Atividades aquáticas e hidrocefalia: um estudo de caso |
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CEFD - UF Santa Maria - RS (Brasil) |
Fernanda Panzenhagen Borges Luciana Erina Palma fepborges@yahoo.com.br |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 11 - N° 95 - Abril de 2006 |
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Introdução
A partir de perspectivas e de estudos de que as atividades aquáticas beneficiam os indivíduos e que são capazes de dinamizar o potencial da pessoa envolvida, é que este estudo surgiu através de uma experiência com atividades aquáticas.
Sendo assim, estudar sobre atividades aquáticas e a hidrocefalia, que significa popularmente "água na cabeça", foi além de um desafio, foi uma necessidade. O que realmente acontece é que nas pessoas com hidrocefalia o Líquido Cefalorraquidiano (LCR), que circula na massa encefálica, não consegue ou não é drenado normalmente, ocasionando o crescimento da caixa craniana e comprometimentos de forma geral. O tratamento mais utilizado é a intervenção cirúrgica, onde é colocado um sistema valvular na cabeça da pessoa até o coração ou intestino para drenar o LCR, onde este será absorvido pela corrente sangüínea.
Este foi um estudo que não envolveu somente a hidrocefalia, mas também o diabetes insípido, a hemiplegia e a escoliose, pois a hidrocefalia neste caso específico foi de origem adquirida pelo diabetes do tipo insípido, ocasionando mais tarde, após a cirurgia para a colocação da válvula (derivação), hemiplegia e escoliose.
Pretendeu-se então, através deste estudo de caso, contribuir para o desenvolvimento geral do aluno, e também para a área da Educação Física, através da ampliação do conhecimento nesta sub-área específica - Educação Física Adaptada -, e buscar o aprofundamento e transformação deste conhecimento, com novos estudos e um conhecimento específico para atuar com estes alunos.
Desta forma, o objetivo deste estudo foi analisar a importância das atividades aquáticas para a qualidade de vida em um aluno com hidrocefalia.
Atividades aquáticas e o aluno com hidrocefaliaÉ unânime a opinião sobre os benefícios das atividades aquáticas e como afirmam Skinner e Thomson (1985),
"As atividades físicas em piscinas são utilizadas na melhora de muitos distúrbios neurológicos. A tepidez e a sustentação da água ajudam a aliviar alguns dos sintomas desses indivíduos, oferecendo maior possibilidade de flutuação e mobilidade articular e uma progressão graduada dos exercícios é valiosa para os alunos cujos músculos estão fracos ou paralisados".
A temperatura da água é um fator importante na execução das atividades, pois estas se tornam mais prazerosas e a musculatura fica mais relaxada, proporcionando maior mobilidade do aluno e do professor, facilitando desta forma a execução das atividades, tornando-as também mais agradáveis.
Segundo Skinner e Thomson (1985), "a água quente faz com que o professor mova o aluno mais facilmente do que em terra. Como em outras condições, esses fatores melhoram ao mesmo tempo a confiança e a moral do mesmo".
As atividades aquáticas adaptadas têm como um de seus objetivos proporcionar às pessoas com necessidades educacionais especiais algumas habilidades na água para ajudá-los nas atividades de vida diária.
Neste sentido, concorda-se com Gomez, Miguel e Fernández (2000) que falam sobre os benefícios das atividades aquáticas para pessoas com necessidades especiais, e neste caso, pode-se repassar para os com hidrocefalia, da seguinte forma:
"La natación es una de las mejores formas para mejorar la movilidad y la capacidad física del minusválido. Las propiedades del agua de hacer que un cuerpo "pierda" peso y que flote, reduce la deficiencia y da la posibilidad de moverse más o menos en el agua. Además, la práctica de la natación incrementa la capacidad física, lo que a su vez da mayor estabilidad psíquica. Com una mejor condición física y psíquica, crece nuestra confianza teniendo mayores posibilidades de afrontar el trabajo cotidiano. Y si además el agua está a una temperatura agradable el baño se convierte en bálsamo para cuerpo y alma".
