O que mulheres e homens fazem em suas horas de lazer |
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*Licenciada em Educação Física/UFSM Especialista em Aprendizagem Motora/UFSM Mestre em Ciência do Movimento Humano/Desenvolvimento Humano/UFSM Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Psicologia pela PUCRS. Bolsista da CAPES Prof. da Universidade Luterana do Brasil/ULBRA/Campus Santa Maria/RS **Prof. Orientadora do Programa de Pós-Graduação em Psicologia PUCRS. Pesquisadora do CNPq |
Maria Cristina Chimelo Paim* crischimelo@bol.com.br Marlene Neves Strey** (Brasil) |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 92 - Enero de 2006 |
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Introdução
O interesse por estudar as atividades de lazer praticadas por acadêmicos da UFSM, partiu da constatação de que, apesar de uma série de impedimentos sócio-econômicos, as atividades de lazer estão cada vez mais presentes na vida das pessoas, indistintamente, fato este devido a grande difusão das práticas de lazer pelos meios de comunicação de massa. A palavra lazer é impregnada de significações. O lazer desde as sociedades antigas até os dias atuais vem assumindo diferentes concepções que estão orientadas pelos determinantes político, econômico e cultural de cada momento histórico, Segundo Cavalcanti (1984), sua origem perpassa pelos povos grego-latinos e judaico-cristãs, sendo que através dos tempos, diferentes civilizações agregaram valores contraditórios. Sua história está vinculada à história das interpretações da moral, da política, da religião, da filosofia, e do senso comum, sendo portanto, modificada com o passar dos séculos em decorrência das diferentes formas de organização social.
A civilização Grega foi a que mais permitiu a realização do ser humano através do lazer. De acordo com Marin & Padilha (2000), o (a) cidadão (ã) Grego levava uma vida de lazer, entendido na Antiguidade como a plena expressão de nobres virtudes. O trabalho, considerado degradante, era reservado aos escravos, enquanto o acesso ao lazer indicava a pertença a uma certa casta. Somente no século XIX, com o aparecimento das primeiras sociedades industriais, que o trabalho, alcança valor central no sistema social, e o lazer assume as características atuais.
O tempo destinado ao Lazer, é fruto das modificações ocorridas nos processos civilizatórios, devido ao processo de industrialização, redução da carga horária semanal de trabalho, criação de leis e direitos trabalhistas, etc. Esse tempo de lazer constitui-se num fenômeno tipicamente moderno, resultante das tensões entre capital e trabalho, que se materializam como um tempo e espaço de vivências lúdicas, lugar de organização da cultura, tempo privilegiado para a vivência de valores que contribuam para mudanças de ordem moral e cultural (Dieckert, 1984).
Hoje em dia o lazer apresenta-se como um elemento central da cultura vivida por milhões de trabalhadores, possui relações sutis e profundas com todos os grandes problemas oriundos do trabalho, da família e da política que, sob sua influência, passam a ser tratados em novos termos. Vai desde a ação de assistir um filme ou apresentação musical, ir ao teatro, passear no parque, praticar esportes, ou apenas um tempo para descanso (Paim, 2002).
É verdade que a estafa dos quadros profissionais sociais e culturais torna difícil um verdadeiro descanso e que a atual duração do lazer não corresponde às crescentes necessidades da sociedade. O importante é que o trabalho não mais se identifica com a atividade mais importante, e que o dia não é ocupado unicamente pelo trabalho, comportando dias, horas de lazer. A vida de trabalho não termina mais, unicamente, devido à doença ou a morte, mas tem um fim que assegura o direito ao repouso. Assim, para o trabalhador, a elevação do nível de vida apresentou-se acompanhada pela crescente elevação do número de horas livres, sendo que esse tempo é ocupado por atividades reais ou possíveis, cada vez mais atraentes. A indústria dos lazeres ultrapassa a imaginação e o público esta sempre à espreita do próximo lançamento musical e do filme que surgirá, porém o crescimento do lazer está longe de ser igual em todas as camadas da sociedade (Marcelino, 2002).
