Natação para bebês. Retrato da realidade em Nova Iguaçu - RJ Child's swimming. Analysis of the reality in Nova Iguaçu City Natación para bebés. Análisis de la realidad en Nova Iguaçu Natation pour les bébés. Analyse de la réalité dan la ville de Nova Iguaçu |
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*Docente de Teoria e Prática Pedagógica da Natação da UNIABEU Coordenador do Grupo de Pesquisas em Atividades Aquáticas da UNIABEU Professor da Rede Municipal de Ensino do Rio de Janeiro - SME / 6ª CRE Professor do Programa Clubes Escolares da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro **Coordenador de Assuntos Científicos da Associação Brasileira de Desportos para Cegos - CPB Doutorando em Atividade Motora Adaptada - UNICAMP |
Paulo Gil Salles* pgsalles@terra.com.br Leonardo Mataruna** prof.mataruna@uol.com.br (Brasil) |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 11 - N° 96 - Mayo de 2006 |
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1. Introdução
O Município de Nova Iguaçu ocupa uma área aproximada de 524 Km2 na região conhecida como Baixada Fluminense - Estado do Rio de Janeiro, e possui uma população estimada em 750 mil habitantes aproximadamente (NOVA IGUAÇU, 2004). Fica na região metropolitana da Cidade do Rio de Janeiro e, por este motivo, recebe influências sócio-culturais deste município que é o maior e mais importante do Estado.
Em relação às atividades aquáticas para bebês na Cidade de Nova Iguaçu, não foi possível encontrar nenhum texto ou artigo que tivesse a pretensão de retratar a realidade deste tipo de atividade, o que por si só, já mostra a relevância deste trabalho.
Segundo Del Castillo (1997), o bebê que teve a oportunidade de experimentar o meio aquático como algo satisfatório, desenvolve uma atitude aquática positiva e, ainda que não aprenda técnicas específicas nesta fase, terá uma conduta na água substancialmente melhor que outros que não tiveram a mesma oportunidade.
O bebê na água se relaxa, aprende novos movimentos, fortalece sua musculatura e aprende a controlar a sua respiração, aspectos que contribuem de forma decisiva para seu desenvolvimento motor. O meio aquático contribui significativamente para o desenvolvimento e conhecimento da criança, atuando sobre sua conduta, fazendo-o mais independente e ativo ao explorar o meio, o que favorece a socialização. Além destes efeitos, a atividade na água ainda atua sobre o apetite, melhora a qualidade do sono, pois facilita o relaxamento e tem algum efeito de sedação (IDEM).
Outros autores como Franco e Navarro (1980), afirmam que a prática aquática nesta fase reforça a personalidade e a independência, e pode influir no processo de aquisição e desenvolvimento da linguagem.
Poderíamos dizer que a prática de atividades aquáticas aumenta as possibilidades motrizes do bebê e permite a experimentação de novas situações que o ajudarão a crescer. Por isso a atividade aquática deve ser paralela ao crescimento e estar presente de forma continuada.
2. JustificativaA motivação para elaboração deste trabalho nasceu da curiosidade em relação à Natação para Bebês no município de Nova Iguaçu e da possibilidade de retratar este tipo de atividade neste município de forma que os profissionais envolvidos possam ter um parâmetro mais fiel para basear seus planejamentos estratégicos e pedagógicos.
A total ausência, em Nova Iguaçu, de uma pesquisa criteriosa sobre a Natação, e mais especificamente aquela focada nos bebês, justifica a necessidade deste estudo, que se torna um marco do pioneirismo investigativo e que pode auxiliar os profissionais de Educação Física a modificar conceitos e a traçar novos objetivos para a prática da Natação para Bebês.
3. Objetivos3.1. Objetivo geral
O objetivo deste trabalho é mostrar a realidade da Natação para Bebês no Município de Nova Iguaçu.
