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Perfil do estilo de vida relacionado á saúde dos
calouros de um centro de ciências tecnológicas

   
*Mestre em Educação Física-UGF
**Mestrando em Educação Física -UFSC

Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC - Joinville
Joinville-SC
 
 
Carla Werlang Coelho*
João Francisco Severo Santos**

carla@joinville.udesc.br
(Brasil)
 

 

 

 

 
Resumen
    Esse trabalho objetivou investigar a prevalência de comportamentos inadequados no estilo de vida individual de acadêmicos da primeira fase dos cursos tecnológicos da UDESC. A amostra foi composta por 257 universitários de ambos os sexos com idades entre 18 e 24 anos. Os dados foram coletados através do pentáculo do bem estar verificando-se que, nesse grupo, a prevalência de comportamentos de risco á saúde é elevada e significativamente diferente entre os gêneros na maioria dos componentes do modelo adotado. Os componentes que mais necessitam de atenção são os hábitos alimentares, de atividade física e de controle de estresse.
    Unitermos: Estilo de vida. Acadêmicos. Comportamentos de risco.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 11 - N° 97 - Junio de 2006

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Introdução

    A progressiva exigência de qualidade nos produtos e serviços em nossa sociedade atual tem elevado, como nunca, a competitividade no mercado de trabalho. Diante disso, a cada ano, milhares de jovens procuraram qualificação em cursos superiores no Brasil, na esperança de garantir uma melhor posição no mercado de trabalho. O que se observa atualmente é que se por um lado, temos um incremento substancial no número de jovens que tem acesso ao ensino superior devido a crescente oferta de vagas em instituições de ensino particulares, por outro lado, as vagas oferecidas pelas universidades públicas nesse nível de ensino são insuficientes e extremamente concorridas, o que impele muitos jovens a adotar um estilo de vida pouco saudável em virtude das grandes exigências de trabalho cognitivo necessário para almejar uma vaga na universidade pública.

    Para Nahas (2003) existem sólidas evidências de que o estilo de vida individual, que é um conjunto de crenças, valores e atitudes que se refletem em nossos hábitos cotidianos, ou seja, em nosso padrão de comportamento, apresenta um elevado impacto sobre a saúde, em geral, determinando para a grande maioria das pessoas, o quão doentes ou saudáveis serão a médio e longo prazos. Em síntese, é em face do estilo de vida individual com seus comportamentos relacionados a saúde que surgirão os reflexos positivos ou negativos em nossa qualidade de vida atual e na velhice. Porém, diante dos mais diferentes graus de desequilíbrios e contrastes socioeconômicos em que se vive nos dias de hoje, pode-se admitir que ainda estamos longe de um estilo de vida ideal.

     Estudos exploratórios têm verificado que o perfil de estilo de vida individual de estudantes adolescentes do ensino médio, pré-vestibulandos e graduandos apresenta várias deficiências preocupantes no que se refere a atividade física, hábitos alimentares, controle de estresse e comportamentos preventivos ( Nahas e Marqueze, 2001; Marcon e Farias, 2001; Marcon et all, 2003; Quevedo e Rinaldi, 2003; Rosa et all, 2001; Legnani et all, 2004).

    A falta de exercícios físicos regulares, associada com a exposição a altos níveis de estresse, além da adoção de dietas inadequadas e de posturas corporais estáticas na maior parte do tempo, muitas vezes com posturas incorretas, levam o corpo dos estudantes a se tornar uma fonte de tensões e os músculos mais enrijecidos ficam vulneráveis às lesões, assim como as demais estruturas, criando dessa forma uma reação em cadeia indesejada, ou seja, um transtorno de saúde (Nathan, 2000).

    Há quase um consenso entre os pesquisadores de que saúde e qualidade de vida encontram-se interligados em vários aspectos. Ainda, segundo Nahas (2003), qualidade de vida é um constructo muito subjetivo de percepção individual, ou seja, ela difere de pessoa para pessoa. No entanto, o seu conceito geral, envolve: estado de saúde, longevidade, satisfação no trabalho/estudo, perspectivas e oportunidades de um bom salário, emprego, lazer e até espiritualidade.

