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A visão dos acadêmicos de Educação Física
quanto ao ensino do atletismo na escola

   
*Graduado Educação Física CDS/UFSC e Laboratório de Mídia Labomidia/CDS/UFSC
**Mestrando Ciências do Movimento Humano/UDESC e Laboratório de Desenvolvimento
e Aprendizagem Motora LADAP/CEFID/UDESC
***Graduada Educação Física CDS/UFSC
****DEF/CDS/UFSC
 
 
Cristiano Mezzaroba*
cristiano_mezzaroba@yahoo.com.br  
Leandro Augusto Romansini**
leandro_romansini@yahoo.com.br  
Elisa Leão Moreira, Helena Pereira***
Doutor Edison Roberto de Souza****

(Brasil)
 

 

 

 

 
Resumo
    O objetivo do estudo foi analisar a visão dos acadêmicos em relação às possibilidades do Atletismo enquanto esporte educativo inserido na Escola. Com base numa amostra intencional (acadêmicos das disciplinas de Atletismo I, II e III), realizou-se a interpretação dos questionários por meio da técnica de análise de conteúdo. Como principais resultados: ocorreram diferentes opiniões entre as turmas, principalmente em relação aos subsídios oferecidos pelos professores aos acadêmicos para atuarem na escola; com relação ao lúdico, a maioria considerou um meio importante no contexto escolar; os acadêmicos (Atletismo III) apresentaram uma visão contextualizada das possibilidades educativas deste desporto, salientando alguns princípios norteadores (o lúdico, respeito à individualidade, domínio do conteúdo, a coerência em relação aos objetivos propostos e o espírito inovador no processo de ensino-aprendizagem). Conclui-se que o Atletismo pode ser desenvolvido na escola independente de sua estrutura física e de não ter o mesmo prestígio que algumas modalidades coletivas.
    Unitermos: Educação Física escolar. Atletismo. Formação.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 93 - Febrero de 2006

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Introdução

    O presente trabalho "A visão dos acadêmicos de Educação Física quanto ao ensino do atletismo na escola" foi pensado por um grupo de alunos concluintes da disciplina de Atletismo III (período vespertino) do Curso de Educação Física da Universidade Federal de Santa Catarina em virtude dos mesmos não conseguirem estabelecer relação entre as disciplinas anteriores de Atletismo (I e II) com uma aplicação prática dos conteúdos no ambiente escolar, além de outras curiosidades.

    Assim justificado, o trabalho teve como objetivo geral verificar a visão dos acadêmicos quanto ao processo ensino-aprendizagem do Atletismo relacionada à sua vivência nas disciplinas de Atletismo até então cursadas. Quanto aos objetivos específicos, em suma, foram cinco: (1) identificar, na visão do acadêmico em formação, a importância e a necessidade do ensino do atletismo no âmbito escolar: (2) identificar através das experiências dos acadêmicos com a disciplina de atletismo, qual a opinião deles quanto aos métodos a serem utilizados como norteadores da didática na elaboração de uma aula: (3) verificar em que sentido o professor influencia o aluno em formação a utilizar o atletismo como um método pedagógico na escola; (4) a interpretação e utilização do lúdico nas atividades e, por último (5) verificar se os materiais e espaços físicos são fatores limitadores no planejamento das aulas.

    O tipo de pesquisa caracterizou-se como descritiva exploratória, por meio de uma amostra intencional com 3 (três) alunos de cada turma do Atletismo (I, II e III), alunos estes os mais freqüentes nas aulas e mais participativos, indicados pelos respectivos professores, com a intenção de atribuir uma maior validade à esta pesquisa. Para análise dos questionários recorreu-se à metodologia técnica de análise de conteúdo (BARDIN, s/d). De acordo com Chizzotti (1991) esta técnica é uma técnica de tratamento e análise de informações com o objetivo de compreender criticamente o sentido das comunicações, seu conteúdo manifesto, as significações explícitas ou ocultas.