3.2. Objetivos específicos
Verificar aspectos educacionais,
Levantar a estrutura física das academias,
Descobrir as faixas de classificação etária,
Discutir a relação entre responsáveis e academias no tocante aos objetivos educacionais da Natação para Bebês;
Verificar a influência de parentes e do médico pediatra na indicação da atividade aquática,
Examinar a relação da família com o perigo representado pelas piscinas próximas.
4. Revisão da literaturaSegundo Rodriguez (2001a), quando a criança nasce, sua forma principal de interação com o meio é estabelecido através de reflexos incondicionados, que tendem a desaparecer entre o terceiro e sexto mês como no caso do reflexo de preensão com as mãos. Outros reflexos, como o natatório, devem ser estimulados para que não desapareçam.
À medida que o bebê avança por seu primeiro ano de vida, vai ocorrendo a formação de reflexos condicionados, como o controle do esfíncter e também aparecem movimentos fundamentais.
Com o desenvolvimento, entre 1 e 2 anos, a criança incorpora habilidades motoras primárias que vão permitir que ele execute movimentos cada vez mais complexos (RODRIGUEZ, 2001b).
Entre os 2 e 3 anos a dependência da criança em relação ao adulto diminui e ele já é capaz de executar algumas tarefas com elevado grau de complexidade como subir e descer escadas. Nesta fase a linguagem da criança se enriquece bastante, aumentando o vocabulário e melhorando a compreensão da linguagem do adulto (IBIDEM, 2001c).
Conforme Lima (1999), muitos professores utilizam atividades inapropriadas para a idade e por isso, elas não são realizadas com eficiência ou simplesmente não atraem a atenção da criança: "Maturação é o estado de prontidão neurofisiológica do organismo em realizar determinadas tarefas, independentes ou não dos fatores ambientais".
Segundo Zulietti e Souza (2002), a Natação para bebês ou para lactentes abrange os primeiros 18 meses de vida e pouco tem a ver com a natação propriamente dita.
Corrêa e Massaud (1999) indicam que a idade mínima para o ingresso em atividades aquáticas deve ser os 6 meses, pois segundo estes autores, somente nesta idade as crianças já estão com as vacinas atualizadas, e portanto, protegidas contra sérias doenças contagiosas. Lima (2003) refere que as aulas de natação deverão ter seu início aos 3 meses, pois é a partir desta idade que a criança tem a capacidade de manter a cabeça na vertical e culminará aos 36 meses. Fontanelli (1985) propõe a mesma faixa etária e indica a duração das sessões em torno dos 20 minutos.
Segundo Fonseca, (apud ZULIETTI e SOUZA, 2002), a presença da mãe, do pai ou alguém que é familiar ao bebê é fundamental para o processo de estimulação aquática, onde estes vão proporcionar segurança afetiva e segurança física, enquanto os professores trabalharão como mediadores e facilitadores do processo de estimulação.
Corrêa e Massaud (1999) afirmam que as expectativas de realizar as atividades aquáticas para os bebês são:
Evitar acidentes em piscinas - no caso da criança cair na piscina de forma acidental.
Evitar futuros problemas motores - a natação agindo como um estímulo motor, já que a criança, no meio aquático, consegue realizar movimentos que não conseguiria se estivesse fora d'água.
Melhorar a saúde dos bebês - os familiares acreditam que a natação tem a capacidade de curar alguns problemas respiratórios.
Vários autores, entre eles Corrêa e Massaud (1999 e 2004), Lima (2003), Corrêa (1999) e Oliveira e Nakamura (1998), concordam que a temperatura da água para atividades com bebês deve estar em torno de 30º C, e que a piscina deve ser coberta para se manter uma temperatura ambiente constante. Moreno e cols. (2003) indicam que as sessões de Natação para Bebês devem acontecer em piscinas cobertas e a temperatura destas devem variar entre 27º C e 32º C.