O lazer, é um fato social de alta importância, condicionado evidentemente pelo tipo de trabalho, que por sua vez exerce sua influência sobre ele. Ambos formam um todo. O trabalho só será humano se permitir ou suscitar um lazer humano. A melhoria das relações humanas dependerá do estabelecimento de um equilíbrio das atitudes ativas, durante o trabalho e o lazer. Lazer é definido, segundo Dumazedier, (1980) por oposição ao conjunto das necessidades e obrigações da vida cotidiana, como: o trabalho profissional; o trabalho suplementar ou trabalho de complementação; os trabalhos domésticos (arrumação da casa, a parte diretamente utilitária da criação de animais destinados à alimentação); atividades de manutenção (as refeições, os cuidados higiênicos com o corpo, o sono); atividades rituais ou ligadas ao cerimonial resultante de uma obrigação familiar, social ou espiritual (visitas oficiais, aniversários, reuniões políticas, ofícios religiosos) e as atividades ligadas aos estudos. Marcelino (2002), complementa o conceito de lazer, dizendo que é toda e qualquer ação humana na qual e pela qual consegue-se manter os objetivos e os valores idealizados e restritos ao próprio indivíduo que as vivencia ludicamente.
Para Moro (2001), pensar o lazer, como um fenômeno que se sustentaria somente com atividades motoras de cunho esportivo e/ ou atividades motoras de cunho menor, menos complexas, constituí uma leviandade interpretativa do mesmo. Dessa forma buscamos o entendimento de atividades de lazer, e de acordo com Dumazedier (1980) e Marcelino (1995; 2002) como sendo as atividades em áreas de interesse diferenciadas que compõem um todo interligado. O interesse deve ser entendido como o conhecimento que está enraizado na sensibilidade, na cultura vivida. Esses autores distinguem seis categorias quanto ao conteúdo das atividades de lazer. São eles: artístico: universo estético feito de imagens, de emoções, sentimentos, exemplo: ir ao cinema, teatro; Intelectual: cognitivo, objetividade, informação, exemplo: busca de conhecimentos, científicos ou não (jornais, revistas), acesso à literatura; Manual: capacidade de manipulação de cada indivíduo. O uso das mãos é essencial, seja para transformar, para restaurar, exemplo: Lavar o carro nos finais de semana, cultivar hortaliças, fazer crochê, tricô; Físico: desenvolvido através de atividades físicas, exemplo: caminhadas, ginástica, esporte e atividades correlatas, executadas de maneira formal ou informal, em espaços tecnicamente planejados, como pistas, academias; Social: busca do indivíduo para relacionar-se com os outros, exemplo: convívio doméstico, com jogos e passeios com filhos, visitas a parentes e amigos, movimentos culturais; Turístico: desenvolvido através de atividades turísticas, exemplo: Viagens, passeios.
Nos dias de hoje, o lazer funda uma nova moral de felicidade. É um homem/ uma mulher incompleto (a), e de certo modo alienado (a), aquele (a) que não aproveita ou não sabe aproveitar seu tempo livre. Deve-se considerar aqui, que suas necessidades primárias, ou básica, de vida estejam satisfeitas. Mesmo quando a prática do lazer é limitada pela falta de tempo, dinheiro, recursos, ou limitada pela cultura, sua necessidade está presente e cada vez torna-se mais importante para o pleno desenvolvimento do ser humano, em todas as etapas da vida. (Paim, Nogueira, Jardim & Tonetto, 2004). Para Bonalume (2002), esse lazer precisa superar diversas barreiras, como as ligadas à aptidão física, que exclui os portadores de deficiência, os obesos e os menos hábeis, à faixa etária e ao sexo, que o coloca, no senso comum, como um direito de pessoas jovens e, preferencialmente, do sexo masculino. Pois, sabe-se que com todas as conquistas alcançadas pelas mulheres, estas acumularam múltiplas jornadas de trabalho, o que em muitos casos leva a uma limitação do tempo destinado ao lazer (Aquino 1996). E, também ao nível sócio econômico, em que a discriminação aparece entre as classes sociais e dentro delas mesmas.
