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A tipologia junguiana e sua
contribuição para o esporte

   
* Psicóloga e Aluna Especial do Mestrado em Ciências do Movimento Humano
Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC
** Psicóloga e Doutoranda em Psicologia do Desenvolvimento
Universidade Federal do Rio Grande do Sul - UFRGS
** Docente do Programa Stricto Sensu em Ciências do Movimento Humano
Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC
Laboratório de Psicologia do Esporte e do Exercício - LAPE - Rede Cenesp
 
 
Evânea Joana Scopel*
Daniela Centenaro Lewandovski**
Alexandro Andrade***

evanea@terra.com.br
(Brasil)
 

 

 

 

 
Resumo
    Dentre as várias possibilidades de atuação que foram sendo desenvolvidas pelos psicólogos que atuam no âmbito esportivo, o diagnóstico de perfis individuais e grupais é considerado de fundamental importância para que intervenções posteriores possam ser realizadas de maneira eficaz. Nesse sentido, a Tipologia Junguiana, de Carl Gustav Jung, pode ser um instrumento importante na avaliação de características de personalidade de atletas. Espera-se que a reflexão desenvolvida neste breve estudo teórico possa contribuir para o desenvolvimento da Psicologia do Esporte que necessita estruturar-se, enquanto área das ciências do esporte/movimento humano, solidificada em bases teóricas consistentes.
    Unitermos: Psicologia do Esporte. Avaliação psicológica. Tipologia Junguiana.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 91 - Diciembre de 2005

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Introdução

    Para que o atleta, independentemente da modalidade esportiva que pratica, possa ir além do limiar de sua performance, produzindo assim um melhor desempenho, muitas pesquisas na área técnica, tática, física e nutricional vêm sendo desenvolvidas. No que diz respeito à questão psicológica alguns estudos estão sendo realizados, mas de uma maneira ainda muito tímida.

    Sabe-se que antes mesmo de qualquer intervenção propriamente dita com o atleta ou com o grupo é necessário que se realize o psicodiagnóstico, também chamado de avaliação psicológica, que corresponde à primeira fase do trabalho a ser efetuado pelo psicólogo (TUBINO, 1984). Este inclui as sondagens psicológicas que proporcionam a investigação de vários componentes psíquicos, que são responsáveis pelo delineamento de um perfil psicológico (BRANDÃO, 2003). Samulski (2002) sugere também a realização de um diagnóstico completo das capacidades psíquicas do atleta e de seu grupo, antes de se iniciar qualquer outro tipo de trabalho. Gonzalez (apud Rúbio, 2000), da mesma forma, considera que quando se pretende melhorar o rendimento de um atleta ou do grupo, é imprescindível que se estabeleça o perfil psicológico destes.

    Neste perfil é necessário além de investigar a concentração, o estresse, as emoções pré é pós-competitivas, a liderança, a interação social, também é relevante compreender como o entendimento de alguns aspectos da personalidade pode beneficiar tanto o atleta como o grupo (BRANDÃO, 2003). Conhecendo esses aspectos pode-se traçar um plano de preparação psicológica adequado priorizando a individualidade dos atletas bem como da equipe.

    Estudos no sentido de identificar essas características psicológicas individuais e grupais já estão sendo desenvolvidos.

    Garland e Barry (1990) desenvolveram um estudo com líderes de futebol colegial que tinha como objetivo determinar se a personalidade dos atletas e comportamentos específicos dos líderes interferiam na performance da equipe. Sullivan e Zuckerman (1998) avaliaram características de personalidade em homens e mulheres participantes de esportes de elite. Já Kirkcaldy (1982) estudou os perfis de personalidade em diferentes níveis de participação atlética. Egan e Stelmack (2003) investigaram perfis de personalidade de escaladores do Monte Everest. Cada um desses estudos teve como base teorias que o fundamentaram.

    Nesse sentido a presente reflexão tentará explanar a possível contribuição que a Tipologia Junguiana pode proporcionar ao âmbito esportivo. Além disso, também abordará brevemente o histórico da Psicologia do Esporte, da Psicologia do Esporte no Brasil e as possibilidades de atuação que vêm sendo desenvolvidas pelos psicólogos que atuam nessa área.


Histórico da Psicologia do Esporte

    O campo esportivo vem se tornando uma área de trabalho cada vez mais evidente aos olhos dos profissionais do ramo da Psicologia. Entretanto, é um equívoco pensar que seu desenvolvimento tenha se dado apenas nos últimos anos. Sabe-se que já no final do século XIX estabeleceram-se as primeiras investigações sobre a relação existente entre Psicologia e Esporte. Estes primeiros estudos diziam respeito aos aspectos psicofisiológicos e à atividade física, não sendo possível, no entanto, encontrar maiores registros sobre eles (SAMULSKI, 2002).

