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Lesões esportivas: um estudo com
atletas do basquetebol brasileiro

   
*Fisioterapêuta - Universidade Anhembi Morumbi (São Paulo/ Brasil)
**Fisioterapêuta - Confederação Brasileira de Basketball
***Professor de Basquetebol - Escola de Educação Física e Esporte (USP),
Coordenador Científico da Rede CENESP-USP
 
 
Gabriel de Rose*
Felipe Ferreira Tadiello**
Dante de Rose Jr***

danrose@usp.br
(Brasil)
 

 

 

 

 
Resumo
    O basquetebol é uma modalidade esportiva coletiva que pode levar a um grande número de lesões devido à dinâmica do jogo que envolve contato direto entre os atletas, movimentações rápidas em curto espaço e saltos. Estudos mostram que os membros inferiores são os mais lesionados nesse esporte, principalmente o tornozelo e o joelho, com destaque para as entorses. Este estudo teve como objetivo identificar as principais lesões no basquetebol e sua incidência em função do segmento corporal. Participaram do estudo 344 jogadores de basquetebol (174 homens e 170 mulheres) com idade variando entre 18 e 35 anos, competindo por clubes, seleções regionais e nacionais. O instrumento utilizado foi o questionário "Perfil do campeão", desenvolvido pela rede CENESP. Os resultados mostraram que dos atletas participantes do estudo, 269 relataram algum tipo de lesão (78,2%). Foram identificadas 341 lesões, sendo 274 nos membros inferiores (80,4%) e destas 150 ocorreram no tornozelo e 95 no joelho. A lesão de tornozelo mais freqüente foi a entorse com 100 casos (69 no masculino e 31 no feminino). No joelho as lesões mais freqüentes foram a tendinite patelar ( 28 casos), ruptura do ligamento cruzado anterior (16 casos) e entorses (13 casos). Estes resultados estão de acordo com os estudos apresentados e indicam a necessidade de se desenvolver um trabalho preventivo no sentido de se diminuir a incidência dessas lesões.
    Unitermos: Lesão esportiva. Basquetebol.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 94 - Marzo de 2006

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Introdução

    As lesões podem ser consideradas como o principal fator de afastamento de atletas de sua modalidade esportiva. Esse afastamento é prejudicial, pois influencia diretamente no seu desempenho físico e técnico, além dos possíveis prejuízos psicológicos, já que a recuperação pode ser demorada, exigindo dele muita paciência e cautela para voltar à atividade, conseqüentemente a equipe também é prejudicada.

    As lesões, muitas vezes, acabam acontecendo em momentos importantes de suas carreiras, afastando-os de competições, tirando-os de seleções e, em alguns casos, provocando o abandono precoce da carreira.

    Cada esporte tem suas características próprias de espaço, tempo, dinâmica e exigências físicas, o que pode caracterizar o tipo de lesão mais freqüente em cada um deles. Por exemplo: a natação, que é um esporte onde não há nenhum tipo de contado físico com o adversário terá, certamente, diferentes lesões do que o boxe, onde o contato físico é predominante.

    Modalidades esportivas coletivas (basquetebol, futebol, futsal e handebol) têm suas lesões especificas, considerando-se que os atletas mantém um contato físico constante. Incluindo-se a elas o voleibol, podem-se também considerar as lesões decorrentes dos constantes deslocamentos, saltos e movimentos bruscos.

    O basquetebol é um esporte que exige contato entre os jogadores tanto na defesa quanto no ataque. É jogado por dez atletas que ocupam simultaneamente um espaço de 420m². No entanto, a maioria das ações acontece em meia quadra (210m²) o que dá ao jogo uma dinâmica especial e aumenta a probabilidade desse contato. Nesse esporte, a maior carga de trabalho ocorre nos membros inferiores provocando um grande número de lesões em função dos deslocamentos, mudanças bruscas de direção e saltos.

    O objetivo deste trabalho é identificar as principais lesões no basquetebol e sua incidência em função do segmento corporal.


Modalidades esportivas: caracteristicas gerais

    Antes de abordar especificamente o basquetebol, serão feitas algumas considerações sobre as modalidades esportivas em geral.

