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Controle de peso corporal x desidratação de
atletas profissionais de futebol

   
*Nutricionista, Especialista em Gerontologia,
Fisiologia do Exercício e Nutrição Desportiva (Avaí Futebol Clube)
**Educadora Física e Mestre em Ergonomia
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)
(Brasil)
 
 
Adriana Salum*
adrisalum@terra.com.br  
Rafaela Liberali Fiamoncini**
rafascampeche@ig.com.br
 

 

 

 

 
Resumo
    O objetivo deste estudo foi, monitorar a perda de peso corporal de jogadores profissionais de futebol, por posições, antes e depois uma carga de treinamento físico e técnico, para verificação do grau de desidratação. A amostra composta de 23 jogadores profissionais de futebol, com idade entre 19 e 31 anos de idade, que jogam no Avaí Futebol Clube, Florianopólis/SC. A investigação feita em um dia de treinamento normal. O peso corporal foi coletado utilizando-se balança Filizola digital, com grau de precisão de 50g, anotados os dados em folha individual. Para a análise dos dados utilizou-se a estatística descritiva e teste "t" de Student para dados pareados. Foi adotado p<0,05 como nível de significância. As informações sobre os valores da temperatura ambiente e da umidade relativa do ar foram fornecidas pelo CLIMER (Centro de Estudos Metereológicos de SC). Como resultado, os valores médios de peso corporal, encontrado entre os períodos pré e pós-carga de treinamento físico e técnico, apontaram em uma tendência de decréscimo dos valores não significativos, nas diferentes posições em que o jogador atuam: Atacantes (74,00±2,05 para 73,44±1,99, p=0,43); Zagueiro (77,20±1,99 para 76,40±2,00, p=0,39); Laterais (71,54±2,42 para 70,52±2,28, p=0,38); Meio-campistas (72,52±1,26 para 71,48±1,24, p=0,32) e goleiros (86,20±3,92 para 84,64±3,59, p=0,39). Em termos percentuais as diferenças obtidas do antes para o depois da carga de treinamento físico e técnico, apresentaram os seguintes resultados: atacantes (0,76%), zagueiros (1,04%), laterais (1,43%), meio-campistas (1,42%) e goleiros (1,78%). Conclui-se que apesar deste estudo não mostrar altos índices de desidratação, é necessário que se mostre à importância do estado de hidratação e restauração do equilíbrio hídrico após o exercício para a manutenção do desempenho.
    Unitermos: Profissionais de futebol. Controle de peso. Hiponatremia. Desidratação.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 92 - Enero de 2006

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Introdução

    Hoje o futebol é o mais popular esporte da Terra, graças ao seu fascínio, à facilidade de poder ser praticado em pequenos espaços e ao baixo custo do material, pois, uma simples bola feita de meia velha, recheada de papel, jogada por pés descalços, exercita, diverte e socializa uma coletividade. Atualmente, é uma atividade extremamente profissional, que movimenta altas somas de dinheiro e propiciam o sustento de uma infinidade de profissionais dos mais diferentes segmentos da sociedade-dirigentes, empresários, médicos, professores, nutricionistas, treinadores, atletas e outros1.

     O tempo máximo de um jogo de futebol é de 90min. Estudos sugerem que a bola em jogo é de 60min. À distância percorrida em média por jogo é de 10km. A intensidade divide-se em andar (25% da distância total), trotar (37%), piques (11%), deslocar para trás (6%) e 20% de corrida submáxima 2.

     Apesar da discrepância de vários estudos sobre a distância percorrida em jogo por posição de jogador, conclui-se que: os meio-campistas são os que percorrem maior porcentagem da distância total na forma de trote; os atacantes são os que percorrem maior distância na forma de sprints (10%); os jogadores de defesa são os que mais realizam deslocamentos laterais e de costas; e por fim, de longe a maior proporção de movimento em todas as posições são aquelas realizadas em velocidades baixas 3.

     A freqüência cardíaca (FC), em jogo é superior a 150bpm, com taxas de 85% do consumo máximo de oxigênio em dois terços do jogo. Dada a natureza do jogo, isso corresponde a 80% do VO2máx. A freqüência cardíaca de 80% do VO2máx pode ser explicado porque o exercício intermitente, no caso do futebol, leva em demasia a temperatura retal em contribuição anaeróbia 2.

