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Turismo e Educação: as relações possíveis

   
*UNESP / RC
Professora Assitente Doutora

**Centro Universitário Barão de Mauá
Professora Especialista
 
 
Carmen María Aguiar*
cmaguiar@rc.unesp.br  
Graziele Morelli**
gramorelli@yahoo.com.br
(Brasil)
 

 

 

 

 
Resumo
    Este trabalho tem como objetivo estabelecer uma reflexão entre Turismo e Educação, que será realizada a partir de materiais didáticos e de literatura pertinentes com o intuito de organizar referencial teórico capaz de permitir o estabelecimento de pontos que determinem limites e mediações possíveis dentro da temática.
    Considerando que turismo e educação fazem partes de fontes de troca de informações bem como, de mecanismo de educação e de atividades de sociabilidades é que ambos foram eleitos como foco do trabalho em questão. Vale destacar que estamos considerando como educação modos de vida, forma de organização social, experiências cotidianas que se valem de práticas sociais e culturais que media a via diária.
    A relação do turista com o morador local permite sua aproximação com uma realidade do lugar, muitas vezes, não visível ao visitante comum. A relação de troca vai depender do tipo e do direcionamento que atividades e as possibilidades propostas conferirem aos moradores locais e aos forasteiros.
    Considerando os métodos elaborados e utilizados por comunidades, baseados em suas necessidades e objetivos, é possível estabelecer uma nova condição para o turista e o turismo, bem como e para a Educação e, portanto para o morador local.
    O material bibliográfico contemplará informações que devem fornecer subsídios para a analise e reflexão sobre o turista e o morador local. Considerando que se trata de dois universos culturais distintos cada qual com sua forma de organização e compreensão de mundo.
    Unitermos: Educação. Turismo. Natureza. Cultura. Comunidades.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 11 - N° 97 - Junio de 2006

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Introdução

    Este trabalho tem como objetivo estabelecer uma reflexão entre o Turismo e a Educação. O mesmo será realizado a partir de reflexões sobre literatura pertinentes e o uso de materiais didáticos referentes ao tema em questão. Será dado destaque para autores que apresentem, em seus escritos, noções correlatas ao universo da educação e do turismo. O intuito é organizar um referencial teórico capaz de permitir elaborar conexões e estabelecer pontos de contato entre as duas áreas em foco.

    Considerando que turismo e educação fazem partes de fontes de troca de informações, bem como, de mecanismo de educação e de atividades de sociabilidades é que ambos foram eleitos como foco do trabalho. Vale destacar que estamos considerando como educação modos de vida, forma de organização social, experiências cotidianas que se valem de práticas sociais e culturais que media a vida diária.

"A educação é, como outras, uma fração do modo de vida dos grupos sociais que a criam e recriam, entre tantas outras invenções de sua cultura, em uma sociedade." (BRANDÃO, 1983:10)

    As atividades que envolvem o turismo podem estar muito próximas desse modo de pensar considerando o processo educacional. A troca de experiências entre o morador local e o visitante pode evidenciar uma relação de ensino aprendizagem, tais contatos devem ainda pontuar limites e mediações possíveis no campo da educação e do turismo conforme abordagens dentro da temática.


Desenvolvimento

    A relação do turismo1 com a educação está muito além das semelhanças em seus significados. O ponto principal de aproximação são as relações sociais existentes nas duas atividades. Em ambos as experiências são muito significativas para os participantes, e podem conduzi-los a entendimentos diversos sobre as relações humanas e as formas de compreender e organizar o mundo.

    Por se tratar de uma atividade que depende de diversos fatores, entre eles a troca de informações e o tempo disponível, o turismo tem seu ápice nos períodos de férias escolares e feriados prolongados o que o torna uma atividade sazonal2.

    Com o intuito de amenizar os impactos ocasionados pela sazonalidade do turismo é comum que, durante a baixa temporada, localidades turísticas desenvolvam atividades diversas que permitam amenizar a ausência do turista e as implicações econômicas que acarretam. Da mesma forma, algumas comunidades tradicionais que utilizam seus conhecimentos através do turismo como atividade paralela, criaram formas de amenizar os prejuízos da baixa temporada e de utilização da temporada de produções locais. Um exemplo de tal prática são eventos culturais capazes de atrair turistas.

    É possível citar eventos que aproveitam a produção local com festivais gastronômicos e ainda reúnem atrações culturais muitas vezes baseadas na cultura popular local. Possibilitando assim desenvolvimento econômico e a valorização de suas habilidades e cultura. Muitos deles tiveram sua origem por iniciativa da própria comunidade. A atividade é conduzida pelo grupo e em alguns casos recebe o apoio de uma ou outra instituição. Com sua forma artesanal, não deixam de demonstrar imensa capacidade organizacional, o que torna o evento ainda mais interessante, por se tratar de pessoas de pouca ou nenhuma instrução na área de desenvolvimento desse tipo de atividade.