    Santos (2004) investigando o estilo de vida, a percepção e a concepção de qualidade de vida de graduandos do centro de ciências tecnológicas da UDESC constatou que, apesar de os alunos terem consciência de que a saúde é o alicerce fundamental da qualidade de vida, eles pouco se preocupam com os comportamentos de risco a saúde dando mais atenção, nesta fase, as questões de acumulação de bens materiais, o que, segundo eles, justificaria sacrifícios de ordem pessoal para alcançar objetivos materiais.

    Saúde positiva é também um condicionamento total, definido como qualidade de vida ótima, incluindo componentes sociais, mentais, espirituais e físicos. Um dos principais objetivos da incorporação de um estilo de vida com menos comportamentos de risco a saúde é prevenir ou retardar o desenvolvimento prematuro destes transtornos de saúde, prolongando as porções saudáveis e independentes da vida (Howley & Franks, 2000; Nahas, 2003; Nieman, 1999).

    Segundo Nahas (2003), infelizmente a grande maioria das pessoas só pensa em sua saúde, quando esta se acha ameaçada, e os sintomas das doenças são visíveis. Por isso o presente estudo justifica-se pela necessidade de se prover mais informações a respeito do jovem que está ingressando na universidade pública, sobre o seu estilo de vida relacionado a saúde, a fim de que se tenha mais subsídios para o planejamento e implementação de programas educacionais, principalmente na educação física, que promovam comportamentos característicos de um estilo de vida mais ativo e saudável, pois a promoção de um estilo de vida mais saudável não é apenas uma moda imposta pelos meios de comunicação de massa ou um ideal dos profissionais das ciências da saúde, mas sim uma necessidade oriunda da má adaptação do sistema de vida atual, que em um século e meio, tem variado mais que o resto de toda a existência humana resultando em mudanças rápidas e radicais no perfil de saúde e doenças das populações, principalmente nas urbanas.

    Pretende-se, com este estudo identificar aspectos negativos do estilo de vida individual relacionado á saúde envolvendo dimensões relacionadas à nutrição, atividade física, relacionamentos, controle do estresse e comportamento preventivo dos graduandos do primeiro semestre dos cursos de licenciatura em física, bacharelado em ciências da computação e tecnologia de sistemas de informação, engenharia civil, elétrica, mecânica e de produção do centro de ciências tecnológicas da Universidade do Estado de Santa Catarina, campus Joinville.


Metodologia

    O presente estudo caracteriza-se como estudo transversal quantitativo que favoreceu a descrição, a comparação e a análise dos dados coletados. Ele abrangeu uma amostra representativa dos estudantes da primeira fase de diversos cursos superiores oferecidos no centro de ciências tecnológicas da Universidade do estado de Santa Catarina.

    Os sujeitos participantes desse estudo foram os acadêmicos da primeira fase dos cursos de licenciatura em física, bacharelado em ciencias da computação, tecnologia em sistemas de informação e das engenharias de produção, civil, mecânica e elétrica no ano letivo de 2004, totalizando 259 sujeitos, com idades entre 18 e 24 anos.

    Os sujeitos foram abordados de forma intencional entre os alunos matriculados na disciplina de educação física curricular que é obrigatória para todos os alunos dos cursos da UDESC, exceto aqueles que trabalham com carteira assinada por mais de 6 horas diárias e aqueles que apresentam atestado médico de inaptidão para a atividade física.

     Como instrumento de coleta de dados utilizou-se o questionário Perfil de Estilo de Vida Individual (Nahas, Barros & Francalacci apud Nahas, 2003) conhecido como O Pentáculo do Bem Estar: base conceitual para a avaliação do estilo de vida de indivíduos ou grupos.

