Fatores motivacionais que levam à prática e à não-pratica de atividades físicas em adolescentes e adultos jovens antes e depois do diagnóstico de diabetes mellitus tipo I |
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Curso de Educação Física da Universidade São Judas Tadeu, São Paulo (Brasil) |
Elton de Aquino Santana Tamara Teixeira Harpaz Sheila Aparecida Pereira Dos Santos Silva prof.sheila.silva@usjt.br |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 11 - N° 96 - Mayo de 2006 |
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Introdução
O Diabetes Mellitus Insulino Dependente, também conhecido como Diabetes Juvenil outipo I, é uma fisiopatologia que acomete uma grande parcela da população, sendo sua incidência de 1 ou 2 para cada 1000 adolescentes. No Brasil, estima-se que aproximadamente cinco milhões de indivíduos sejam diabéticos, sendo que a metade deles desconhece o diagnóstico.
O diabetes é uma doença caracterizada pela elevação da glicemia plasmática e seu aparecimento está associado à diminuição da secreção de um hormônio protéico (insulina) pelas células beta das ilhotas de Langerhans, localizadas no pâncreas.
As células beta são mais suscetíveis aos vírus em geral, o que favorece a produção de anticorpos auto-imunes que destroem estas células. Este processo pode ocorrer rapidamente ou ao longo de vários meses ou vários anos. Em alguns casos parece haver uma simples tendência hereditária para a destruição das células beta ou para defeitos na regulação de secreção de insulina (FRONTEIRA, DAWSON & SLOVIK, 1999; SANTOS & EMUNO, 2003).
Os sintomas mais comuns da doença são: fadiga, cansaço, sede e fome intensa, micção freqüente e perda de peso, apesar da excessiva fome. Havendo esses sintomas, o diagnostico é certeiro. Geralmente, os jovens e as crianças acometidos pela doença são magros (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 1999).
Muitas vezes, a notícia de um diagnóstico de diabetes é recebida com muita rejeição pelos adolescentes, que inicialmente não se imaginam com uma doença crônica e, muitas vezes, levam um certo tempo para aceitá-la. O apoio familiar, de amigos e das pessoas que estão ao redor desses adolescentes é muito importante no sentido de fazer com que o mesmo tente aceitar a doença e passe a iniciar o tratamento.
Cada vez mais se admite que os aspectos emocionais, afetivos e sociais dos adolescentes portadores de diabetes, assim como a dinâmica familiar e até mesmo a relação médico-paciente podem influenciar o controle da doença. Neste sentido, é reconhecida a importância dos fatores psicológicos tanto para o surgimento quanto para o controle metabólico do diabetes (CHIPKEVITCH, 1994).
Em particular, o diabetes requer dos jovens diabéticos, das famílias e dos profissionais da saúde, esforços conjuntos para que os portadores atinjam um bom controle metabólico, afim de minimizar as complicações advindas a longo prazo. Famílias estruturadas e organizadas podem fornecer um ambiente mais compatível às necessidades dos jovens diabéticos, já que o tratamento exige controle e organização. Os sentimentos como superproteção, indiferença ou descuido com os jovens diabéticos e pais que levam os jovens a assumirem toda a responsabilidade pelo autocuidado podem contribuir para a obtenção de um mau controle metabólico (FOLLANSBEE, 1999).
A atividade física é cada vez mais utilizada, juntamente com o medicamento e a dieta, como forma de tratamento do diabetes devido aos benefícios proporcionados por ela sobre o risco cardiovascular, controle metabólico, prevenção de complicações crônicas degenerativas, além de benefícios psico-sociais.
Várias são as formas de atividade física que o portador de diabetes pode se utilizar, não existindo restrição quanto à forma, porém o exercício não é isento de risco para eles.
O principal risco é a diminuição da glicemia (hipoglicemia), mas em alguns casos, com níveis iniciais elevados de glicemia, o exercício pode elevá-la ainda mais, proporcionando quadros hiperglicêmicos. O importante é que a atividade física seja controlada e feita de maneira correta. É de extrema importância que a pessoa portadora de diabetes, ao realizar atividade física, monitore sua glicemia antes, durante e após a atividade, evitando assim quadros de hipoglicemia. (NIEMAN, 1999)
A motivação por parte dos familiares, médicos e das pessoas que convivem ao redor destes jovens portadores de diabetes é imprescindível, pois a motivação pessoal juntamente com a disciplina e a força de vontade são requisitos fundamentais para um bom controle da doença
A motivação possui tanto fatores intrínsecos como fatores extrínsecos (WEINBERG & GOULD, 2001). No caso do diabetes, dentre os fatores intrínsecos podemos identificar a busca de um melhor controle metabólico, pois os adolescentes e adultos já sabem com clareza dos efeitos degenerativos que o diabetes provoca.