Lima (2003) e Corrêa (1999) listam materiais auxiliares à prática da Natação para Bebês como sendo aqueles capazes de chamar a atenção da criança ou aqueles que sustentam o peso deste, como: as plataformas, as bolas coloridas de tamanhos diversos, os tapetes de EVA, as bóias, os brinquedos macios que flutuam e que afundam, os regadores e os baldes.
Em relação à profundidade das piscinas, Moreno e cols. (2003), afirmam que estas devem ter profundidade variável, de forma que a criança possa ficar de pé em uma parte da piscina e quando for o caso, movimentar-se livremente, sem contato com o fundo, em outra parte.
5. Metodologia da pesquisa5.1. População estudada
Foi elaborado um levantamento das academias que estavam formalmente constituídas de acordo com a legislação em vigor, sendo cadastradas 21 academias que preenchiam esta condição e que atuavam na área da Natação para Bebês. Foram escolhidas, de forma aleatória, 16 academias para serem visitadas.
O professor da turma de Natação para Bebês ou o diretor técnico da academia (n=16), juntamente com o responsável pelo bebê (n=16), formaram a amostra estudada.
5.2. InstrumentosForam elaborados dois questionários, baseados naquele idealizado pelo Prof. Ms. Edson Luiz de Lima (LIMA, 2003), totalizando 36 perguntas. O primeiro, contendo 24 questões, tinha o objetivo de verificar aspectos educacionais da Natação para Bebês e fazer levantamento de dados sobre a estrutura física das instalações onde aconteciam essas atividades aquáticas; a metodologia de ensino utilizada; e detalhes sobre a organização pedagógico-administrativa da academia. Este questionário foi respondido por professores das turmas de Natação para Bebês ou por seus diretores técnicos.
O segundo questionário, com 12 questões, foi dirigido aos responsáveis pelos bebês que responderam sobre as expectativas e a relação da família com as atividades aquáticas.
Ambos os questionários foram aplicados, nos meses de junho e julho de 2004, por alunos do Curso de Graduação em Educação Física da UNIABEU, da cidade de Belford Roxo - RJ, que integram o Grupo de Estudos em Atividades Aquáticas deste Centro Universitário.
Os questionários foram previamente validados quanto a sua aplicabilidade através de dois testes piloto realizados entre os dias 01/06/2004 e 05/06/2004, com professores e responsáveis por bebês do Projeto de Extensão Universitária ABEU EM MOVIMENTO, além da validação interna com três professores doutorandos em renomados centros de pesquisa (UGF, UNICAMP e UFF) e docentes da UNIABEU.
A análise estatística das variáveis contínuas foi realizada com o teste T de Student. Essas variáveis foram analisadas utilizando o software estatístico SPSS 9.0. Foi considerado como valor significativo p < 0,05.
5.3. Aspectos éticosFoi elaborado um "termo de compromisso e consentimento" que firmava o compromisso de manter em sigilo os nomes dos voluntários envolvidos nas respostas e também os resultados individuais de cada questionário. Outro compromisso assumido era que, se fosse o desejo da academia, esta teria o direito a receber uma cópia dos resultados finais da pesquisa.
Por outro lado, o termo supracitado dava o consentimento de utilização dos dados levantados tanto no questionário destinado às academias quanto ao questionário dos responsáveis, em trabalhos científicos e/ou acadêmicos.
6. ResultadosPara melhor compreensão, os resultados da pesquisa foram divididos em áreas que procuram responder:
6.1. Quem é o bebê que chega à academia de natação?Dentre os responsáveis pesquisados, 56,3% informaram que somente procuraram atividades aquáticas para seus bebês após estes completarem 2 anos de vida, porém 12,5% começaram as atividades com menos de 3 meses e 18,8% entre 6 e 9 meses. Já as academias de Natação para Bebês, colocavam turmas à disposição para menores de 6 meses em 68,8% dos casos e 18,8% para bebês entre 6 e 9 meses de idade.
