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Associação entre envergadura e o desempenho
motor no teste de golpeio de placas

   
* Professor Doutor do Programa de Pós-Graduação Stricto-Sensu em
Ciências do Movimento Humano do Centro de Educação Física,
Fisioterapia e Desportos da Universidade do Estado de Santa Catarina
CEFID/UDESC.
** Mestranda do Programa de Pós-Graduação Stricto-Sensu em
Ciências do Movimento Humano do Centro de Educação Física,
Fisioterapia e Desportos da Universidade do Estado de Santa Catarina
CEFID/UDESC.
 
 
Simone Adriana Oelke*
Marcia Silveira Kroeff**

d3sao@udesc.br
(Brasil)
 

 

 

 

 
Resumo
    Analisa a relação entre crescimento e desempenho de uma habilidade motora em crianças de 6 a 13 anos. Fizeram parte deste estudo 68 crianças, divididas em dois grupos: 37 praticantes de basquetebol e 31 praticantes de futebol de salão. Todas as crianças constituintes da amostra foram submetidas à mensuração da envergadura, aplicação do teste para diagnóstico de preferência da mão e aplicação do teste de Golpeio de Placas. Para o tratamento dos dados utilizou-se a estatística descritiva (média e desvio padrão), teste t de Student, a Análise de Variância (ANOVA), a correlação de Pearson e a regressão linear. No geral, os dados apontaram uma correlação positiva entre o tamanho da envergadura e o desempenho no teste de golpeio de placas nos meninos de 12-13 anos do futsal, entre as crianças das duas modalidades esportivas e entre meninos e meninas. Esses resultados sugerem que antes da puberdade não se observa modificações importantes no ganho da velocidade de membros superiores, provavelmente devido à maturação sexual, que por sua vez, pode explicar o desempenho melhor das meninas, já que nelas este processo ocorre, aproximadamente, dois anos antes do que nos meninos.
    Unitermos: Crescimento. Desempenho motor. Envergadura. Golpeio de Placas.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 93 - Febrero de 2006

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Contextualização

    Crescimento físico e desenvolvimento motor são dois fenômenos diferentes, embora muitas vezes o comportamento humano dependa da interação destes dois fenômenos, para tratar da realização de movimentos. Thomas e Thomas (apud HOFFMAN; HARRIS, 2002) apontam que os mecanismos dos movimentos são diferentes nas diferentes idades, em parte devido aos distintos tamanhos e proporções do corpo executando uma habilidade. Como um fator no comportamento humano, o crescimento influencia o desempenho motor porque as crianças precisam acomodar as mudanças de seu crescimento físico em função das tarefas motoras. O desenvolvimento motor por tratar das alterações no comportamento motor, pela interação entre as características da tarefa e do indivíduo e as condições ambientais, também irá se referir aos fatores de aprendizado e processos maturacionais associados ao desempenho motor.

    O desempenho motor está relacionado às características das mudanças de comportamento motor no decorrer do tempo, como resultado de maturação e experiência, influenciadas por diferentes situações ambientais. Portanto, quando a criança tem possibilidade de vivenciar as suas experiências, num ritmo normal, seu desenvolvimento no plano motor é maior, porque o exercício da coordenação das diversas modalidades (normal, dinâmica geral, ocular e articulatória) possibilita a aprendizagem. Tendo como base que a aprendizagem motora é definida como uma alteração na capacidade do indivíduo em desempenhar uma habilidade (MAGILL, 2000; SCHMIDT; WRISBERG, 2001), Ferreira Neto (1995) entende que o processo de aprendizagem caracteriza-se por uma transformação progressiva das capacidades motoras da criança, em função das situações em que é colocada. Isto quer dizer que, considerando um determinado contexto, a criança investe em ações de acordo com os meios de que dispõe, assim, certos fatores favorecem a aprendizagem, tratando-se apenas, verificar o que se passa nas relações entre a criança e o seu envolvimento.Contudo, além do envolvimento da criança na tarefa em si, a capacidade de aprender as habilidades motoras também é influenciada pelo estado de desenvolvimento físico e cognitivo da criança, ou seja, diferenças ocorrem em termos de qualidade dos movimentos, quando relacionados com a idade e com a formação física, e com o nível de processamento de informação.