    Para a coleta dos dados fez-se contato prévio com o responsável pela coordenação do departamento de ciências básicas e sociais do CCT, para se esclarecer sobre os objetivos do estudo, bem como para obter a autorização e assinatura dos formulários de consentimento livre e esclarecido, pela diretoria e coordenação dos cursos e, posteriormente, dos acadêmicos.

    O instrumento de pesquisa (questionário) foi aplicado em datas previamente marcadas nas duas primeiras semanas de cada semestre letivo de 2004, com procedimentos padronizados entre os cinco professores de educação física do CCT, responsáveis pelas 28 turmas de educação física curricular e extra-curricular, de forma a evitar interferências ou má interpretação das respostas obtidas.

    O tratamento dos dados foi realizado com base nos questionários, organizados em forma de tabelas e gráficos, para que possam ser visualizadas mais claramente. E para atender os objetivos do estudo, foi estipulado que o valor 2 em cada questão, seria o ponto de corte categórico, sendo que os valores inferiores a 2 foram considerados como aspectos negativos do estilo de vida dos acadêmicos e os valores iguais ou superiores a 2, foram considerados aspectos positivos do estilo de vida segundo o instrumento utilizado para a coleta de dados.

    Este estudo contempla dois aspectos no tratamento estatístico dos dados: um estudo descritivo através de tabelas e de representação gráfica. Segundo Fricke (1998) o estudo descritivo tem a finalidade específica de formalizar um conhecimento geral dos resultados. A importância desse conhecimento geral está na formação de uma visão de conjunto em que as variáveis principais terão seu desempenho sistematizado e conhecido, e as variáveis de controle permitirão a caracterização dos indivíduos investigados. Em se tratando de representação gráfica, foram utilizados, essencialmente, os diagramas que permitem descrições comparativas: colunas, barras e setores. Para a comparação entre os diferentes sub-grupos, fez-se uso da estatística não-paramétrica, basicamente, qui-quadrado e tabelas de contingência.

    O presente estudo limitou-se a identificar os aspectos no estilo de vida dos acadêmicos da primeira fase dos cursos superiores do CCT da cidade de Joinville, na faixa etária entre 18 a 24 anos, dentre eles aspectos relacionados à nutrição, atividade física, controle do estresse, relacionamentos e comportamento preventivo, sem levar em conta fatores sócio-econômicos, herança genética, concepções políticas e outros fatores que podem influenciar os resultados.


Apresentação e discussão dos resultados

    Os dados foram agrupados por componentes do modelo com suas respectivas variáveis. Para facilitar o entendimento dos componentes do estilo de vida optou-se por apresenta-los em forma de tabelas e gráficos.


Componente Hábitos Alimentares (n=259 e p=100%)

Tabela 1 - Porcentagem geral em relação ao componente nutrição.

    Além da óbvia relação com a saúde e qualidade de vida, os comportamentos alimentares tem grande impacto no estado nutricional dos seres vivos que, por sua vez, está associado ao desempenho físico e cognitivo. Hoje em dia, os hábitos alimentares são considerados como um dos principais fatores para prevenção de doenças degenerativas.

    Os acadêmicos de ciências tecnológicas ou exatas são impostos a consideráveis exigências cognitivas e emocionais, principalmente nos primeiros semestres quando ainda não estão devidamente adaptados ao meio acadêmico, e à medida em que progridem em seus cursos, há um incremento cada vez maior de exigências por produtividade e qualidade acadêmica. Dessa forma, não somente os seus cérebros, mas também seus corpos devem estar bem preparados para as cargas mentais e emocionais progressivas, e isto, necessariamente deve incluir uma ótima alimentação.

    Um estudo semelhante, apresentado no 3º Congresso Brasileiro de Atividade Física e Saúde por Pessi et all (2001), relata o diagnóstico nutricional em atletas amadores da modalidade de Handebol Feminino na mesma faixa etária dos sujeitos desse estudo. Os resultados mostraram um consumo quantitativo inadequado de carboidratos, com uma freqüência de guloseimas, manteigas, margarinas, etc... o que pode ser justificado pelo alto gasto calórico desse grupo em suas atividades esportivas, porem outros grupos de não atletas apresentam caracteristicas de consumo alimentar semelhantes, o que é preocupante em termos de saúde publica (Rosa et all, 2001; Ouriques et all, 2001; Legnani et all, 2004; Arruda & Souza, 2003).

