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Pedagogia e andragogia na sala de musculação
Pedagogy and andragogia in the workout room

   
*Especialista em Treinamento Desportivo
Faculdades Metropolitanas Unidas
**Especialista em Saúde da Mulher no Climatério
Departamento Materno Infantil
Faculdade de Saúde Pública (FSP) / Universidade de São Paulo, USP
 
 
José Adriano Rabelo*
Alessandro Barreta Garcia**

alessandrogarcia@hotmail.com
(Brasil)
 

 

 

 

 
Resumo
    O presente estudo teve por objetivo transcorrer fundamentalmente em torno da Andragogia (educação de adultos), sendo este estudo uma proposta de superação da Pedagogia (educação de crianças) com fins de facilitar a relação professor aluno na sala de musculação (entendendo esta relação, entre alunos adultos). Fez se a pesquisa a partir de uma revisão de literatura, e de um estudo de campo do tipo interpretativo. Utilizou-se um instrumento (questionário) fechado, e fez-se a análise e interpretação dos resultados a partir do núcleo de significado encontrado entre os discursos na fase de pré-teste e fase de objetivação. Foi possível entender a Andragogia como uma nova perspectiva em face de uma melhor relação professor aluno em salas de musculação.
    Unitermos: Andragogia. Musculação. Relação professor aluno.
 
Abstract
    The present study it had for objective to discourse basically around the Andragogia (education of adults), being this study a proposal of overcoming of the pedagogy (education of children) with ends to facilitate to the relation professor pupil in the workout room (understanding this relation, between adult pupils). It made if the research from a revision of literature, and a study of field of the interpretation type. An instrument (questionnaire) closed was used, and became it analysis and interpretation of the results from the nucleus of meaning found enters the speeches in the daily pay-test phase and objective phase. It was possible to understand the Andragogia as a new perspective in face of one better relation professor pupil in workout rooms.
    Keywords: Andragogia. Workout. Relationship teacher student.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 94 - Marzo de 2006

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Introdução

    A Musculação cresceu fora da profissão de Educador Físico, já nos fins dos anos 30 e início dos anos 40, com isso poucas Universidades e praticamente nenhum Colégio Escolar incluía o treinamento com pesos em seus programas de Educação Física. Entretanto, a partir da II Guerra Mundial esta atividade começou a ser aceita e valorizada nos programas de condicionamento físico.

    Desta forma, a desenfreada corrida às academias tornou-se tão importante e complexa, que os gestores e professores da área, não tinham novas perspectivas para se preparar de uma forma eficiente e equilibrada (DANTAS, 1994). Tudo isso, fez com que os profissionais da área de Educação Física se atualizassem cada vez mais a respeito da dimensão educativa que poderia ocorrer no âmbito de seu trabalho.

    Pensando nisto, indagamos sobre a validade de continuar ensinando Musculação, nos moldes em que vinha sendo ensinado, já que até o final dos anos 80, a ação do profissional de ginástica em academia, segue um referencial estipulado por um discurso técnico tradicional.

    A partir destas reflexões, observa-se que uma nova postura dos professores em relação aos alunos deve ser exercida nas academias. Novas atitudes e comportamentos positivos poderão ser alcançados a partir de investimentos em cursos de formação e capacitação dos professores. Nessa nova ordem, onde o consumidor fala mais alto, não há espaço para acomodação, pois o sucesso profissional está comprometido com a implantação de uma "nova cultura" de mudança, de contínuo aperfeiçoamento profissional e empresarial.

    A fim de contribuir nesta discussão, é a partir dos anos 70 que Maslow & Knowles (1972) introduziram o termo Andragogia, como sendo, a arte e ciência de orientar adulto. Segundo este autor, à medida que as pessoas amadurecem, sofrem transformações, como por exemplo, seus interesses pelo aprendizado e desenvolvimento das habilidades que utilizam no seu papel familiar, na sua profissão e na sociedade como um todo.

    Neste caso nosso eixo principal é, levantar os pressupostos teóricos que já tenham discutido em algum momento, questões relacionadas ao professor-aluno, principalmente no que tange à importância dos aspectos andragógicos e pedagógicos em academias de musculação.


Revisão de literatura

    Em virtude das influências que os proprietários de academia receberam em sua formação, e até mesmo na perspectiva de suas vidas pessoais, faz com que haja diferentes linhas de trabalho, no que se refere aos objetivos metodológicos, isto é, vêem as academias como forma de melhorar a aptidão física para a competição, para a hipertrofia muscular máxima, e aqueles que acham que a academia visa o bem estar físico e emocional através das atividades de lazer (AVELLAR, 1996).

