Idosos praticantes de atividade física: tendência a estado depressivo e capacidade funcional Older people which practice physical activity: tendency for depressive status and functional capacity |
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Grupo de Estudos da Terceira Idade - GETI Universidade do Estado de Santa Catarina UDESC, Florianópolis, SC (Brasil) |
Adriana Coutinho de Azevedo Guimarães Giovana Zarpellon Mazo Joseani Paulini Neves Simas Mauren da Silva Salin Debora Soccal Schwertner Amanda Soares mauren@softin.com.br |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 94 - Marzo de 2006 |
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Introdução
O envelhecimento traz para os indivíduos alterações progressivas, quer nos aspectos funcionais, quer nos motores, psicológicos e sociais. Estas alterações variam de um indivíduo para outro e são influenciadas, tanto pelo estilo de vida quanto por fatores genéticos. Dentre as modificações provenientes do envelhecimento destaca-se a diminuição da capacidade funcional do indivíduo ocasionada principalmente, pelo desuso físico e mental (NIEMAN, 1999).
A capacidade funcional pode ser definida como a capacidade do indivíduo de realizar as atividades da vida diária de forma independente, incluindo atividades ocupacionais e recreativas, ações de deslocamento e auto cuidado (WENGER et al., 1984). À medida que aumenta a idade cronológica, as pessoas tornam-se menos ativas e a sua capacidade funcional diminui; após os 75 anos há grande incidência de doenças crônicas, o que contribui para o processo degenerativo, e assim, a aptidão dos idosos para a vida independente é reduzida (ROSENBERG; MOORE, 1998).
Estudos demonstram que cerca de 25% da população idosa mundial depende de alguém para realizar suas atividades da vida diária (ANDREOTTI; OKUMA, 1999). De acordo com Kuwano & Silveira (2002), o sucesso do indivíduo em sua adaptação social decorre da importância das atividades da vida diária (AVDS), pois estas representam vitória no desempenho das tarefas de cuidado pessoal.
A autonomia para realizar as atividades de vida diária pode ser reduzida conforme a presença de algumas doenças, como é o caso da depressão. A depressão pode ser caracterizada por um conjunto de sinais e sintomas como perda de interesse, do prazer em atividades anteriormente significativas, distúrbio no sono, apetite, diminuição do interesse sexual, retardo psicomotor, dificuldade cognitiva, desesperança, diminuição da auto-estima, pensamento de morte ou suicida entre outros (CURIATI, ALENCAR, 2000; STILES, 2000).
A depressão é uma condição clínica freqüente no idoso, estudos epidemiológicos indicam taxas de prevalência que variam de 1 a 16% entre idosos vivendo na comunidade (COPELAND et al., 1987; VERAS; MURPHY, 1994).
Pela significância, gravidade e danos que acarreta a depressão, em muitos estudos, está sendo apontada como um problema de saúde pública; recentemente a atividade física vem sendo recomendada como auxiliar no tratamento desses transtornos (SILVEIRA, 2001).
Estudos relatam os benefícios da prática de atividade física regular, principalmente, no que diz respeito a uma melhora na saúde mental. As atividades aquáticas, por exemplo, podem contribuir para o tratamento de várias enfermidades mentais, incluindo neuroses de depressão e ansiedade (MOREIRA, 2001). Borges e Rauchbach (2004) observaram que idosos que não têm o hábito da prática de atividade física apresentam uma maior tendência ao estado depressivo.
Neste contexto temos como objetivo geral do estudo:Descrever a atividade da vida diária e a tendência a estados depressivos em idosos praticantes de atividade física regular.
Como objetivos específicos temos:
Identificar a tendência a estado depressivo;
Caracterizar a percepção da atividade da vida diária;
Relacionar a tendência ao estado depressivo com a atividade da vida diária dos idosos.
Material e métodosO presente estudo caracterizou-se como sendo de campo do tipo descritivo. A amostra foi composta por 102 idosos, sendo 82 mulheres e 20 homens, com idade igual ou superior a 60 anos (=69 anos; DP= 5,4), pertencentes aos programas de atividade física do Grupo de Estudos da Terceira Idade - GETI do Centro de Educação Física, Fisioterapia e Desportos - CEFID da Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC, em Florianópolis, SC, Brasil. Os instrumentos de coleta de dados foram: Formulário com dados pessoais: idade, sexo e prática de atividade física; Escala de depressão adaptada de Stoppe e Louzã Neto (1999) que verifica a tendência ao estado depressivo; Escala de auto-percepção do desempenho de atividades da vida diária (ANDREOTTI; OKUMA, 1999). A coleta de dados foi realizada no próprio local da atividade física na forma de entrevista individual. Os dados foram analisados mediante a estatística descritiva (distribuições de freqüências, porcentagem, médias e desvios padrões), e a estatística inferencial (qui-quadrado), ao nível de significância de p=0,05.