    Considerando a importância do crescimento físico e do desenvolvimento motor infantil, o presente estudo analisou as relações entre crescimento e desempenho de uma habilidade motora em crianças de 6 a 13 anos de idade, praticantes de basquetebol e futebol de salão. Como objetivos específicos o estudo pretendeu: a) caracterizar a envergadura das crianças; b) identificar a dominância manual; c) analisar o desempenho da habilidade/velocidade de membros superiores das crianças; d) comparar o desempenho da habilidade motora entre as crianças do grupo do basquetebol com as do grupo de futebol de salão.


Método e materiais

    A pesquisa caracteriza-se como causal-comparativo por comparar o desempenho da habilidade/velocidade de membros superiores entre crianças que praticam basquetebol e futebol de salão e também como pesquisa correlacional, pois estabelece relações entre envergadura, sexo, idade e desempenho motor.

    Fizeram parte deste estudo 68 crianças, de ambos os gêneros, de 6 a 13 anos de idade, divididas em dois grupos: 37 crianças praticantes de basquetebol e 31 praticantes de futebol de salão. Os dois grupos foram ainda divididos em quatro faixas etárias e o grupo do basquetebol foi dividido de acordo com o gênero, correspondendo a 23 meninos e 14 meninas. A média de idade dos meninos do basquetebol é de 10,52 ± 1,68 e do futebol de salão é de 8,16 ± 2,03. As meninas do basquetebol apresentaram média de idade de 10,93 ± 1,64, pouco acima dos meninos desta mesma modalidade.

    Todas as crianças constituintes da amostra foram submetidas à mensuração da envergadura, aplicação do teste para diagnóstico de preferência da mão e aplicação do teste de Golpeio de Placas. A envergadura foi determinada entre a ponta do dedo medial da mão direita até a ponta do dedo medial da mão esquerda, em centímetros. Para a identificação da preferência manual das crianças, foi utilizado o diagnóstico de preferência da mão, adaptado do Teste de Harris por Negrine (apud FARIA, 2001, p.103), que envolve três tarefas manuais, sendo necessário o uso de apenas uma das mãos, àquela que a criança preferiu, para realizá-las: Arremessar uma bola a um alvo; Escrever ou desenhar alguma coisa; Fazer um quadro com palitos de fósforos conforme modelo apresentado. Para verificar o desempenho da habilidade/velocidade de membros superiores, todas as crianças dos dois grupos foram avaliadas por meio do teste de Golpeio de Placas do Eurofit, onde a criança deveria completar 25 ciclos o mais rápido possível, sendo que o resultado foi o menor tempo gasto em décimos de segundo para executar os 25 ciclos, em duas tentativas.

    Para identificação dos parâmetros de envergadura e velocidade de membros superiores nas duas modalidades (basquetebol e futebol de salão), nos gêneros e nas faixas etárias, foi utilizada estatística descritiva (média e desvio padrão). Para comparar modalidades e gênero, utilizou-se o teste t de Student para amostras independentes. Para verificar as diferenças entre as crianças dos dois grupos, entre os gêneros e entre as faixas etárias, foi utilizado a Análise de Variância (ANOVA) e para verificar a relação entre envergadura e velocidade de membros superiores, foi utilizada a correlação de Pearson e a regressão linear. Para todas as análises, o nível de significância estabelecido foi de p < 0,05.


Resultados e discussões

    Objetivando maior fidedignidade na realização do teste de Golpeio de Placas, que exige a utilização da sua mão dominante para executar os toques entre as placas considerou-se relevante a aplicação do diagnóstico de preferência da mão. Observou-se assim, os seguintes resultados (Tabela 1): das 37 crianças praticantes de basquetebol, 36 apresentaram lateralidade definida, sendo 34 destros, 2 sinistros e apenas 1 com lateralidade indefinida; das 31 crianças praticantes de futebol de salão, 29 apresentaram preferência manual direita e somente 2 apresentaram lateralização indefinida; das 14 meninas do basquetebol, apenas 1, da faixa etária de 12-13 anos apresentou lateralidade indefinida, todas as outras 13 meninas, a partir dos 8 aos 13 anos de idade, apresentaram lateralidade destra. Nos meninos do basquetebol, 21 deles, distribuídos nas quatro faixas etárias, apresentaram preferência manual destra, sendo que apenas 2 meninos, um da fixa etária de 10-11 anos e outro de 12-13 anos, apresentaram dominância manual sinistra. No futebol de salão, os 29 meninos, distribuídos nas quatro faixas etárias, também apresentaram lateralidade definida como destra e apenas 2 apresentaram dominância indefinida, um da faixa etária de 6-7 anos e outro de 10-11 anos.