Uma das principais características do lazer é que o mesmo favorece a convivência, assim traz consigo o jogo de poderes próprio da construção social de homens e mulheres, dentro de nossa cultura. É com esse enfoque que a presente pesquisa teve como objetivo:
Verificar as atividades de lazer praticadas por acadêmicos(as) da Universidade Federal de Santa Maria/UFSM no seu tempo livre ou disponível.
MetódoFizeram parte da amostra 605 acadêmicos da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), com idade entre 17 a 28 anos, sendo 295 acadêmicos do sexo feminino e 310 do sexo masculino. Os acadêmicos pertenciam aos cursos de Educação Física, Agronomia, Administração de Empresas, Arquitetura e Urbanismo, Psicologia e Pedagogia. A seleção dos acadêmicos ocorreu de maneira aleatória. A coleta dos dados procedeu-se durante o ano de 2003 e 2004. A elaboração do instrumento de coleta dos dados teve como base as seis categorias de Marcelino (1996): físico, intelectual, artístico, manual, social e turístico. Trata-se de um questionário com questões abetas e fechadas. A aplicação dos questionários aconteceu nos intervalos das aulas, com a devida permissão do professor. Fez-se um levantamento e uma análise pelos acadêmicos em seu tempo livre, livre de obrigações profissionais, familiares, acadêmicas, sociais e religiosas. No presente artigo encontram-se analisadas as respostas obtidas na parte objetiva do questionário. A análise dos dados foi descritiva, utilizando-se o programa Excel/2000.
Resultados e discussõesPrimeiramente deve-se ressaltar que para compreender as relações de homens e mulheres com as diferentes atividades de lazer nas seis categorias utilizadas, usamos o conceito de gênero. Gênero é visto aqui como elemento constitutivo das relações sociais e históricas fundadas sobre diferenças percebidas entre os dois sexos, mas que não são conseqüência direta nem da biologia, nem da fisiologia e que explicam persistentes desigualdades de todos os tipos entre mulheres e homens (Scott, 1990). No presente estudo utilizamos gênero como um mediador psico-social que influencia experiências de lazer dos participantes, homens e mulheres, em um modelo complexo cujos elementos estruturais, precisam aos poucos, serem desvendados. Deste modo, a discussão sobre gênero reflete as diferenças entre sujeitos, que se desenvolvem como parte de certos sistemas sociais e simbólicos, dentro dos quais diferenças e hierarquias entre determinadas categorias sociais são construídas (Vaistman, 1994).
As atividades de LazerQuadro 01: Identifica as atividades de lazer físico, mais praticados pelos acadêmicos da UFSM, e o percentual das respostas em cada atividade, agrupadas por gênero.
* atividades de lazer físico mais praticadas pelos acadêmicos
Os dados do quadro 01 nos permitem observar os tipos de atividades de lazer físico praticadas pelos acadêmicos da UFSM em seu tempo livre. Quando analisamos os percentuais das atividades físicas mais praticadas, observa-se que as cinco atividades mais citadas pelos homens são: jogar futebol (92,6%), musculação (74,2%), correr (41%), caminhadas (40%) e jogar voleibol (26,1%); entre as mulheres as atividades mais citadas foram: caminhadas (77,3%), musculação (59,3%), ginástica (37,3%), dançar (34,6%) e andar de bicicleta (26,1%). Deve ser ressaltado o percentual elevado da prática do futebol entre os homens, caminhadas entre as mulheres e da musculação em ambos os gêneros.