Dentre os fatores extrínsecos podemos destacar a convivência com os amigos, pois os jovens estão cada vez mais ocupados com obrigações escolares, obrigações no trabalho e passar um tempo junto dos amigos mais íntimos é motivo de extrema satisfação, fazendo com que os encontros freqüentes para a realização de alguma atividade física tornem-se uma rotina em suas vidas, o que também lhe proporcionará uma ajuda no controle metabólico. Neste caso, o apoio e incentivo dos amigos são indispensáveis.
Indivíduos motivados a praticar atividades físicas podem apresentar resultados melhores do que os daqueles que, por sua vez, a praticam sem motivação. Isso porque a motivação fará com que esses indivíduos motivados realizem os exercícios com mais vontade e satisfação do que os indivíduos desmotivados. Porém, o excesso de motivação poderá levar a resultados não satisfatórios, pois levará o indivíduo a uma certa tensão que poderá prejudicar seu desempenho (WEIBERG & GOULD, 2001).
A atividade física é parte de uma vida saudável para qualquer indivíduo (NIEMAN, 1999; MATSUDO, 2001). Especificamente no caso do diabetes, os exercícios possuem qualidades marcantes tanto na prevenção quanto no tratamento (CANCELLIÉRI, 1999).
A atividade física juntamente com a dieta e a ingestão de medicamentos forma uma tríade que cada vez mais vem sendo utilizada no tratamento do diabetes (SILVEIRA NETTO, 2000).
Dentre os componentes que fazem parte do tratamento, a atividade física torna-se a parte mais divertida, se comparada com a aplicação de insulina no qual o indivíduo tem que se furar todos os dias com uma agulha ou lanceta, ou com a mudança de seus hábitos alimentares, restringindo muitas vezes alimentos dos quais gostam muito.
Silveira Neto (2000) apresenta os parâmetros psicológicos possíveis de mudança com o exercício físico.
Além do mais, a movimentação corporal e a conseqüente estimulação sensório-perceptiva tende a tornar o indivíduo mais consciente de seus sintomas por uma melhor capacidade de percepção corporal, podendo servir, também, como um forte fator de adesão ao tratamento (SILVA E. DULLIUS, 2001).
Os exercícios físicos provocam uma redução de aproximadamente 30% a 50% da necessidade de ingestão de insulina exógena para o diabético do tipo I. Essa redução vem associada a uma melhora na sensibilidade à insulina das células que é provocada pelo exercício. Essa melhora na sensibilidade à insulina dura um período de aproximadamente dois dias antes de voltar aos níveis anteriores ao exercício.
Portanto, o músculo precisa de exercício regular para ter uma melhor sensibilidade à insulina constante. Os pacientes com diabetes tipo I que se exercitam regularmente, necessitarão de doses de insulina menores do que o normal ou necessitarão aumentar a ingestão alimentar (NIEMAN, 1999).
Entender os motivos pelos quais os jovens realizam atividade física é fundamental para poder oferecer um feedback produtivo à sua participação. Em um estudo realizado por Gould e Petlichkafl (1998) apud Weimberg & Gould (2001) verificou-se que as pessoas citavam diferentes motivos para a realização de atividades físicas como fatores de saúde, perda de peso, condicionamento, autodesafio e bem estar. Após algum tempo de adesão aos exercícios, muitas vezes as pessoas mudam esses motivos sendo que o divertimento, a liderança da organização, o tipo de atividade e fatores sociais foram os mais citados.
Sendo assim, nosso questionamento gira em torno de buscar quais são os fatores que motivam os adolescentes e os adultos diabéticos de ambos os sexos a praticarem e não praticarem atividades físicas antes e depois do diagnóstico da doença.
O objetivo deste trabalho é identificar os motivos que levam à prática e a não-prática de atividades físicas em adolescentes e adultos jovens antes e depois do diagnóstico de diabetes mellitus tipo I.