    Os jogadores de futebol têm boa, porém não excelente condição aeróbia, pois apresentam como padrão de VO2máx 55 a 65 ml/kg/min. Valores em torno de 60 ml/kg/min são apenas 10 ml/kg/min a mais que a média da população e 10 ml/kg/min a menos que atletas de endurance3. Segundo o mesmo autor, a produção de energia proveniente do sistema aeróbio parece suprir 80-90% da demanda energética durante uma partida de futebol. Portanto, é extremamente recomendado tornar o sistema oxidativo-aeróbio mais eficiente através do aperfeiçoamento do treinamento.

    Os requerimentos anaeróbios, ao contrário do aeróbio, são difíceis de serem mensurados. O indicador mais comum utilizado é o nível de lactato. Pelo fato de 10% da distância total coberta durante uma partida de futebol ser percorridas em velocidades máximas, sprints, saltos e chutes, sugere-se que a contribuição do sistema energético seja creatina fosfato3.

    Em função do futebol apresentar momentos de alta e de baixa intensidade, a liberação de energia pode vir tanto das gorduras como dos carboidratos. Aproximadamente 67% são do total do glicogênio muscular são depletados no primeiro tempo e 85% ou mais são utilizados2-4

    Com o aumento da atividade muscular ocorre um aumento da produção de calor no organismo, que é eliminado em parte, pelo suor5. A taxa de suor de um atleta irá depender de algumas variáveis como superfície corporal, intensidade do exercício, temperatura ambiente, umidade e aclimatação6. A partir daí, tenta-se compreender os desafios impostos pelo calor e umidade ambientais bem como os meios apropriados de reduzir os efeitos adversos do estresse térmico sobre a saúde e a segurança dos participantes e dos espectadores7.

    A transpiração (suor) é uma resposta fisiológica normal e importantíssima que tenta limitar o aumento da temperatura central colocando água na pele para sua evaporação. Entretanto se esta perda de líquido não é compensada com a ingestão de fluidos, ocorrerá um processo de desidratação, com conseqüente deterioração da regulação da temperatura, do rendimento e possivelmente da saúde8. A importância de assegurar a ingestão adequada de líquidos, tanto quanto o equilíbrio eletrolítico, pode garantir a performance e reduzir os riscos de problemas associados ao calor9.

    Uma pessoa está bem hidratada quando tem suficiente água em seu corpo para cumprir com todas suas funções fisiológicas8. O estado normal de hidratação, apresenta ao longo do dia pequenas variações, decorrentes das condições de temperatura e da atividade realizada10. Quando a temperatura e a umidade do ambiente estão altas, a capacidade de manter a atividade física é reduzida11. Nessa situação o processo de desidratação e sua influência sobre os mecanismos de termorregulação é um importante fator determinante da fadiga.

    A combinação da atividade física e do estresse do calor impõe um desafio significativo para o sistema cardiovascular. Sempre que líquidos forem perdidos através do suor mais rapidamente do que são repostos, a pessoa estará em um processo de desidratação. A hipohidratação (baixo nível de liquido corporal), tem um impacto progressivamente negativo no desempenho ao exercício, efeito potenciador na redução da potência aeróbia máxima e o tempo de fadiga em intensidade sub-máximas também fica mais curto12-13

    Os atletas devem iniciar os exercícios bem hidratados. A ingestão de uma grande quantidade de líquidos antes do exercício levando a um estado de hiperhidratação protege contra o estresse térmico, porque retarda a desidratação, aumenta a transpiração durante o exercício e minimiza a elevação da temperatura central, contribuindo para um melhor desempenho5.

    O presente trabalho busca acrescentar à literatura dados adicionais sobre hidratação em situação esportivas, conhecendo as reações de adaptações metabólicas do organismo humano, especialmente do jogador profissional de futebol.

    No exercício físico, a redução do peso corporal, em grande parte, é devido à perda de água (desidratação), sendo de extrema importância sua monitoração diária, buscando a recuperação desse peso, através de uma reposição hídrica adequada14. Altas temperaturas e a grande umidade relativa do ar, podem causar problemas que vão desde a desidratação, intermação e até a morte. Sabendo que atletas não costumam hidratarem-se corretamente, vê-se a necessidade de esclarecer alguns pontos e buscar estratégias adequadas para uma melhor hidratação em jogadores de futebol profissional.