Quanto ao elevado percentual encontrado na atividade jogar futebol, entre os homens, pode ser explicado pela grande influência que o futebol assume no desenvolvimento social e cultural do homem brasileiro. Provavelmente, é o fato social que envolve o maior público de todas as condições sociais e de todas as idades, em qualquer parte do mundo, em especial no Brasil. Os homens desde pequenos jogam e sonham em jogar como um de seus ídolos, se comprometem efetivamente com alguma equipe, vivenciam com tamanha intensidade os fracassos e sucessos de sua equipe preferida, fazendo com que seus problemas existenciais do dia a dia, na maioria das vezes, passem despercebidos (Paim, 2004). É grande o número de homens que, em idade escolar ou não, que se envolve com a prática do futebol, seja por lazer, ou objetivando uma carreira promissora. O mesmo não ocorre com as mulheres, fato que se confirmou no presente estudo, onde apenas (5,1%) das mulheres o praticam em suas horas de lazer.
Pode-se inferir que o elevado percentual apontado à prática da caminhada pelas mulheres, e em nível médio pelos homens (40%), seja devido a grande facilidade em sua prática, com acesso garantido a todos os praticantes, e ao grande incentivo dado a comunidade acadêmica da UFSM, pelo Centro de Educação Física e Desportos, o qual mantêm projeto de caminhadas orientadas no Campus Universitário. Também não podemos deixar de referenciar, que esta atividade física era e ainda é a mais incentivada pelos médicos, principalmente para as mulheres, pois de acordo com Vertinsky (1990), os médicos a reconheciam como uma atividade física permitida as mulheres, por serem realizadas em ambientes abertos, propiciando uma melhora na capacidade respiratória, por serem consideradas formas naturais de exercícios e por melhorar a saúde reprodutiva.
A musculação foi a segunda atividade física mais praticada por ambos os gêneros, provavelmente por ser essa atividade, bastante indicada e difundida pelos profissionais da área e também pela mídia, visto o grande benefício proporcionado à melhoria da qualidade de vida de seus praticantes, com aumento na força muscular e densidade óssea, e ao baixo índice de lesões, quando bem orientada. Outro fato interessante foi o interesse pela ginástica, terceiro na preferência entre as mulheres e último entre os homens. Possivelmente, as diferentes preferências encontradas para o masculino e feminino, são resultados de nossos aspectos culturais e educacionais.
Segundo Sousa & Altmann (1999), em um recorte do esporte na década de 30-40, o corpo da mulher estava dotado de docilidade, fragilidade e sentimento, qualidades essas negadas ao homem. Aos homens era permitido jogar futebol, basquete e judô, esportes que exigiam maior esforço, confronto corporal e movimentos violentos; às mulheres era permitido, a ginástica rítmica e o voleibol, que lhes garantia a suavidade de movimentos, e o não contato com outros corpos. O homem que praticasse esses esportes correria o risco de ser visto pela sociedade como efeminado. Entretanto, o futebol, esporte mais violento, tornaria o homem viril e, se fosse praticado pela mulher poderia masculinizá-la. Para Badinter (1993) apesar de todos os avanços ocorridos nas últimas décadas, em praticamente todos os setores da sociedade, nos esportes ainda encontramos muitos estereótipos de gênero, tais como: os esportes que envolvem competição, contato físico, e agressão, são considerados como melhor iniciação à virilidade, pois é nesse espaço que o homem ganha "status de macho", mostrando publicamente seu desprezo pela dor, o controle do corpo, a força e a vontade de ganhar e vencer os outros.
Nossos achados corroboram com os achados de Costa et. al (2003), que investigaram a relação entre gênero e construção social do corpo, tendo como objeto de estudo a prática de atividades físicas realizadas no tempo de lazer, chegando aos seguintes resultados: para os homens as atividades mais praticadas foram o futebol e a caminhada e para as mulheres a atividade mais praticada foi a caminhada, seguido da ginástica.
Quadro 02: Identifica as atividades de lazer intelectual, mais praticados pelos acadêmicos da UFSM, e o percentual das respostas em cada atividade, agrupadas por gênero.