Tabela 1. Valores da freqüência e percentagem dos dois grupos de modalidade, referente à dominância manual.

    De um total de 68 crianças analisadas, 65 apresentaram preferência manual lateral direita, sendo 13 do gênero feminino e 50 do gênero masculino; apenas 2 meninos apresentaram preferência lateral esquerda e, 1 do gênero feminino e 2 do gênero masculino apresentaram preferência lateral indefinida com relação ao seguimento investigado. Ressalta-se que, embora os 2 meninos tenham apresentado lateralidade indefinida, eles realizaram, tanto o teste de arremessar a bola quanto o teste de golpeio de placas, com a mão direita. Comparando somente as crianças do gênero masculino, das duas modalidades, verificou-se que todos os meninos do basquetebol indicaram maior lateralidade definida, sendo 21 destros e 2 sinistros, enquanto que no futebol de salão, 29 meninos apresentaram lateralidade direita e 2 meninos ainda apresentaram lateralidade indefinida.

    Partindo-se do pressuposto de que a diferenciação entre os gêneros é estabelecida no momento da concepção e que a partir deste momento evoluem diferenças biológicas básicas, tanto físicas quanto hormonais, ainda existe um conjunto de fatores influenciadores no desenvolvimento de cada um dos gêneros. Um destes fatores está centrado no meio ambiente, determinando parâmetros sociais, ditando atitudes estereotipadas para cada gênero. Assim, além das diferenças biológicas, as experiências vividas no meio ambiente podem ser diferenciados para os dois gêneros, em razão de estereótipos comportamentais determinados para cada um deles.

    Não foi encontrado na literatura pesquisada estudos que fizessem comparação com relação a lateralização ou não entre meninos e meninas, mas sim quanto à preferência ser direita ou esquerda. Estudos da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos concluíram que a testosterona, o hormônio que produz a diferença entre os gêneros pode ser uma das causas da sinistralidade, sugerindo ser este o motivo de haver maior número de homens sinistros (quase o dobro) que mulheres (FARIA, 2000). Já estudos citados por Eckert (1993) sugerem que os meninos podem ser mais freqüentemente sinistros que as meninas, por serem menos responsáveis e/ou menos sujeitos ao treinamento social.

    Neste estudo, observou-se lateralização para a esquerda com relação aos meninos sobre as meninas. Também foi observado maior preferência lateral direita para o seguimento manual, 92,6% nos meninos e 92,9% nas meninas, o que pode estar relacionado a afirmações de autores como Negrine (1986), que afirma que a lateralidade pode ser determinada por fatores sociais e por tentativas da família em influenciar as crianças a usar o lado direito do corpo. Faria (2000) encontrou resultados semelhantes em seu estudo, onde a maioria das crianças, 80% dos meninos e 68,8% das meninas, também apresentou maior preferência lateral direita. Estes resultados corroboram com a afirmação de Gallahue e Ozmun (2003), que apontam que 85% das crianças apresentam preferência manual direita e 15% preferem a mão esquerda, sendo que essa preferência foi observada em apenas 3,7% dos meninos do presente estudo.

    Apesar de apresentar menor incidência de sinistros, Hécaen e Ajuriaguerra citados por Vasconcelos (1993), apontam uma incidência na população em geral de 8%, onde a sinistralidade representa a idéia de estar relacionada a um problema fisiológico, psicológico ou neurológico. Este fato foi observado em estudos comparando crianças consideradas "normais" com crianças portadoras de deficiência, onde as crianças portadoras de deficiência apresentaram resultados diferentes quando comparados com o padrão de preferência lateral da população em geral, indicando maiores percentagens de sinistralidade, preferência lateral mais fraca e mal definida e maior incidência de preferência lateral cruzada (VASCONCELOS, 1993). Dados também observados por Faria (2000), encontrando maior percentagem de preferência lateral esquerda em crianças portadoras de deficiência.

