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Nadadores mirins competitivos:
adequação do estado nutricional

   
* Mestre em Saúde Pública pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade
de São Paulo FSP/USP, Docente e Supervisora de Estágios do
Centro Universitário São Camilo - São Paulo, SP.
** Nutricionista graduada pelo Centro Universitário São Camilo.
 
 
Renata Furlan Viebig*
Cíntia Tamayoshi Patton**

refurlan@terra.com.br
(Brasil)
 

 

 

 

 
Resumo
    Introdução: A adoção de comportamentos alimentares inadequados é bastante comum entre atletas adolescentes e pode levar à deficiências energéticas e protéicas. As medidas antropométricas têm se revelado como o método mais utilizado para o diagnóstico nutricional. Objetivo: Verificar o estado nutricional e hábitos alimentares de nadadores mirins competitivos de um clube do município de São Paulo. Métodos: O presente estudo foi realizado com 30 nadadores mirins, de ambos os sexos, com idade entre 4 e 11 anos. Aplicou-se uma anamnese alimentar e foram tomadas medidas antropométricas, de cada participante do estudo. Foram calculados o Índice de Massa Corpórea - IMC e o percentual de gordura corporal dos atletas. Resultados: Foram estudados 50% de meninos e 50% de meninas, com idades médias de 8,5 anos (DP=1,9) e 9,6 (DP=1,5), respectivamente. Verificou-se 16,7% dos nadadores apresentaram excessos ponderais (P85-P97), sendo 20% meninos e 13,3% meninas. Um total de 6,7% da amostra estudada apresentou excesso de peso (P>97). Cerca de 27% dos meninos e 40% das meninas apresentaram percentuais de gordura moderadamente alto ou alto. Conclusão: Embora sejam atletas mirins, os nadadores estudados apresentaram alta prevalência de excesso de peso e de percentuais de gordura elevados.
    Unitermos: Antropometria. Atividade física. Natação. Criança.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 11 - N° 96 - Mayo de 2006

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Introdução

    É comum, entre jovens atletas, a adoção de comportamentos alimentares inadequados que podem comprometer seu estado nutricional. Como exemplo pode-se citar a baixa ingestão de alimentos fonte de carboidratos, que podem ocasionar deficiências energéticas e, as proteínas que deveriam ser utilizadas no processo de crescimento são desviadas para produção de energia para a atividade física (JUZWIAK e PASCHOAL 2001).

    Para identificar o estado subnutrido ou supernutrido e estimular a ingestão energética necessária para promover crescimento e bem-estar na criança é essencial que seja feita uma avaliação nutricional criteriosa (SHILLS et al 2003; MARCONDES 2003). Uma das ferramentas mais utilizadas para aferir o crescimento é o exame físico incluindo neste a antropometria, um método essencial para a determinação do estado nutricional (SHILLS et al 2003; CUPPARY 2003).

    A antropometria é um método de investigação em nutrição baseado na medição das variações físicas e na composição corporal global. Pode ser aplicado em todas as fases de vida e permite a classificação de indivíduos e grupos segundo o seu estado nutricional. Dependendo do método utilizado, tem como vantagens ser barato, simples, de fácil aplicação e padronização, além de pouco invasivo. Ademais, possibilita que os diagnósticos individuais sejam agrupados e analisados de modo a fornecer o diagnóstico de coletivo, permitindo conhecer o perfil nutricional de um determinado grupo. A antropometria, além de ser universalmente aceita, é apontada como sendo o melhor parâmetro para avaliar o estado nutricional de grupos populacionais (SISVAN 2004).

    Os dados antropométricos de crianças são de grande utilidade na avaliação de crescimento, desde que as seguintes etapas sejam adequadamente cumpridas: registro exato de idade e sexo da criança, tomada periódica e precisa das medidas e adoção de curvas de referência (CARVALHO 2000).

    O presente trabalho teve como objetivo avaliar o estado nutricional de crianças atletas de quatro a dez anos de idade, nadadores mirins competitivos de um clube da cidade de São Paulo.


Métodos

    O presente estudo corresponde a uma pesquisa transversal e foi realizado em um clube localizado na Zona Leste do Município de São Paulo (SP), nos segundo semestre do ano de 2004. Foram estudados 30 nadadores mirins competitivos, sendo que 13,3% eram menores de 7 anos e 86,7% tinham entre 7 e 10 anos de idade.

    Por meio da aplicação de uma ficha de anamnese foram coletados dados como: nome, sexo, data de nascimento, o motivo da prática de natação e freqüência de consumo de certos alimentos. No caso das crianças menores, a entrevista foi realizada com os pais ou responsáveis.

    Além da aplicação da ficha de anamnese, foi realizada avaliação antropométrica individualizada na qual foram tomados: peso (Kg), estatura (cm), circunferência do braço (CB), dobra cutânea triciptal (DCT) e dobra cutânea subescapular (DCSE). As crianças abaixo de 7 anos foram analisadas somente conforme os índice antropométricos P/I, A/I e IMC/I e para os participantes acima de 7 anos, foram analisados adicionalmente os resultados do percentual de gordura corporal.