Os bebês eram acompanhados durante a aula de natação em 50% das vezes pela mãe, 37,5 % somente pelo professor, 12,5% por outra pessoa que não fosse o pai. Neste ponto, ficou claro que a presença do pai do bebê era extremamente escassa, pois em nenhuma das entrevistas ele foi citado.
6.2. Como é a aula que este bebê recebe?As aulas de Natação para Bebês em Nova Iguaçu aconteciam 2 vezes por semana em 5 das 16 academias (31,2%) e 3 vezes por semana em 11 das 16 academias (68,8%), mas 50% (8/16) dos alunos estudados faziam aula 2 vezes na semana e o restante 3 vezes. As aulas tinham duração de 20 minutos em dez academias (62,5%) pesquisadas, em duas (12,5%), de 25 minutos, outras duas (12,5%), de 30 minutos e mais duas (12,5%) de 50 minutos.
As turmas de Natação para Bebês sofriam subdivisões em 62,5% (10/16) das academias (FIGURA 1). Das academias que usavam este tipo de estratégia, 30% (3/10) dividiam a turma por faixa etária, 30% (3/10) por habilidade e os 40% (4/10) restante o fazia por idade e habilidade. É importante ressaltar que 60% (6/10) das academias que funcionavam com subdivisões, o faziam no mesmo horário, ou seja, praticamente juntas.
Figura 1. As subdivisões nas Aulas de Natação para Bebês
O número máximo de alunos por turma era de somente 1 em 50% (8/16) das academias, porém 25% (4/16) delas têm 5 ou 6 alunos por turma. Em 12,5% (2/16) das academias, as turmas eram compostas de 7 ou 8 alunos. A maior relação "aluno / turma" foi encontrada em 12,5% (2/16) das academias que apresentaram 11 ou 12 crianças em cada turma (FIGURA 2).
Figura 2. Número máximo de alunos por turma nas academias pesquisadas.
6.3. Qual a estrutura física disponível nas academias de Natação para Bebês?Dentre as dezesseis academias pesquisadas, somente a que atendia exclusivamente os bebês, tinha uma piscina só para Natação para Bebês. As outras utilizavam a mesma piscina em diferentes atividades aquáticas desenvolvidas pela academia. Do total de piscinas (n=16), quatorze (87,5%) eram aquecidas, mas somente cinco (31,3%) eram cobertas.
A temperatura da água da piscina variava muito (FIGURA 3), indo desde a temperatura ambiente em duas (12,5%) das academias, passando por três academias (18,8%) que embora aquecidas mantinham a água numa temperatura inferior a 27º C. Dentre as academias estudadas em Nova Iguaçu, quatro (25%) regulavam a temperatura da água para algo entre 27º C e 29º C, quatro (25%) entre 29º C e 30º C, e três (18,8%) entre 30º C e 31º C.
Figura 3. A temperaturas das piscinas pesquisadas.
Dentre as academias analisadas em Nova Iguaçu, a profundidade mínima encontrada nas piscinas era de 80 cm, sendo que em 75% destas (12/16), a parte mais rasa media pelo menos que 1 metro de profundidade. Em 68,8% (11/16) das piscinas pesquisadas o volume de água era superior a 200 m3, ou seja, mais de 200.000 litros. Estes fatos que sugerem que a piscina não foi construída levando em consideração o seu uso por bebês.
Fato curioso era que apesar de não ser um setor rentável, pois quinze entre dezesseis (93,7%) academias informaram que as atividades aquáticas com bebês representavam menos de 15% do faturamento total (FIGURA 4), a Natação para Bebês era uma atividade que em 62,6% (11/16) destas já ocorria há pelo menos 5 anos. Este fato devia-se, provavelmente, à concepção de que a Natação para Bebês era uma atividade que possuía condições de atrair alunos para outras áreas de atuação da academia. Vale ressaltar que em relação a este aspecto, somente uma academia trabalhava exclusivamente com atividades para bebês.