MétodoAs consultas bibliográficas que fundamentaram o trabalho foram realizadas através das bases de dados Bireme, Scielo, Medline, Lilacs, Adolec e também através da biblioteca da Universidade São Judas Tadeu.
A pesquisa caracterizou-se como pesquisa de campo, da qual participaram 20 jovens diabéticos tipo I sendo 13 do sexo masculino e 7 do sexo feminino, na faixa etária de 15 a 25 anos de idade.
Os jovens participantes da pesquisa pertencem a ADJ (Associação de Diabetes Juvenil), sendo este também um critério de exclusão, ou seja, não poderiam participar da pesquisa jovens não cadastrados na ADJ. Tal critério foi adotado pelo fato desses jovens serem bem esclarecidos em relação ao diabetes, através de encontros mensais realizados na associação.
O material utilizado foi um questionário contendo (05) questões abertas e (10) fechadas às quais os jovens teriam que responder. Através do questionário utilizado, percebemos a vantagem de acumular algumas informações de tal forma que as mesmas possam ser observadas por outros pesquisadores com objetivos diferentes e facilidade de uma amostragem de indivíduos, sobre determinada população ou classe de fenômeno (LAKATOS & MARCONI, 2003).
Para análise dos resultados foram feitos cálculos de porcentagem das questões fechadas, sendo que nas questões abertas foram feitas análises ideográficas dos dados coletados.
A presente pesquisa classifica-se como mista de pesquisa quantitativa e qualitativa com amostra não probabilística intencional aplicada. (THOMAS & NELSON, 2002)
Resultados
Dos vinte jovens entrevistados, 15 (75%) já praticavam algum tipo de atividade física antes do diagnóstico de diabetes mellitus tipo I, sendo que 5 jovens (25%) não praticavam nenhum tipo de atividade física. Após o diagnostico da doença os valores permaneceram-se os mesmos.
Relação das atividades realizadas antes do diagnóstico de diabetes mellitus tipo I
As atividades físicas mais praticadas pelos jovens antes de obter o diagnóstico de diabetes eram futebol e ciclismo, sendo cada uma praticada por 5 dos 20 entrevistados. Natação, praticada por 3 dos 20 entrevistados, ballet, praticado por 2 dos 20 entrevistados seguidos de jazz, musculação, ginástica, caminhada, corrida e handebol que foram citados uma única vez.
Relação das atividades realizadas pelos adolescentes e adultos jovens após o diagnóstico de diabetes mellitus tipo I
Após o diagnóstico da doença, as atividades mais praticas são a musculação e o futebol, praticada por 5 dos 20 entrevistados, natação, praticada por 4 dos 20 entrevistados, ciclismo e corrida, praticado por 3 dos 20 entrevistados, caminhada e handebol, praticado por 2 dos vinte entrevistados além de ginástica, hidroginástica, voleibol e dança que foram citados uma vez cada.
Motivos que levaram à prática de atividades fisicas antes do diagnóstico de diabetes mellitus tipo I
Foram citados como motivos que levaram à prática de atividade física antes do diagnóstico de diabetes o prazer e o bem estar que a atividade proporciona, tal motivo foi citado por 11 dos 20 entrevistados. Os amigos, o sonho profissional, a beleza da atividade, a estética corporal, recomendação dos pais, orientação médica e condicionamento físico também foram citados, sendo que os amigos foram citados 2 vezes e os demais foram citados 1 vez cada.
Motivos que levam à prática de atividades físicas nos adolescentes e adultos jovens após o diagóstico de diabetes mellitus tipo I
Em relação ao atual comportamento frente à prática de atividade física, foram citados como motivos que levam a prática de tal atividade o controle glicêmico, citados 13 vezes, o prazer e o bem estar que a atividade proporciona, citado 9 vezes, a consciência dos benefícios da atividade física em relação ao diabetes, citado 3 vezes, o condicionamento físico, citados 4 vezes, os amigos, a estética, e a competição, citados 1 vez cada um.