Breve enfoque do histórico da Educação Física

    Acreditamos que o primeiro passo para investigação da Educação Física Escolar é fazer uma pequena revisão dos movimentos surgidos durante seu processo histórico.

    Inserindo-se em escolas européias, em fins do século XVIII e início do século XIX, o exercício físico, inicialmente, era voltado para a formação de hábitos higienistas, visando uma adaptação do ser humano à sociedade industrial que estava surgindo no continente europeu. (COLETIVO DE AUTORES, 1993, p.51)

    Posteriormente foi ganhando força os chamados métodos ginásticos, através das primeiras sistematizações dos exercícios físicos. Influenciaram a Educação Física, nesta época, as Escolas ginásticas que tinham como referência as ciências biológicas, como a Escola Ginástica Alemã (educação física era sinônimo de ginástica). Esses métodos ginásticos predominaram na Educação Física brasileira nas quatro primeiras décadas do século XX, tendo uma forte ligação com as instituições militares. (Ibid, p. 53)

    No final da Segunda Guerra Mundial dá-se início ao processo de esportivização das aulas de Educação Física. O esporte, neste caso, não era visto como um conteúdo a ser tratado pedagogicamente, aparecendo com os mesmos princípios de uma instituição esportiva. A Educação Física tornou-se, assim como a instrução física militar, uma projeção dos princípios do esporte de rendimento na escola. (BRACHT, 1992, p.17)

    Nas décadas de 70 surgem os movimentos da psicomotricidade, objetivando o desenvolvimento psicomotor a partir da organização de esquemas corporais, e o Esporte Para Todos, procurando outros modelos de esportes, que não o baseado na performance máxima. (COLETIVO DE AUTORES, 1993, p.55)

    A década de 80 apresenta o surgimento de uma corrente que podemos chamar de crítica, onde se destacam os trabalhos de Lino Castellani Filho, Valter Bracht e Elenor Kunz, autores que procuraram dar um rumo para a Educação Física em princípios diferentes dos que ainda são possuidores de hegemonia na cultura escolar dessa disciplina.

    Entre os movimentos citados, acredita-se que atualmente a instituição esportiva apresenta uma maior influência no contexto escolar, talvez pela forma que os meios de comunicação de massa possuem ao valorizar o esporte de rendimento, pois o mesmo ainda hoje é visto pelo senso comum como sinônimo de Educação Física e de corpo saudável.


O atletismo no ambiente escolar

    A iniciação pode ser compreendida como a introdução de um comportamento novo que demande habilidades específicas de pensar, sentir e agir.

    A iniciação ao atletismo - visto como um conjunto de habilidades específicas - constitui a primeira fase do processo ensino-aprendizagem para as formas de caminhar, correr, saltar, lançar e arremessar, utilizadas no atletismo convencional. Representa a passagem destas atividades básicas do estágio de padrões gerais para os de forma grossa para os respectivos padrões no atletismo.

    A repercussão pedagógica da iniciação ao atletismo dimensiona-se pela qualidade futura da ação, aqui entendida como cultivo consciente e voluntário, qualquer que seja o objetivo: não é possível negar a vocação ao rendimento, implícita na prática do atletismo convencional; porém, é impossível negar seu potencial e sua adaptabilidade à interpretação recreativa, tão ou até mais ampla que a tradicional, reconhecendo o fato de que a maioria dos iniciados não atinge o nível de atleta.

    Para Costa (1992) o atletismo a ser utilizado na escola deve ser considerado como o "pré-atletismo", onde, numa primeira fase, faz-se através dos gestos motores básicos correr, saltar e lançar; e numa segunda fase, mantêm-se os da primeira, avançando-se para as tarefas que exigem uma maior codificação dos gestos motores básicos, aproximando progressivamente a criança do Atletismo.

    No que diz respeito ao atletismo convencional, uma minoria de escolas consegue oferecer aos alunos toda a infra-estrutura necessária. A maioria absoluta das escolas (notadamente as públicas) sequer dispõem do espaço físico para a prática de esportes (neste caso o atletismo). É interessante também notar que as modalidades esportivas de maior prestígio nacional são coletivas e têm como implemento de ação a bola.