Figura 4. Percentual que representa a Natação para bebês no faturamento total da academia.
Existia uma variedade considerável de material pedagógico de apoio às aulas de Natação para Bebês, evidenciando o investimento feito pelas academias nesta área, já que todas (16/16) declararam que possuíam materiais pedagógicos para utilização durante as aulas (FIGURA 5). Todas elas (16/16) possuíam pranchas, espaguetes (tubo-águas), bolas coloridas e de tamanhos variados, letras flutuantes, letras que afundam e argolas. Outros materiais bastante presentes eram os halteres e brinquedos que afundam (13/16), os brinquedos de EVA (flutuantes) e os pinos (12/16) e o bambolê (11/16). É importante ressaltar o pequeno uso de materiais alternativos como a garrafa pet, presente em somente 2 academias e a câmara de ar que não foi citada em momento algum.
Figura 5. Utilização do material pedagógico pelas academias de Natação para Bebês.
6.4. Qual a relação da família do bebê com as atividades físicas e aquáticas?Somente 37,5% dos entrevistados (6/16) declararam que algum familiar praticava atividades físicas com regularidade. Destes praticantes, 1/3 eram os pais, 1/3 as mães e 1/3 um outro parente próximo.
Sempre que era permitida a presença do acompanhante durante as aulas de Natação para Bebês (10/16), eles eram, em 100% dos casos, acompanhados por pessoas que se sentiam confortáveis no meio líquido, o que podia se traduzir em sensação de segurança para a criança.
Perguntados sobre o principal motivo que os levaram a matricular seus bebês em aulas de natação, os responsáveis responderam que era para que o bebê pudesse praticar uma atividade física (56,2% dos casos) ou para melhorar ou fortalecer a saúde da criança (43,8%).
O questionamento sobre o fácil acesso às piscinas visava aferir o quanto estava presente o perigo de acidentes ou afogamentos na vida dos familiares desses bebês. Dentre os entrevistados, 43,8% declararam que tinham acesso fácil a piscinas no dia a dia e 56,2% não tinham.
Em 81,3% das entrevistas foi detectado que o médico pediatra foi consultado sobre a possibilidade do bebê praticar atividade aquática, nestes casos o pediatra se colocou a favor da atividade. Somente 18,7% dos entrevistados alegaram que não perguntaram ao pediatra sobre este assunto.
Em relação à frase "A Natação para Bebês é de grande valor educativo para seu filho", 87,5% dos entrevistados disseram que concordavam totalmente e 12,5% que concordavam parcialmente. Nenhum entrevistado disse que discordava.
6.5. Quais os efeitos educativos esperados?Uma mesma lista de nove efeitos educativos foi apresentada tanto para os responsáveis pelos bebês, como para os professores ou diretores técnicos das academias. Foi pedido que eles valorassem cada um destes efeitos entre 1 e 9 pontos, de forma que fosse possível hierarquizá-los através da média da soma dos 16 resultados de cada grupo (responsáveis e academia).
Na tabela 1 pode-se observar que no entender das academias de Natação para Bebês o efeito educativo mais importante era o técnico, ou seja, a adaptação ao meio líquido que pontuou 7,38 de média. Em seguida estavam a afetividade com 6,56 pontos de média, o desenvolvimento psicomotor com 6,25 pontos, a socialização com 5,75 pontos e a autoconfiança com 5,63 pontos de média. A percepção do perigo aparecia em 6º lugar com 4,63 pontos de média.
Para os responsáveis pelos bebês, o efeito mais importante era o desenvolvimento psicomotor que marcou 7,19 pontos de média. Em seguida estavam a autoconfiança com 6,75 pontos de média, o efeito técnico da adaptação ao meio líquido com 6,13 pontos, a disciplina com 4,88 pontos e a afetividade com 4,56 pontos de média. A socialização aparecia em 6º lugar com 4,19 pontos de média. (TABELA 1)
Tabela 1. Efeitos educacionais esperados pelas academias e pelos responsáveis pelos bebês.