    Para aferição das medidas as crianças trajavam apenas roupas de banho (maiô ou sunga). Para verificar o peso, utilizou-se uma balança eletrônica de marca Filizola, com capacidade para 150 Kg, e para a medição da estatura um estadiômetro Sanny com comprimento de 2,20m. As crianças eram colocadas com a cabeça (osso occipital), os ombros, as nádegas, pés (juntos) encostados no estadiômetro e com o olhar fixo no horizonte. O suporte do estadiômetro era deslizado até a cabeça das crianças, que estavam sem qualquer tipo de penteado ou adornos nos cabelos.

    Para aferir as dobras cutâneas triciptal e subescapular foi utilizado um compasso da marca Lange e a classificação dos resultados obtidos foi feita de acordo com os percentis porpostos por Frisancho (1990).

    A partir do peso e da estatura, obteve-se o Índice de Massa Corporal (IMC) utilizando-se a equação: IMC = P / A2. Os valores obtidos foram classificados segundo percentis propostos pelo NCHS (2000) da seguinte forma: entre o P3-P10 baixo peso, entre P10-P85 eutrofia, entre P85-P95 risco de excesso de peso e >P95 excesso de peso.

    O percentual de gordura das crianças foi calculado por meio da equação de Slaughter et al (1988) que utilizava os valores obtidos das medidas da DCT e da DCSE. A classificação desses resultados foi feita por pontos de corte Deurenberg et al (1990).

    Para aferir a circunferência do braço foi utilizada uma fita métrica inelástica, com comprimento de 150cm. A partir dos dados da circunferência do braço e da dobra cutânea triciptal, foi possível calcular a circunferência muscular do braço (CMB). Estes três parâmetros foram classificados segundo percentis propostos por Frisancho (1990).

    Os dados antropométricos foram avaliados segundo medidas de tendência central (média, desvio-padrão), segundo sexo e por meio da distribuição percentual das variáveis entre os nadadores.


Resultados e discussão

    Foram avaliados 30 nadadores mirins, sendo 50% meninos e 50% meninas, com idades médias de 8,5 anos (DP=1,9) e 9,6 (DP=1,5), respectivamente.

    Para melhor caracterizar a população, foi perguntado aos nadadores se praticavam outro tipo de esporte além da natação, como pode ser observado na Tabela 1.

Tabela 1. Distribuição (%) de nadadores mirins, segundo sexo, de acordo com a prática de esportes. São Paulo, 2004.


A Tabela 2 mostra os valores médios e desvios-padrão das características antropométricas dos participantes do estudo.

Tabela 2. Distribuição das características antropométricas de nadadores mirins, segundo sexo. São Paulo, 2004.


No Gráfico 1, pode-se verificar os percentis em que as crianças estão enquadradas, segundo os indicadores altura/idade (A/I) e peso/idade (P/I).

Gráfico 1. Distribuição dos nadadores mirins de acordo com índices antropométricos P/I e A/I por percentis. São Paulo, 2004.

    Pode-se notar que, 10% das crianças encontravam-se entre o P3-P10 para o índice A/I. Da mesma forma, 6,7% encontravam-se nos mesmo percentis para o índice P/I, indicando risco de desnutrição crônica e desnutrição global, respectivamente. O índice P/I é empregado para refletir deficiências. Ele está relacionado tanto com o passado nutricional da criança como com problemas atuais que resultem em perda de peso e ganho insuficiente de peso (MS 2002).

    Para o índice A/I foi encontrado que 86,7% da população estavam distribuídos entre o P10-P97 e para o índice P/I 83,4% estavam distribuídas entre os mesmos percentis, indicando eutrofia.

    Foram encontrados 3,3% da população com percentil > P97 para o índice A/I e 10,0% com o percentil > P97 para o índice P/I, indicando excesso de peso. Estudo realizado com crianças de uma creche municipal de Maringá detectou baixa estatura para idade em 1,33% das crianças, indicando desnutrição crônica e risco de desnutrição para 10,21% (KURANISHI 2001). O Gráfico 2 mostra a distribuição das crianças conforme a classificação do IMC.

Gráfico 2. Distribuição (%) dos nadadores mirins de acordo com o índice de massa corporal (IMC), segundo o sexo. São Paulo, 2004.

    Analisando-se o Gráfico 2 observa-se que 13,3% da amostra estavam entre o P3-P10 que caracteriza "baixo peso", sendo que 6,7% destes eram meninos e 20% meninas.Observou-se que 63,3% dos nadadores eram eutróficos (P10-P85), sendo 66,7% meninos e 60% meninas. A prevalência de excesso de peso encontrada (P85-P97) foi de 16,7%, sendo 20% meninos e 13,3% meninas. Um total de 6,7% da amostra estudada apresentou excesso de peso (P>97).

    Um estudo realizado por Balaban (2001) com crianças e adolescentes de uma escola da rede privada de Recife encontrou uma prevalência de excesso de peso de 26,2% . A prevalência foi maior no sexo masculino onde se constatou excesso de peso em 34,6% dos alunos, enquanto no sexo feminino, 20,6% encontravam-se com excesso de peso.

