Bocha Adaptado: fatores motivacionais na deficiência física Adapted bocha: motivational factors at physical deficiency |
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*Universidade Estadual de Maringá (UEM) **Associação Maringaense Desporto para Deficientes (AMDD) (Brasil) |
Profa. Dra. Sonia Maria Toyoshima Lima* Prof. Dr. Amauri Aparecido Bássoli de Oliveira* Profa. Karenn Patrícia Nakada** toyolima@brturbo.com.br |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 11 - N° 95 - Abril de 2006 |
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Introdução
Ao analisarmos o processo de transformação e evolução histórica, social e cultural das pessoas com deficiência, identificamos que cada vez mais, as mesmas, vêm conquistando espaços em nossa sociedade.
Entre as aquisições, destacamos a obtenção dos direitos à educação, trabalho e lazer, entre outros. E, em meio a essas conquistas, destacamos o avanço quanto à procura para a prática de uma atividade física, seja recreativa ou desportiva.
O objetivo desta pesquisa foi identificar quais os agentes influenciadores que motivam as pessoas com deficiência física a praticarem o bocha adaptado.
Como a modalidade esportiva tem uma prática recente no Brasil, sendo ainda pouco difundida e propagada estaremos comentando sobre o bocha adaptado para a seguir relatar os resultados da pesquisa.
O Bocha adaptadoO bocha adaptado é similar ao Bocha convencional, ou seja, o jogador tem como objetivo encostar o maior número de bolas na bola alvo.
O jogo consiste em um conjunto de seis bolas azuis, seis bolas vermelhas e uma bola branca (bola alvo).
A quadra deverá ser lisa e plana como o piso de um ginásio em madeira ou sintético. A área é delimitada por linhas que possui uma dimensão de 12,5m x 6m (maiores detalhes em CP-ISRA).
Comenta Campeão (2003) que, o bocha adaptado foi criado inicialmente para atender as pessoas com encefalopatia crônica, conhecido como paralisia cerebral (PC) severas com alto grau de comprometimento motor nos quatro membros e que se utilizava de cadeira de rodas. Atualmente outras pessoas com deficiência também podem competir, desde que inseridas na mesma classe no grau da deficiência, como por exemplo: distrofia muscular progressiva, acidente vascular cerebral, disfunção motora progressiva, entre outras.
O jogador, conforme descreve as regras previstas pela International Boccia Commission - (IBC) - CP-ISRA (2004), é dividido por classes de acordo com o grau de comprometimento motor ou limitação, sendo que em cada divisão jogam praticantes de ambos os sexos. As divisões são:
Individual BC1 - Individual BC2
Individual BC3 - Individual BC4
Pares - para jogadores classificados como BC3
Pares - para jogadores classificados como BC4
Equipe - para jogadores classificados como BC1 e BC2.
A classificação também segue as normas e regras da CP-ISRA, sendo que cada classe é denominada pela funcionalidade de cada jogador. A classe BC1 é composta por pessoas com tetraplegia espástica severa com ou sem atetose, no qual há pouca amplitude de movimentos ou força funcional em todos os movimentos nas extremidades e no tronco. Dependem da cadeira de rodas e precisam de auxilio durante o jogo, assim como de assistência tanto para a remoção da cadeira de rodas, quanto para a aquisição da bola.
A classe BC2 é composta por pessoas com tetraplegia espástica de severa a moderada, os mesmos itens relacionados a classe BC1, a única diferença é que podem impulsionar a cadeira de rodas manualmente. As pessoas da classe BC3 utilizam calha e um calheiro para realizar o jogo. E por fim, na classe BC4 as pessoas possuem diplegia de moderada a severa com controle mínimo nas extremidades das mãos, e ainda, com limitações de tronco e pouca força funcional nos quatros membros.
MetodologiaA pesquisa se caracteriza como descritiva com teor exploratório, como destaca Cervo e Berviam (1996).
Para a coleta dos dados, utilizamos a entrevista como subsídio empregando questões abertas e fechadas. Para análise do conteúdo, utilizamos à técnica de análise das comunicações de Bardin (1977), objetivando sempre o entendimento dos fatores que motivaram as pessoas com deficiência física a praticarem o bocha adaptado.
Quanto aos participantesComo cada pessoa da pesquisa possuía uma especificidade, estaremos a seguir as identificando.
Participante A: 35 anos de idade, sexo masculino com tetraplegia completa no nível do segmento medular cervical C5-C6, ocasionando um comprometimento do tronco e dos quatro membros em função de um acidente automobilístico.
