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Análise comparativa da efetividade de caminhada
tradicional com a caminhada proposta no desenvolvimento de VO2 máx das idosas

   
Universidade do Contestado
Campos Concórdia, Concórdia - SC
(Brasil)
 
 
Galina Kalinina
Marlene Salvador
Iouri Kalinine

kalinin@uncnet.br
 

 

 

 

 
Resumo
    O consumo máximo de oxigênio é considerado como um dos melhores indicadores de saúde somática do ser humano. Quanto maior o consumo máximo de oxigênio, melhor a saúde somática do sujeito. A grandeza limiar de VO2 máx. para os homens igual a 42 ml×min-1×kg-1 e para as mulheres igual a 35 ml×min-1××kg-1×, indica o nível seguro da saúde somática. O objetivo desta pesquisa foi realizar a análise comparativa da efetividade de caminhada tradicional com a caminhada proposta no desenvolvimento de consumo máximo de oxigênio (VO2 máx) das idosas. A amostra da pesquisa foi composta por 25 idosas do sexo feminino divididos em dois grupos. Grupo A composto por 13 idosas de idade média de 62,5 anos (s = 4,5) e Grupo B composto por 12 idosas de idade média de 66,8 anos (s = 6,9). Nos dias alternados três vezes por semana, durante quatro semanas, os sujeitos do Grupo A realizaram as caminhadas rápidas na distância de 1600 metros com a exigência de manter a respiração durante toda a caminhada no modo seguinte: dois passos com inspiração profunda e dois passos seguintes com expiração profunda (Caminhada proposta). Os sujeitos do Grupo B durante o mesmo período realizaram três caminhadas por semana com duração de 30 minutos cada uma e com a recomendação de manter a intensidade moderada (Caminhada tradicional). Nas semanas anterior e posterior das caminhadas, através de Teste de Caminhada de 400 metros de Kalinina foram determinados o VO2 max dos sujeitos pesquisados. Os resultados adquiridos mostraram que somente a caminhada com a intensidade proposta melhorou significativamente (aumento em média de 10,2%; p < 0,001) o VO2 max das idosas de Grupo A. Conclusão: Para desenvolver seu VO2 max as idosas devem realizar as caminhadas com metodologia proposta.
    Unitermos: Idoso. Consumo máximo de oxigênio. Caminhada.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 93 - Febrero de 2006

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Introdução

    O consumo máximo de oxigênio (VO2 max) é considerado como um dos melhores indicadores de saúde somática do ser humano, quanto maior o consumo máximo de oxigênio melhor a saúde somática do sujeito (COOPER, 1970, 1982; ASTRAND, 1970; KARPMAN et al. 1988; APANACENKO, 1988, MILHNER, 1991).

    A relação entre o VO2 max do organismo humano e o seu estado de Saúde, empiricamente, foi mostrada primeiramente pelo COOPER (1970) e ASTRAND (1970). Eles demonstraram que as pessoas que possuem VO2máx. = 42ml/min/kg e mais não sofrem de doenças crônicas, tendo os índices de pressão arterial nos limites normais.

    Nas pesquisas de GIBBONS et al. (1983), foi estabelecida a correlação significativa entre a grandeza de VO2máx. e os fatores de risco das doenças coronárias: quanto mais alto o nível das capacidades aeróbicas, melhores são os índices de pressão arterial, câmbio de colesterol e massa corporal.

    Lipovetski apud MILHNER (1991) determinou que o VO2máx. também pode ser utilizado como um critério para prognosticar a morte por doenças cancerosas.

    KALININA et al. (KALININA, 2002) acharam a correlação significativa e alta (r = 0,88; p<0,01) entre o VO2máx das mulheres de idade de 50 a 60 anos e sua densidade mineral óssea na região do colo do fêmur.

    O suporte teórico destas descobertas se baseiam nas seguintes considerações.

    Segundo APANACENKO (1988) a vitalidade de qualquer organismo vivo depende da sua possibilidade de consumo de oxigênio do meio ambiente, sua acumulação e sua mobilização para o funcionamento dos processos fisiológicos, por isso sua saúde somática depende da eficiência deste processo.

    O mesmo conceito sobre a saúde somática podemos encontrar nos trabalhos de Vernadski. Segundo Vernadski apud MILHNER (1991), o organismo apresenta-se como um sistema termodinâmico, cuja estabilidade se define pelo seu potencial energético. Quanto maior potência (a capacidade de potencial energético realizado e também efetividade no seu consumo) mais alto é o nível de Saúde Somática do ser humano. Por exemplo, a pessoa treinada gasta energia durante qualquer trabalho físico em grau menor do que a não treinada. Isto significa que o treinado tem nível de Saúde Somática maior do que o não treinado.

    Doentes gastam boa parte de energia para combater a própria doença. Isto significa que há desperdício de energia vital do indivíduo e, por isso, sua Saúde Somática tem nível menor comparando com seu estado normal.