    Segundo DE ROSE JR. & TRICOLI (2005) a classificação de modalidades esportivas mais difundida é aquela que define os esportes como sendo individuais ou coletivos. No entanto, essa classificação é muito simples e não considera aspectos importantes dessas modalidades como as ações entre companheiros de uma mesma equipe e entre os oponentes, ocupação de espaço pelo atleta e a participação dos mesmos. Considerando esses aspectos, HERNANDEZ MORENO (1998) propôs uma classificação que é, atualmente, muito utilizada.

    Nela considera-se o aspecto de cooperação e oposição. A cooperação acontece porque a responsabilidade das ações é dividida entre os membros de uma mesma equipe dando sentido coletivo ao jogo, tanto no ataque quanto na defesa nos esportes coletivos, ou sincronizando essas ações em esportes como ginástica rítmica e patinação artística. A oposição é inerente a qualquer tipo de esporte, não havendo competição sem este aspecto. Ela pode ocorrer com ou sem adversário presente ou exercendo contato direto com seu oponente. Esportes como hipismo, nado sincronizado, saltos ornamentais e ginástica rítmica são exemplos onde há oposição sem a presença do adversário. Nesses casos cada atleta ou equipe realiza seus exercícios isoladamente. Já, na natação e em corridas balizadas no atletismo o adversário está presente, porém não há disputa pelo mesmo espaço. Nos esportes de luta (judô, boxe) e em algumas modalidades esportivas coletivas (handebol e futebol) este fato fica bem evidenciado.

    Outro aspecto considerado por HERNANDEZ MORENO (1998) é a ocupação de espaço pelo atleta. Há esportes que são realizados em espaços separados por ocuparem uma área especifica para a realização de suas próprias ações, sem a interferência de um adversário, como por exemplo, o tênis e o voleibol. Já esportes praticados em espaço comum são caracterizados por ocuparem uma área especifica para a realização das ações com a interferência de um ou mais adversários, como por exemplo, nas lutas e no handebol.

    Finalmente, o último aspecto considerado pelo autor diz respeito à participação do atleta ou da equipe, que pode ser alternada ou simultânea. A participação alternada ocorre quando os atletas ou equipe realizam suas ações sem a interferência dos oponentes. Por exemplo: squash, tênis e voleibol. A participação simultânea ocorre quando os atletas ou equipes realizam suas ações, simultaneamente, em contato direto com os oponentes que tentam neutralizar os movimentos realizados. Por exemplo: caratê, futebol.

    Os fatores apresentados pelo autor podem ser combinados gerando classificações mais complexas. Exemplos:

  • o tênis é um esporte de oposição onde os atletas ocupam um espaço separado e têm participação alternada;

  • a ginástica rítmica é um esporte de cooperação onde as atletas ocupam um espaço comum e realizam suas ações simultaneamente, mas sem contato com as oponentes;

  • o voleibol é um esporte de cooperação e oposição, onde cada equipe ocupa um espaço definido e realiza suas ações alternadamente.

  • o basquetebol é um esporte de cooperação e oposição, com a ocupação de um mesmo espaço e realização simultânea das ações (defesa vs. ataque).


Lesões esportivas: conceitos e estudos

    ANDREOLI, WAJCHENBERG & PERRONI (2003) definem lesão como sendo um dano causado por traumatismo físico sofrido pelos tecidos do corpo.

    Segundo BUCETA (1996), as lesões esportivas são acidentes de trabalho que são conseqüências das atividades esportivas. Essas lesões devem ser consideradas como eventos prejudiciais por diferentes motivos:

  1. Supõe uma disfunção do organismo que produz dor, restringe as possibilidades de funcionamento e pode aumentar o risco de disfunções maiores;

  2. Levam a interrupção ou limitação da atividade esportiva durante algum tempo ou até permanente;

  3. Levam a interrupção ou limitação das atividades não esportivas como, por exemplo: atividades escolares para quem não é profissional ou outras atividades que, devido à lesão, não poderão realizá-las de nenhuma forma, ou da mesma maneira que antes;

  4. Implicam, em geral, em mudanças na vida pessoal e familiar como conseqüência das restrições que a lesão impõe sobre a pessoa e as novas necessidades que derivam da própria lesão;

  5. A reabilitação requer tempo, esforço, dedicação e, em algumas ocasiões, resistência a dor e também a frustração;

  6. Podem ser acompanhadas de experiências psicológicas que afetam o bem-estar da pessoa lesionada e de todos que estão a sua volta.