    Entre os acadêmicos participantes desse estudo constatou-se uma prevalência de 71% em relação ao hábito de não comer frutas e verduras frequentemante. Apenas aproximadamente 38% evitam frituras e gorduras. Apenas 46,43% fazem 4 a 5 refeições diárias com uma frequência significativa.

    Provavelmente estes dados sobre os hábitos alimentares, se devem, em parte, ao fato de existir uma grande proporção de acadêmicos oriundos de outros municípios. Assim, estando longe dos familiares e do conforto do lar, acabam por tornarem-se responsáveis pelo preparo de seus alimentos e, devido a sua falta de informação e conscientização a respeito de comportamentos alimentares, acabam optando por alimentos de rápido preparo, alto teor calórico e baixo valor nutricional, até por que, esses alimentos são bem mais acessíveis do que os alimentos saudáveis.

Tabela 2 - Prevalência de hábitos alimentares inadequados de acordo com o gênero.


* diferenças significativas p>0,01

    De acordo com os dados expostos na tabela 2 pode-se verificar que existem diferenças significativas nos hábitos alimentares de moças e rapazes. Apesar de ambos os gêneros apresentarem uma alta prevalência comportamentos inadequados de alimentação, os rapazes apresentam uma prevalência muito superior de comportamentos alimentares inadequados. Isso é muito preocupante, pois os dados epidemiológicos indicam que, por questões fisiológicas, os homens são mais predispostos ao desenvolvimento precoce de doenças crônico-degenerativas, logo deveriam ter um maior cuidado com seu estilo de vida, o que normalmente não acontece.


Componente Atividade Física (n=259 e p=100%)

Tabela 3 - Prevalência de comportamentos em relação ao componente atividade física.

    Ao analisar as respostas dos acadêmicos com relação aos seus hábitos de atividades físicas pode-se constatar que apenas 11,97% deles apresentam todos os comportamentos de inatividade física mensurados pelo instrumento.

    A tabela 3 revela que, em média, apenas 36,84% dos acadêmicos não são regularmente ativos no lazer. Essa prevalência de inatividade física é relativamente baixa se comparada com estudos populacionais realizados no país que apontam para prevalências de 51% a 60% de inatividade física (Nahas, 2003, Barros, 1999; Silva et all, 2004).

    Percebeu-se também que nesse grupo, talvez em decorrência da faixa etária, há uma preferência por exercícios neuromusculares relacionados, principalmente, ao componente estético.

Tabela 4 - Prevalência de hábitos inadequados de atividade física de acordo com o gênero.


* diferenças significativas p>0,01

    Quando agrupados por os dados de atividade física habitual de acordo com o gênero tal como mostra a tabela 4, verificamos prevalências significativamente maiores de comportamentos inadequados no grupo feminino.

    A analise das respostas dos questionários revelou que apenas 9,64% dos estudantes do gênero masculino apresentam os três comportamentos negativos avaliados enquanto que nos estudantes do gênero feminino, essa prevalência é de 17,74%.

    O gráfico 1 nos permite visualizar a prevalência de cada resposta do componente atividade física no grupo de todos os universitários abordados. Percebe-se que existe uma distribuição mais homogênea de respostas quando a questão é sobre a pratica regular de atividades físicas, no entanto, nas outras duas questões, o percentual de respostas é crescente em direção aos critérios positivos, pois é mais comum nesse grupo a pratica de atividades como musculação e ginástica duas vezes por semana do que de corridas, caminhadas e outras modalidades físico-desportivas.