    Na Grécia Antiga, através dos conceitos de corpo e alma, foram investigadas as funções perceptuais e motoras dos movimentos. Da Silva (apud Barreto, 2003) refere que nas obras "República" e "Leis" de Platão e "Política" de Aristóteles, dava-se ênfase aos exercícios físicos, pois acreditavam que estes faziam parte da formação integral do ser humano. Estes filósofos investigaram as relações de corpo e alma, que hoje se resumem aos estudos sobre a sensação e as respostas motoras.

    Já na Idade Média, houve grandes transformações culturais, e o corpo, tão cultuado pelos filósofos, foi retirado do contexto educacional cristão em virtude do domínio do pensamento religioso. Dessa forma, nenhuma atividade esportiva poderia estar vinculada a acontecimentos educacionais e culturais, a não ser que contribuísse "para a excelência militar: andar a cavalo, lutar com espadas, fazer lançamentos de dardos e de bola de ferro" (BARRETO, 2003, p.36).

    No Renascimento, com o Iluminismo europeu, o corpo e qualquer atividade corporal passou a ser vista como fundamental à formação do jovem. A atividade física foi incorporada aos programas educacionais, fazendo com que cada vez mais o corpo tivesse sua importância reconhecida neste âmbito. Foi também neste período que a Psicologia conseguiu estruturar-se como maior solidez enquanto ciência (BARRETO, 2003).

    De acordo com Barreto (2003), a partir da fundação da Psicologia com Wundt, no ano de 1879, foram desenvolvidas pesquisas sobre percepção e sensação. Estes trabalhos resultaram nos primeiros estudos sobre percepções cinestésicas, sendo que posteriormente foram relacionados ao desempenho esportivo na Europa e Estados Unidos. O fisiologista russo Ivan Pavlov também trouxe contribuições para a área esportiva através da Teoria dos Reflexos Condicionados, no que diz respeito ao condicionamento de homens e animais. Isso auxiliou para um melhor entendimento das questões relacionadas ao estresse competitivo.

    Skinner, estudando o comportamento humano, desenvolveu a "Teoria do Reforço", que propiciou um maior entendimento dos comportamentos psicomotores, bem como os princípios do comportamento operante ou condicionamento instrumental. "A sua teoria é altamente empregada na Psicologia Esportiva, tanto na aprendizagem de uma habilidade psicomotora e no desenvolvimento da motivação, como na preparação para as competições" , elucida Barreto (2003, p. 38).

    Também Gordon Allport contribuiu para a área, pois enfatizava a necessidade de se pensar o ser humano na sua individualidade. Os estudos de Allport foram criticados pelos experimentalistas, pois estes acreditavam que os homens possuem centenas de comportamentos semelhantes. Entretanto, Barreto (2003, p.38) menciona que "cada pessoa tem que ser tratada de modo diferente, tanto no campo clínico como no esportivo".

    Apesar de haver um certo consenso em relação às influências históricas sobre a Psicologia do Esporte, conforme a literatura pesquisada não há uma informação precisa sobre onde teria surgido esta ciência. Optou-se então, neste trabalho, por enfatizar a historicidade da Psicologia Esportiva norte-americana, em virtude desta ter grande influência no trabalho realizado em nosso país. A Psicologia do Esporte teve seu início na América por volta de 1890 (BARRETO, 2003; WEINBERG & GOULD, 2001). Segundo esses autores, Norman Triplett teria sido o primeiro psicólogo a conduzir as experiências iniciais neste campo de conhecimento, tendo como ponto de partida a análise dos aspectos psicológicos e a aprendizagem de habilidades motoras.

    Já o cientista Scripture desenvolveu em 1899 pesquisas sobre como os traços de personalidade podiam ser favorecidos pela prática esportiva. Nesta mesma época também surgiram estudos que possibilitavam a inter-relação entre as reações motoras, a atenção, as capacidades motoras e o esporte (WEINBERG & GOULD, 2001).

    Entretanto, o pai da Psicologia Esportiva norte-americana é considerado por vários autores como sendo Coleman Griffith (BARRETO, 2003; SAMULSKI, 2002). Este desenvolveu o primeiro laboratório de Psicologia Esportiva, dirigiu o Setor de Aprendizagem Motora, além de ter desenvolvido inúmeros trabalhos e publicações direcionados à área. "À frente de seu tempo, Griffith trabalhou em relativo isolamento, mas sua pesquisa de alta qualidade e seu profundo comprometimento em melhorar desempenhos permanecem como um excelente modelo para psicólogos do esporte e do exercício" (WEINBERG & GOULD, 2001, p. 33).