    De acordo com os resultados obtidos neste estudo, 65 crianças apresentaram lateralidade definida e apenas 3 crianças apresentaram lateralidade indefinida, sendo observado um caso na faixa etária de 6-7 anos e os outros dois casos a partir dos 10 aos 13 anos de idade, o que permite inferir que em crianças com idades reduzidas já se observa preferência lateral, principalmente com relação ao seguimento mão, concordando com diversos autores que estudam a lateralidade. Estudos de Negrine (1986) tentam comprovar que já nos primeiros anos de vida, a criança mostra tendências de um lado do corpo sobre o outro, existindo grande controvérsia sobre com que idade se dá a afirmação definitiva desta lateralidade. Coste (1992) coloca que é somente a partir do momento em que os movimentos se combinam e se organizam em uma intenção motora é que se impõe e se justifica a dominância de um lado do corpo sobre o outro, o que para ele ocorre aproximadamente por volta dos 2 anos de idade.

    Gesell (1996) aponta que durante a lactância e ainda na infância, há uma considerável permuta do uso de uma das mãos e de ambas as mãos até a dominância unilateral ser eventualmente alcançada. Em um estudo realizado por Negrine (1986) sobre a definição da lateralidade, constatou-se que são poucas as crianças que possuem uma lateralidade definida antes dos 6 anos de idade e que esse percentual aumenta de forma considerável a partir desta idade. Para Le Boulch (1986) a estabilização da lateralidade ocorre entre os 6 e os 8 anos de idade. Entretanto, Negrine (1986), diz que os estudos sobre a lateralidade indicam que a definição da mesma evolui até alcançar a sua culminância por volta dos 10 ou 11 anos, principalmente em relação à dominância ocular.

    Convém ressaltar que, a maioria das crianças avaliadas neste estudo apresentou dominância manual definida, predominando a mão direita nas três tarefas propostas pelo Teste de Harris. Mesmo nas crianças que apresentaram dominância indefinida, a execução do teste de golpeio de placas foi realizado com a mão de sua preferência, uma vez que foi oportunizado a escolha de acordo com a criança.

    Os dados da envergadura e da velocidade de membros superiores são apresentados na tabela 2, indicando o valor da média e o desvio padrão dos resultados obtidos, por cada grupo, de acordo com o gênero e a faixa etária.

Tabela 2. Valores da média e desvio padrão, dos dois grupos de modalidade, referente à envergadura e a velocidade de membros superiores.

    De acordo com a tabela 2, a média do tamanho da envergadura dos meninos do basquete foi superior aos valores médios das meninas do basquete e dos meninos do futsal, respectivamente, 150,82 cm, 146,78 cm e 133,08 cm.

    Os dados da envergadura são apresentados na tabela 3, indicando o valor da média e o desvio padrão dos resultados obtidos, por cada grupo, de acordo com o gênero e a faixa etária.

Tabela 3. Valores da média e desvio padrão, dos dois grupos de modalidade, referente à envergadura.

    Para melhor observar a relação envergadura / faixa etária, elaborou-se o gráfico 1. Observando então a tabela 3 e o gráfico 1, constatou-se que, quando divididos por faixas etárias, os meninos do futsal, dos 6-7 e 8-9 anos, apresentaram valores médios de envergadura maior do que os valores dos meninos do basquete (121,16 cm e 135,77cm). Mas a partir dos 10-11 anos, ocorre uma inversão dos valores à favor dos meninos do basquete, tendo com valor médio de envergadura para a faixa etária de 10-11 anos, 153,14 cm e para a faixa de 12-13 anos, 164,10 cm.


Gráfico 1. Valores da média do tamanho da envergadura, por modalidade.


Gráfico 2. Valores da média do tamanho da envergadura, por gênero.