Participante B: 41 anos de idade, sexo masculino, possui Ataxia de Friedreich que se caracteriza pela degeneração da medula espinhal e cerebelo, causa desconhecida.
Participante C: 48 anos de idade, sexo masculino com tetraplegia no nível do segmento medular cervical C3-C4, em decorrência de um acidente automobilístico.
Participante D: 38 anos de idade, sexo feminino, apresenta seqüela de meningite com paralisia infantil, utiliza cadeira de rodas motorizada, possui limitação de movimentos. Participante E: 17 anos de idade, sexo feminino, paralisia cerebral em decorrência de uma anóxia durante o parto.
Resultados e discussãoQuando questionamos o porquê da escolha do bocha adaptado, os participantes mencionaram diferentes motivos, como podemos verificar no quadro1.
Quadro 1. Motivos apresentados para a prática do Bocha AdaptadoA modalidade permitiu e permite ampliar os objetivos motivacionais de vida. Comenta Bergamini (1975) que ao perseguirmos um objetivo estaremos atendendo a uma necessidade. E, nesse caso cada um apresenta a sua motivação e ambição esportiva.
A motivação segundo Cratty (1984), é um fator que deve estar sempre presente nas pessoas para que possam deflagrar desejo, esforço, necessidade, objetivo, aspiração, impulsos, alvo, ambição, fome, sede, amor, vingança, entre outros aspectos que conduz a uma inércia e/ou ação em diversas situações.
A motivação para Davidoff (1983, p.385), "refere-se a um estado interno que resulta de uma necessidade e que ativa ou desperta um comportamento usualmente dirigido ao cumprimento da necessidade ativante", que no caso dos comentários dos participantes, identificamos a interação da possibilidade e desejo para a realização da atividade.
Uma explicação para a falta de motivação apresentada pelos participantes foi a dificuldade que eles têm para se deslocar de suas residências até o local da prática esportiva. Comentam os praticantes A, B e C, que a falta da acessibilidade é uma das grandes dificuldades no dia a dia, ou seja, ir até o espaço da prática.
Outro fator desmotivante foi relatado pelo praticante D quando expõe com indignação, a falta de credibilidade que as pessoas do meio social os qualificam, principalmente não acreditando no potencial que as pessoas com deficiência possuem.
Embora esses aspectos extrínsecos, exerçam uma influência negativa sobre os participantes do bocha adaptado, os mesmos, não interferiram de forma marcante nos aspectos intrínsecos para o desenvolvimento dessa atividade física. As fontes motivacionais de reforço positivo foram mais contundentes e estimulantes.
Weinberg e Gould (2001) comentam que, as expressões motivantes afetam na autodeterminação para a realização da tarefa. E, que a forma de como pensamos e o empenho em nossas ações é que incitam e auxiliam para a realização de nossas tarefas, segundo esclarece Murray (1973).
Como objetivamos identificar os motivos para a execução do bocha adaptado, verificamos que após a prática de três anos os aspectos motivacionais modificaram para alguns dos participantes.
Quadro 2. Motivos apresentados para a continuidade da prática do bocha adaptado após 3 anosVerificamos que para os praticantes A e E, o que mais os motiva à prática do bocha adaptado é a competição, para os sujeitos B e C é a ocupação do tempo livre, a conquista pessoal e socialização. E, para o praticante D, é poder mostrar para si mesmo que pode ultrapassar seus limites.
Todos os motivos apresentados, obviamente, são relacionados às necessidades humanas. Nesse sentido, explica Teles (1983) que, as necessidades estão organizadas em vários níveis como as necessidades fisiológicas, sociais e de auto-relacionamento para que possamos compreender as próprias potencialidades.
Verifica-se que para a prática do bocha adaptado, os motivos mais relevantes são os aspectos extrínsecos, sendo mencionado como exemplo a competição como estímulo e atrativo para realizá-la.
Relata Cratty (1984), que a competição nos condiciona à busca do sucesso e que essa busca é um dos motivos que nos auxilia na estrutura psicológica.
Ao relacionar os escritos de Samulski (2002), se constata existir diferentes níveis motivacionais. O primeiro é o do organismo: descrevendo que os motivos estão relacionados com o nível denominado de motivos fisiológicos ou vitais que segundo o autor pertencem os motivos da saúde. No segundo, destaca-se o nível da personalidade que se encontram os motivos pessoais, principalmente, os motivos de êxito, de rendimento e de auto-realização.
