Representações sociais do profissional de Educação Física construídas por profissionais de saúde The social representations of the Physical Education professional which are built by health professionals |
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Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação Física da Universidade Católica de Brasília (Brasil) |
Ário da Silva Toledo Ricardo Jacó de Oliveira Luis Otávio Teles Assumpção Gleicimar Gonçalves Cunha rjaco@ucb.br |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 11 - N° 95 - Abril de 2006 |
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Introdução
O desenvolvimento tecnológico presente no mundo atual estimula a hipocinesia, o automóvel, o ônibus, o metrô, o elevador, a escada rolante substituem os movimentos das pernas nos deslocamentos diários. As máquinas diminuem o trabalho físico nas fábricas, oficinas e canteiros de obra e os aparelhos elétricos e eletrônicos facilitam os afazeres rotineiros nas residências. Várias horas são utilizadas em atividades fisicamente menos ativas como, por exemplo, as atividades intelectuais, culturais, contemplativas ou de entretenimento. O homem moderno padece do que se poderia chamar de "síndrome da imobilização". O mesmo progresso que lhe traz mais conforto paradoxalmente o agride, pois o debilita à medida que o afasta da atividade motora (TEIXEIRA, 1994).
O contexto apresentado, aliado aos estilos de vida e às culturas que priorizam atividades fisicamente pouco ativas, tendem a levar o ser humano ao sedentarismo, o que favorece a obesidade e, conseqüentemente, o acometimento prematuro de várias doenças, com prevalência das chamadas crônico-degenerativas. A inatividade física é o principal fator de risco para a doença cardiovascular e sabe-se, que níveis moderados de atividade física conferem significativos benefícios à saúde, uma vez que reduz o risco de doença cardíaca, hipertensão e câncer de cólon (U. S. DEPARTMENT OF HEALTH AND HUMAN SERVICES, 1996).
Assim, o Conselho Nacional de Saúde, por intermédio da Resolução número 218/97, reconheceu como profissionais de saúde de nível superior as seguintes categorias: assistentes sociais, biólogos, profissionais de educação física, enfermeiros, farmacêuticos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, médicos, médicos veterinários, nutricionistas, odontólogos, psicólogos e terapeutas ocupacionais. Esse enquadramento legal sugere a formação de equipes multidisciplinares quando o assunto a ser debatido, tratado ou realizado, for a promoção da saúde. No entanto, o que normalmente se observa, na maioria dos serviços públicos, autarquias, instituições e hospitais, é a prevalência de médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, nutricionistas, farmacêuticos, fonoaudiólogos, psicólogos, terapeutas ocupacionais, assistentes sociais, biólogos e odontólogos na composição das equipes multidisciplinares de saúde. Em raras oportunidades um profissional de educação física é incorporado a estas equipes.
Exemplos dessa incorporação é o Hospital Sarah Kubitschek em Brasília, o Instituto Nacional do Coração (INCOR) em São Paulo e algumas clínicas de reabilitação física e cardiovascular nas grandes capitais do país. Por outro lado, o atual conceito de saúde considera o ser humano integralmente na medida em que o entende sob uma tríplice dimensão: "estado de completo bem-estar físico, mental e social". Nesse sentido, reconhece-se a importância da integração profissional em serviços voltados para a promoção de saúde, o que implica em revisão do modelo de saúde ainda hegemônico na sociedade contemporânea.
Geralmente cabe ao médico a direção e a orientação dos serviços relacionados à promoção da saúde, concepção que limita a participação de outros profissionais. Nesse sentido, esse estudo teve como propósito identificar as Representações Sociais (RS) do profissional de educação física elaboradas pelos profissionais de saúde, tendo como referência o contexto atual, no qual o profissional de educação física se insere nas equipes multidisciplinares de saúde em decorrência do relacionamento entre atividade física e saúde.
MetodologiaA metodologia adotada permitiu abordar a estrutura das representações sociais, identificando os elementos constitutivos do núcleo central e do sistema periférico.