    Os resultados apontados na tabela 3 e no gráfico 2 indicam que os meninos têm valores médios de envergadura superior aos valores das meninas, essas superam os meninos do futsal quanto ao tamanho da envergadura. Lorenzi, Cardoso e Gaya (2001), ao estudarem crianças e adolescentes da mesma população, identificaram que as meninas iniciam o estirão de crescimento por volta dos 9 anos de idade, enquanto que os meninos apresentam seu surto de crescimento dois anos depois. Fato este que pode explicar os resultados encontrados neste estudo, onde a média da envergadura das meninas de 8-9 anos (128,87 cm) foi ligeiramente superior em relação aos meninos, no entanto, a partir dos 10-11 anos os meninos superam as meninas, provavelmente devido ao estirão de crescimento da adolescência e a maturação sexual.

    Observou-se que a média do tamanho da envergadura das meninas deste estudo, dos 10 aos 13 anos, corresponde aos valores encontrados por Haas, Plaza e De Rose (2000), quando analisaram as características antropométricas de meninas portoalegrenses e cordobesas, de mesma faixa etária, tendo como valores médios de envergadura de 148,69 cm e 147,60 cm, respectivamente. Os dados do presente estudo também se encontram muito próximo dos resultados encontrados por Oelke, Kroeff e Krebs (no prelo), em 1525 crianças participantes do projeto Esporte Escolar no Estado de Santa Catarina, na faixa etária de 7 a 14 anos, em ambos os sexos. Também observou-se que, na faixa etária de 12-13 anos, os valores do tamanho da envergadura, tanto das meninas quanto dos meninos, são inferiores em relação aos indicadores propostos pelo Projeto Esporte Brasil, que para meninas é de 169 cm e 171 cm e para meninos é de 173 cm e 182 cm, respectivamente para 12 e 13 anos (GAYA, 2001). Essa análise surpreende, uma vez que as crianças avaliadas no estudo são praticantes e competidores esportivos e ainda assim apresentaram valores de envergadura inferiores aos valores de referência para a detecção de talentos esportivos na população brasileira.

    A relação entre aptidão física, esporte e treinamento esportivo engloba a capacidade do indivíduo apresentar um desempenho físico adequado, como resultado da interação das características genéticas e ambientais (BÖHME, 2003). A criança e o adolescente que possuem desempenho superior podem ser considerados um talento para a prática esportiva. Para Gaya et al (2002), talento esportivo é aquele indivíduo atípico em relação à média da população, tendo uma proporção de 1/10000 de crianças que iniciam a prática esportiva na infância e que chegam ao alto rendimento.

    Vários estudos relacionam o crescimento com outras variáveis para demonstrar interferências e observar desempenhos. Ré et al (2003) compararam o crescimento físico, a composição corporal e a aptidão física entre diferentes níveis competitivos de uma amostra de 96 atletas praticantes de futsal do sexo masculino, divididos em quatro categorias: pré-mirim (9-10 anos), mirim (11-12 anos), infantil (13-14 anos) e infanto-juvenil (15-16 anos). Nos testes de aptidão física as equipes federadas apresentaram melhores resultados em todas as categorias, exceto na infanto-juvenil, indicando que as medidas consideradas no estudo têm uma interferência média de 50% na identificação dos melhores jogadores. Em um estudo longitudinal, Astrand (1992) acompanhou o crescimento estatural de 357 meninos e 373 meninas dos 9 aos 18 anos de idade, com objetivo de verificar a distribuição cronológica do pico de velocidade de crescimento, onde ele enfatiza, ente outras afirmações que, meninos e meninas deveriam praticar vários esportes antes de atingir o pico de crescimento e só depois deste processo, procurar uma especialização esportiva. No estudo de Bojikian et al (2002), em 65 meninas treinadas e 30 não treinadas, 49 meninos treinados e 24 não treinados, com média de idade de 12,08 a 12,47, os autores verificaram que o fator tempo entre as medições influenciaram significativamente sobre todas as variáveis indicadoras de crescimento, em ambos os gêneros. Nas meninas foram verificadas interações significativas dos fatores tempo e treinamento para a estatura e a envergadura. Nos meninos, encontrou-se diferença significativa entre os grupos de treinados e não treinados no peso, envergadura e altura (tronco-cefálico).