    Para os alunos, os objetivos são principalmente a estética e a saúde, não sendo citado educação em nenhum momento. Então como fica e como se sente o profissional de Educação Física? Para Monteiro (1996), o princípio da conscientização, compreende em realizar a atividade física de forma a atender os reais motivos de sua aplicação, obtendo assim, resultados mais eficientes, devido a maior canalização sobre os aspectos motivacionais por parte do praticante.

    Este princípio, sendo examinado no aspecto mais superficial, torna-se mais um princípio pedagógico do que propriamente fisiológico. O profissional que atua na academia está preocupado com as mudanças morfológicas e fisiológicas, e não percebe estar educando um aluno.

    Um fato comum nas academias é as alunas acharem que estão gordas e precisam perder peso, outro é as crianças fazerem os movimentos muito rápidos e não descansarem o recomendado entre as séries. Com uma intervenção andragógica as alunas começariam a preocupar-se com a alimentação e as crianças (no ponto de vista da Pedagogia) começariam a fazer os exercícios mais lentamente. Isto significa que o aluno foi educado. Educado para os exercícios físicos, descobrindo novas formas de ver seu programa de Musculação.

    A tarefa de ensinar a pensar exige do professor, o conhecimento de estratégias de ensino e o desenvolvimento de competências de ensinar (LIBÂNEO, 1994). O professor necessita, então, aprender a regular as suas próprias atividades de pensamento e, principalmente, "aprender a aprender". No entanto, do nosso ponto de vista, só poderemos encontrar significado e soluções para as questões da profissionalização dos professores no contexto da função social do trabalho docente.

    Partimos da compreensão que indivíduo e sociedade estão intimamente relacionados e que, embora tenham suas especificidades, podem ser tratados de forma conjunta. A educação formal constitui uma via socialmente constituída, de acesso da criança ao conhecimento científico, que é uma referência para o aluno.

    Na educação tradicional, o aluno se adapta ao currículo oferecido, mas na educação de adulto, o aluno ajuda na formulação do currículo. A educação do adulto se dá através de situações e não de disciplinas. Todo adulto se vê envolvido com situações específicas de trabalho, de lazer, de família, da comunidade, etc, situações essas, que exigem ajustamentos (LINDMAN apud OLIVEIRA, 1999).

    Já o ensino autoritário que predetermina o pensamento, fórmulas pedagógicas rígidas. Tudo isso, não tem espaço na educação de adulto. Adultos que desejam manter sua mente fresca e vigorosa começam a aprender através do confronto das situações pertinentes. Buscam seus referenciais nos reservatórios de suas experiências, textos e fatos secundários.

    A pessoas interagem, espontaneamente, com o ambiente, através de pensamentos e interesses e se expressam independentemente do nível de conhecimento que possuem. Não podemos ensinar diretamente outra pessoa, podemos apenas facilitar sua aprendizagem (ROGERS apud OLIVEIRA, 1999). Uma pessoa aprende, significativamente, somente coisas que percebe estarem ligadas com a manutenção, ou ampliação da estrutura do seu eu.

    Quando Knowles teve contato com a palavra Andragogia, entendeu o significado da palavra e a adotou como a mais adequada para expressar, é uma abordagem para ajudar adultos a aprenderem". Para Knowles apud Oliveira (1999), os pressupostos da Pedagogia baseiam-se nos princípios de ensinar e aprender nos moldes tradicionais.

    Considerando que o aprendiz adulto interage diferentemente da criança na relação educacional, as premissas pedagógicas devem ser substituídas pelas andragógicas. O adulto é dotado de consciência crítica. Sua postura pró-ativa ou reativa tem direta relação com seu tipo de consciência predominante (DEMING, 1990). A negociação com o adulto sobre seu interesse, em particular de uma atividade de aprendizagem, é a chave para sua motivação. O ambiente de aprendizagem entre pessoas adultas é permeado de liberdade e incentivo para cada indivíduo falar de sua história, idéias, opinião, compreensão e conclusões.

    A medida em que os adultos amadurecem, eles ficam crescentemente independentes e responsáveis para as suas próprias ações. Eles são motivados freqüentemente para aprender por um desejo sincero para resolver problemas imediatos em suas vidas. Em muitos casos, o modelo pedagógico não responde por tais mudanças desenvolvidas por parte dos adultos, e assim produz tensão, ressentimento e resistência.

    Ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua produção e construção (FREIRE, 1997). É fundamentalmente pensar certo. É uma postura exigente, difícil, às vezes penosa, que temos de assumir diante dos outros e com outros. Em cada caso, utilizamos uma forma de ensinar adequada às necessidades do aluno (ZABALA, 1995). Sabemos que não basta repetir um exercício sem mais nem menos. É imprescindível poder conhecer as chaves do conteúdo para poder melhorar sua disseminação.

    Adultos não são crianças e não devem ser tratados como tais (De SORDI, 1999). Repetimos modelos, paradigmas em estado avançado de decomposição, talvez pelo medo de errar, de arriscar nossa criatividade na reorganização das atividades, e neste caso é preciso romper com o tradicionalismo, é preciso evoluir


Materiais e métodos


Revisão de literatura

    Fez-se a pesquisa a partir de uma revisão de literatura que tratasse especificamente da Andragogia (ensino para adultos), servindo-se das publicações (entre 1990 e 2002) encontradas a partir das bibliotecas da Universidade de São Paulo (Faculdade de Educação), e nos bancos de dados da BIREME (Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde) e MEDLINE (National Library of Medicine).


Espaço da pesquisa e caracterização da amostra

    A pesquisa se desenvolveu em 05 academias de ginástica (na cidade de São Paulo), compreendidas a partir de cinco grupos compostos por 10 (dez) sujeitos pesquisados. Tratou-se de uma amostra escolhida sem qualquer forma de controle probabilístico. Sendo assim, não se considerou relevante uma representação numérica, e sim o aprofundamento e abrangência das unidades de significação (MOURÃO, 1999; GARCIA, 2005; GARCIA et al,2005). Tratou-se de um grupo escolhido conforme nossa conveniência.


Instrumento

    A principio foi submetido um questionário piloto no qual foi distribuído para 50 (cinqüenta) professores, constituído de 10 (dez) questões abertas que pretendiam verificar a compreensibilidade de nossa temática (aspectos gerais de nosso objetivo).

    Posteriormente foram analisadas as respostas com base nas unidades de significado e semântica das palavras ou frases conforme Garcia (2005). A partir das 10 (dez) questões abertas, foi possível construir um questionário fechado constituído de alternativas; a), b), c), e d), já que este tipo de procedimento permite localizar e classificar o indivíduo, numa das categorias objetivas ou em uma das categorias de significado lingüístico (GARCIA, 2005; GARCIA et al, 2005). Sendo que posteriormente foi descrito o número de respostas correspondentes as nossas alternativas. Anexo ao questionário foi utilizado o termo de consentimento livre e esclarecido, conforme previsto nas recomendações de pesquisa com seres humanos (CONSELHO NACIONAL DE SAÚDE - RESOLUÇÃO 196 de 1996).


Resultados

    Os resultados da elaboração dos dados que estão sendo representados abaixo serão analisados detalhadamente pergunta por pergunta.

1. Você está ensinando (ou atendendo) e um aluno se aproxima e quer ser atendido ao mesmo tempo, o que você faz?
27 professores responderam que pedem para aquele aluno que se aproximou, aguarde um pouco.
É equivocado pensar que um padrão de postura garantirá toda atenção do mundo para todos alunos ao mesmo tempo. Há alguns que merecem maior atenção do que outros. Refletir sobre isso faz parte do processo pedagógico de cada um de nós professores.

2. O que você faz quando corrige o aluno e ele te olha com desprezo?
28 professores responderam que não corrige mais este aluno.
Se a recepção foi boa, afetuosa, alegre e segura, a visão do aluno será positiva. Se pelo contrário, a recepção foi sem afeto e sem compreensão, a visão dele será negativa, barrando o desenvolvimento normal das relações interpessoais.

3. Quando você se aproxima para corrigir um aluno, ele diz que já sabe treinar. Qual é sua opinião?
21 professores responderam que o exercício poderia ser feito de uma forma mais correta.
Se nossos alunos já são bons sempre podem ser melhores. E com freqüência, haverá alunos não tão bons, que necessitam de mais ajuda de motivação (MORALES, 1999).

4. Qual é a sua reação quando um aluno diz que você está dando mais atenção para outros alunos do que para ele?
21 professores responderam que explicaria que aquele aluno está com mais dificuldade do que ele.
A qualidade das relações interpessoais manifesta-se de muitas maneiras: dedicar tempo à comunicação com os alunos (DEIRO, 1995), mas não deixando de prestar atenção aos que estão treinando, manifestar afeto e interesse, elogiar com sinceridade e interagir com eles é de extrema importância neste caso.