    Segundo GANTUS & ASSUMPÇÃO (2002), a prática esportiva eleva o risco da ocorrência de lesões. Os atletas estão sujeitos a sofrerem lesões, seja em fase de treinamento ou em competição. Essas lesões estão diretamente relacionadas a fatores predisponentes intrínsecos e extrínsecos, e à ausência de um programa preventivo.

    CARAZZATO (1993) afirma que a busca pela evidência e pelo sucesso expõe os atletas a uma condição de serem submetidos a um esforço físico e psicológico muito próximo dos limites fisiológicos, fazendo com que o número de lesões seja muito alto.

    Segundo DE ROSE JR. (1999), as lesões são consideradas por atletas de alto nível como uma das maiores fontes de stress esportivo. De 19 atletas olímpicos entrevistados, quatro identificaram as lesões como a principal situação de stress em suas carreiras. Em função delas, esses atletas ficaram inativos por longo tempo, perdendo oportunidades de participarem de eventos como campeonatos mundiais e jogos olímpicos.

    A incidência e a severidade das lesões estão diretamente relacionadas aos seguintes fatores: pessoais modalidades esportivas praticadas e ambientais característicos de cada uma delas (ALLOZA & INGHAM, 2003).

     De acordo com LOPES, KATTAN & COSTA (1993), as lesões esportivas são classificadas quanto a:

  1. Prática esportiva: típicas (freqüentes na pratica esportiva) e atípicas (acidentais);

  2. Fase de ocorrência: de treinamento e de competição.

    Segundo BUCETA (1996), as lesões podem afetar qualquer parte do corpo, observando-se uma vulnerabilidade específica segundo o tipo de movimento corporal exigido para a atividade esportiva que é praticada. Segundo esse autor as lesões podem ser classificadas em cinco níveis diferentes:

  1. Lesões leves: requerem atenção ou tratamento, mas sem interromper a atividade do esportista;

  2. Lesões moderadas: requerem tratamento e limitam a participação do esportista em sua atividade;

  3. Lesões graves: implicam em uma interrupção prolongada da atividade, com hospitalizações freqüentes e intervenções cirúrgicas;

  4. Lesões graves que levam a um grande prejuízo: impedem o esportista de recuperar seu nível de rendimento ou funcionamento prévio, obrigando-o a modificar sua forma de praticar esporte, sendo necessário mudar de atividade, e quase sempre, fazer um trabalho de recuperação permanente para evitar recidiva;

  5. Lesões graves que provocam inatividade permanente: impedem os esportistas de voltarem a praticar atividades com a mesma intensidade que era praticada antes, tendo que fazer reajustes drásticos em sua forma de vida.

    A seguir serão relatados alguns estudos sobre lesões em diferentes modalidades esportivas:


Futebol

    BJORDAL, ARNLY, HANNESTAD & STRAND (1997) afirmam que uma das lesões mais importantes descritas na literatura do futebol é a do ligamento cruzado anterior do joelho (LCA).

    COHEN, ABDALLA, EJNISMAN & AMARO (1997) constataram que no futebol 72% das lesões ocorrem nos membros inferiores principalmente nos tornozelos e joelhos. Este estudo também concluiu que 59% das lesões ocorreram por traumas indiretos.

    LEITE e NETO (2003), fizeram um estudo sobre a incidência de lesões traumato-ortopédicas no futebol de campo feminino e sua relação com alterações posturais. O estudo teve uma amostra de trinta e oito atletas entre 14 e 18 anos por um período de seis meses. Foi observado que a entorse de tornozelo foi o trauma mais freqüente e que todas as atletas lesionadas apresentavam algum tipo de alteração postural como: geno-varo ou valgo, anomalias do pé e assimetria de membros inferiores. Os autores chegaram à conclusão de que um trabalho de Reeducação Postural Global (RPG) se faz necessário para melhorar o rendimento das atletas desta modalidade esportiva.