Por isso, a oportunidade de movimento que a atividade física, especialmente as atividades aquáticas propiciam também às pessoas com hidrocefalia, é extremamente auxiliadora e benéfica em seu desenvolvimento, sua aprendizagem e em sua educação.
Desta maneira, fica clara a responsabilidade de trabalhar com esta população, intensificando assim a importância de profissionais de Educação Física capacitados para oferecer tarefas que melhorem a qualidade de vida das pessoas com hidrocefalia, pois assim, estarão intervindo e influenciando no desenvolvimento dos mesmos.
A hidrocefalia é um termo médico bastante antigo. Para o Coletivo de Autores (2001), a hidrocefalia é o "aumento das cavidades ventriculares e malformações do aqueduto de Sylvius, conseqüente ao aumento do volume de LCR que geralmente está ou esteve sobre pressão aumentada. Considera-se não como uma doença, mas sim como uma condição patológica com múltiplas causas".
A hidrocefalia pode ocorrer em qualquer idade e é devida, quase sempre pela obstrução do fluxo de LCR nos ventrículos ou no espaço subaracnóideo, de origem congênita ou adquirida. O que causa a hidrocefalia é uma impossibilidade do LCR ser drenado para o sistema sanguíneo. O tratamento habitual é a introdução de uma derivação (implantação de uma válvula para drenar o LCR dos ventrículos até o abdome para ser absorvido pela corrente sangüínea). Porém, esta derivação não cura a hidrocefalia.
Por este estudo ter envolvido também outros termos como o diabetes insípido, a hemiplegia e a escoliose, houve a necessidade de fazer esclarecimentos teóricos breves sobre estes.
Sendo assim, diabetes insípido é o nome dado a diversas doenças caracterizadas pelo acentuado aumento de secreção urinária, de fome e de sede intensas.
De acordo com a Enciclopédia Saúde (2003), este tipo de diabetes é
"doença rara, que às vezes está ligada a uma afecção do diencéfalo e do lobo posterior da hipófise, que não produz quantidade suficiente de hormônios antidiuréticos, a vasopressina. Essa doença é, pois, essencialmente diferente do diabetes sacarino".
Com relação à hemiplegia, Bittar (2001), sustenta que "é o comprometimento de ambos os membros de um lado". Conforme Netto e Gonzalez (1996), hemiplegia é a "perda da sensibilidade em um dos lados do corpo podendo ocorrer sua recuperação momentânea com resgate parcial ou total".
Por outro lado, a escoliose é um termo da antigüidade que, de acordo com Cailliet (1979), foi "usado a primeira vez por Hipócrates e define curvatura anormal da coluna".
Para Fischinger (1982), "escoliose (do grego: inclinado) é o desvio lateral da coluna e provoca uma modificação muscular, ligamentar, do tecido conjuntivo, dos discos e dos ossos, podendo até comprometer a medula, pulmões, coração, diafragma e a pelve".
MetodologiaEsta pesquisa caracterizou-se por ser um estudo de caso, conforme Santos (2001), que considera que "as pesquisas deste tipo têm por objetivo selecionar um objeto de pesquisa restrito, com o objetivo de aprofundar-lhe os aspectos característicos". Fez parte deste estudo, um aluno com hidrocefalia com dezesseis (16) anos de idade. As características do aluno eram: apresentava hidrocefalia decorrente do diabetes insípido, teve uma hemiplegia no lado esquerdo, o que lhe originou também uma escoliose com inclinação para a esquerda.
As atividades foram desenvolvidas na piscina de uma Clínica onde o aluno freqüentava e no complexo de piscinas térmicas do CEFD/UFSM/RS, duas (02) vezes na semana - uma (01) em cada local - com duração de 30 minutos cada sessão.