AmostraA amostra constituiu-se de 90 sujeitos, dos sexos masculino e feminino, com idade média de 35,81±8,07 anos.
Instrumentos e procedimentos para a coleta de dadosNesse trabalho adotou-se como referencial teórico-metodológico a teoria psicossocial de Moscovici (1961) onde as representações sociais orientam as práticas. Assim, para se compreender a formação de equipes multidisciplinares faz-se necessário, dentre outros aspectos, conhecer as imagens e as concepções elaboradas sobre o profissional de educação física por outros profissionais envolvidos com a saúde.
Os dados foram coletados a partir de dois questionários. O primeiro procurou conhecer a existência, a composição, a legislação pertinente e os objetivos das equipes multidisciplinares de saúde existentes nos locais de pesquisa. O segundo, tomando por base a técnica de associação livre frente a um termo indutor, procurou captar as representações sociais do profissional de educação física presentes no imaginário de outros profissionais de saúde.
Análise e tratamento dos dadosOs dados coletados pelo primeiro instrumento foram analisados segundo as distribuições de freqüência. Para análise dos dados do segundo instrumento utilizou-se o software Ensemble de Programmes Permettant l'Analyse des Évocations (Evoc), o qual processou as respostas dos sujeitos após serem submetidos ao termo indutor "o profissional de educação física". As palavras, expressões ou frases obtidas como respostas ao termo indutor, denominadas "elementos", compõem o núcleo central e o sistema periférico das representações sociais. Esse processamento ocorre em três fases distintas e subseqüentes chamadas "Análise de Evocação", "Análise de Palavras Principais" e "Análise de Categorias" (RIBEIRO, 2000).
A "Análise de Evocação" vincula-se às respostas dadas à pergunta número um do questionário de livre associação (1. Quando você escuta a expressão "o profissional de educação física" quais palavras, frases, expressões, imediatamente, lhe vêm à mente?). Com esta questão pretende-se reconhecer as representações sociais, identificando seus possíveis elementos centrais e/ou periféricos de acordo com a "freqüência de evocação" (f1) e a "ordem média de evocação" (f2)1.
A "Análise de Palavras Principais" refere-se às respostas dadas às perguntas de números dois e três (2. Assinale as 3 respostas mais importantes; 3. Escreva, em ordem de importância, as três respostas assinaladas). Estas respostas permitem determinar a "freqüência de elementos mais importantes" (f3) e a "queda de freqüência" (f4), sendo f3 a quantidade de vezes que o mesmo elemento aparece nas respostas dos sujeitos à pergunta número três e f4 o resultado da diferença entre 100% e o percentual entre f1 e f3 (Tabela 2). Uma queda de freqüência igual ou abaixo de 50% indica uma possível centralidade do elemento e acima de 50% indica que o elemento provavelmente pertença ao sistema periférico.
A "Análise de Categorias" auxilia na classificação dos elementos do núcleo central ou do sistema periférico. Inicialmente, eles são condensados e posteriormente agrupados em categorias. Condensar elementos consiste em transformar as respostas à pergunta número um em uma, duas ou três palavras sem, contudo, alterar os significados originais das respostas. Agrupar os elementos em categorias significa unir essas palavras condensadas em classes mais abrangentes, sem, entretanto, perder a relação entre elas. De acordo com as especificações do software cria-se de sete a dez categorias de elementos, não ultrapassando 13.
Com os elementos agrupados obtém-se o número de "ocorrências de elementos freqüentes" (f5), o número de "ocorrências de elementos" (f6), e determina-se o "percentual de ocorrências de elementos" (f7) e o "percentual entre f6 e f5" (f8) (Tabela 3), sendo f5 a soma das ocorrências de todos os elementos freqüentes dentro de cada categoria e f6, a soma das ocorrências de todos os elementos dentro de cada categoria.
