Caracterização da veiculação e dos indicativos relacionados aos estudos de ginástica laboral Caracterización de la divulgación y de los indicadores relacionados con estudios sobre gimnasia laboral |
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QUALIFIT - Promoção de Atividade Física & Saúde S/S Ltda. (Brasil) |
Prof. Ms. Silvio Aparecido Fonseca silviofonsecatoledo@yahoo.com.br |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 11 - N° 97 - Junio de 2006 |
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1. Introdução
A ginástica laboral é constituída, geralmente, por exercícios de alongamento muscular realizados em sessões de curta duração (08 a 15 minutos) no ambiente de trabalho. Outras denominações, tais como a ginástica na empresa (SESI, 2004) e a ginástica do trabalho (CAÑETE, 1996) também são empregadas. Segundo MARTINS (2001), esta modalidade de ginástica pode ser realizada antes (preparatória), durante ou após (compensatória) a jornada de trabalho.
Quanto à ginástica laboral compensatória, seus benefícios parecem se fundamentar nos postulados da fisiologia e da psicologia do trabalho referentes à fadiga periférica e à fadiga central, com seus possíveis desfechos: os acidentes do trabalho e a queda da produtividade. Conforme KOLLING (1988), para diminuição da fadiga, deve-se implementar pausas regulares para repouso ativo durante a jornada de trabalho. Para tanto, as atividades devem atingir as sinergias musculares antagônicas a que se encontram durante o trabalho, proporcionando a compensação e o conseqüente equilíbrio funcional.
Nesta perspectiva, no projeto denominado de "Ginástica Laboral Compensatória", envolvendo empresas do Vale dos Sinos, foi desenvolvida pesquisa experimental com rigorosos critérios metodológicos para aleatorização dos grupos, além da inclusão de exames laboratoriais para determinação de índices de fadiga. Os resultados demonstraram que a aplicação da ginástica laboral compensatória diminuiu significativamente o índice de fadiga periférica do grupo experimental em comparação ao grupo controle. Benefícios estatisticamente significativos também foram verificados a favor do grupo experimental em relação à produtividade. Contudo, o mesmo não ocorreu para o índice de fadiga central (KOLLING, 1988).
Na realidade, esta preocupação por investigações para fundamentação da prática de ginástica laboral já era presente nos países precursores desta prática (Polônia, França, Bulgária, Alemanha Oriental (antiga) e Bélgica). De acordo com CAÑETE (1996), estes países investiam em estudos de opinião, através de questionários e entrevistas. Tais pesquisas foram conduzidas em duas linhas: a primeira investigava a fadiga, as condições físicas e psicológicas, enquanto a segunda investigava questões referentes aos sentimentos e impressões das pessoas.
No Brasil, parece não existir uma identificação das linhas de pesquisa em ginástica laboral e, tampouco, da consistência dos resultados. Mediante esta aparente lacuna, o objetivo deste trabalho foi analisar as características e os resultados dos estudos sobre ginástica laboral veiculados e disponibilizados em bases de textos completos.
2. Procedimentos MetodológicosPara levantamento das informações, foram acessadas as bases de dados Scielo e Lilacs. Em função do reduzido número de publicações referentes ao tema investigado e disponibilizadas nestas bases, foi incluída a consulta ao acervo do Banco de Teses e Dissertações do Programa de Pós-Graduação em Engenharia da Produção da Universidade Federal de Santa Catarina. Desta forma, e de acordo com classificações de Thomas e Nelson (2002), este levantamento delimitou-se a pesquisas de fontes primárias.
Como descritores, utilizou-se as palavras ginástica laboral, ginástica na empresa, ginástica compensatória, exercício físico na empresa, atividade física na empresa.
3. Resultados e DiscussãoA partir dos critérios de busca estabelecidos, foram encontrados doze trabalhos acadêmicos que tratavam do tema ginástica laboral. Destes, somente dois estavam publicados em periódicos indexados (fig. 1), sendo um deles, resultado de uma dissertação de mestrado. Neste estudo, MARTINS & DUARTE (2000), investigaram os efeitos de 54 sessões de ginástica laboral em 26 funcionários que realizavam tarefas de digitação e manuseio de documentos da Universidade Federal de Santa Catarina. Já no segundo artigo, FREIBERGER (2000) realizou interessante intervenção em gestantes rotineiras trabalhadoras em uma indústria frigorífica do Estado de Santa Catarina.