    Essa linha de raciocínio, em procura de uma visualização dos problemas básicos do Atletismo no espaço escolar, tende a aceitar a tese segundo a qual o brasileiro vive pela filosofia do prazer. A bola, como instrumento de comunicação interpessoal e de auto-expressão, mais a índole acentuadamente lúdica dos esportes coletivos, logram preencher suas expectativas de cultura física, por virem ao encontro dessa filosofia de vida. Tal concepção talvez ajude a explicar a sentença bem brasileira: "atletismo não tem bola!" (ORO, 1984, p.4).

    Se for perguntado a escolares brasileiros o que acham do Atletismo, provavelmente, a opinião mais comum será a de ser um esporte "sem graça", tanto de se praticar quanto de se assistir.

    Correr, saltar e lançar, entretanto, como habilidades físicas de base, estão presentes em quase todas as modalidades esportivas. Como ato motores naturais, significam uma função da natureza humana. Por isso, em si, os movimentos atléticos não são desinteressantes. O que pode torná-los assim é a sua interpretação e sistematização didática.


Apresentação e análise dos dados

    Analisando as respostas dos acadêmicos em relação à importância do Atletismo na Escola foi possível notar que a grande maioria considerou este esporte como um meio muito importante para se desenvolver as valências físicas nas crianças, pois possibilita uma variedade de movimentos corporais, além destes serem movimentos naturais. Outros aspectos também foram citados, como a relação da mídia (atletismo versus futebol) e a acomodação dos professores em abordar este conteúdo nas aulas. Em síntese, os acadêmicos consideram importante e necessário a aplicação da modalidade do Atletismo no âmbito escolar.

    Quanto aos aspectos que devem nortear o trabalho do professor no processo ensino-aprendizagem, vários foram os princípios apontados pelos acadêmicos, embora muitos fossem sinônimos. Percebeu-se, também, que os acadêmicos que cursaram o Atletismo III tiveram mais coesão nas suas considerações, principalmente nos aspectos: lúdico, respeito à individualidade do aluno, domínio do conteúdo, coerência em relação aos objetivos propostos e espírito inovador. Outros aspectos também foram apontados, mas que não foram considerados de tamanha relevância como: motivação do professor e lúdico para se atingir o preparo físico.

    Os acadêmicos que cursaram a disciplina de Atletismo I não afirmaram que esta disciplina lhes dá embasamento para trabalhar este conteúdo na escola, referindo-se apenas a contribuições para sua formação (até aquele momento) nos aspectos de contextualização histórica do atletismo e arbitragem. Já os acadêmicos do Atletismo II demonstraram uma diferenciação ao opinar sobre a influência do conteúdo que lhes foi transmitido durante os semestres (inclui-se aqui o Atletismo I), verificando-se, então, uma divisão de posicionamentos, na qual parte dos alunos relataram que não preparam bem o aluno, enquanto outros consideraram válidos os conteúdos até então transmitidos. Quanto aos acadêmicos do Atletismo III, a maioria considerou que foi principalmente esta disciplina que ofereceu um embasamento pedagógico para se trabalhar o atletismo na escola. Alguns alunos ainda relataram a importância do interesse dos próprios acadêmicos como forma de otimizar os conhecimentos no período semestral. Todas estas considerações demonstraram as diferentes abordagens dadas pelos professores, ou seja, mostraram visivelmente que o "fator" professor pode influenciar positivamente ou negativamente na transmissão destes conteúdos na formação destes acadêmicos.

    Em relação ao lúdico no processo de ensino-aprendizagem do Atletismo a grande maioria dos acadêmicos o considerou um meio de extrema importância no contexto escolar, principalmente por possibilitar variedades de brincadeiras e vivências (recreativas), por possibilitar a participação de todos, por ser uma atividade prazerosa e por ser um meio de iniciação, entre outros. As respostas menos consistentes em relação ao conceito de lúdico e sua utilização no processo escolar partiram dos alunos do Atletismo I ("o lúdico é importante pois o atletismo é uma coisa muito chata"), enquanto que os alunos do Atletismo III viam no lúdico uma ferramenta a mais para o professor desenvolver este desporto na Escola, fazendo com que a criança se movimente brincando.