Handebol

    ALLOZA & INGHAM (2003) realizaram um estudo sobre os principais segmentos corpóreos lesionados no handebol. O estudo concluiu que joelho, tornozelo, mãos e dedos, são os principais locais lesionados, superando o ombro. Este fato merece atenção, pois como o handebol é um esporte que tem como um de seus fundamentos básicos o arremesso, e muitas vezes os atletas fazem o movimento de forma bloqueada, o ombro, surpreendentemente não entra nessa lista de lesões.


Natação

    MARTOS (2001), em seu estudo, mostrou que o "ombro doloroso" é a lesão mais freqüente entre os nadadores, constituindo cerca de 50 a 60% de todas as queixas desses atletas. O autor afirma que a natação é o esporte com maior incidência deste tipo de lesão, que também pode ser chamada de "ombro de nadador".


Voleibol

    Estudos de SCHAFLE, REQUA & PUTTON (1992) e de BRINER & KACMMAR (1997) demonstraram que a entorse de tornozelo é a lesão mais aguda nesse esporte, ela ocorre comumente nas aterrissagens de bloqueio. Já as tendinopatias do complexo femuro-patelar são as lesões crônicas mais comuns no voleibol. Também conhecidas como "joelho de saltador" elas ocorrem em virtude da grande quantidade de saltos realizados nesse esporte. Segundo esses estudos as lesões de ligamento do joelho também ocorrem com muita freqüência. O ombro é a região na qual ocorrem de 8 a 20% das lesões do voleibol. AAGAARD & JORGENSEN (1996), fizeram um estudo que relatou as principais lesões no voleibol de elite dinamarquês. A maioria das lesões ocorreu nos movimentos de cortada e bloqueio. As lesões agudas predominantes ocorreram nos dedos (21%) e nos tornozelos (18%). Já as crônicas ocorreram em joelhos (16%) e ombros (15%).

    Também vale destacar as lesões na coluna lombar (14%) que decorrem, normalmente, da grande quantidade de aterrissagens dos saltos ou do posicionamento do corpo no momento do ataque.

    Após essa breve abordagem sobre as lesões em diferentes modalidades esportivas, passaremos a enfocar o basquetebol que é o principal objeto desse estudo.


Baquetebol: definição e conceitos

    A regra no 1 define o basquetebol como "um esporte jogado por duas equipes de cinco jogadores cada, e cada equipe tem como objetivo jogar a bola dentro da cesta do adversário e evitar que a outra equipe tenha o controle da bola e faça pontos" (FPB, 2002, pg.3).

    De acordo com FERREIRA & DE ROSE JR. (2003), o basquetebol é composto por algumas habilidades especificas, representadas pelos fundamentos do jogo. Os fundamentos de forma combinada geram situações individuais e coletivas que requerem uma maior organização e sincronização de movimentos (situações de um contra um, dois contra dois... cinco contra cinco). Para a execução correta dos fundamentos e a realização das ações do jogo são utilizadas as três formas básicas de movimentos: correr, saltar e lançar. A execução correta dos fundamentos e das ações individuais e coletivas por eles geradas exigem do praticante o domínio de parâmetros físicos, motores, técnicos e táticos, além de grande dose de cognição para entendimento da realização de todas essas ações no contexto do jogo.

    O basquetebol baseia-se em três capacidades físicas condicionantes: força, resistência e velocidade (BARBANTI, 1996).

    Esse autor identifica três tipos de força:

  • Força de salto - utilizada nos rebotes e "jump" (arremesso realizado no ponto mais alto do salto).

  • Força de "sprint" - nas situações de deslocamentos constantes, acelerações e mudanças de ritmo.

  • Força de resistência - condição necessária para a manutenção da qualidade dos gestos técnicos durante o jogo.

     A resistência geral ou aeróbia está presente para garantir a manutenção do estado básico do atleta e também uma melhor recuperação dos esforços de uma partida. Já a resistência anaeróbia é responsável pela execução eficiente dos movimentos de grande intensidade como as mudanças de ritmo, paradas bruscas e saídas rápidas, tão presentes nesse esporte.

     A velocidade está relacionada à capacidade de deslocamento dos atletas. Deve-se ressaltar que esses deslocamentos acontecem em pequenos espaços, exigindo respostas rápidas aos estímulos do jogo.

    Considera-se também o equilíbrio que é fundamental para a retomada do contato com o solo nas situações de arremessos e rebotes.