5. Como você se comporta quando o aluno começa a comentar sobre seus problemas pessoais?
22 professores responderam que ouvem o aluno com toda a atenção do mundo.
Não devemos reprimi-los, se é em nós que eles confiam, talvez por sermos atenciosos com os mesmos é que devemos manter uma relação amigável e profissional.

6. Qual é o seu comportamento quando o (a) aluno (a) começa a te paquerar?
27 professores responderam que mantém a postura de professor.
Nós professores não devemos esquecer que o respeito é necessário para evitar futuras perturbações deste caráter. Se por um lado é importante a existência da empatia, o respeito também deverá ser levado em conta.

7. O que você faz quando um aluno diz para você verificar se a série de exercícios que outro professor passou está correta?
28 professores responderam que pedem para ele conversar com o professor que montou a série.
É nesta questão que entra a palavra ética. O professor deverá ter uma consciência de responsabilidade e respeito com o seu colega de equipe. Se possível discutir em reuniões da academia.

8. Você prefere ministrar aulas para mulheres, homens adolescentes ou não tem preferência?
34 professores responderam que não têm preferência.
A postura do professor em relação a isso é de que não deve haver distinção independentemente da idade ou gênero ou crença.

9. O que é um bom aluno para você?
21 professores responderam que é o aluno que não dá problemas.
Em primeiro lugar, devemos ser bons professores. Além disso, devemos ser bem aceito por nossos alunos. Essa aceitação afetiva será importante se quisermos que as mensagens que consideramos valores cheguem a eles. Muitas boas mensagens se perdem simplesmente porque se recusa o mensageiro (MORALLES, 1998).

10. Você se interessa, costuma ler ou faz cursos sobre comportamento, neurolingüística ou motivação?
25 professores responderam que não.

    Ainda que a oratória seja importante, há outras formas de comunicação. A comunicação não verbal, o comportamento não verbal, não somente se ajusta à expressão lingüística, senão também permite e favorece a expressão de interações e estados afetivos. Incide ainda, sobre todas as formas de relação interpessoal, regulando a interação e proporcionando o contraste de atitudes e personalidades individuais (RECTOR, 1990).

    De maneira semelhante ao professor universitário, o profissional de Educação Física na aula de Musculação, pode utilizar-se dos conhecimentos, junto com a motivação para melhorar a efetividade de sua comunicação, e evitar erros que possam comprometer em certo grau a motivação e aprendizagem de seus alunos. Como diz Libâneo (2001) "Todo educador físico, onde quer que esteja e seja qual for sua modalidade de trabalho e de militância, é um pedagogo".

    O profissional de Educação Física deve estar atento para que as suas atitudes não venham interferir nas suas relações profissionais com os alunos, pois uma maneira de desmotivar o aluno e fazer com que este adquira um sentimento de repulsa em relação ao seu orientador. Se estivermos insatisfeitos como nosso aluno, é provável que o nosso aluno venha a perceber e se desmotive ainda mais, aumentando assim o nosso descontentamento com ele.


Discussão

    Neste contexto, podemos dizer que o caminho da investigação é um percurso sempre inacabado. O conhecimento não se torna escasso pelo fato de o explorarmos, pelo contrário, o conhecimento quanto mais utilizado for, mais existirá. Assim, parece-nos que a revisão que foi feita da literatura e o estudo de campo realizado permite-nos retirar algumas considerações importantes, contribuindo para uma síntese esclarecedora da problemática (FRANCISCO, 2004).

    De acordo com as respostas obtidas, os professores, em geral, param muito cedo de estudar. Normalmente não aprimoram seus conhecimentos em se tratando, por exemplo, de motivação, e administração das aulas, e muitas vezes se limitam apenas a pronunciar comandos técnicos (SALOMÃO, 1987). Desta forma, o professor o profissional de Educação Física é um indivíduo distante dos problemas sociais e a própria Educação Física torna-se insuficiente para com a sociedade.

    Sendo assim, alguns alunos querem ou precisam de mais atenção, orientação e interação com o professor para alcançarem seus objetivos no treinamento. Não existe uma fórmula ou método fixo para a determinação do aluno em uma sala de Musculação, entretanto, aqueles alunos que precisam de mais atenção, deverão ser mais motivados.

    O ser humano não é só um amontoado de músculos, articulações, ossos e órgãos. Essas são estruturas comandadas pelo sistema nervoso e suas reações dependem das influências do meio externo, da parte emocional, social e principalmente cultural. Devemos mostrar interesse pelo aluno e isto poderá ser conseguido com pequenas atitudes, tais como, chamá-lo pelo nome, mostrar que estamos preocupados com ele.

