle (G1) e experimentais (G2 e G3), através do Teste de Scheffé, são apresentados na Tabela 4.

Tabela 4. Teste de Scheffé

    Em termos percentuais, verifica-se na Tabela 5 que o grupo G2, que treinou 1 ano, apresentou resultados 31,18% melhores na força que o grupo controle (G1). O grupo G3, que treinou 2 anos, apresentou resultados 32,81% melhores na força que o grupo controle (G1). Já a diferença entre do grupo G3, que treinou 2 anos, para o grupo G2, que treinou 1 ano, foi de apenas 1,24% e não foi significativa, como visto anteriormente.

Tabela 5. Diferença percentual da força entre grupos G1, G2 e G3


VII. Discussão


7.1. Efeitos do programa de treinamento na força dos membros inferiores

    O presente estudo mostrou que, em relação ao grupo controle, a força nos músculos dos membros inferiores foi significativamente maior nos grupos de idosos submetidas ao programa de treinamento do Programa Melhor Idade BrasilTelecom, com duração de 100 minutos por aula, na freqüência de 5 aulas semanais, por períodos de 1 e 2 anos. Verificou-se, também, que o incremento percentual da força no grupo de praticantes foi de 31,18% para o grupo que treinou 1 ano e de 32,81% para o grupo que treinou 2 anos em relação aos valores obtidos pelo grupo que não treinou. OLIVEIRA et al. (2001) sugerem que os ganhos de força nos membros inferiores podem ser explicados pelas características do treinamento de TCC, que mantém as pernas semiflexionadas durante toda a execução do exercício, com constante movimentação e transferência de peso de uma perna para a outra. Os resultados do presente estudo confirmam os achados de LAN et al. (1998), que demonstraram melhora significativa na força dos músculos dos membros inferiores em idosos de ambos os sexos, praticantes de TCC do estilo Yang de 108 movimentos, durante 12 meses, com 5 aulas semanais de 54 minutos. O incremento percentual observado na força dos membros inferiores no experimento destes autores foi de 18,1% o que corresponde, aproximadamente, à metade dos valores encontrados no trabalho atual (31,18%), para igual período. A diferença pode ser explicada pela duração das aulas, que no trabalho atual foi de, aproximadamente, o dobro (100 minutos) em relação ao daqueles autores (54 minutos).


VIII. Conclusão

    Este estudo confirmou que o programa é capaz de promover incrementos significativos na força dos membros inferiores, em idosos, no período de 1 ano, e de manter estes ganhos até o período avaliado de 2 anos o que, do ponto de vista da qualidade de vida e da saúde, é suficiente para atender às necessidades desta população.

    Um achado neste trabalho é que as médias atingidas pelos idosos avaliados foram muito acima dos valores de referência e, portanto, pelo menos com relação a esses valores, estes idosos foram capazes de desenvolver níveis de força em valores compatíveis com o de adultos jovens.

    Como é consenso na literatura científica que o fortalecimento da musculatura dos membros inferiores, por meio de atividade física específica, é claramente objetivo a ser alçado na prevenção de quedas, conclui-se que este programa pode ser utilizado com esta finalidade, agregando as vantagens de ser de baixo custo, de fácil aplicação, de permitir o atendimento de grupos e de ser de grande versatilidade quanto a local, horário, roupas e equipamentos para sua prática.

    Outros estudos são necessários, entre idosos praticantes de programas de atividades físicas, para se averiguar os efeitos das alterações das diversas variáveis, além da força. Enfocar também alterações em variáveis psicossociais modificadas pela prática de programas de atividade física e sua relação com a saúde e a qualidade de vida em idosos poderia preencher algumas das lacunas existentes nesta área na literatura científica.


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ANEXO 1: Termo de Consentimento

ANEXO 2: Formulário de Avaliação Física

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revista digital · Año 11 · N° 98 | Buenos Aires, Julio 2006  
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