Os dados do quadro 02 nos permitem observar os tipos de atividades de lazer intelectual praticadas pelos acadêmicos da UFSM em seu tempo livre. Quando analisamos os percentuais das atividades intelectuais mais praticadas, observa-se que as três atividades mais citadas pelos homens são: uso da internet (64,8%), cursos de aperfeiçoamento (42,9%) e leituras informais (32,3%); entre as mulheres as atividades mais citadas foram: leituras informais (38,3%), uso da internet (35,2%) e cursos de aperfeiçoamento (30,2%). Deve ser ressaltado o percentual elevado do uso da internet entre os homens, com percentuais médios, leituras informais entre as mulheres e de cursos de aperfeiçoamentos em ambos os gêneros, com uma margem maior de preferência entre os homens.
O uso da internet apareceu como percentual médio entre os homens, sendo citado também pelas mulheres em menor proporção (32,5%). Esses achados podem ser explicados pelo grande fenômeno de comunicação em que se transformou a internet na nossa sociedade, proporcionando aos acadêmicos, acesso imediato à pesquisa e informação e também ao incentivo dado pela administração da UFSM à sua comunidade acadêmica, mantendo em cada curso salas equipadas com computadores ligados à rede mundial, com acesso livre a seus alunos. A internet hoje em dia, tornou-se um grande aliado da população jovem, seja na busca de informações, na comunicação, etc... Em pesquisa realizada pela Revista Veja, edição especial Jovens, de junho de 2004, é revelado que, o jovem Brasileiro, na faixa etária de 12 a 24 anos, demonstra grande avidez por novas informações e uma agilidade invejável diante das novas tecnologias. No universo das telecomunicações e da internet, os brasileiros estão entre aqueles que passam mais tempo diante do computador.
Quanto aos resultados encontrados no que diz respeito às leituras informais, ainda que citado como uma forma de lazer, a leitura em termos de média geral é bastante baixa, demonstrando que ainda é pequeno o número de universitários que desenvolveram o hábito da leitura. Talvez esse seja um problema a ser pensado, pelas autoridades competentes, desde o Ensino Fundamental. A atividade de lazer artístico, cursos de aperfeiçoamento, citada em ambos os gêneros, com uma margem maior de preferência entre os homens, pode ser justificada pela constante busca de melhor qualificação para o mercado de trabalho, que cada vez mais exige profissionais capacitados, talentosos e eficientes, independente de ser homem ou mulher.
Outro aspecto interessante de ressaltar é a preferência por jogos de vídeo game por parte dos homens, que apresentaram percentual bem mais elevado que as mulheres, demonstrando que, os jogos de vídeo game ainda são considerados um universo masculino, embora nos últimos tempos as mulheres também estejam conquistando esse espaço, principalmente nas casas de jogos de computadores, as lan houses. Elas representam, segundo a Revista Veja Especial Jovens de junho de 2004, 13% do público freqüentador.
Quadro 03: Identifica as atividades de lazer artístico, mais praticados pelos acadêmicos da UFSM, e o percentual das respostas em cada atividade, agrupadas por gênero.
Os dados do quadro 03 nos permitem observar os tipos de atividades de lazer artístico praticadas pelos acadêmicos da UFSM em seu tempo livre. Quando analisamos os percentuais das atividades artísticas mais praticadas, observa-se que as cinco atividades mais citadas pelos homens são: ouvir música (100%), assistir televisão (97,4%), ir a shows musicais (47,4%), assistir filmes no vídeo cassete/DVD (41,6%) e ir ao cinema (39,7%); entre as mulheres as atividades mais citadas foram: ouvir música (96,6%), assistir televisão (87,1%), ir a shows musicais (38,3%), ir ao cinema (34,6%) e assistir filmes no vídeo cassete/DVD (33,5%). Deve ser ressaltado o percentual elevado de ouvir música e assistir televisão em ambos os gêneros.