    Por último, os materiais e espaços físicos, na grande maioria das respostas, não foram apontados como fatores limitadores do trabalho do professor ao desenvolver atividades do Atletismo, sendo que os alunos do Atletismo II e III (principalmente) apontaram a necessidade da adaptação e improvisação; tudo, para eles, depende da criatividade e da vontade do professor. Consideraram também que não têm justificativa deixar de ensinar esta modalidade puramente pela falta de materiais disponíveis. Outro ponto que foi destacado é que mesmo no Atletismo III houve resposta considerando a influência dos materiais e do espaço físico. Uma resposta, também de um aluno do Atletismo III, diz que "a falta de materiais pode ser problematizada durante a aula".


Considerações finais

    Ao realizar este trabalho foi possível identificar as diferentes opiniões que os acadêmicos têm quanto ao Atletismo. Opiniões que, ao se concluir tal trabalho, podem ser influenciadas positiva ou negativamente pelos professores, os quais são os espelhos para os alunos em formação. São as vivências que são oportunizadas/oferecidas aos alunos que fazem com que eles saibam diferenciar metodologias, para posterior aproveitamento e transformação na sua prática profissional futura.

    Pensamos que o nosso objetivo geral foi concretizado, apesar da pequena amostragem na distribuição dos questionários, em virtude também do espaço de tempo reduzido para a realização deste trabalho (final de semestre).

    Propomos-nos a fazer de cada objetivo específico uma questão, as quais foram analisadas separadamente, turma por turma, com o objetivo de fazer uma diferenciação conceitual entre as turmas do Atletismo I, II e III. Pensamos também que estes objetivos específicos foram alcançados, pois verificamos (I) que os acadêmicos percebem a importância da utilização do Atletismo na Educação Física Escolar; (II) percebem o lúdico, o respeito à individualidade do aluno, o domínio do conteúdo, a coerência em relação aos objetivos propostos e o espírito inovador como métodos principais ao se elaborar uma aula; (III) a influência positiva ou negativa na abordagem e no trato do conteúdo pelo professor; (IV) a grande importância do lúdico como forma de iniciação e de recreação e (V) a necessidade de se improvisar e adaptar materiais e espaço físico nas aulas de Atletismo escolar.


Questionário aplicado aos acadêmicos

  1. Como você vê o Atletismo na Educação Física Escolar?

  2. Você acha que as disciplinas de Atletismo (I, II e III) oferecidas aqui na Universidade preparam o acadêmico para trabalhar o Atletismo nas aulas de Educação Física?

  3. No processo de ensino-aprendizagem, considerando os princípios que devem nortear o trabalho do professor, quais você pensa que são os mais importantes/fundamentais?

  4. Como você vê a possibilidade do lúdico no processo de ensino-aprendizagem do Atletismo?

  5. Quanto ao espaço físico e aos materiais utilizados, a que ponto isso influencia no desenvolvimento das atividades do Atletismo (por exemplo: pista, colchão, barreiras, dardo, peso, disco...)


Referencial bibliográfico

  • BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições Setenta, s.d.

  • BRACHT, Valter. Educação Física e aprendizagem social. Porto Alegre: Magister, 1992.

  • CHIZZOTTI, A. Pesquisa em ciências humanas e sociais. São Paulo: Cortez, 1991.

  • COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do Ensino de Educação Física. São Paulo: Cortez, 1993.

  • COSTA, André. Atletismo. In: Educação Física na escola primária. Volume II Iniciação Desportiva. Porto: Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física, 1992.

  • KUNZ, Elenor. Educação física: ensino e mudanças. Ijuí-RS: UNIJUÍ, 1991.

  • ORO, Ubirajara. Enfoques pedagógicos da iniciação ao atletismo. In: Antologia do Atletismo - metodologia para iniciação em escolas e clubes. [s.l.] 1984.

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