    Alguns estudos mostram as relações funcionais dessas capacidades condicionantes em jogos de basquetebol. As distâncias percorridas pelos jogadores durante jogos de basquetebol variam de 4000m a 6000m. Já os saltos variam, em média, de 30 a 65, dependendo da posição. Neste caso, os pivôs são os que mais saltam devido a sua função especifica de obter rebotes, o que leva a repetidos saltos em curtos espaços de tempo. Além disso, o basquetebol é um jogo baseado em ações rápidas e de alta intensidade. A maioria delas (51%) ocorre entre 1,5s e 2,0s. Somente 5% dessas ações ocorrem acima dos 4,0s (BERTORELLO, 2003; BRANDÃO, 1992; JANEIRA & MAIA, 1998; KOKUBUN & DANIEL, 1992; McINNES, CARLSON, JONES & McKENNA, 1995; TEODORESCU, 1984; TRICOLI, BARBANTI & SHINZATO, 1994).

    Por esses motivos, o basquetebol é um esporte que exige muito mais dos membros inferiores (MMII) do que de qualquer outro segmento corporal.

    Apesar do basquetebol não ser considerado um esporte violento, as dimensões exíguas da quadra e o número de jogadores em disputa, movimentando-se velozmente, provocam freqüentes contatos corporais, o que pode causar os mais diversos tipos de lesões.

     Segundo DE ROSE JR. (1999), atletas de alto nível (mundial e olímpico) entendem que as lesões são um dos principais fatores de stress, pois podem representar afastamento das atividades por longos períodos, tratamentos que exigem muito sacrifício físico e psicológico e, em alguns casos, o encerramento precoce da carreira.


Estudos sobre lesões no basquetebol

    Serão mostrados a seguir estudos nacionais e internacionais sobre lesões especificas no basquetebol. DE LOES, DAHLSTEDT & THOMEE (2000) em uma analise de lesões de 12 diferentes esportes constataram que o basquetebol, juntamente com hóquei no gelo, handebol e esqui, é uma das modalidades esportivas com maior incidência de lesões no joelho. Nos homens elas ocorrem em 10% dos casos e nas mulheres em 13%.

    Observando jogos de basquetebol de diferentes idades em ambos os sexos, MCKAY, GOLDIE, PAYNE & OAKES (2001) constataram que as lesões de tornozelo foram as mais frequentes, sendo que em 45% dos casos elas ocorreram na fase de aterrisagem após arremessos e rebotes. Nesse estudo os autores também constataram um grande número de lesões na panturrilha e no joelho.

    O joelho (21%), mãos e dedos (17%), perna/coxa e tornozelos (14% cada) foram os locais mais lesionados em 66 atletas de cinco equipes femininas do estado de São Paulo. Das atletas analisadas, com idades entre 18 e 37 anos, 47 (71%) apontaram pelo menos uma lesão. A lesão mais comum nesse grupo foi entorse de tornozelo (33%). Este estudo foi realizado por SILVA (2002).

    GANTUS & ASSUMPÇÃO (2002) entrevistaram 59 atletas de sete equipes masculinas adultas do estado de São Paulo, com idade variando entre 18 e 39 anos e concluíram que as entorses de tornozelo foram as mais freqüentes seguidas por tendinites patelares, ferimentos nos supercílios e lábios e contusão na coxa. Nos armadores a região mais acometida foi o tornozelo, nos laterais a face, e nos pivôs a face, as mãos e os dedos.

    Dentre as lesões nos membros superiores no basquetebol, as lesões articulares nas mãos e dedos (por ocasião de traumas diretos com a bola) são as mais freqüentes, sendo cerca de 75% dos casos de luxação e de 96% dos casos de fraturas em diversos estudos (ANDREOLI, WAJCHENBERG & PERRONI, 2003).

    Citando um estudo realizado por Pedro Marqueta e Luis Tarreiro, MENEZES (2003) afirma que os membros inferiores foram os mais lesionados na Liga Espanhola de basquetebol (46%) e na NBA (57%). A maior incidência dessas lesões ocorreu no tornozelo (entorse) seguidas por lesões no joelho (entorse e tendinite patelar). As luxações nos dedos das mãos também apareceram com muita freqüência na amostra estudada.