    Existem evidências que os habitantes das regiões tropicais têm uma maior tolerância à ambientes com estresse pelo calor, devido aos seus níveis de aclimatação. A aclimatação é um conjunto de adaptações fisiológicas permitindo suportar um estresse maior ao calor ambiental, incluindo aumento da capacidade de sudorese, ajudando a minimizar o acúmulo de calor, um tempo maior de performance e diminuição do risco de doenças provocadas pelo calor12.

     Este estudo teve como objetivo monitorar a perda de peso corporal de jogadores profissionais de futebol, por posições, antes e depois de uma carga de treinamento físico e técnico, para verificação do grau de desidratação.


Procedimentos metodológicos

    A pesquisa foi de caráter experimental, quantitativa, culminando numa proposta de intervenção, do tipo "antes e depois", onde foram analisadas as variáveis relacionadas ao peso corporal em jogadores profissionais de futebol, após carga de treinamento físico e técnico, em relação ao grau de desidratação. Na literatura encontram-se desenhos pré-experimentais como este, utilizando-se de amostras dependentes15.


População e amostra

    A amostra foi composta por jogadores profissionais de futebol de uma equipe profissional de Florianópolis/SC. Foram selecionados de forma intencional, por pertencerem a uma instituição desportiva profissional, por ser um clube onde há um programa de treinamento esportivo sistemático, assessorados por uma equipe multidisciplinar, entre eles: médico, preparador físico, técnico, nutricionista, etc.

    Selecionou-se todos os 23 jogadores profissionais da equipe de futebol, com idade entre 19 e 31 anos, que participam dos treinamentos da equipe de profissionais de futebol do referido clube.


Obtenção dos dados

    Para obtenção dos dados (peso corporal) utilizando-se balança Filizola digital, com grau de precisão de 50g, anotados os dados em folha individual. A sessão de treinamento programada para o dia da coleta (01/03/02) dos dados consistiu em exercícios, envolvendo a preparação física e técnica, realizada nas dependências do clube, no período da tarde, com duração total de 2 horas e 30 minutos. Os valores da temperatura ambiente e da umidade relativa do ar foram fornecidos pelo CLIMER (Centro de Estudos Metereológicos de SC), a temperatura estava em 32ºC e a umidade relativa do ar, em 71%.


Tratamento estatístico

    O tratamento dos dados foram realizados através da estatística descritiva, utilizando o teste "t" de Student para variáveis dependentes, através do pareamento dos dados (oriundos de um procedimento tipo antes-e-depois), com o auxílio do pacote estatístico do Microsoft Excel 2000. Foi adotado p<0,05 como nível mínimo de significância. "Este teste "t" de dados pareados, serve para avaliar a significância das diferenças das médias de dois conjuntos de escores relacionados, tal como quando os sujeitos são medidos em duas ocasiões" 16.


Resultados e discussão

    Os valores médios de peso corporal, encontrado entre os períodos pré e pós-carga de treinamento físico e técnico, apontaram para uma tendência de decréscimo dos valores, nas diferentes posições em que o jogador atua.

Tabela 1. Peso corporal do antes para o depois de uma carga de treinamento, dos jogadores profissionais de futebol.


p<0,05* x=média; e=erro padrão; s=desvio padrão; p=probabilidade de significância.

    A quantidade de suor produzida depende de diversos fatores, como o estresse ambiental (temperatura, umidade e radiação solar), a intensidade do exercício, o estágio de aclimatação ao calor e o preparo cardiorrespiratório. Alterações em qualquer um desses fatores tende a aumentar a produção de suor (Bergeron, 2001).

    A tabela 2 mostra a diferença em porcentagem da perda corporal nas diferentes posições dos jogadores de futebol, do antes para o depois de uma carga de treinamento físico e técnico.

Tabela 2. Porcentagem da diferença entre o pré e o pós-carga de treinamento físico e técnico, no peso corporal.


Resposta fisiológica (diminuição)

     Os dados acima mostram que em todas as posições, ocorreu tendência de diminuição nos valores do peso corporal do antes para o depois da carga de treinamento físico e técnico, dos jogadores profissionais de futebol. Usualmente utiliza-se a redução do peso corporal expressa em percentual para se quantificar o grau de desidratação correlacionando-se com seus efeitos (Marins, 1998).