Os instrumentos utilizados foram: ficha de identificação do aluno; roteiro de entrevista com os pais do aluno, com a professora da Clínica e com a fisioterapeuta da Clínica (Baseada em Gil, 1999 e Santa'anna, 1995); diário de campo: registro cursivo das atividades e/ou das aulas; ficha de avaliação do aluno, que contemplava os domínios do comportamento humano - social, afetivo, cognitivo e psicomotor (Baseada em Bueno e Resa, 1995) e ficha de observações (Adaptada de Singer e Dick, 1980)
Antes de iniciar a análise dos dados é importante ressaltar que a sistemática do trabalho desenvolvido foi realizada por dois monitores. Desta forma, foi necessário o auxílio de um monitor (acadêmico do curso de Educação Física) sempre presente nas aulas para sustentar/segurar o aluno.
Apresentação dos dadosDurante as entrevistas foram coletadas informações a respeito da história de vida do aluno relacionada ao seu diagnóstico, bem como aspectos característicos da hidrocefalia, a sua participação em atividades no meio líquido desde seu ingresso na Clínica e as suas necessidades e possibilidades motoras. Primeiramente entrevistou-se a mãe do aluno, para conhecer a história de vida do mesmo relacionada ao seu diagnóstico encontrado na Clínica (hidrocefalia e diabetes insípido.
Outra entrevista foi realizada com a professora de Educação Física da Clínica, para identificar aspectos característicos da hidrocefalia e as atividades aquáticas, pois foi ela que desenvolveu primeiramente atividades aquáticas com este aluno, logo que ele ingressou na Instituição.
Entrevistou-se também a fisioterapeuta da Clínica - com o intuito de desenvolver um trabalho interdisciplinar - para identificar quais eram as reais necessidades e possibilidades do aluno no início do estudo.
A avaliação foi elaborada considerando as características individuais do aluno. Foi elaborada visando as suas reais necessidades e potencialidades. Esta avaliação foi importante para que pudéssemos fazer um reconhecimento das capacidades e habilidades motoras do aluno, para poder então, elaborar e desenvolver atividades baseadas nas capacidades e habilidades mais deficitárias.
Pela necessidade apresentada na avaliação, com relação às atividades desenvolvidas, estas tinham o objetivo de trabalhar o fortalecimento muscular, bem como atividades respiratórias, de equilíbrio postural e atividades de motricidade fina e ampla, de modo geral, explorar aspectos motores, afetivos, cognitivos e sociais.
A primeira aula desenvolvida tinha o objetivo de fazer uma readaptação, um contato entre aluno/professora e aluno/meio líquido como também, uma adaptação entre aluno/monitor. Nesta aula, foram observados aspectos afetivos, sociais, cognitivos e psicomotores do aluno, para após desenvolver aulas baseadas nestes aspectos. De forma geral, as aulas foram desenvolvidas de acordo com as observações feitas na avaliação, ou seja, observou-se que ele necessitava de exercícios respiratórios e esta necessidade estava sendo sanada através de exercícios de soprar a água, bem como na educação da respiração com exercícios de inspiração/expiração. Também foi observado suas dificuldades no controle postural, onde foram desenvolvidas atividades de equilíbrio. Em relação a sua motricidades fina, foram aplicadas atividades de pegar objetos pequenos e manuseá-los.
Na última aula e na avaliação final o aluno demonstrou melhora em seu equilíbrio e também no que se refere à sua respiração, pois ele conseguiu ficar sentado sobre as pernas do monitor sem qualquer apoio e ainda estando sob o efeito de "ondas" da água da piscina, apresentou um equilíbrio não demonstrado nas aulas anteriores. Sua postura dentro da piscina também estava melhor, pois ele próprio corrigia-se.