Quanto ao elevado percentual encontrado nas atividades artística de ouvir música e assistir televisão em ambos os gêneros, os resultados apontam para o fato de que cada vez mais as pessoas estão em busca entretenimento e informação, e encontram no rádio e na TV alternativas de baixo custo, e com o conforto de estarem em casa. A televisão vem se confirmando como a atividade de lazer mais utilizada pela população, não apenas do Brasil, como na maioria dos países do mundo. Em estudo realizado por Martins, apresentado no IV Congresso Português de Sociologia, www.asp.pt/ivcong-actas/Actas138.pdf, que investigou como estudantes universitários ocupam o seu tempo livre, apareceu que 95 % dos estudantes assistem TV em suas horas de lazer e que escutar música, através do rádio, foi citado por todos os universitários investigados.
Quadro 04: Identifica as atividades de lazer manual, mais praticados pelos acadêmicos da UFSM, e o percentual das respostas em cada atividade, agrupadas por gênero.
Os dados do quadro 04 nos permitem observar os tipos de atividades de lazer manual praticadas pelos acadêmicos da UFSM em seu tempo livre. Quando analisamos os percentuais das atividades manuais mais praticadas, observa-se que as quatro atividades mais citadas pelos homens são: culinária (41,6%), cuidar de animais (25,4%), bricolagem (17,4%) e jardinagem (10,3%); entre as mulheres as atividades mais citadas foram: culinária (33,5%), cuidar de animais (26,8%), artesanato (15,6%) e tricô/crochê (13,9%). Deve ser ressaltado o percentual médio para a culinária em ambos os gêneros.
Pode-se inferir que a culinária é a atividade manual mais praticada pelos acadêmicos, pelo grande numero de programas de incentivo a arte de cozinhar atualmente na televisão brasileira. Tornando-se assim uma atividade prazerosa para as pessoas que a praticam, não deixando que a mesma entre na rotina diária das pessoas, tornando-a pesada e cansativa, uma obrigação. É interessante ressaltar que 129 homens citaram a culinária como um hobby, pode-se falar aqui da grande metamorfose do macho, ou seja, essa revolução que está criando um novo homem, que não tem medo de expor suas emoções, onde o machismo perde a cada dia mais terreno e, no lugar entra a delicadeza, a sensibilidade, a qual lhes permite falar em culinária, pratos e receitas novas, como se falassem de negócios, ou esportes. Em pesquisa realizada pela Revista Veja, edição especial homem, de agosto de 2004, revela que quando um homem decide cozinhar, eles não economizam na hora de comprar acessórios, adoram receitas complicadas e gostam de receber os amigos enquanto pilotam um fogão, são os cozinheiros de fim de semana. Portanto os homens assumem a culinária como hobby, e não como uma obrigação diária, o que é bastante diferenciado.
Cuidar de animais, hoje em dia é uma atividade muito comum na sociedade, cada vez mais as pessoas vêm no animal de estimação um novo integrante da família. Muitos donos dão o mesmo amor e a mesma atenção aos seus animais que dariam a uma criança. Os melhores amigos dos seres humanos contribuem para diminuir a solidão, principalmente no caso de mulheres e homens que vivem sozinhas(os). E uma das suas vantagens é facilitar o contacto com outras pessoas e ajudar a estabelecer novas amizades (Revista Máxima, 2003). De acordo com Faraco e Seminotti (2004), as novas organizações de vida da sociedade contemporânea, vêm que a interação ser humano-animal, vem propondo novas mudanças no cotidiano das pessoas, constituindo os grupos multiespécies (pessoas que convivem com animais no seu cotidiano). A aproximação entre os seres humanos e o cachorro se deu mais por uma questão de afinidade do que por necessidade, como se pensava até há pouco tempo, em razão da parceria em caçadas. Muitos anos se passaram e a essência dessa união continua a mesma: na solidão das cidades, ainda são eles, os bichos de estimação, que ajudam a ver o mundo com mais graça e encanto. Além disso, elevam a auto-estima, reforçam a imunidade e facilitam o convívio familiar e social (Avazi, 2004).