Para se determinar a freqüência de um elemento estabeleceu-se, de forma arbitrária, um valor mínimo, no caso igual ou maior que 5.
Para a determinação de uma categoria nuclear ou periférica seguiram-se dois procedimentos. No primeiro, comparou-se o valor de f7 de cada categoria com o "percentual médio por categoria", obtido pela divisão do percentual total de ocorrências (100%) pelo número de categorias criadas (7). Dessa forma, se considerou nucleares as categorias possuidoras de uma ocorrência igual ou superior ao resultado dessa divisão (100%/7=14,2%), e periféricas aquelas com resultados abaixo desse percentual. No segundo procedimento, comparou-se o valor de f6 com o valor de f5, em cada categoria, obtendo-se um percentual dessa relação. Assim, foram consideradas nucleares as categorias que possuíram um resultado igual ou superior a 50% e periféricas aquelas abaixo desse valor.
Para a determinação das categorias com maiores probabilidades de serem centrais, estes dois procedimentos são considerados, encerrando-se a terceira e última fase da análise de evocação.
Por fim, os resultados obtidos nas três fases de análise de evocação foram comparados entre si, determinando-se os elementos constituintes do núcleo central e do sistema periférico das representações sociais do profissional de educação física.
A análise das respostas à pergunta de número quatro do mesmo questionário permitiu identificar nas falas dos sujeitos os significados, os contextos, os enfoques e os campos semânticos dos elementos escolhidos como mais importantes, possibilitando conhecer a ancoragem das representações sociais dos profissionais de educação física construídas pelos profissionais de saúde (4. O que significa a palavra, frase ou expressão que você colocou em primeiro lugar?), Tabelas 4 e 5. Para GARNIER (1997), as representações sociais são formas de conhecimento que estão organizados em campos semânticos que possuem estruturas estáveis e um teste de associação induz a expressão de significados. Esses significados podem ser descritos como uma parte do conteúdo das representações sociais. A freqüência e a ordem de evocação permitem o acesso à diversidade no campo semântico de um grupo.
ResultadosOs dados relativos à distribuição dos profissionais de saúde pelas equipes multidisciplinares das Instituições revelam que o enfermeiro, o fisioterapeuta, o médico e o nutricionista estão presentes em 100% das equipes; o farmacêutico, o fonoaudiólogo e o psicólogo em 83,3%; o assistente social, o terapeuta ocupacional e o dentista em 50% e o profissional de educação física não está presente em nenhuma dessas equipes.
Os dados apresentados a seguir (Tabelas 1, 2, 3, 4 e 5), referem-se às representações sociais do profissional de educação física elaboradas por outros profissionais da saúde.
Tabela 1 - Elementos evocados com maior freqüência pelos outros profissionais de saúde sobre o profissional de educação física
Legenda: f 1 - freqüência de evocação. f 2 - ordem média de evocação. f 3 - freqüência de elementos mais importantes. f 4 - queda de freqüência (100% - (% f 3/f 1).
Nota: número total de evocações: 397 - número total de elementos diferentes: 186Tabela 2 - Distribuição das categorias de elementos evocados pelos outros profissionais de saúde sobre o profissional de educação física
Legenda: f 5 - ocorrências de elementos freqüentes. f 6 - ocorrências de elementos. f 7 - percentual de ocorrências de elementos (% f 6). f 8 - percentual entre f 6 e f 5.
Nota: número total de evocações: 397Tabela 3 - Relação entre as três fases da análise da estrutura das RS do Profissional de Educação Física
Legenda: Prof. de educação física: Professor de educação física.
Nota: Análise de evocação: considera-se f 1 e f 2. Palavras Principais: considera-se f 4. Categorização: considera-se f 7 e f 8.
Tabela 4 - Enfoques e contextos apreendidos da análise das falas dos sujeitos referentes ao elemento central saúde.
Tabela 5 - Enfoques e contextos apreendidos da análise das falas dos sujeitos referentes ao elemento central condicionamento físico.