Se fizermos uma relação entre as respostas obtidas no questionário para as academias de Natação para Bebês e as respostas do questionário dos responsáveis (FIGURA 6), podemos observar que os grupos se manifestam a respeito dos efeitos educativos esperados de forma diferente.
Figura 6. Relação entre as médias das expectativas dos efeitos educativos das academias e dos responsáveis.
Dentre os nove efeitos educativos que foram listados (1- aprender a lidar com frustrações, 2- efeito técnico: adaptação ao meio líquido, 3- disciplina, 4- desenvolvimento psicomotor, 5- afetividade, 6- socialização, 7- percepção do perigo, 8- amenizar o egocentrismo, 9- autoconfiança), todos apresentaram diferenças estatísticas entre as expectativas das academias e dos responsáveis pelos bebês (TABELA 2). Apesar destas diferenças, somente foram significativas (p<0,05) as referentes aos seguintes efeitos educativos:
Aprender a lidar com frustrações, onde p < 0,001
Disciplina, onde p = 0,002
Desenvolvimento psicomotor, onde p = 0,006
Afetividade, onde p = 0,044
Tabela 2. Expectativas das academias e dos responsáveis em relação aos efeitos educativos da Natação para Bebês
Para a comparação das médias foi utilizado o teste T-Student.
Como podemos observar na figura 7, os gráficos de dispersão mostram que as expectativas das academias e dos responsáveis em relação aos efeitos educativos da Natação para Bebês eram, em muitos casos, antagônicas, ou seja, enquanto para algumas academias um determinado efeito educativo era colocado em grande consideração, este mesmo efeito era quase que desprezado pelos responsáveis das crianças e vice-versa.
Figura 7. Gráficos comparativos das pontuações para efeitos educativos nas respostas dos responsáveis pelos bebês e dos profissionais das academias.
7. DiscussãoZulietti e Souza (2002), citando Fonseca (1983), encaram como fundamental a presença de algum adulto que seja referência de segurança e afeto para o bebê, de preferência a mãe ou o pai, para o processo de estimulação aquática. Porém em 37,5% (6/10) das academias pesquisadas o professor agia sozinho com o bebê na piscina, sendo negada a intervenção do responsável dentro d'água junto do professor.
As aulas de Natação para Bebês entre as academias pesquisadas, são bem servidas de material pedagógico auxiliar, se formos atentar à quantidade. Porém, ao analisarmos que tipo de material está sendo utilizado, fica claro que este não é próprio para o público em questão - os bebês. Entre as 16 academias estudadas, todas (100%) utilizavam pranchas, espaguetes, letras que flutuam e que afundam, bolas diversas e argolas. Destes materiais as pranchas, o espaguete e as letras que flutuam e que afundam, são claramente materiais para crianças de idade mais avançadas. Materiais característicos de aulas para bebês, como o barco, a plataforma, brinquedos flutuantes e os tapetes de EVA, não são unanimidades entre as academias que trabalham com bebês.
Em relação à temperatura da água da piscina em que acontecem as atividades para os bebês, fica evidente que na maioria dos casos (56,2%) a água se encontra com temperatura abaixo do recomendado por vários autores, como Lima (2003), Oliveira e Nakamura (1998), que apontam algo entre 29º C e 31ºC. A razão para isto acontecer, parece ser que a piscina utilizada pelos bebês é a mesma utilizada em outras atividades aquáticas, que não requerem uma temperatura tão elevada.
O mesmo raciocínio podemos ter em relação à profundidade das piscinas, que são muito fundas para as atividades com bebês, pois elas servem também para outras atividades aquáticas desenvolvidas na academia.