    Caberá à academia se antecipar a essas novas necessidades, acompanhar e até mesmo antecipar as mudanças que ocorrem na sociedade, com o contínuo aperfeiçoamento da Pedagogia e Andragogia, poderá ser uma forma de garantir ao aluno uma boa aula de Musculação. Além disso, não se pode ignorar a crescente organização da sociedade, que conquista a cada dia, novas leis e regulamentos, para a garantia dos produtos e serviços colocados nas academias.

    Há muitos anos que a Andragogia nos tem ensinado que a realidade do adulto é diferente da criança, mas ainda não incorporamos esse princípio nas nossas metodologias, (GADOTTI, 2000). Ninguém é educador. Alguém se torna educador (ou deseducador) no decorrer da existência, no incessante processo de estruturação, desestruturação e reestruturação dos equilíbrios pessoais e coletivos da teia das relações sociais. Não é por outra razão que todo debate em torno da formação do educador e do exercício da função educativa, tem sido muito questionada entre a formação e intervenção exercida.

    De um modo genérico, todo ser humano é numa certa medida educador/deseducado. Porém, o professor é institucionalizado, uma vez que estabelece relações metódicas, formais e sistemáticas com outros seres humanos, na qualidade de orientador (dirigente) e com a mediação do saber contribui na determinação histórica, social e política do educando, esta é sua responsabilidade

    Conhecendo a zona de desenvolvimento proximal do aluno, o professor bem-preparado saberá fazer as perguntas que irão provocar o desequilíbrio na sua estrutura cognitiva, fazendo-o avançar no sentido de uma nova e mais elaborada reestruturação. A aprendizagem é facilitada quando o aluno já tem na sua estrutura cognitiva, elementos com os quais o professor possa trabalhar. O professor contribui para a aprendizagem (VYGOTSKY apud FACCI, 1998).

    É possível que muitos dos problemas identificados neste trabalho, sejam decorrentes da formação do professor, porém o mais preocupante, é percebermos que o professor não tem conhecimento suficiente para garantir esse processo, nas condições de que dispõe.

    Relacionar interações professor-aluno é um trabalho pedagógico e andragógico, que exige desta forma, assumir o desafio de articular às ações com crenças, opiniões e valores, entendendo que atuar em uma sala de musculação envolve uma complexa rede de culturas, atitudes, posicionamento e competências.

    "É incorreto supor, que o único conhecimento envolvido no trabalho com as academias, por exemplo, é de ordem fisiológica", (BETTI, 1996, p. 112). A evasão que ocorre nas academias, não é uma questão fisiológica, mas psicossocial. Um estudo realizado em Rio Claro (SP), detectou um índice de evasão próximo a 70% entre os freqüentadores de academias pesquisadas.

    Até o momento em que o aluno visita a academia, ele é um cliente. A partir do momento em que ele é matriculado, ele torna-se aluno. Se for verdade que a ampliação do mercado de academias promoveu um enfraquecimento na relação entre professor-aluno, também é verdade que essa relação continua a existir (FILHO, 2000), já que alguns alunos acham que não precisam ser corrigidos, não necessitam passar por uma adaptação ou por uma progressão, só querem se divertir e fazer novas amizades.

    Infelizmente, alguns professores ainda pensam que ministrar uma aula de musculação é algo espontâneo, intuitivo ou basta saber treinar e aplicar isso para os alunos, mas sem atualização e planejamento em função dos alunos, não há de se ter sucesso. "O professor também aprenderá com o aluno e ensinará na medida em que o aluno é capaz de aprender" (OLABUENAGA & FREIRE, p. 165).


Considerações finais

    A análise de nossa revisão de literatura nos apresenta um caminho para uma possível solução do problema inicialmente levantado. A Andragogia, juntamente com a Pedagogia parecem ser as ciências mais capazes de fornecer o referencial teórico conceitual ao profissional de Educação Física, já que em uma sala de Musculação há alunos de todas as idades.

    O professor deveria apresentar uma preocupação maior com o estudo, com as ciências da Pedagogia e Andragogia, com o próprio progresso, deveria esforçar-se para possuir uma cultura geral mais humanista. Apresentar um crescente interesse pelos problemas individuais dos alunos, a fim de melhorar o seu relacionamento com os mesmos, através de uma maior conscientização própria, poderia trabalhar melhor com o aluno, podendo influir de forma mais significativa na prática do ensinar.


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