    No campeonato universitário canadense MEEUWISSE, SELLMER & HAGEL (2003) constataram que 142 dos 318 atletas participantes apresentaram algum tipo de lesão (44,7%). As mais comuns foram às lesões de joelho e tornozelo. O mecanismo de lesão mais comum foi o contato entre os jogadores, sendo que o maior número de lesões ocorreu nos pivôs.

    MOREIRA, GENTIL & OLIVEIRA (2003), em estudo com a seleção brasileira de basquetebol masculino na fase preparatória para o campeonato mundial de 2002, concluíram que a maior incidência de lesões ocorreu nos membros inferiores com destaque para entorse no tornozelo. As contusões nas mãos, estiramentos na região adutora e perna, lombalgia, e tendinite patelar, também foram identificadas. Os pivôs foram os atletas que mais relataram queixas seguidos dos laterais e armadores.

    DANE, CAN, GURSOY & EZIRMIK (2004), estudando 329 homens e 120 mulheres (de 17 a 28 anos) não encontraram diferenças na porcentagem de lesões entre homens e mulheres. O basquetebol, dentre os esportes estudados, foi o que apresentou o maior número de lesões, principalmente entorses de tornozelo. O mesmo tipo de lesão também foi predominante no voleibol, futebol e nas corridas.

    Analisando os resultados dos estudos apresentados, constata-se que, no basquetebol, os membros inferiores são os mais acometidos por lesões, com destaque para entorses de tornozelo. As mudanças bruscas de direção, saltos e contato direto com outros atletas parecem ser as causas mais comuns para que elas ocorram. No caso do joelho, os entorses e as tendinites patelares foram as lesões mais freqüentes, assim como as luxações nos dedos das mãos.


Metodologia

    Este estudo foi feito com 344 atletas de basquetebol brasileiros (174 homens e 170 mulheres) com idade variando entre 14 e 35 anos, participantes de equipes representativas de clubes e seleções regionais e nacionais.

    Para a coleta dos dados foi utilizado o questionário Perfil do Campeão, desenvolvido pela Rede CENESP, do Ministério do Esporte, cujo objetivo é traçar um perfil do atleta brasileiro. Esse questionário contém uma sessão especifica para relato de lesões esportivas.

    Ele foi respondido pelos atletas em diferentes situações de acordo com as condições e disponibilidade de tempo e espaço das equipes. Os dados foram coletados nos locais de treinamento e durante competições, mediante autorização do técnico, ficando facultativa a participação do atleta.

    Os dados foram analisados através de estatística descritiva (número absoluto e percentual de ocorrências).


Resultados

    Dos 344 atletas que participaram do estudo, 269 (78,2%) relataram algum tipo de lesão ao longo de sua carreira, não havendo diferenças percentuais entre homens e mulheres. A tabela 1 mostra com detalhes dados gerais por gênero.

Tabela 1. Total de atletas, atletas com e sem lesão por gênero

    Sessenta e um atletas relataram mais de uma lesão ao longo de sua carreira, sendo 32 do masculino e 29 do feminino. Houve atletas que tiveram até 4 lesões. Ao todo foram constatadas 341 lesões sendo 172 do masculino e 169 do feminino.

    As lesões foram identificadas por segmento corporal e são demonstradas na tabela 2.

Tabela 2. Total de lesões por segmento corporal por gênero


Legenda:
MMII - Membros inferiores
MMSS - Membros superiores

    Como demonstrado na tabela 2, as lesões de MMII predominaram sobre as lesões nos demais segmentos corporais. As tabelas 3 e 4 mostram a incidência de lesões nos MMII e MMSS, respectivamente.

Tabela 3. Incidência de lesões em membros inferiores em função de localização, por gênero

     Pela tabela 3 fica claro que a região mais lesionada dos MMII é o tornozelo. Nesse segmento corporal a lesão mais freqüente foi a entorse (100 casos; 61 no masculino e 39 no feminino). Foram ainda relatados 7 casos de tendinite, 6 casos de ruptura ligamentar e 11 fraturas. Vinte e seis atletas não souberam identificar o tipo de lesão.