     Oliveira et al (2003), realizou um estudo com 699 crianças, na faixa etária de cinco a nove anos, da rede de ensino público e privado de Feira de Santana (BA). Neste estudo a prevalência total de sobrepeso foi de 9,3% e 4,4% de obesidade. Não houve diferença significante entre os sexos e faixa etária. O Gráfico 3 demonstra a distribuição da circunferência do braço, circunferência muscular do braço e dobra cutânea triciptal das crianças avaliadas de acordo com percentis de adequação.

Gráfico 3. Distribuição (%) dos nadadores mirins de acordo com CB, CMB, DCT. São Paulo, 2004.

    No Gráfico 3, nota-se que 13,3% da amostra estava no percentil85 foram encontrados para 26,7% dos nadadores segundo CB, para 16,7% segundo CMB e para 26,7% segundo DCT, indicando obesidade.

    Segundo Cuppari (2002), a circunferência do braço representa a soma das áreas contituídas pelos tecidos ósseo, muscular e gorduroso no braço. A circunferência média do braço (CMB) é um indicador que pode ser utilizado sozinho ou associado à prega cutânea do tríceps para avaliar composição corporal (SIGULEM, 2000).

    O percentual de gordura foi calculado para as crianças > 6 anos (86,7%). A média deste indicador para o sexo masculino foi de 17,6% e para o sexo feminino foi de 17,9%. Os Gráficos 4 e 5 mostram a distribuição do percentual de gordura das crianças de ambos os sexos segundo classificação de Deurenberg et al (1990).

Gráfico 4. Distribuição (%) do percentual de gordura das crianças acima de 6 anos, do sexo masculino. São Paulo, 2004.

Gráfico 5. Distribuição do percentual de gordura das crianças acima de 6 anos, do sexo feminino. São Paulo, 2004.

    De acordo com os Gráficos 4 e 5 verifica-se que 13,3% dos meninos encontravam-se com a porcentagem de gordura baixa, 40% adequados, 20% moderadamente alta e 6,7% alta. No entanto, esses dados divergem do grupo feminino, no qual observou-se que 20% apresentavam porcentagem de gordura excessivamente baixa, baixa e moderadamente alta, respectivamente e 33,3% encontravam-se com a porcentagem de gordura adequada.

    Estudo realizado por Paiva (2001), encontrou um percentual de gordura de 16,63% entre praticantes de ginástica olímpica do sexo feminino quando fez um estudo comparativo do crescimento de crianças praticantes e não praticantes de ginástica olímpica. Pesquisa realizada por Giugliano (2004), encontrou dados semelhantes ao presente estudo, verificando uma média de percentual de gordura de 17,7%, para ambos os sexos em uma população de escolares


Conclusão

    Embora os indivíduos estudados sejam crianças fisicamente ativas, houve casos de participantes que apresentaram excessos ponderais, avaliados por meio da avaliação do Índice de Massa Corpórea e pela porcentagem de gordura corporal.

    As pesquisas são escassas na área de avaliação nutricional de atletas e desportistas, especialmente crianças e, portanto, mais trabalhos com atletas mirins devem ser realizados para melhor compreensão das modificações da composição corporal induzidas pela prática esportiva.


Referências bibliográficas

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  • KURANISHI, L. T. et al. Avaliação do estado nutricional de pré escolares matriculados nas creches municipais de Maringá. Jornal de Pediatria, Rio de Janeiro, v. 79, n. 3, p. 63-67, 2001.

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  • MINISTÉRIO DA SAÚDE. Vigilância alimentar e nutricional - SISVAN: Orientação básica para a coleta, o processamento, a análise de dados e a informação em serviços de saúde. Brasília DF, 2004.

  • OLIVEIRA, Ana Mayra A. de, CERQUEIRA, Eneida de M.M. e OLIVEIRA, Antônio César de. Prevalência de sobrepeso e obesidade infantil na cidade de Feira de Santana-BA: detecção na família x diagnóstico clínico. Jornal de Pediatria (Rio J), vol.79, no.4, p.325-328, jul / ago 2003.

  • PAIVA, M. F. N. D.B.& MICHELS, G. Estudo comparativo do crescimento de crianças praticantes e não praticantes de ginástica olímpica. Nutrição em Pauta, São Paulo, n. 50, p. 19-24, set/out 2001.

  • SHILS et al. Tratado de nutrição moderna na saúde e na doença. 9 ed. Barueri: Manole, 2003.

  • SIGULEM, Dirce M; DEVINVENZI, Macarena U; LESSA, Angelina C. Diagnóstico do estado nutricional da criança e do adolescente. Jornal de pediatria, Rio de Janeiro, v. 76, supl. 3, S274 - S284, dez. 2000.

  • SLAUGHTER, M. H. et al, 1988. Skinfold equations for estimation of body fatness in children and youth. Human Biology, v. 60, n. 5, p. 709-723, 1988.

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revista digital · Año 11 · N° 96 | Buenos Aires, Mayo 2006  
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