O treinamento da recepção para equipes jovens de voleibol El entrenamiento de la recepción en equipos juveniles de voleibol |
|||
Faculdade de Educação Física da Universidade Estadual de Campinas - Campinas - São Paulo* Escola de Educação Física da Universidade Federal de Minas Gerais Centro de Estudos de Cognição e Ação Belo Horizonte - Minas Gerais** (Brasil) |
Prof. Ms. Antonio Neto Rizola* rizola@bol.com.br Prof. Cristino Matias** crismatias@supereva.it Prof. Dr. Paulo Roberto Oliveira* Prof. Dr. Pablo Juan Greco** |
|
|
|
|||
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 11 - N° 95 - Abril de 2006 |
1 / 1
1. Introducão
O voleibol no Brasil sofreu com a distância dos grandes centros desenvolvidos do Voleibol mundial, Europa e Ásia. As informações chegavam com atrasos e até mesmo, ocorreu de o Brasil chegar a uma competição mundial sem conhecer o fundamento técnico da recepção, denominado de Manchete, isto aconteceu no Campeonato Mundial adulto masculino de 1964.
A equipe brasileira comandada na época pelo professor Sami Melinski, treinador que conquistou todos os títulos para o Brasil a nível mundial na época, conheceu e treinou pela primeira vez a Manchete um dia antes do campeonato mundial (RIZOLA, 2003).
A recepção do saque nos tempos inicias do Voleibol era feita apenas com o toque por cima da cabeça, pois na época o saque não tinha tanta força e precisão, mas tomou outra proporção, quando este fundamento passou a ser trabalhado com o objetivo de maximização da técnica e da tática. Surge então a manchete, devido a necessidade de dominar a recepção (RIZOLA, 2003).
Segundo Alberta (1998) e Murpy (1991) o sucesso do ataque no voleibol esta interligado com a qualidade da recepção. Assim o levantador terá uma gama maior de opções para distribuir o jogo e dificultar a ação do bloqueio adversário. Todavia a obtenção de eficácia esta dependente da qualidade de execução das habilidades técnicas neste momento do jogo, nomeadamente da manchete (MESQUITA, 1998).
A aprendizagem dos esportes tem acontecido, na sua grande maioria, pela repetição de gestos técnicos e cópias de treinamento de equipes adultas. Báfero (1996, p.26) diz que: "A maioria das "escolas" de voleibol, fundamentadas na cultura do voleibol brasileiro, proclamam que "saber voleibol" é jogar como se joga no alto nível." No trabalho desenvolvido visou-se a adaptação dos exercícios para cada situação de jogo, e não com a repetição dos gestos isolados, a variedade de estímulos deve ser feita durante cada sessão de treinamento.
2. Revisão de literaturaKaplan (1974) relembra, uma nova etapa para o Voleibol mundial se abriu, justamente antes da Olimpíada de Tóquio quando a defesa baixa (manchete) passou a ser uma forma fundamental do jogo. Isto causado pelo efeito do saque.
Fiedler (1976), divide a recepção em 3 fases, os movimentos de que antecedem o contato com a bola, movimentos no momento do contato com a bola e os movimentos após o contato com a bola, valorizando todos na mesma proporção e importância.
Slaymaker e Brown citados por Báfero (1990), quando mencionam as habilidades do Voleibol, dividem em dois grupos: os de habilidades iniciais e os de habilidades avançadas. As primeiras compreendem o toque, a manchete, o recurso (dig-pass), o saque por baixo, o saque por cima, a cortada e o bloqueio. O segundo grupo compreende o saque flutuante, o levantamento para trás, o levantamento em suspensão, o mergulho, o rolamento, a manchete invertida, a largada e as mudanças do ritmo das cortadas.
Especialistas em Voleibol concordam, que a habilidade da Manchete é responsável pela maior consistência de jogo atualmente, isto é, maior tempo de disputa do ponto com a bola no ar (SCATES, 1972; GUILHERME, 1978; VELASCO, 1996, MESQUITA, 2002).
Sobre o uso da manchete, Cherebetiu (1969), Writehall (1964) citado por Báfero (1996) e Bizzocchi (2000) colocam que o uso original era apenas com propósitos defensivos, usados como recurso emergencial. Hoje é um fundamento básico e específico, que merece estudo diferenciado em função da sua constante solicitação, sendo parte integrante do repertório motor do atleta.
O que é específico é exclusivamente próprio a alguma finalidade, e a finalidade do movimento da manchete no Voleibol é receber e passar a bola para um lugar pré-fixado (BÁFERO, 1996).
Segundo Velasco (1996), o recebedor deve ter como principal característica uma superfície de apoio, a maior possível, colocando e enfatizando a habilidade espaço-temporal: o problema não é tanto pelo deslocamento, mas sim entender ou avaliar bem, aonde vai a bola.