    Estes dados corroboram com estudos congêneres, em que também foram avaliados a perda de peso após treino de futebol e obtiveram um decréscimo de 200 a 400gr de peso corporal.


Conclusões

    Obtiveram-se os seguintes resultados no presente trabalho:

  • Apenas o controle do peso corporal não é um bom indicador para avaliar o grau de desidratação de um atleta.

  • O grau de desidratação varia de acordo com a posição em que o jogador atua.

  • Apesar da temperatura e umidade do ar estarem elevadas, a diminuição do peso corporal não foram significativos do antes para o depois do treinamento.

  • Deve-se monitorar a quantidade de líquidos ingeridos durante e após o treinamento.

  • O peso total deve ser coletado imediatamente ao término do treinamento após o atleta ter urinado.

  • Os jogadores, independente da posição, obtiveram diferenças percentuais entre 0,76 a 1,78% do peso corporal, em relação do antes para o depois da carga de treinamento físico e técnico.

  • Sugere-se um trabalho de conscientização aos atletas e treinadores visando esclarecer e orientar a importância da hidratação, para uma melhor performance e a manutenção da saúde.


Referências bibliográficas

  1. LEAL, J.C. Futebol: arte e ofício. Rio de Janeiro: Sprint, 2000.

  2. KIRKENDALL, D. Fisiologia do futebol. In: GARRETT Jr., W.E. & KIRKENDALL, D. A ciência do exercício e dos esportes. Porto Alegre: Artmed, 2003.

  3. AOKI, M.S. Fisiologia, treinamento e nutrição aplicados ao futebol. São Paulo: Fontoura, 2002.

  4. ARAGÓN, L. Efeitos da desidratação no rendimento físico e na saúde. Revista de Nutrição em Pauta, 2001; ano IX, n.51, p.50-53.

  5. ARÁGON-VARGAS, L.F., MAUGHAN, R.J. & RIVERA-BROWN, A. et al. Atividade física no calor: térmica e hidratação. Documento Suplementar de Apoio ao Consenso, Cidade do México, Fev. 1999. Brasil: Gatorade Sports Science Institute; 2001.

  6. BARBETTA, P.A. Estatística aplicada às ciências sociais. 4ª ed. Florianópolis: Ed. da UFSC, 2001.

  7. BARBANTI, V. Treinamento físico, bases científicas. São Paulo: CLR Balieiro, 2001.

  8. GUERRA, I. & LEITE NETO, T.B. Hidratação e Performance. Revista de Nutrição em Pauta, 2002; ano X, n.54, p.11-13.

  9. GREENLEAF, J.E. Problem: thirst, drinking behavior, and involuntary dehydration. Med Sci Sports Exerc, v.24, n.6, p.645-656, 1992.

  10. MAUGHAN, R. & LEIPER, J.B. Fluid replacement requirements in soccer. J. Sports Science, 12: 29-34, 1994.

  11. MAUGHAN, R.J. & NOAKES, T.D. Fluid replacement and exercise stress: a brief review of studies on fluid replacement and some guidelines for the athlete. Sports Med, v.12, n.1, p.16-31, 1991.

  12. MARINS, J.C.B. Homeostase hídrica corporal em condições de repouso e durante o exercício físico. Revista Brasileira de Atividade Física e Saúde. v.3, n.2, p.58-72, 1998.

  13. McARDLE, W.D. KATCH, F.I. & KATCH, V. L. Fisiologia do exercício. energia, nutrição e desempenho humano. 4ª ed. Editora Guanabara Koogan, 1998.

  14. NADEL, E.R., FORTNEY, S.M. & BENGER, C.B. Effect of hydration state of circulatory and thermal regulations. J Appl Physiol. 49:715-721, 1980.

  15. SAWKA, M.N & MONTAIN, S.J. Fluid and electrolyte supplementation for exercise heat strees. Am J Clin Nutrition. Vol.72, n.2, 564s-572s, 2000.

  16. THOMAS, J.R. & NELSON, J.K. Métodos de pesquisa em atividade física. 3ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2002.

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revista digital · Año 10 · N° 92 | Buenos Aires, Enero 2006  
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