No terceiro nível, aparecem os motivos sociais, os quais pertencem o motivo de reconhecimento social e o motivo do poder. Por fim, no quarto nível, encontram-se os motivos éticos e estéticos.
Os motivos de êxito, rendimento e de auto-realização, são considerados por Samulski (2002), como propulsores para a realização de uma prática esportiva, que nesse caso, é o bocha adaptado. A prática do bocha adaptado, oportuniza não somente participar de competições, mas também, avaliar possibilidades, prevenir deficiências secundárias, evitar o sedentarismo e integrar-se com o meio social.
Considerações finaisAo investigarmos as pesquisas descritas em artigos, revistas especializadas e livros sobre motivação esportiva em diferentes modalidades esportivas, constatamos que os aspectos motivadores para a prática desportiva foram: manter a boa forma, aumentar o bem estar corporal e psicológico, melhorar o estado de saúde, prazer em realizar a atividade, reduzir o estresse do trabalho, reduzir a ansiedade, entre outros fatores.
E, quando aproximamos os resultados obtidos nessa pesquisa, verificamos que o aspecto convergente se encontra no prazer em realizar uma prática desportiva. Como aspecto motivacional para a prática do bocha adaptado foi evidenciado principalmente a busca da superação dos limites individuais.
Constatamos que a modalidade, possibilita ás pessoas com alto grau de comprometimento motor a praticá-la como desporto de alto rendimento, encontrando entre os relatos os motivos à busca do êxito, rendimento e auto-realização.
Entre os depoimentos, identificamos alguns aspectos intrínsecos como à busca em dominar tarefas, tendo a competição como ação e ativação como exteriorização dos fatores motivacionais. Consideramos importante o relato, porque esse conjunto de movimento auxilia na ampliação das capacidades e desenvolvimento de suas habilidades, principalmente, quando os relacionamos às atividades de vida diária (AVD).
Verificamos entre os relatos a citação de algumas dificuldades, a principal se encontra o meio de locomoção. O informe é importante porque enquanto profissionais podemos buscar meios para intervir no político e assim procurar meios para melhores condições de acessibilidade.
Esperamos que com os resultados dessa pesquisa sobre motivação desportiva na área da deficiência, estimule outros profissionais que trabalham com diferentes modalidades esportivas na área da deficiência identifiquem divergências e convergências entre os resultados.
Como sugestão se recomenda que outras pesquisas para ampliação nos conhecimentos motivacionais nas diferentes modalidades desportivas para pessoas com deficiência.
Bibliografia
Bardin, L. (1977). Análise do conteúdo. Tradução de Luís Antero Reto e Augusto Pinheiro. (ed.70). São Paulo: Persona.
BERGAMINI, C. W.(1975) Psicologia aplicada à administração de empresas: psicologia do comportamento humano na empresa. 2ª ed. São Paulo: Atlas.
Campeão, M. da S. (2003). Atividade física para pessoas com paralisia cerebral. In: DUARTE, E. & LIMA, S. M. T. Atividade física para pessoas com necessidades especiais: experiências e intervenções pedagógicas. Rio de Janeiro: Guanabara-Koogan, 2003. pp.33-46
Cervo, A. L. & Bervian, P. A. (1996). Metodologia Cientifica. São Paulo: Makron.
CP-ISRA - Cerebral Palsy - International Sports and Recreation Association http://www.cpisra.org Acesso em 05 de fevereiro de 2004.
Cratty, B. J. (1984). Psicologia no esporte. Rio de Janeiro: Prentice Hall do Brasil.
Davidoff, L. (1983). Introdução à psicologia. São Paulo: McGraw-Hill.
Magill, R. A. (1984). Aprendizagem motora: conceitos e aplicações. São Paulo:Edgard Bliicher.
Murray, Eduard J. Motivação e emoção. (1973). (3.ed.) Rio de Janeiro: Zahar.
Samulski, D. M. (2002). Psicologia do Esporte: Manual para a Educação Física, Psicologia e Fisioterapia. (1.ed.) São Paulo:Manole.
Teles, A. X. (1983). Psicologia moderna. São Paulo:Ática.
Weinberg, R. S. & Gould, D. (2001). Fundamentos da psicologia do esporte e do exercício. (2.ed.) Porto Alegre: Artmed.
revista
digital · Año 11 · N° 95 | Buenos Aires, Abril 2006 |