Quanto à caracterização das investigações, cerca de dois terços eram do tipo descritiva (fig. 2), onde os autores utilizaram técnicas de estudo de caso, análise documental, análise descritivo-exploratório ou, simplesmente, levantamento de opiniões e percepções acerca das variáveis investigadas (CHACÓN, 1999; FERNANDES, 2000; VENÂNCIO; 2000; KASCZESKEN, 2001; MILITÃO, 2001; PEREIRA, 2001; ALVAREZ, 2002; FREIBERGER, 2002). Apesar das pesquisas do tipo descritiva serem baseadas na premissa de que os problemas podem ser resolvidos e as praticas melhoradas por meio da observação, de análises e de descrições objetivas (THOMAS & NELSON, 2002), sua utilidade para comprovar benefícios da ginástica laboral é limitada.
Já a pesquisa do tipo experimental, reconhecida como o mais científico de todos os tipos de pesquisa (THOMAS & NELSON, 2002) e, portanto, a mais apropriada para estabelecer relações de causa e efeito da ginástica laboral; identificou-se o delineamento pré-experimental - pré-teste/pós-teste de um grupo (SANTOS, 2003; MARTINS & DUARTE, 2000; TOKARS, 2001) e o delineamento quase-experimental - ex post facto (LONGEN 2003).
Para identificação dos indicativos relacionados aos estudos de ginástica laboral, optou-se por agrupar as variáveis investigadas utilizando o Modelo Conceitual de Promoção da Saúde proposto por ANDERSEN, SERXNER, GOLD (2001). Muito embora nem todas as intervenções em ginástica laboral atendam aos princípios norteadores da promoção da saúde. Dessa forma, foi possível verificar três informações referentes ao processo, duas referentes ao impacto, e seis referentes aos resultados. Estes onze indicadores demonstram a variedade de interesses de pesquisa nesta área (Quadro 1).
Quadro 1. Variáveis investigadas em estudos da Ginástica Laboral no Brasil.
Quanto às questões referentes ao processo, dois levantamentos que abordavam a atuação de profissionais de Fisioterapia (KASCZESKEN, 2001) e de Educação Física (LEITÃO, 2001) na ginástica laboral foram encontrados. Destaca-se este último estudo, que objetivou verificar a diferença nos resultados da ginástica laboral quando orientada por facilitadores (empregados treinados para ministrar sessões de ginástica laboral) e profissionais de Educação Física. Segundo a autora, os resultados são significativamente melhores quando orientada pelos respectivos profissionais.
Além dos aspectos legais e éticos, questões referentes à formação pedagógica e a abrangente cobertura curricular de conteúdos da saúde presentes na formação do profissional de Educação Física, parecem justificar estes resultados. De fato, as proposições de MARTINS & DUARTE (2000) reforçam esta idéia, indicando que a atenção dispensada pelo profissional de Educação Física aos funcionários após as sessões de ginástica laboral são valiosas para reforçar laços de confiança e melhor aconselhar sobre a saúde física e psicológica. Além disso, inclusões de dicas de saúde e palestras são outras atividades possíveis de serem desenvolvidas por profissionais de Ed. Física no intuito de otimizar o programa.
Ainda nas variáveis de processo, observou-se que intervenções de ginástica laboral estavam presentes como ações complementares em programas para redução do estresse (VENÂNCIO, 2000) de profissionais de enfermagem e na prevenção de distúrbios osteo-musculares relacionadas ao trabalho (DORT) de trabalhadores da cozinha de um hospital (SILVA, 2001). Quanto a aceitação e participação (61% após 39 sessões) na ginástica laboral, os trabalhos FREIBERGER (2002) e de SANTOS (2003) demonstraram, respectivamente, bons resultados.
Já nas variáveis de impacto, o interessante trabalho de PEREIRA (2001), que analisou questões referentes ao estilo de vida entre participantes de ginástica laboral de seis empresas catarinenses, indicou importantes resultados. Conforme a autora, constatou-se alterações significativamente importantes na melhoria do relacionamento com os colegas, maior integração entre os empregados, maior disposição para o trabalho, diminuição dos níveis de estresse, alívio das dores corporais, maior sensação de bem-estar, maior estímulo para a atividade física fora da empresa, redução de tabagismo e da quantidade ingerida de bebidas alcoólicas.
Além disso, os resultados positivos descritos por ALVAREZ (2000), em variáveis relacionadas ao estilo de vida (comparado a outros grupos) após dois anos de aplicação de um programa de ginástica laboral e saúde, reforçam os indicativos do impacto destas intervenções. Contudo, a dificuldade de controle das variáveis intervenientes, somadas as diferenças das características de intervenção dificultam a validade externa dos resultados.
Em função destes fatores levantados, os achados verificados em variáveis referentes ao resultado, também parecem ser afetados. Reforçando esta hipótese, MARTINS & DUARTE (2000) descrevem que modificações positivas encontradas para a composição corporal e a pressão arterial em servidores da UFSC, possivelmente, foram derivadas das modificações no estilo de vida dos participantes. Ou seja, as características de condução do programa de ginástica laboral parecem ter influenciado indiretamente nestas variáveis. Todavia, os aumentos estatisticamente significativos observados na flexibilidade, provavelmente ocorreram em função da participação no programa.