"Os laços culturais são também reforçados pelos rituais, rezas, festejos e danças." (AGUIAR, 1998:7)



Graziele Morelli, maio/20043

    Por todo o litoral do Estado de São Paulo, durante a temporada de pesca do camarão ou de peixes diversos, algumas comunidades caiçaras realizam eventos organizados pelos próprios pescadores e seus familiares com intuito de vender diretamente os seus produtos, difundir o consumo do material pescado, demonstrar seus saberes, suas habilidades culinárias através receitas tradicionais e tudo isso acompanhado de demonstrações de danças e ritmos muito específicos de cada localidade.

    Em outro caso podemos citar um evento na região central do Brasil também organizado pela comunidade e com apoio de diversas instituições. Tal evento permitiu o encontro de organizações comunitárias de uma mesma região, cada qual com sua especificidade onde a troca de experiências foi visivelmente intensa.


Graziele Morelli maio/20044

    Em torno de um tema central foram discutidos através de fóruns, soluções para os problemas comuns e ainda tiveram a oportunidade de conhecer manifestações folclóricas diversas, gastronomia, artesanato sempre com a valorização das habilidades de cada comunidade onde através de oficinas foi possível transmitir o conhecimento de cada uma das técnicas desenvolvidas e adaptadas segundo as necessidades de cada grupo.

    A troca de experiências sobre a utilização do bioma do cerrado foi o ponto alto. As oficinas de culinária permitiram trocas importantes sobre a utilização dos frutos que em determinadas épocas são abundantes nessa região. As oficinas de artesanato uma utilização para as sementes, neste caso em forma de ornamentos pessoais e enfeites para a casa.


Graziele Morelli maio/20045


Considerações finais

    Nos dois exemplos os eventos começam a se tornar freqüentes em suas regiões, atraindo turistas, moradores regionais e alguns patrocínios e apoios. Uma ótima oportunidade para conhecer a região, suas tradições com gente daquele lugar que pode muito mais do que mostrar algo, vivenciar junto com o visitante, tornando a experiência muito mais gratificante, ou melhor, muito mais ampla. Trata-se de um tipo de aprendizado que não se adquire nas cadeiras das melhores universidades e que pode ser um grande material didático no incentivo a valorização do conhecimento regional e da utilização de técnicas e procedimentos utilizados.

    A relação com algumas culturas pode nos ensinar a pegar caminhos ou trilhas interessantes que contribuam para o enriquecimento de nossos saberes e que nos inspire a utilizar de maneira sustentável ambientes propícios ao desenvolvimento do turismo que funcionem como instrumento de aprendizado de um viver melhor respeitando a natureza, os costumes, as culturas mas principalmente é um caminho para o auto-conhecimento.


Notas

  1. "Turismo é movimento de pessoas, é um fenômeno que envolve, antes de mais nada, gente. É um ramo das ciências sociais e não das ciências econômicas, e transcende a esfera das meras relações da balança comercial." (BARRETO 2003:02)

  2. Segundo DIAS (2003), relativo a períodos específicos de tempo. No âmbito do turismo, é a concentração temporal e espacial de turistas em determinado lugar, durante um determinado período.

  3. Apresentação de dança tradicional em encontro de comunidades.

  4. Oficina de bonecas de retalho, tradicionalmente realizada em comunidades negras.

  5. Utilização de sementes do cerrado na confecção de artesanato.


Bibliografia

  • AGUIAR, Carmem Maria. Educação, Cultura e Criança. Campinas. Papirus. 1994.

  • ________ Educação, Natureza e Cultura Um Modo de Ensinar. 1998. 206 f. Dissertação (mestrado em educação) - Faculdade de Educação, Universidade de São Paulo. São Paulo.

  • ARANTES, Antonio Augusto. O que é cultura popular. São Paulo Brasiliense. 1981.

  • BARRETO, Margarita et. al. Turismo, políticas públicas e relações internacionais. Campinas. Papirus. 2003

  • BRANDÃO, Carlos Rodrigues. O que é educação. São Paulo. Brasiliense. 1995.

  • COROLIANO, Luiza Neide. O desenvolvimento voltado as condições humanas e o turismo comunitário. In: COROLIANO, Luiza Neide; Lima, Luiz Cruz (orgs). Turismo Comunitário e Responsabilidade Social. Fortaleza. EDUECE, 2003.p 26-44

  • DIAS, Reinaldo. Sociologia do Turismo. São Paulo. Atlas. 2003.

  • HOLANDA, Sergio Buarque. Caminhos e Fronteiras. São Paulo. Companhia das Letras. 1994.

  • LUCHIARI, Maria Tereza Duarte Paes. Caiçaras, Migrantes e Turistas: a trajetória da apropriação da natureza no Litoral Norte Paulista (São Sebastião - Distrito de Maresias). 1992, Dissertação (mestrado em Sociologia). Unicamp. Campinas.

  • SANTOS, José Luiz. O que é Cultura. São Paulo Brasiliense, 1994.

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