O mesmo autor lembra que, na correção da técnica não se deve treinar todos os jogadores da mesma maneira, e como exemplo cita que em recepção x saque ao invés de trabalhar 40´ de forma analítica, trabalha-se 10' a 15' analítico para que o jogador fixe o movimento técnico e imediatamente após, o saque x recepção em situação de jogo.
A analise da trajetória da bola é ponto fundamental na qualidade e eficiência de uma boa recepção. A antecipação da ação de receber o saque possibilita a atleta definir a velocidade de sua ação e com melhor equilíbrio, uma precisão melhor.
Paolini (2001), cita que a posição de expectativa deve ser baixa, mas não definida para receber somente um tipo de saque, para receber é necessário deslocar-se rapidamente e, sobretudo em antecipação, para poder avaliar previamente a trajetória do saque adversária atleta deve ser capaz de estabelecer a profundidade e a força da bola, e isto está relacionado com uma boa visão.
Estabelecendo que, os elementos que distinguem uma correta execução técnica de recepção de saque flutuante (floating) podem ser sistematizadas em 4 pontos essenciais (PAOLINI, 2001):
a predisposição morfológica;
o deslocamento;
o contato com a bola;
o modo de empurrar a bola.
3. ObjetivoA proposta deste trabalho é propor uma metodologia de treinamento para o fundamento de recepção de saque no voleibol para jovens atletas.
4. MetodologiaEste procedimento foi aplicado durante 16 semanas com 21 atletas na faixa etária de 17 a 19 anos, integrantes da Seleção Brasileira Juvenil Feminina, que sagrou-se campeã mundial em 2001.
5. Treinamento da recepçãoO jogo é elemento central na aprendizagem, deverá por isso estar sempre presente em cada faixa etária no treinamento e ser organizado de modo tal, que todos os que participam devem tocar na bola o maior número possível de vezes. A recepção do saque é durante o treinamento um dos pontos de maior atenção. O Voleibol do Brasil é carente de atletas que o executem a recepção permanecendo em boas condições de equilíbrio para realizar um ataque, também pela representação que tem o fundamento na continuidade e na organização do jogo.
A aplicação do método global no treinamento objetiva recriar situações de forma semelhante àquelas dos jogos, não para treinar a equipe na sua coletividade e sim visando treinar melhor e de forma mais veloz todas as técnicas do voleibol. Desta forma o jogador se adaptará imediatamente durante o jogo, as situações treinadas durante a semana. De outra forma a passagem da situação treinada àquela que se apresenta no jogo, solicitaria muito tempo de treinamento. A teoria do treinamento global, todavia apresenta problemas, isto é, se começa a treinar uma situação de jogo e se transgride nos problemas técnicos. Sobretudo na sua correção, ou quando se corrigi, se arrisca de faze-lo somente em situação analítica.
5.1. Treinamento da técnicaO recebedor deve ter como característica uma boa superfície de apoio, a maior possível, executa-se trabalhos utilizando como recurso a parede. A atleta se posiciona diante de uma parede de superfície plana e realiza a manchete, com alternância de altura da bola, distancia da parede e velocidade da bola. No programa aplicado estes trabalhos eram realizados em uma freqüência semanal de três vezes no primeiro mês, e duas vezes por semana na continuidade do treinamento.
O problema na recepção de saque não é tanto pelo deslocamento, mas sim, entender ou avaliar bem, aonde vai e como é a trajetória da bola. Desta forma dedicou-se um trabalho específico para a avaliação de trajetória de saque. As variações são executadas primeiro com o saque dos treinadores, em distancias alternadas, em planos superiores e em velocidade alternadas, e em outro momento com o saque das próprias atletas. No procedimento de correção da técnica não se deve treinar todos os jogadores da mesma maneira. A individualização do treinamento fez-se necessária e os exercícios devem apresentar graus de dificuldades diferentes para cada atleta.
5.2. Treinamento táticoAs novas táticas de saque (saque partindo de qualquer ponto de fundo quadra) a partir de 1994 promoveram uma grande alteração no sistema de recepção.
A proposta apresentada consiste em empregar a estrutura de três passadoras nas seis posições. As passadoras foram as jogadoras atacantes de ponta e a líbero, tendo como opção a jogadora oposta para algumas situações de jogo. A recepção com quatro atletas foi utilizada quando, nosso adversário utilizasse um saque em salto (tipo viagem) com força e eficiência.
Nos treinamentos técnico-táticos foram treinadas além da parte técnica a relação entre as jogadoras da posição 6 e 1 e das posições 6 e 5, alternando as atletas.
Numa mesma sessão de treinamento a recepção deve ser treinada de forma variada, para que haja uma boa adaptação das atletas as situações solicitadas no jogo. A atleta deve realizar gestos que serão aplicados no jogo, na cronologia da partida, tomando decisões conforme a situação solicitada. Os treinamentos devem ser realizados prevendo estas situações, tais como jogos de 1 x 1, atacante de fundo contra atacante de fundo após a recepção, obrigando a efetivação do ataque, independente do tipo de saque aplicado pelo adversário.