Ainda na discussão dos efeitos diretos ou indiretos da ginástica laboral em variáveis de resultado, a investigação de LONGEN (2003) é de importante contribuição. Mediante pesquisa documental e ex post facto, com abordagem reflexiva, o autor discute as representações e significados da experiência de uma empresa do ramo alimentício, com um programa de ginástica laboral como método de prevenção de LER/DORT. Apesar da queda deste distúrbio nos três primeiros meses após o início do programa, observou-se crescimento progressivo ao longo dos dois anos posteriores. Mesmo considerando alguma influência da ginástica laboral, o autor descreve que a intenção de prevenção foi contraditória ao implantar o programa, ao qual foi atribuída toda a expectativa de prevenir LER/DORT.
Diminuições de queixas músculos-esqueléticas também foram verificados entre trabalhadores por meio de avaliação qualitativa de SANTOS (2003) e FREIBERG (2002). Contudo, este último trabalho contemplou gestantes e, apesar de ser realizado no local de trabalho, a série de exercícios compreendia mais de 30 minutos.
Em relação aos indicadores de resultado, somente o estudo de FREIBERG (2002) os deixou explícitos. Conforme a autora, houve decréscimo de 0,22% no índice de absenteísmo. Computados este decréscimo com os gastos necessários para implementação do programa, os benefícios não cobriam os custos no período da intervenção, todavia, a autora relatou que o retorno é um processo gradativo.
Realmente, retornos de investimento acerca de absenteísmo, custos com saúde e produtividade são complexos para se medir. Além do mais, relações de custo-efetividade e custo-benefício devem ser cuidadosamente dimensionadas antes de se implementar um programa. Entretanto, em qualquer delineamento de programa, faz-se necessário atentar para a inclusão da análise ergonômica do trabalho (AET) para prescrição das atividades e intervenções ambientais e organizacionais.
Estas considerações também são corroboradas pelos autores que realizaram a AET em seus estudos com ginástica laboral. MARTINS & DUARTE (2000), relatam que sem a AET, as sessões de ginástica laboral são apenas paliativas, já que a mesma não é capaz de atuar com eficácia sobre a má postura ocasionada por um mobiliário anti-ergonômico ou tarefas deficientemente prescritas. ALVAREZ (2003), reforça estes argumentos sugerindo que se inclua a disciplina de ergonomia na grade curricular do curso de Educação Física.
Por outro lado, SANTOS (2003) relata que postos de trabalhos ergonomicamente projetados (adaptados) não se constituem, por si só, em garantia de uma saúde preservada. Por isso, é importante que se implemente a ginástica laboral junto às ações em AET. Fato que foi verificado pelo estudo de TOKARS (2001), que utilizou a AET e a ginástica laboral proprioceptiva em operadores de solda e descreveu que a mesma pode favorecer a inter-relação entre a máquina e o homem.
4. ConclusõesConsideras as delimitações e limitações deste trabalho, conclui-se, portanto, que cerca de dois terços das pesquisas em ginástica laboral são do tipo descritiva e, há carência de veiculação destes estudos em periódicos indexados. Já os resultados identificados compreendem, aproximadamente, a uma dezena de variáveis.
Mediante os indicativos encontrados, sugere-se que os resultados derivados da ginástica laboral parecem depender de variáveis relacionadas ao contexto organizacional e social para quem se destina a intervenção. Logo, deve-se ter cautela na divulgação dos benefícios derivados da ginástica laboral.
Referências bibliográficas
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CAÑETE, I. Humanização - Desafio da empresa moderna - A ginástica laboral como um caminho. 1ª ed. Porto Alegre. Artes e Ofícios Editora, 1996.
CHACÓN, C. G. A. Estudo clínico e epidemiológico dos casos suspeitos de LER/DORTna indústria de alimentos Nutrimental: ginástica laboral como medida preventiva. Monografia não-publicada, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 1999.
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KASCZESKEN, S. L. O fisioterapeuta na saúde ocupacional. 2001. - Universidade Federal do Paraná, Curitiba.
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PEREIRA, S. V. Contribuição do programa de ginástica na empresa (SESI-SC) na mudança do estilo de vida dos participantes e na melhoria das relações interpessoais nas organizações. 2001. Dissertação (Mestrado em Engenharia da Produção) - Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis.
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VENÂNCIO, C. A. Qualidade de vida no trabalho X estressores freqüentes a que estão sujeitos os profissionais de enfermagem que atuam no serviço de transplante de medula óssea. Monografia não-publicada, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2000.
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digital · Año 11 · N° 97 | Buenos Aires, Junio 2006 |