    Considerando que a parte da produção energética aeróbica é predominante na soma total do potencial energético do ser humano (McARDLE et.al., 1992), é possível afirmar que a grandeza máxima das capacidades aeróbicas do organismo é o critério básico para a saúde somática e capacidade vital.

    Tal noção de essência biológica da saúde somática do ser humano corresponde plenamente as nossas compreensões sobre a produtividade aeróbia, que é a base fisiológica da resistência geral (endurance) e da capacidade de trabalho físico do ser humano. A produtividade aeróbia do ser humano caracteriza-se pela grandeza do consumo máximo de oxigênio (VO2máx.) que é quantidade máxima de oxigênio que o organismo pode consumir (assimilar) durante um minuto.

    Atualmente o conceito de que os fatores de risco das doenças coronarianas se formam a partir da diminuição das capacidades aeróbicas do ser humano, além dos limites determinados, está adotado no mundo inteiro. A grandeza limiar de VO2 máx. para os homens igual a 42 ml/min/Kg; e para as mulheres igual a 35 ml/min/Kg (COOPER, 1970, 1982; ASTRAND, 1970; KARPMAN, 1988; MILHNER, 1991, 1997) indica o nível seguro da Saúde Somática.

    Considerando o acima escrito é necessário de ter nível elevado de consumo máximo de oxigênio em qualquer fase da vida. Para isso acontecer, devem ser realizados os regimes específicos de treinamento das capacidades aeróbicas. Na juventude e na idade adulta o melhor meio para estes fins são corridas, mas para as pessoas da terceira idade o melhor meio são as caminhadas (SCHARKEY, 1998; NEIMAN, 1999; ACSM's, 2000).

    Segundo ACSM's (2000), as caminhadas devem ser realizadas por pessoas idosas com a intensidade de 50 % a 70 % de FC de reserva e duração de 20 a 60 minutos de três a cinco vezes por semana. A mesma fonte afirma, também, que é muito difícil determinar a FC de reserva do idoso, pois para isso é necessário submetê-lo ao esforço físico máximo. O que não é admissível, pois pode ser perigoso para sua saúde. Por isso, atualmente, a maioria dos especialistas que prescrevem as atividades físicas para sujeitos idosos, sugerem-lhes caminhadas com intensidades moderadas que, segundo escala original de Borg (ACSM's, 2000), correspondem às intensidades de 50 % a 74 % de FC de reserva. Mas os resultados de uma das nossas pesquisas piloto mostraram que a maioria dos sujeitos idosos, quando recebam a orientação de caminhar com a intensidade moderada, não sabem o que é isso e acabam por andar com a intensidade abaixo de 50 % de FC de reserva. Outra pesquisa piloto por nos desenvolvida mostrou que se eles realizam as caminhadas rápidas na distância de 1600 metros com a exigência de manter a respiração durante toda a caminhada no modo seguinte: dois passos com inspiração profunda e dois passos seguintes com expiração profunda, a intensidade da caminhada chegará por volta de 60 % de FC de reserva.

    O objetivo desta pesquisa foi realizar a análise comparativa da efetividade de caminhadas realizadas com a intensidade moderada e duração de 30 minutos, com as caminhadas rápidas na distância de 1600 metros e com exigência de manter a respiração durante toda a caminhada no modo seguinte: dois passos com inspiração profunda e dois passos seguintes com expiração profunda.


Metodologia

    A amostra da pesquisa foi composta por 25 idosas sadias do sexo feminino, divididas em dois grupos. Grupo A composto por 13 idosas de idade média de 62,5 anos (s = 4,5) e Grupo B composto por 12 idosas de idade média de 66,8 anos (s = 6,9).

    Os sujeitos do Grupo A, durante quatro semanas, realizaram três caminhadas rápidas por semana em dias alternados, percorrendo quatro voltas na pista de atletismo e com a exigência de manter a respiração durante toda a caminhada no modo seguinte: dois passos com inspiração profunda e dois passos seguintes com expiração profunda.

    Os sujeitos do Grupo B, durante o mesmo tempo, realizaram nos mesmos dias três caminhadas por semana com duração de 30 minutos cada uma e com a recomendação de manter a intensidade moderada.

    Nas semanas anterior e posterior das caminhadas foram determinados o VO2 max dos sujeitos pesquisados através de Teste de Caminhada de 400 metros de Kalinina (KALININA, 2002). Para determinação da Freqüência Cardíaca (FC) do testado e o seu tempo de caminhada foram utilizados o transmissor POLAR e relógio ACCOREX PLUS. O tratamento estatístico utilizado foi o Teste "t" de Student para amostras dependentes.


Resultados e discussão

TABELA 1. Freqüência Cardíaca dos sujeitos pesquisados durante a realização das caminhadas prescritas
em % de Freqüência Cardíaca de Reserva (média por caminhada).