Quadro 05: Identifica as atividades de lazer social, mais praticados pelos acadêmicos da UFSM, e o percentual das respostas em cada atividade, agrupadas por gênero.
Os dados do quadro 05 nos permitem observar os tipos de atividades de lazer social praticadas pelos acadêmicos da UFSM em seu tempo livre. Quando analisamos os percentuais das atividades sociais mais praticadas, observa-se que as três atividades mais citadas pelos homens são: ir à festas (97,4%), namorar e ou ficar (63,8%) e freqüentar restaurantes (32,6%); entre as mulheres as atividades mais citadas foram: ir à festas (91,5%), namorar e ou ficar (68,8%) e ir à bailes (32,5%). Deve ser ressaltado o percentual elevado na atividade ir a festas e namorar e ou ficar em ambos os gêneros.
Quanto ao elevado percentual encontrado nas atividades ir a festas e namorar e ou ficar em ambos os gêneros, deve-se ao fato de que cada vez mais as pessoas, em especial os jovens, estão em busca entretenimento e afiliação. Essas duas atividades estão muito ligadas, pois os jovens vão a festas em busca de novas amizades, encontrar uma pessoa especial, e o ficar é uma forma encontrada pela juventude atual de iniciar um relacionamento, que pode durar uma noite ou, até se transformar em namoro. A antropóloga Miriam Abramoway, na reportagem da revista Veja: os códigos do ficar, de abril de 2004, diz que ao ficarem, os jovens estão buscando um jeito próprio e mais livre de se relacionar.
Quadro 06: Identifica as atividades de lazer turístico, mais praticados pelos acadêmicos da UFSM, e o percentual das respostas em cada atividade, agrupadas por gênero.
Os dados do quadro 06 nos permitem observar os tipos de atividades de lazer turístico praticadas pelos acadêmicos da UFSM em seu tempo livre. Quando analisamos os percentuais das atividades turísticas mais praticadas, observa-se que as três atividades mais citadas pelos homens são: pequenos passeios na cidade (66,1%), viagens dentro do Estado (32,9%) e visitar outros Estados (32,6%); entre as mulheres as atividades mais citadas foram: pequenos passeios na cidade (82%), visitar outros Estados (33,2%) e viagens dentro do Estado (33,2%).
Quanto ao elevado percentual encontrado nas atividades turística de pequenos passeios na cidade em ambos os gêneros, os resultados apontam para o fato de que cada vez mais as pessoas buscam formas de lazer alternativas e econômicas. A cidade de Santa Maria, apresenta características especiais, uma delas é o grande número de universitários circulando na cidade, fato pelo qual é denominada de cidade universitária. Outra peculiaridade é o seu calçadão, localizado no centro da cidade, o qual é ponto de encontro de seus jovens, que se reúnem para fazer compras, paquerar, tomar chimarrão (bebida típica do Gaúcho). Essas características da cidade, podem influenciar a prática de pequenos passeios, citada pelos acadêmicos de ambos os gêneros.
Conclusões
Este estudo foi uma tentativa de analisar como os acadêmicos da Universidade Federal de Santa Maria, utilizam suas horas de lazer. Em geral, os dados aqui obtidos não diferem substancialmente daqueles relatados na literatura sobre lazer e gênero.
Ficou evidenciado que as dez atividades mais citadas por ordem de preferência pelas mulheres foram: ouvir música, ir a festas, pequenos passeios na cidade, assistir televisão, caminhadas, namorar/ficar, praticar musculação, leituras informais, ir a shows musicais, praticar ginástica e uso da internet, e,
As dez atividades mais citadas por ordem de preferência pelos homens foram: ouvir música, assistir televisão, ir a festas, jogar futebol, praticar musculação, pequenos passeios na cidade, uso da internet, namorar/ficar, ir a shows musicais e cursos de aperfeiçoamento.
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