    Em contraposição, Malina e Bouchard (2002) inferem que crianças e adolescentes ativos e atletas não modificam substancialmente a velocidade de crescimento estatural, pois seguem o mesmo canal de crescimento da pré-puberdade até a vida adulta. Embora existam controvérsias entre os autores, acredita-se que o que prevalece são propostas pedagógicas e metodológicas coerentes, buscando a melhor forma de identificar os possíveis talentos esportivos, não esquecendo de promover o desenvolvimento integral das crianças e adolescentes praticantes de qualquer atividade motora ou esportiva. De acordo com Silva et al (2003), os jovens atletas encontram-se em desenvolvimento e sua aptidão física está associada às capacidades motoras componentes de sua aptidão física e sua constituição corporal. Assim, uma não se desenvolve independente da outra, mas em uma relação de interdependência, em que o desempenho é dependente dos processos de crescimento e desenvolvimento e da idade biológica.

    Neste sentido, buscou-se, no presente estudo, verificar se o crescimento físico interfere no desempenho motor e para tanto, foi avaliada primeiramente a velocidade de membros superiores por meio do teste de golpeio de placas do Eurofit. Os dados da velocidade de membros superiores são apresentados na tabela 4, indicando o valor da média e o desvio padrão dos resultados obtidos, por cada grupo, de acordo com o gênero e a faixa etária.

Tabela 4. Valores da média e desvio padrão, dos dois grupos de modalidade, referente à velocidade de membros superiores.

    De acordo com a tabela 2, a média de tempo de execução do teste de golpeio de placas nos meninos do basquete foi de 14,89 seg., nos meninos do futsal foi de 18,69 seg. e nas meninas do basquete foi de 14,29 seg. No geral, a média do tempo de execução para a faixa de 6-7 anos foi de 22, 07 seg., na faixa de 8-9 anos foi de 17,35 seg., na de 10-11 anos foi de 14,94 seg. e dos 12-13 anos foi de 12,81 seg., muito próximos dos resultados obtidos por Finamor (2003), que obteve uma média de 23,5 seg. e 19,7 seg. para as idades de 6 e 7 anos, respectivamente e, resultados superiores do estudo de Fjortoft (2000), que obteve uma média de 32,0 seg. e 28,9 seg. para as idades de 6 e 7 anos. Nas crianças de 8 e 9 anos do estudo de Finamor (2003), parece que as crianças obtiveram desempenho melhor do que as crianças deste estudo, alcançando média de 17,2 seg. e 16,6 seg.


Gráfico 3. Valores da média do desempenho no teste de golpeio de placas, por modalidade.


Gráfico 4. Valores da média do desempenho no teste de golpeio de placas, por gênero.

    Em relação ao desempenho no teste de golpeio de placas, observa-se na tabela 4 e no gráfico 3, que há um desenvolvimento linear da velocidade de membros superiores ao longo dos períodos etários, nas duas modalidades, entretanto, tanto os meninos quanto às meninas do basquetebol foram superiores em todas as faixas etárias quando comparado com os meninos do futsal, da mesma faixa etária. Quando comparado os gêneros, de acordo com a tabela 4 e o gráfico 4, as meninas dos 10-11 anos apresentaram desempenho melhor do que os meninos do basquetebol (13,59 seg. e 15,14 seg., respectivamente). Esse resultado corrobora com Malina e Bouchard (2002), Gallahue e Ozmun (2003), apontando que as meninas superam o desempenho dos meninos no período pré-púbere, que para os autores ocorre por volta dos 9 anos de idade nas meninas. A partir dos 12-13 anos, os meninos apresentaram uma melhora significativa nos níveis de desempenho. Mas no geral, as meninas apresentaram desempenho melhor do que os meninos no teste de golpeio de placas, conforme mostra a tabela 2 (14,29 seg. e 17,07 seg., respectivamente).