Discussão
A análise dos dados contidos na Tabela 1 permitiu identificar os elementos saúde, condicionamento físico, academia e esporte como sendo, provavelmente, centrais, pois apresentam f 1 (freqüência de evocação) acima de 11 e f 2 (ordem média de evocação) abaixo de 2,8. Os elementos personal training, qualidade de vida, atividade física, professor de educação física, professor, exercício físico e ginástica são, provavelmente, periféricos, posto que apresentam f 1 = 11 e f 2 = 2,8. Os elementos saúde, condicionamento físico, esporte, qualidade de vida, atividade física, disciplina, professor de educação física, bem-estar, disposição, professor, exercício físico, ginástica, natação e corpo saudável são, provavelmente, integrantes do núcleo central, pois apresentam f 4 (queda de freqüência) = 50% e os elementos academia, personal training, atleta e lazer são, provavelmente, periféricos, pois apresentam f 4 acima de 50%.
Pela Tabela 2 depreende-se como provavelmente nucleares as categorias condicionamento físico, saúde e professor, e seus respectivos elementos, pois apresentam f 7 (percentual de ocorrência de elementos) igual ou maior que o "percentual médio por categoria" (14,2%) e provavelmente periféricas as categorias esporte, corpo, tratamento e outros, também com seus respectivos elementos, pois apresentam f 7 menor que 14,2%. As categorias condicionamento físico e saúde, com seus respectivos elementos, revelam-se nucleares também por apresentarem o percentual entre f 6 (ocorrência de elementos) e f 5 (elementos freqüentes) maior que 50%; já as categorias professor, esporte, corpo, tratamento e outros, com os seus respectivos elementos, demonstram-se periféricos, pois apresentam o percentual entre f 6 e f 5 menor que 50%.
Relacionando esses dois últimos critérios, as categorias condicionamento físico e saúde revelam-se nucleares e as categorias professor, esporte, corpo, tratamento e outras, periféricas. Segundo SÁ (1998), a análise de categorias permite distinguir, de forma mais flexível, um conjunto de elementos centrais do conjunto de elementos periféricos.
A análise da Tabela 3 permite identificar os elementos saúde e condicionamento físico como formadores do núcleo central das representações sociais do profissional de educação física construídas por profissionais de saúde. Permite, ainda, identificar todos os demais elementos como formadores do sistema periférico dessas mesmas representações sociais. Dessa forma, apreende-se o núcleo central e o sistema periférico, componentes da estrutura das Representações Sociais (SÁ, 1996).
De acordo com ABRIC (1998), o núcleo central possui a propriedade de estabilizar as representações sociais, assegurando sua permanência em contextos móveis e evolutivos e, desta forma, resistindo às mudanças. Possui, também, a função de organizar as representações sociais, determinando a natureza das ligações entre os elementos constitutivos e permitindo criar ou transformar o significado de outros elementos da representação, ganhando um novo sentido e um novo valor, normalmente correspondente a um aspecto histórico e/ou cultural dessa representação social.
As respostas ao termo indutor "profissional de educação física" permitiram uma associação com "saúde" (profissional de educação física que cultua e promove a saúde, preocupado com o seu "condicionamento físico" e de outras pessoas, atuando em atividades físicas).
Observa-se, que os elementos componentes do núcleo central das representações sociais do profissional de educação física remetem a uma concepção de "homem que cultua e promove a saúde", pautada na visão biológica de causa e efeito e ligado historicamente a uma concepção mais antiga, relacionando atividade física e saúde. Esta concepção vem sendo reforçada por recentes pesquisas, as quais indicam que "níveis mais altos de atividade física regular estão associado à prevenção do aumento da pressão sangüínea; à melhoria da distribuição de gordura no corpo; à taxa de mortalidade menor; à redução da hipertensão; à manutenção da independência em adultos mais velhos; à melhora do estado de humor e à diminuição do risco de doenças cardiovasculares, do câncer do cólon, de diabetes não dependentes de insulina, de sintomas de depressão e de ansiedade" (U. S. Department of Health and Human Services, 1996). Observa-se, ainda, que o elemento do núcleo central "condicionamento físico" está diretamente relacionado à valorização do corpo e à performance física.