Resultados e discussãoVerificou-se neste estudo que a maior parte dos idosos praticantes de atividade física no programa do GETI são do sexo feminino (82%). No município de Florianópolis a população de pessoas acima de 60 anos é de 28.816, onde 15.916 são mulheres e 11.802 são homens (IBGE, 2000).
Estudos vêm demonstrando que o sexo feminino possui um padrão de vida mais ativo que o masculino, tanto pelo envolvimento em atividades domésticas e sociais, como pela busca de atividade física (O'BRIEN COUSINS; KEATING,1995; THOMPSON, 1992; VERTINSKY,1995).
Quanto à percepção da atividade da vida diária dos idosos praticantes de atividade física, verificou-se que a maioria dos idosos (89,2%) apresentou muito boa capacidade funcional e boa (10,8%). As poucas dificuldades nas atividades da vida diária, citadas pelos idosos foram: realizar trabalhos domésticos (14,7%), lavar os pés (13,7%), pegar um objeto do chão (5,9%) e fazer trabalhos artesanais (5,9%).
Estudo realizado por Matsudo et al. (2001) aponta que dentre as maiores dificuldades dos idosos com relação à capacidade funcional estão as atividades domésticas. A perda da flexibilidade e da força muscular, decorrentes do processo de envelhecimento, podem ser as responsáveis pela diminuição da capacidade funcional (HAMIL; KNUTZEN, 1999). Achour Júnior (2004) fez um levantamento sobre a flexibilidade e atividade da vida diária com idosos e concluiu que a redução da flexibilidade na abdução do ombro dificulta as seguintes AVDs: vestir-se, pentear cabelo, lavar as costas e segurar nas barras de ônibus.
A diminuição da capacidade física parece levar o indivíduo a uma situação de dependência nas suas atividades da vida diária (AVD) ainda mais quando associada à depressão. A depressão causa mudanças no humor, nos comportamentos e nas atividades da vida diária, além da incapacidade funcional é associada ao aumento da mortalidade e de uso de serviços de saúde (SCAZUFCA, 2004).
Litvoc e Brito (2004) relatam o estudo longitudinal de Penninx (1999) sobre depressão e incapacidade funcional em idosos. Este pesquisou 6.247 idosos todos com capacidade funcional preservada, dos quais 496 apresentavam depressão e 5.751 não apresentavam. Estes grupos foram acompanhados por 6 anos para verificar o surgimento da incapacidade funcional. No final do primeiro ano de estudo surgiram às incapacidades funcionais nos dois grupos, 6,3% dos que tinham depressão e 4,3% dos idosos sem depressão. Após 6 anos a incapacidade estava presente em 24% dos idosos sem depressão e em 36% dos idosos com depressão.
Neste estudo, ao relacionar a tendência a estado depressivo com atividade da vida diária de idosos praticantes de atividade física no GETI não se encontrou associação significativa (p=0,399). Dos idosos, 90% não possuem tendência a estado depressivo. Este dado vai de encontro com um levantamento realizado com idosos brasileiros onde 5% apresentaram depressão e 15% sintomas depressivos (SCAZUFCA, 2004).
A prática de atividade física pode ter colaborado com o baixo índice de sintomas depressivos relatados pelos idosos deste estudo. Stella et al. (2002), enfatizam que a prática de atividade física em grupo eleva a auto-estima do idoso, contribui para a implementação das relações psicossociais e para o reequilibrio emocional.
Segundo Sharkey (1998) idosos que praticam atividade física encaram cada momento como um momento para ser vivido, e quando se sentem melancólicos ou deprimidos, reagem. Estudo realizado com idosos no meio aquático concluiu que este tipo de atividade física causou uma redução nos níveis de depressão em 15 sujeitos num total de 16 e também que portadores de depressão leve e moderada são os mais beneficiados por esta prática (ANDRADE, 2003).
Alguns estudos apontam que a atividade física regular melhora os efeitos psicológicos e as desordens mentais (MATSUDO; MATSUDO,1992); auxilia na terapia de pacientes com distúrbios psicológicos (FOX; MATHEUS, 1994; McARDLE, KATH, KATH, 1992).
ConclusõesA maioria dos idosos deste estudo não apresentou tendência a estados depressivos e percebeu sua capacidade de vida diária como sendo muito boa, porém, não se obteve associação estatisticamente significativa entre estas variáveis.
Assim, observa-se que os idosos que praticam atividade física têm uma baixa tendência a estados depressivos e uma melhor percepção da sua capacidade funcional, ou seja, maior autonomia nas atividades da vida diária. Neste aspecto a atividade física é um componente importante na saúde do idoso, visto seus benefícios biopsicossociais.
Orientações sobre os benefícios da atividade física e o incentivo nesta são necessários, para que os idosos mantenham sua capacidade funcional boa e melhorem esta nas atividades que apresentaram dificuldades de realizar no dia-a-dia e mantenham uma boa saúde mental.
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digital · Año 10 · N° 94 | Buenos Aires, Marzo 2006 |