     Segundo recentes estudos epidemiológicos e experimentais, para a melhora da aptidão física e níveis ótimos de saúde, a quantidade de atividade física praticada é fundamental, pois se fazem excessivamente ou muito pouco, há uma alta probabilidade de surgimento de doenças degenerativas precocemente. O caso então é adequar níveis de descanso, com boa nutrição, hidratação e controle do estresse, para evitar fadiga e conseqüente queda no nível de desempenho academico, saúde e qualidade de vida (Simão, 2004; Nahas, 2003; Nieman, 1999).


Componente Comportamento Preventivo (n=257 e p=100%)

Tabela 5 - Porcentagem em relação ao comportamento preventivo.

    Comportamento preventivo é definido como: ações individuais ou coletivas, executadas voluntariamente pelo indivíduo em estado assintomático em relação a uma doença específica com o objetivo de minimizar o potencial de ameaça percebido em relação à mesma (Pender, 1975).

    Em alguns estudos foram observados comportamentos preventivos em camadas da sociedade, e constatavam que pessoas que praticam tênis, caminham ou correm, apresentam menos comportamentos agressivos à saúde como: obesidade, tabagismo, consumo excessivo de álcool e o não uso do cinto de segurança (Schneider & Greenberg, 1991).

    Observa-se nos dados plotados na tabela 5 que apesar de não serem acadêmicos que regularmente cuidam dos hábitos alimentares, eles não apresentam muitos comportamentos nocivos à saúde, pois mais 80% não fumam e não bebem regularmente, no entanto apenas aproximadamente 25% costumam realizar exames preventivos.

Tabela 6 - Prevalência de comportamentos não preventivos de acordo com o gênero.


* diferenças significativas p>0,05

    Na tabela 6 podemos constatar que os sujeitos do gênero feminino apresentam menos comportamentos não preventivos que os sujeitos do gênero masculino e essa diferença é estatisticamente significativa quando se trata de evitar fumo e álcool e controlar a PA e o colesterol. No que se refere a respeitar as regras de segurança, os acadêmicos parecem estar conscientes, pois muito poucos alegam não ter comportamentos de segurança no transito e outras situações sendo que não existem diferenças significativas entre os dois gêneros quando o assunto é segurança.


Componente Relacionamentos (n=257 e p=100%)

Tabela 7 - Porcentagem em relação ao componente relacionamentos

    Observando a tabela 7, percebe-se que os acadêmicos, valorizam bastante os relacionamentos interpessoais, em sua maioria, tendo uma vida social ativa. Verificamos que mais de 55% deles se consideram ativos na sociedade e 80% alegam ser ativos no lazer em companhia dos amigos e familiares. Nota-se que o terceiro item - atividade em grupos comunitários - é o mais fraco entre os acadêmicos, sendo que mais de 43% deles admitem não se envolver com os problemas comunitários.

Tabela 8 - Prevalência de relacionamentos inadequados de acordo com o gênero.


* diferenças significativas p>0,05

    Verificamos claramente através da tabela 8 que os acadêmicos do gênero feminino apresentam melhores comportamentos que os do gênero masculino no quesito relacionamentos, principalmente nos componentes de atividades de lazer com os amigos e familiares e na atividade comunitária. Apesar da diferença ser pequena, ela é estatisticamente significativa nos dois últimos quesitos desse componente do estilo de vida relacionado á saúde.


Componente Controle do estresse (n=257 e p=100%)

Tabela 9 - Porcentagem em relação ao controle do estresse.

    Segundo a Academia Americana de Médicos de Família, mais de 75% das consultas médicas são de alguma forma, relacionadas com o estresse e o custo estimado do tratamento de doenças decorrentes do estresse no trabalho nos Estados Unidos é de 150 bilhões de dólares (Goldenberg & Elliot, 2001).

    Convivemos constantemente com situações de estresse... Doses excessivas (intensas ou prolongadas) que podem trazer sérios problemas psicológicos e físicos. Quando fora de controle, as situações de estresse podem interferir em nossas atividades diárias, resultando em perda de produtividade e afetando nossos relacionamentos (Nahas, 2003).