Motivos que levaram à não-prática de atividades físicas antes do diagnóstico de diabetes mellitus tipo I
Os que não praticaram nenhum tipo de atividade física antes de adquirir a doença justificaram tal comportamento por terem adquirido o diabetes muito cedo, portanto, antes do diagnóstico não tinham idade suficiente para praticar atividades físicas. Esse motivo foi citado por 2 pessoas. Outros motivos foram o fato de não gostarem de atividades físicas, citado por 2 pessoas e a falta de interesse pela atividade física, citado por 1 pessoa.
Motivos que levam à não-prática de atividades fisicas nos adolescentes e adultos jovens após o diagnóstico de diabetes mellitus tipo I
Os motivos citados pelos que não praticam nenhum tipo de atividade física atualmente foram a falta de tempo, citado por 2 jovens, a falta de interesse por atividades físicas, citado por 2 jovens, o fato de seus amigos também não praticarem e o fato na não gostarem de atividades físicas também foram citados uma vez cada.
ConclusãoConclui-se que o principal motivo que leva à prática de atividade física nos jovens antes do diagnóstico de diabetes mellitus tipo 1 é o prazer e o bem estar que a atividade física proporciona, seguidos em uma escala menor da companhia de amigos, o sonho profissional, a beleza da atividade, a estética corporal, recomendação dos pais, orientação médica e condicionamento físico.
Após o diagnóstico da doença, o principal motivo que leva à prática de atividade física pelos jovens é a busca por um melhor controle glicêmico, seguidos do prazer e bem estar que a atividade proporciona, consciência dos benefícios da atividade física e o condicionamento físico.
Dos motivos que levam à não realização de atividades físicas pelos jovens antes da descoberta da doença, a falta de interesse, o fato de serem muito novos e por não gostarem de praticar atividades físicas foram os mais citados. Após o diagnóstico do diabetes, os motivos citados para o mesmo comportamento foram a falta de tempo, a falta de interesse, falta de companhia para a prática e o fato de não gostarem de atividades físicas.
A literatura, no entanto, identifica que a atividade física auxilia no tratamento do diabetes no sentido de reduzir a glicemia plasmática, diminuindo assim, a quantidade de insulina que o diabético tem que tomar diariamente, além de promover outros benefícios fisiológicos, psicológicos e sociais.
Porém, notou-se que quem não tinha o hábito de praticar atividades físicas antes do diagnóstico do diabetes, não mudou seu comportamento após a confirmação da doença, encontrando outras formas de tratamento sem incluir exercícios físicos.
Portanto, ainda que os benefícios oriundos da prática da atividade física sejam evidentes e comprovados, cabe ao jovem, juntamente com seus familiares e o seu médico, encontrarem a melhor maneira para o tratamento da doença, de forma que este se adapte às suas características pessoais.
Referências bibliográficas
CANCELLIERI, C. Diabetes e atividade física, Jundiaí -SP: Fontoura, 1999.
CHIPKEVITCH, E. Puberdade & Adolescência: aspectos biológicos, clínicos e psicossociais. São Paulo: Roca, 1994.
FOLLANSBEE, D.S. Assuming responsibility for diabetes management what age? What price? Diabetes Educ. 15(4):347-53. 1999.
FRONTEIRA, W. R.; DAWSON, D.M.; SLOVIK. Exercício físico e reabilitação. p. 157- 158, 202-214, 1999.
MATSUDO, Vitor. Exercício na dose certa. Diabetes Clinica. Revista Época, Rio de Janeiro 2001.
NIEMAN, D. C. Exercício e saúde. São Paulo: Manole, 1999.
SANTOS, JR. & EMUNO, SRF. Adolescentes com diabetes mellitus tipo 1: seu cotidiano e enfrentamento da doença, Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do Espírito Santo, 2003
SILVA, M; DULLIUS, J. Aquisição de hábitos saudáveis por diabéticos tipo 1 durante um programa de atividade física. Monografia de especialização. Brasília: FEF/UnB, 2001
SILVEIRA NETTO, E. Atividade física para diabéticos. Rio de Janeiro: Sprint, 2000.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES. Consenso, deteccão e tratamento das complicações crônicas do diabetes mellitus. Arquivos Brasileiros de Endocrinologia e Metabolismo v.43, p.7-13. 1999.
WEIBERG, R.S.; GOULD, D. Fundamentos da psicologia do esporte e do exercício. 2ed. Porto Alegre: Artmed, 2001.
revista
digital · Año 11 · N° 96 | Buenos Aires, Mayo 2006 |