A qualidade da recepção definirá a possibilidade do primeiro ataque da equipe e a velocidade do jogo. No período da tarde os treinamentos foram dirigidos para esta relação, ou seja, o treinamento das situações de jogo, com "jogos combinados", exercícios que proporcionam situações imprevistas e situações preestabelecidas de jogo.
O ajuste da recepção dependendo da colocação do sacador adversário, e do tipo de saque, deve ser treinada em situações de continuidade de jogo. Uma das formas que podem ser utilizadas são os exercícios competitivos. Exemplo: Saque e Recepção 3 contra 3; duas equipes sendo uma em recepção e outra em saque. A equipe que saca efetua 20 saques, a pontuação para a equipe que recebe é feita a cada recepção perfeita ou a cada erro de saque do adversário, perdendo um ponto a cada "ace" do adversário. Após os 20 saques, troca-se de função, passando a equipe que sacou a receber e vice e verso. Vence o jogo, aquele que realizar maior numero de pontos em melhor de 5 sets.
Nas partidas do Campeonato Mundial Juvenil, apresentaram-se situações de jogo, onde a tática de recepção foi modificada em função da eficiência do saque adversário. Optou-se pela inclusão da jogadora de saída de rede (oposta a levantadora) para receber o saque da equipe da República Tcheca, pois estas estavam dirigindo o saque nas jogadoras de ponta. Esta tática de saque estava atrasando o ataque e com nossa mudança a seleção brasileira retomou o controle do jogo.
6. ConclusãoA base de uma boa recepção do saque, muitas vezes não está na qualidade técnica das atletas que fazem parte da recepção, mas de uma boa estrutura tática.
A perfeição do gesto técnico não esta na biomecânica perfeita para a ação, mas na sua adaptação ao momento e às variações do jogo, ou seja, para cada situação existirá o gesto certo. Sendo o Voleibol um esporte de "situação", a manchete para recepção do saque, representa exatamente o que foi dito anteriormente.
Um treinador de jovens atletas deve ter e dar o maior número e a qualidade de informações possíveis, para propiciar que a atleta desenvolva uma gama cada vez maior de atitudes motoras, representando assim uma forma de evolução.
Na recepção, deve-se em primeiro lugar, definir as atletas que farão parte desta estrutura tática, observando os seguintes aspectos: qualidade técnica da execução da manchete, condições de adaptação ao esquema tático proposto, coragem, qualidade de deslocamentos.
Referências bibliográficas
ALBERTA, J.. Side Out - Regain the serve to score point. The coach, (3) - Federation Internationale de Volleyball.1998
BÁFERO, A. P. A prática informal como meio pedagógico totalizante. 1996. Tese (Doutorado) - Escola de Educação Física, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1996.
________ Efeitos da pratica maciça e distribuída na performance de uma habilidade do voleibol. 1990. Dissertação (Mestrado) - Escola de Educação Física, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1990.
BIZZOCCHI, C. O voleibol de alto nível. São Paulo: Fazendo Arte, 2000.
DELGADO, A. L'attacco nella categoria ragazze. Itália: Federazione Italiana Pallavolo, 1998. p.1-3.
FIEDLER, M. Voleibol moderno. Buenos Aires: Stadium,1976
GUILHERME, A. Voleibol, técnica e tática de voleibol à beira da quadra. Belo Horizonte: Minas Tênis Clube, 2001.
KAPLAN, O. Voleibol actual. Buenos Aires: Stadium, 1974.
MESQUITA, I. & FERREIRA, P. A qualidade de execução e o sucesso obtido na manchete na recepção do serviço: estudo realizado no voleibol, no escalão seniores da "A1". In: JANEIRA, M. A. & BRANDÃO, E. ESTUDOS 3. 1° ed. Porto: Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física da Universidade do Porto. 2002. Art. 21, p. 199-204.
MESQUITA, I. A instrução e a estruturação das tarefas no treino de voleibol. Tese doutorado Educação Física - FCDEF - Universidade do Porto, Portugal, 1998
MURPHY, P.. Trends and future development of top level women's volleyball. International VolleyTech (1): 13. Federation Internationale de Volleyball, 1991
PAOLINI, M. Il nuovo sistema pallavolo. Itália: Calzetti Mariucci Editori, 2001.
RIZOLA, A. N. Uma proposta de preparação para equipes jovens de voleibol feminino. 2003. Dissertação (Mestrado em Educação Física) - Faculdade de Educação Física, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2003
SCATES, A. E. Winning volleyball. New York:Allyn and Bacon,1984.
VELASCO, J. Il muro. Itália: Federazione Italiana Pallavolo, 1993 pg 2
______. Stage allenatore serie b1 maschile. Itália: Federazione Italiana Pallavolo, 1996. p.1-22.
revista
digital · Año 11 · N° 95 | Buenos Aires, Abril 2006 |