    Em relação aos acadêmicos da primeira fase dos cursos superiores de ciências tecnológicas, podemos perceber no gráfico 2 que a grande maioria deles dedicam freqüentemente momentos de relaxamento durante o dia-a-dia. Toda via, isso parece não ser o suficiente para acalma-los, pois um grande percentual de acadêmicos relatam ter dificuldades de manter uma discussão sem alterar-se emocionalmente. Alem disso, outra grande porção dos acadêmicos alegam dificuldades de equilíbrio entre o trabalho/estudo e o lazer.

    Estes componentes são fatores negativos, pois apresentam percentuais altos em relação a falta de controle do estresse e dos relacionamentos interpessoais, podendo influenciar sua vida e rotina de trabalho acadêmico de uma maneira negativa. Constata-se visivelmente na tabela 9 que cerca de 40% deles não conseguem manter-se calmos durante discussões rotineiras do ambiente acadêmico e em casa, apesar de mais de 78% deles usar como forma de relaxamento a oração e mais de 60% terem a percepção de equilibrar o trabalho e o lazer. Provavelmente a contradição de não ter tempo e oportunidade para atividades físicas de lazer e considerar equilibrado o lazer e o trabalho, tenha origem no tempo despendido com o lazer passivo, como assistir televisão.

Tabela 10 - Prevalência de comportamentos inadequados de gestão do stress de acordo com o gênero.


* diferenças significativas p>0,05

    Diferentemente da pesquisa Perfil do Estilo de Vida dos estudantes da Univille onde se observou que nos relacionamentos sociais as mulheres destacaram-se e procuram ser mais ativas nas sociedades do que os homens (Rosa et.al, 2001), entre os acadêmicos da primeira fase da UDESC, não existem diferenças significativas entre os gêneros no que se refere a comportamentos de relação social.

    A tabela 10 deixa claro que moças e rapazes apresentam percentuais negativos de relacionamentos muito similares com exceção do item 2 - manter uma discussão sem alterar-se - onde as mulheres apresentam uma prevalência de comportamentos inadequados significativamente maior que a dos homens.

    Mas apesar disso, as mulheres parecem estar mais expostas aos malefícios de excesso de estresse, pois as estatisticas internacionais revelam uma proporção de 4 mulheres com problemas de saúde relacionados ao estresse para cada homem com problemas similares (Deitos, 1997; Goldberg & Elliot, 2001).


Considerações finais

    Nesse estudo foi demonstrado que os componentes nutrição, estresse e atividade física do constructo estilo de vida individual dos acadêmicos da primeira fase dos cursos superiores de ciências tecnológicas apresentam deficencias preocupantes e precisam ser abordados por intervenções educacionais paralelas com responsabilidade interdisciplinar. Os dados mostram que há uma alta prevalência de hábitos inadequados de alimentação e de controle de estresse que poderão desencadear um rendimento baixo acadêmico.

    Com relação a atividade física, há também uma alta prevalência de acadêmicos com insuficiência para obter benefícios para saúde. A preferência por exercícios neuromusculares por um lado ameniza a situação, mas por outro, pode ser um agravante se estes vem sendo praticados com fins meramente estéticos. Alem disso, estudos citados por Becker (2000) apontam para a ineficiência dos exercícios neuromusculares no que se refere ao controle do estresse, depressão e ansiedade.

    Após a realização desse estudo, foi montado um programa de promoção de saúde no campus, que num primeiro momento, atendeu principalmente aos funcionários - grupo piloto das intervenções - mas que agora começa a ser implementado efetivamente com a reestruturação das aulas de educação física curricular, bem como pela maior oferta de diferentes atividades físicas extracurriculares que pretendem atender aos interesses e necessidades dos alunos do campus. Alem disso, instrumentos virtuais de avaliação e aconselhamento estão sendo planejados para auxiliar os alunos na tomada de decisões a respeito do seu estilo de vida individual.


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