Os elementos esporte, qualidade de vida, academia, professor de educação física, professor, exercício físico, corpo saudável, disciplina, bem estar, disposição, natação, atividade física e ginástica se destacam como elementos que constituem o sistema periférico e correspondem àqueles elementos mais flexíveis e contextuais das representações sociais e orientam as condutas dos sujeitos nas suas relações com o mundo. Verifica-se ainda, no sistema periférico, a existência de elementos associados ao "homem que cultua e promove a saúde", preocupado com o condicionamento físico como qualidade de vida, exercício físico, atividade física e ginástica.
Como resultado da análise das Tabelas 1, 2 e 3 identificou-se que a imagem dos profissionais de educação física perante os profissionais de saúde são de "saúde" e "condicionamento físico". Esses elementos são normativos, compondo a estrutura das representações sociais em pauta e funcionais, expressando-se na atividade física e no esporte.
As respostas dos sujeitos à pergunta número quatro do segundo questionário, resumidamente expostas nas Tabelas 4 e 5, indicam que o primeiro elemento central - "saúde" - foi enfocado de duas maneiras pelos sujeitos, insere-se em três contextos distintos. O primeiro enfoque refere-se ao fato de que ser profissional de educação física é estar e se manter saudável e o outro é de promover esse estado saudável. No primeiro contexto, - "saudável" - significa bem-estar físico, mental, espiritual e social. No segundo contexto, - "saudável" - significa melhorar a qualidade de vida e prolongar a vida com melhor qualidade e saúde. No terceiro contexto, - "saudável" - significa um objetivo a ser alcançado, fundamental para a vida. Essas respostas indicam ainda, que o segundo elemento central - "condicionamento físico" - foi enfocado de duas maneiras pelos sujeitos, inserindo-se em dois contextos distintos. O primeiro refere-se ao fato de o profissional de educação física estar e se manter bem preparado fisicamente e o outro refere-se à promoção dessa preparação física.
No primeiro contexto, - "fisicamente condicionado" - significa o cuidado preventivo em relação às doenças por intermédio do condicionamento físico, isto é, da prática de exercícios físicos para melhoria da aptidão física relacionada à saúde. No segundo contexto, - "fisicamente condicionado" - significa a obtenção de um corpo fisicamente saudável, com a capacidade física mantida e desenvolvida por intermédio do condicionamento físico.
Da mesma forma, ao analisar os elementos periféricos das representações sociais do profissional de educação física surge o elemento - "esporte" - que, embora periférico, apresenta uma forte tendência à centralidade, inserindo-se em apenas um contexto: ser profissional de educação física é orientar a prática de esportes. Os outros elementos - "professor de educação física", "professor" e "personal training" - não se inserem em um único enfoque ou contexto. No entanto, provavelmente, orientarão condutas positivas dos sujeitos já que se relacionam à idéia de conhecimento, no sentido de possuí-lo ou produzi-lo e repassá-lo de forma socialmente valorizada. Outros elementos - "academia", "corpo", "atividade física", "exercício físico" e "disciplina" - associam-se a um estilo de vida ativo com valorização da estética e da persistência, características também positivas que, provavelmente, conduzirão a práticas similarmente positivas. Os demais elementos periféricos - "qualidade de vida", "bem-estar" e "disposição" - estão associados às condições sócio-econômicas de vida, ao cotidiano, à rotina, ao trabalho, aos afazeres diários e ao estilo de vida adotado.
A ancoragem das representações sociais do profissional de educação física
De um modo geral se observou que os profissionais de saúde percebem que o educador físico está diretamente associado à saúde e ao condicionamento físico, elementos identificados como nucleares na representação social em pauta.