É importante salientar que tanto as atividades realizadas na Clínica, quanto às na UFSM eram praticamente as mesmas, havendo diferença apenas no que se refere às atividades de fortalecimento muscular, pois a piscina do CEFD/UFSM por ser maior e mais profunda facilitou o desenvolvimento das atividades de caminhar, pois era mais fácil de conduzi-lo.
Quanto aos domínios do comportamento humano observados durante o desenvolvimento das aulas pôde-se inferir que: quanto ao domínio social, o aluno demonstrou relacionar-se muito bem com a professora e monitor, sempre conversando, contando histórias. Da primeira até a última aula, o aluno demonstrou estar com sua auto-estima elevada. As atividades aquáticas foram estimulantes, propiciando alegria e confiança ao aluno.
No que se refere ao domínio afetivo, o aluno aceitou todas as atividades propostas, acredita-se que tenha sido pelo fato de que ele sabia que eram importantes para o seu desenvolvimento geral e também porque as atividades não eram cansativas.
Quanto ao domínio cognitivo, demonstrou lembrar ao final de cada aula as atividades realizadas durante a mesma. Com relação ao domínio psicomotor, o aluno, na maioria das aulas teve estímulo auditivo e percebeu-se que quanto mais estimulado desta maneira, mais ele prestava atenção nas atividades propostas. De forma geral, o aluno caminhava na piscina, sendo segurado pelas mãos da professora e apoiado pelo monitor. Fazia exercícios de bater pernas, de "andar de bicicleta" - estes ele fazia sentado nas pernas do monitor. Também desenvolvia exercícios de empurrar e puxar. Fazia exercícios de adução e abdução de braços, flexão e extensão de punhos, além de realizar atividades respiratórias com e sem o canudo para formar "bolhas" na água, pegar objetos pequenos, jogá-los e também atividades de equilíbrio e postura, onde ele ficava sentado nas pernas do monitor sem o apoio das mãos.
As observações feitas a respeito desses domínios serviram de suporte para que pudéssemos saber se as atividades desenvolvidas estavam satisfazendo as necessidades do aluno, se elas foram cansativas, se agradaram e se estavam beneficiando o aluno.
É importante destacar também que a avaliação foi desenvolvida para que pudéssemos verificar como o aluno se mostrava em relação ao seu desenvolvimento motor, o qual acreditávamos ter tido conseqüências negativas e pelas seqüelas apresentadas após a cirurgia realizada.
De certa forma, esta avaliação propiciou a identificação de déficits em seu desenvolvimento, o que nos levou a buscar direcionar as atividades visando sanar ou minimizar os mesmos. Também proporcionou a observações em relação a melhorias nos comprometimentos respiratórios, posturais, de motricidade fina e marcha, contribuindo assim, para a sua qualidade de vida.
Considerações finaisCom este estudo, pôde-se conhecer um pouco mais sobre o aluno, suas características, suas possibilidades, potencialidades e necessidades e assim, desenvolver atividades aquáticas que estivessem contribuindo para sua saúde e qualidade de vida. Desta forma, o trabalho realizado proporcionou um estudo detalhado sobre as deficiências e características apresentadas e assim poder ampliar o aprendizado com esta população específica, através de momentos de atividade física aquática.
É importante ressaltar novamente que durante as aulas desenvolvidas foram obtidos resultados no que se refere principalmente ao equilíbrio e controle da respiração. Outro ponto positivo esteve relacionado à questão social, pois o aluno demonstrou ter facilidade em relacionar-se com pessoas as quais ele conhecia e outras que não tinha tido qualquer contato.
Acredita-se também que este estudo tenha sido essencial para a ampliação do conhecimento na área específica - Educação Física Adaptada -, bem como para a formação acadêmica e profissional.
Também para que outros profissionais da Educação Física possam usufruir e ainda acrescentar conhecimentos em trabalhos com alunos com necessidades especiais, especialmente para alunos com hidrocefalia.
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revista
digital · Año 11 · N° 95 | Buenos Aires, Abril 2006 |