    Comparando as duas modalidades esportivas, os resultados apresentaram diferença significativa nas duas variáveis. A diferença da média do tempo de execução no teste de golpeio de placas entre as crianças praticantes de basquete e de futsal pode ser baseada na especificidade do treinamento e das atividades da vida diária. Rutherford e Jones apud Gobbi (1996) mostraram que, quanto mais exercícios utilizados no treinamento simulam a performance alvo, maior é a transferência do aprendizado e da coordenação. Assim, supõe-se que, os indivíduos do futsal tendem a se tornar menos ativos em seus membros superiores que nos membros inferiores pelas próprias características do treinamento que, majoritariamente, requerem movimentos das pernas. Além, disso, as atividades físicas dos praticantes de basquete podem enfatizar mais movimentos dos membros superiores e assim privilegias o desempenho no teste de golpeio de placas.

    Aplicando-se a análise de variância para verificar a existência de diferenças entre as faixas etárias nas duas variáveis investigadas, os resultados não apontaram diferença estatisticamente significativa entre as duas modalidades, sugerindo que as médias dos dois grupos independentes são iguais, para as mesmas faixas etárias. Comparando os gêneros, os dados apontaram diferença significativa entre meninos e meninas somente na variável velocidade de membros superiores (0,005), provavelmente devido à idade mais avançada, ao comprimento do braço, aos estímulos das práticas desportivas e ao desenvolvimento de suas habilidades motoras, que podem ter influenciado de modo significativo o desempenho das meninas no teste de golpeio de placas. Comparando somente os meninos das duas modalidades, observou-se que há diferença significativa nas duas variáveis investigadas, porém, quando as crianças são divididas por faixas etárias, os resultados não apontam diferença significativa.

    Os resultados deste estudo não confirmam os achados por Martins (1998), Silva (1999) e Bronsato e Romero (2001) de que os meninos têm desempenho melhor do que as meninas. Também não está de acordo com os estudos de Kalinowski e Kiss (1996), Silva et al (1997), INCE (2004), Fjortoft (2000), Varona apud Finamor (2003), Finamor (2003), Klein e Fernandes Filho (2003), Araújo, Gallego e Sandéz (2004), nos quais não houve diferença significativa entre os gêneros. Entretanto, os resultados encontrados neste estudo confirmam os resultados encontrados, por Pieta (2002), onde foi observada diferença significativa entre gêneros e as meninas obtiveram melhores resultados na idade de 10 anos e, por López e Vernetta (1997), onde os resultados demonstraram que os meninos de 6 a 8 anos apresentaram desempenho melhor do que as meninas, mas a partir dos 9 anos, as meninas superaram os meninos até os 12 anos de idade. Observa-se ainda que, os resultados encontrados no presente estudo estão próximos aos resultados encontrados por Bronsato e Romero (2001), em crianças da faixa etária entre 10 e 14 anos, do gênero feminino. Enquanto que nos estudos de Kalinowski e Kiss (1996) e INCE (2004), que envolveram crianças de 10 a 14 anos, tanto os meninos quanto às meninas foram piores no desempenho do teste de golpeio de placas que as crianças do presente estudo, assim como os meninos no estudo de Bronsato e Romero (2001) e as meninas no estudo de Alegre (1996).

    Diferenças no desempenho de habilidades motoras podem ser atribuídas às diferenças estruturais corporais, sugerindo assim, o crescimento físico como determinante do desempenho. Neste sentido, buscou-se verificar a relação entre crescimento e desempenho motor, onde se observou uma influência positiva da envergadura em relação ao desempenho motor de meninos e meninas, por faixa etária, com magnitude dos coeficientes de correlação que variaram de muito baixo a moderado. A relação entre meninos de 12-13 anos do futsal (r=1,000), entre as duas modalidades (basquetebol: r=0,592; futsal: r=0,693), entre os gêneros (masculino: r=0,703; feminino: r=0,718) e somente entre os meninos das duas modalidades (basquetebol: r=0,574; futsal: r=0,693) obteve correlação positiva significante para p<0,01.