    A outra região mais afetada dos MMII foi o joelho onde ocorreram 28 casos de tendinite patelar (14 em cada sexo), 13 casos de entorse (9 no masculino), 6 lesões de menisco (4 no masculino), 16 casos de ruptura do ligamento cruzado anterior (12 no feminino). Houve ainda o relato de 2 casos de condromalácea. Trinta atletas não souberam identificar o tipo de lesão.

Tabela 4. Incidência de lesões em membros superiores em função de localização, por gênero

    Os ombros foram a região mais lesionada dos MMSS, onde foram relatados 9 casos de tendinite (5 no masculino), 2 casos de síndrome do impacto (ambos no feminino) e 1 caso de luxação no feminino. Oito atletas não souberam identificar o tipo de lesão.

    Nas mãos, as lesões mais citadas foram às fraturas nos dedos (9) e as luxações (6).

    O tronco e a cabeça foram os segmentos que apresentaram menor incidência de lesões em relação aos membros. No masculino foram identificadas 8 lesões de coluna e 9 nas costas, e no feminino foram identificadas 2 na coluna e 3 nas costas. A única lesão na cabeça (fratura no nariz) foi citada por um atleta.


Discussão e conclusões

    O presente estudo mostrou que dos 344 atletas que responderam o questionário, 269 (78,7%) declararam algum tipo de lesão. Pelos resultados percebe-se que não houve diferença percentual entre homens e mulheres, sugerindo que não interferiu nesses resultados, levando a crer que os mesmos estão mais diretamente relacionados à característica do basquetebol que é uma modalidade esportiva que exige contato, deslocamentos constantes e saltos repetidos, o que confirma a opinião de DE ROSE JR & TRICOLI (2005).

    Ficou evidente que as lesões de MMII foram predominantes sobre as demais regiões do corpo. Das 341 lesões relatadas, 274 ocorreram nesse segmento corporal, o que corresponde a 80,3% de todas as lesões. As lesões de tornozelo, principalmente entorses (100 casos relatados das 150 lesões encontradas nessa região) foram as mais freqüentes. Esse resultado é semelhante ao encontrado em outras modalidades esportivas, como por exemplo: voleibol (SCHAFLE et. al., 1992; BRINER & KACMAR, 1997), handebol (ALLOZA & INGHAM, 2003) e futebol (LEITE & NETO, 2003). No basquetebol todos os autores citados neste estudo relataram o mesmo fato, afirmando que elas ocorrem principalmente na fase de aterrissagem após arremessos e rebotes.

    Em relação às lesões de joelho, a segunda mais relatada neste estudo, predominaram as tendinopatias, entorses e rupturas de ligamento cruzado anterior. No voleibol a tendinopatia é a lesão mais comum segundo SCHAFLE et. al. (1992) e BRINER & KACMAR (1997). Já no futebol segundo BJORDAL et. al. (1997) uma das lesões mais importantes é a do ligamento cruzado anterior do joelho. As lesões de joelho, no basquetebol, também foram identificadas com muita freqüência nos estudos citados por MENEZES (2003) com atletas da Liga Espanhola e da NBA e por MEEUWISSE et. al. (2003) no Campeonato Universitário Canadense. No Brasil, MOREIRA et. al. (2003) constataram casos de tendinite patelar em atletas da Seleção Brasileira, sendo que os pivôs foram os mais lesionados.

    Apesar do maior número de lesões ocorrer nos MMII, não podemos deixar de dar importância aos outros segmentos afetados como MMSS, tronco e cabeça. Nessas regiões o número de lesões é significativamente menor, mas elas também podem afastar os atletas de suas atividades por longos períodos, prejudicando seu desempenho e o da equipe.

    O número de lesões pode ser diminuído com um trabalho que passa desde a orientação para o atleta fora da quadra mostrando a ele a importância da utilização de equipamentos adequados, da realização de aquecimento (tanto em treinos quanto em jogos) e também utilizar técnicas de propriocepção dentro da dinâmica do jogo. Segundo FORMIGONI (2005) o trabalho proprioceptivo visa a recuperação de equilíbrio e estabilidade e o uso dos gestos esportivos é de suma importância na prevenção das lesões podendo ser aplicado desde a iniciação.


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revista digital · Año 10 · N° 94 | Buenos Aires, Marzo 2006  
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