Segundo Corrêa e Massaud (1999), uma das expectativas mais importantes dos pais de bebês é que as aulas de natação possam vir a evitar acidentes, caso a criança venha a cair na piscina. Porém esta expectativa não parece fazer parte da população de pais pesquisada, pois o efeito "percepção do perigo" não representa um ponto muito importante para eles, já que obteve 3,88 pontos de média colocando-se em 8º lugar (8/9), além de ao serem indagados sobre o principal motivo para matricular seu bebê numa aula de natação, nenhum deles optou por "aprender a defender-se na água".
Nota-se pelas respostas à questão relativa à anuência do pediatra em relação às atividades aquáticas que a maioria dos responsáveis tem a preocupação de consultá-lo antes de matricular seus filhos. Quando este profissional dá o parecer favorável, aumentam as chances dos pais virem a matricular seus filhos na natação. O médico passa para os responsáveis a tranqüilidade necessária para que este encaminhe seus filhos para a atividade. Os benefícios à saúde e a iniciação de uma vida fisicamente ativa podem e devem ser visualizados pelo médico como um fator favorável a este encaminhamento.
A reação dos responsáveis ao questionamento referente à frase "A Natação para Bebês é de grande valor educativo para seu filho" demonstra grande aceitação desta atividade como uma que pode ajudar na educação e saúde de suas crianças.
A diferença entre a expectativa de efeitos educacionais das academias de natação e dos responsáveis pelos bebês se deve, provavelmente, à falta de informações que a academia tem sobre que tipo de valores educacionais os responsáveis pretendem passar a suas crianças. Uma forma de reduzir este problema pode ser adotar uma ficha de anamnese ou de interação, onde os responsáveis possam se manifestar em relação aos valores educacionais que desejam desenvolver.
8. ConclusãoA Natação para bebês, no Município de Nova Iguaçu, é desenvolvida em várias academias, porém, não é uma atividade que represente uma parcela importante do faturamento destas empresas. Fato curioso é que apesar deste aspecto ser verídico, uma academia dentre as estudadas, atende exclusivamente a bebês, o que aponta para a especialização como uma forma de se destacar da concorrência. O foco desta academia está centrado no desenvolvimento de atividades aquáticas para bebês, e por isso, provavelmente, consegue atender de forma mais incisiva a expectativa dos responsáveis, comparada a outras que não têm a mesma dinâmica.
O médico pediatra é um aliado do professor de Educação Física que trabalha com Natação para Bebês, pois a grande maioria dos responsáveis só matricula seus bebês neste tipo de atividade depois de ouvir a opinião daquele profissional. Conclui-se, então, que deve haver maiores esforços na realização de trabalhos científicos e de marketing que corroborem com a tese de que a Natação para bebês contribui para a saúde destes. Esta ação poderá desencadear um aumento percentual da procura pela atividade aquática pelos bebês que foram oriundos da indicação do médico pediatra.
A Natação para Bebês pode contribuir muito para a educação da criança, tornando-a mais participativa e independente. Pode proporcionar situações que aumentem e melhorem as possibilidades motoras do bebê, ajudando, desta forma no crescimento e desenvolvimento deste.
Uma maior interação entre profissionais da academia e os responsáveis pode contribuir para focar melhor os objetivos das atividades aquáticas para bebês.
Recomenda-se a reaplicação da pesquisa com uma população de responsáveis maior que a do presente estudo, e aplicá-la em cidades vizinhas, para que se possa ter uma visão mais abrangente da realidade da Baixada Fluminense.
P.S.: Registro o agradecimento formal à I.E.S. UNIABEU e aos discentes:
Alessandra Maia de Almeida
Clayton Malheiro do Amaral
David Ferreira Rosa
Geovane Pereira da Silva
Gilsinei de Jesus Freitas
Josiane da Costa Manoel
Rafael Guimarães Pacheco
Roberto José do Valle
Sandro Rosa de Albuquerque
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digital · Año 11 · N° 96 | Buenos Aires, Mayo 2006 |