    Os resultados demonstraram maior valor de correlação para o grupo do futsal, talvez devido a maiores efeitos na variação dos valores durante a infância do que na adolescência, visto que a média de idade destas crianças é menor do que a média de idade das crianças do basquete. Por sua vez, as meninas do basquete também apresentaram maior valor de correlação em relação aos meninos, visto que a média de idade é superior à média de idade dos meninos e ainda que o processo de estirão de crescimento ocorre mais cedo nas meninas do que nos meninos, sugerindo que os fatores genéticos no crescimento têm maior influência durante a adolescência do que na infância. No geral, observou-se que em ambas modalidades e gêneros, existe homogeneidade na variabilidade das envergaduras e das velocidades de membros superiores, ou seja, o tamanho da envergadura aumenta e o tempo no teste da habilidade de velocidade de membros superiores diminui (melhora), em função da idade (r=0,708).

    Os dados deste estudo não confirmam os resultados encontrados por Beunen et al (1997) e Fjortoft (2000), que indicaram relação significativa entre as idades de 5 a 11 anos e o desempenho no teste de golpeio de placas. Há concordância com o estudo de López e Vernetta (1997), que apontou correlação entre envergadura e o teste de golpeio de placas nas meninas (r=0,680), mas não nos meninos (r=0,100). Os resultados deste estudo também não confirmam os dados encontrados por Santos e Brandizzi (2002), Cazzotto e Santos (2003), onde os resultados indicaram que o desempenho dos meninos foi significativamente melhor do que o das meninas, mas corrobora que o desempenho variou em função dos diâmetros ósseos, tanto nas meninas como nos meninos. Por outro lado, Saar e Jurimae (2001) observaram baixa correlação dos parâmetros antropométricos no nível de habilidade motora em meninas de 13 a 15 anos de idade, indicando uma variação de apenas 10-20% do total de variância. Baixa correlação também foi encontrada por Beunen et al (1997) nas idades de 9,13 e 15 anos, sugerindo a importância do desenvolvimento neuromuscular antes da adolescência, ou seja, as altas correlações podem ser relacionadas às mudanças no sistema neuromuscular e talvez à influência de atividade diárias e/ou outras atividades mais específicas.

    Os dados apontaram que há relação linear entre crescimento físico e o desempenho motor, comparando as modalidades basquetebol (0,021) e futebol de salão (0,000); comparando os gêneros no basquetebol, masculino (0,000) e feminino (0,007); comparando os dados entre todos os meninos do futebol de salão (0,000); e no geral (0,000), indicando a existência de uma relação linear inversamente proporcional entre as variáveis avaliadas, ou seja, variações no tamanho da envergadura podem influenciar positiva ou negativamente o desempenho da habilidade velocidade de membros superiores, em crianças de 6 a 13 anos de idade. No entanto, os dados indicaram não haver relação linear quando se compara as crianças por faixas etárias.


Considerações finais

    No geral, os dados apontaram uma correlação positiva entre o tamanho da envergadura e o desempenho no teste de golpeio de placas nos meninos de 12-13 anos do futsal, entre as duas modalidades esportivas e entre os gêneros. Também observou-se que, conforme o tamanho da envergadura aumenta, em função da idade, o tempo de execução no teste diminui. Os resultados sugerem que antes da puberdade não se observam modificações importantes no ganho da velocidade de membros superiores, provavelmente devido à maturação sexual. Essa, por sua vez, pode explicar o desempenho melhor das meninas, já que este processo ocorre, aproximadamente, dois anos antes do que nos meninos.

    De acordo com os resultados encontrados, conclui-se que as meninas obtiveram média de desempenho superior no teste em relação aos meninos, onde algumas das atividades realizadas pelas meninas em seu dia a dia, com envolvimento de componentes físicos, podem ter contribuído para que elas apresentassem um desempenho melhor, assim como a idade mais avançada deste grupo em relação à idade dos meninos. Observou-se uma supremacia das crianças praticantes de basquete em relação às crianças praticantes do futsal, na variável velocidade de membros superiores, o que era esperado, pois a prática de futsal, de modo geral, privilegia os membros inferiores, e pode ser explicado pela especificidade de atividades motoras requeridas no treinamento, favorecendo desta forma, a transferência do aprendizado e da coordenação motora manual nas crianças praticantes de basquete.


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revista digital · Año 10 · N° 93 | Buenos Aires, Febrero 2006  
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