Na primeira percepção o conceito de saúde, trabalhado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) a partir de 1978 - estado de completo bem-estar físico, mental e social - vem sendo captado pelas pessoas e se reflete nas falas dos sujeitos envolvidos na presente pesquisa.
A segunda percepção de "homem condicionado fisicamente" se relaciona com a aptidão física enquanto manifestação de saúde, tal como propõe PATE (1988). Além disso, parece referir-se à capacidade de realizar atividades cotidianas com vigor e energia e demonstrar traços e capacidades associados a um baixo risco de desenvolvimento prematuro de distúrbios orgânicos provocados pela falta de atividade física. Nesse sentido, o profissional de educação física pode interferir, adequando os parâmetros relacionados ao exercício físico (tipo, intensidade, consumo máximo de oxigênio, freqüência cardíaca máxima, duração da atividade e freqüência por semana), a fim de promover saúde.
A ancoragem, segundo MOSCOVICI (1961), implica em tornar familiar o não familiar. Assim, objetos percebidos como novos, como desconhecidos, são "ancorados" com base em conhecimentos, práticas, crenças, valores anteriores ao sujeito. Dessa forma, apesar da resolução nº 218/97 do CNS estabelecer que o profissional de educação física é um profissional de saúde e a sua imagem estar relacionada à saúde e ao condicionamento físico as equipes multidisciplinares de saúde ainda o vê como um intruso, posto que, raramente, o inclui. Acredita-se, contudo, que iniciativa como a do CNS e os resultados deste trabalho possam contribuir para o processo de integração do profissional de educação física nessas equipes multidisciplinares de saúde em virtude de suas contribuições favoráveis à promoção da saúde e especificidade.
Dos elementos evocados (Tabelas 1, 2 e 3), determinam-se os elementos centrais e periféricos, formadores da estrutura das representações sociais dos profissionais de educação física construídas por profissionais de saúde.
A partir dos enfoques e contextos surgidos nas falas dos sujeitos entrevistados, expostos nas Tabelas 4 e 5, determina-se a ancoragem dessa representação social, analisando seus campos semânticos.
Conclusões
As imagens que os profissionais de saúde construíram a partir da indução do termo "profissional de educação física" é a de "saúde e a de condicionamento físico". Estas percepções estão diretamente associadas à melhoria da aptidão física voltada para a saúde, alcançadas por intermédio de exercícios físicos, variando o tipo de atividade, a intensidade, a duração, o número de repetições e o número de vezes por semana, de acordo com o componente da aptidão física que se pretende atingir.
Todos os elementos evocados pelos sujeitos parecem ser favoráveis à participação do profissional de educação física nas equipes multidisciplinares de saúde. Contudo, essa não foi a realidade percebida. Apesar dessa representação positiva, os profissionais de educação ainda não foram absorvidos por tais equipes. Seria, nesse sentido, conveniente o desenvolvimento de novas pesquisas com foco nas causas da ausência do profissional de educação física nas equipes multidisciplinares de saúde e nas prováveis atividades destes nestas equipes.
Neste estudo, se adotou como parâmetros de compreensão da centralidade dos elementos uma freqüência de evocação superior a 11 e uma ordem média de evocação inferior a 2,8. Portanto, quanto maior a quantidade de vezes que o mesmo elemento aparece nas respostas dos sujeitos e quanto mais prontamente ele é indicado, maior sua centralidade dentro da estrutura das representações.
Nota
Referências bibliográficas
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OLIVEIRA, V.M. O que é Educação Física. São Paulo: Editora Brasiliense S A, 1983.
PATE, R.R. The evolving definition of physical fitness. Quest, v. 40, n. 3, p. 174-179, 1988.
RIBEIRO, A.S.M. Macho, adulto, branco, sempre no comando? Dissertação de Mestrado. UnB, 2000.
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revista
digital · Año 11 · N° 95 | Buenos Aires, Abril 2006 |