    Os resultados apresentados na Tabela 1 mostram que os sujeitos de Grupo B, recebendo a indicação: "Caminhar com a intensidade moderada" caminharam com a intensidade, em média, de 45,4 % (s = 2,1%) de Freqüência Cardíaca de Reserva que, segundo Borg apud ACSM's (2000), corresponde à intensidade leve. E os sujeitos do Grupo A, que receberam a indicação: "Caminhar rápido e manter a respiração durante toda a caminhada no modo seguinte: dois passos com inspiração profunda e dois passos seguintes com expiração profunda" caminharam com a intensidade, em média, de 60,1 % (s = 4,2%) de Freqüência Cardíaca de Reserva que, segundo Borg apud ACSM's (2000), corresponde à intensidade moderada.

TABELA 2. Resultados da determinação do consumo máximo de oxigênio das idosas antes e depois da realização dos
programas de caminhadas propostas e da análise das mesmas


Obs.: Os dados marcados com (*) são confiáveis, p < 0,001
= VO2 max2 - VO2 max1

    Os resultados apresentados na Tabela 2 mostram que as caminhadas com recomendação mais popular atualmente "Caminhar durante 30 minutos com a intensidade moderada três vezes por semana" não melhora VO2 max das idosas do sexo feminino.

    Outros resultados apresentados na mesma tabela mostraram que a realização das caminhadas com a metodologia proposta melhorou significativamente (aumento em média de 10,2%; p < 0,001) o VO2 max das idosas.

    Os resultados encontrados confirmam as indicações prescritas em ACSM's (2000), que as idosas sadias devem caminhar com intensidade de 50 a 70 % de Freqüência Cardíaca de Reserva para ter melhora nas capacidades cardiorrespiratórias. Porém, as idosas não percebem o que é caminhar com a intensidade moderada, que corresponde, segundo Borg apud ACSM's (2000), à intensidade 50 a 74% de Freqüência Cardíaca de Reserva, e acabam por caminhar com a intensidade leve (30 a 49% de Freqüência Cardíaca de Reserva). Por isso, os sujeitos de Grupo B, que realizaram as caminhadas com a indicação de Caminhar durante 30 minutos com a intensidade moderada três vezes por semana, não melhoraram seus VO2 max.


Conclusões

    Baseados nos resultados obtidos podemos fazer as seguintes conclusões:

    A indicação de Caminhar durante 30 minutos com a intensidade moderada três vezes por semana, sem experimentar a intensidade de caminhada que provoca FC de 50 a 70% de Freqüência Cardíaca de Reserva, não melhorara o VO2 max das idosas.

    A caminhada rápida, realizada na distância de 1600 metros em dias alternados três vezes por semana durante quatro semanas e com exigência de manter a respiração durante toda a caminhada no modo seguinte: dois passos com inspiração profunda e dois passos seguintes com expiração profunda, melhora significativamente o VO2 max das idosas. Os sujeitos da amostra que realizaram a caminhada com essa prescrição melhoraram seus VO2 max, em média de 10,2% (p < 0,001).


Referências

  • ACSM's Guidelines for exercise testing and prescription. Sixth Edition. American College of Sports Medicine: Williams& Wilkins, 2000.

  • APANACENKO, G.L. Saúde Física do Indivíduo: os aspectos metodológicos. Boletim da Academia das Ciências Médicas de URSS. n.2, 1988.

  • ASTRAND, P.O. & RODAHLE, U. Textboock of Work Physiol. New York: M. Evans and Co, 1970.

  • COOPER, K. H. The New Aerobics. New York: M. Evans and Co, 1970.

  • COOPER, K. N. The Aerobics Program for Total Well-Being. Bantam Books: Toronto, New York, London, Sydney, Aucland,1982.

  • GIBBONS, L.; BLAIR, S. et al. Circulation. n.67, p. 977, 1983.

  • KALININA, G. VO2 max & Saúde Somática. Metodologia simplificada da determinação. Dissertação (Mestrado em Ciências de Movimento Humano) - Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, 2002.

  • KALININA, G., KALININE, I., MULLER, S. Consumo máximo de oxigênio como índice de saúde óssea. Lecturas Educacion Física y Deportes. Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 74 - Julio de 2004. Disponível em: http://www.efdeportes.com/efd74/saude.htm. Acesso em 14/07/2005.

  • KARPMAN, V.L; BELOTSERKOVSKI, Z.B. & GUDKOV, I.A. Testes em Medicina Esportiva. Moscou: FIS, 1988.

  • McARDLE, W. D., KATCH, F.I., KATCH, V.L. Fisiologia do exercício: energia, nutrição e desempenho humano. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1992.

  • MILHNER, E.G. Equação da Vida: as Bases Metodológicas da Cultura Física para a Saúde. Moscou: Cultura Física e Desporto, 1991.

  • NEIMAN, D.C. Exercício e saúde. Tradução: Marcos Ikeda. São Paulo: Manole Ltda, 1999.

  • SHARKEY, B. J. Condicionamento Físico e Saúde. 4.ed. Porto Alegre: ArtMed, 1998.

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