    A partir da década de 60, a Psicologia Esportiva tornou-se mais efetiva em seu campo de atuação. Os psicólogos passaram a investigar o modo com os fatores psicológicos (especialmente ansiedade, auto-estima e personalidade) interferiam no desenvolvimento satisfatório das habilidades esportivas e motoras. Nesta mesma época, vários profissionais começaram a assessorar atletas e times. Bruce Ogilvie foi um dos primeiros a realizar tal atividade. Neste período, as primeiras sociedades ligadas à Psicologia do Esporte da América do Norte foram criadas (WEINBERG & GOULD, 2001).

    E cada vez mais, com o passar do tempo, essa área foi ampliando suas formas de atuação sem deixar de lado sua especificidade. Em 1984 pela primeira vez a televisão norte americana ressaltou a importância da Psicologia do Esporte nos Jogos Olímpicos. Um ano mais tarde, "o comitê Olímpico dos Estados Unidos emprega o primeiro psicólogo em tempo integral; em 1988 pela primeira vez a equipe olímpica norte americana é acompanhada por profissionais oficialmente reconhecidos" (WEINBERG & GOULD, 2001 p.35).


A Psicologia do Esporte no Brasil

    Atualmente a Psicologia do Esporte no Brasil vem delimitando seu espaço com grande veemência. "A Psicologia Esportiva cresce animadoramente em nosso país, apesar da grande resistência de dirigentes e treinadores, desinformados, e de escassa cultura psicológica" (BARRETO, 2003, p.47).

    Rúbio (2000) refere que o primeiro trabalho desenvolvido no Brasil se deu em 1957 pelo psicólogo João Carvalhaes. Este realizava um trabalho com juízes de futebol na Federação Paulista de Futebol, e com a Seleção Brasileira de Futebol na Copa do Mundo.

    Em 1979 em Porto Alegre foi fundada a SOBRAPE (Sociedade Brasileira de Psicologia Esportiva, da Atividade Física e da Recreação), sob presidência do professor Benno Becker Júnior. De acordo com Barreto (2003), muito antes, no Rio de Janeiro, já havia a formalização da fundação desta entidade, no entanto, como não foi regularizada, permitiu a legalização por parte do grupo gaúcho. Foi então em 1983, no Rio de Janeiro, que foi fundada a SOPERJ (Sociedade de Psicologia do Esporte do Estado do Rio do Janeiro), entidade filiada da SOBRAPE, sob a presidência do professor João Alberto Barreto.

    Atualmente existem alguns laboratórios de Psicologia do Esporte e do Exercício que são encarregados de realizarem pesquisas junto às universidades. Dentre eles pode-se citar o Laboratório de Psicologia do Esporte e do Exercício - LAPE, que é vinculado ao Centro de Educação Física, Fisioterapia e Desportos da Universidade do Estado de Santa Catarina, tem como objetivo realizar pesquisas científicas, desenvolver projetos de pesquisa e extensão, desenvolver instrumentos e equipamentos como resultados das pesquisas nas áreas de Psicologia do Esporte de Rendimento, Psicologia do Exercício e da Atividade Física. Este centro de estudo está sob coordenação do Prof. Dr. Alexandro Andrade, desde 2001.

    Contudo constata-se na literatura que alguns tipos de trabalho atualmente são mais priorizados no contexto esportivo brasileiro. Estes, de acordo com Barreto (2003), dizem respeito ao treinamento psicotônico, à auto-hipnose, à dinâmica de grupo e ao treinamento da assertividade. Esse autor continua referindo que "o futebol, a ginástica olímpica feminina, a natação, o tiro ao alvo, a corrida de fundo, o jiu-jitsu, o vale tudo, o golfe, o tênis e o hipismo são os esportes que têm sido mais beneficiados com a ciência da Psicologia Esportiva no Brasil, mas de uma forma ainda muito tímida" (p.49).

    Além disso, verifica-se que Psicologia do Esporte no Brasil ainda é pouco divulgada nos cursos de graduação. Dessa forma, são poucos os trabalhos de pesquisa realizados, resultando na falta de bibliografia específica sobre diversos assuntos.


Possibilidades de atuação do Psicólogo do Esporte

    Rúbio (1999) elucida que a demanda de trabalho da Psicologia no campo esportivo é crescente, especialmente na preparação emocional, na motivação e na compreensão da personalidade dos atletas. De acordo com Lesyk (apud Rúbio, 1999), existiriam três possibilidades de atuação desses profissionais: a clínica, a pesquisa e a educação. Para a primeira modalidade, o profissional deve estar habilitado nos cursos de Psicologia e Educação Física, estando assim capacitado para atuar tanto com atletas como nos clubes e seleções. Já nas outras duas modalidades, os conhecimentos podem estar restritos às áreas da Psicologia ou Educação Física, sem exigência de uma formação específica.

    Além desta divisão, Singer (apud Samulski, 2000) sugere outras subdivisões no campo de atuação do psicólogo no esporte, como: "cientista/pesquisador; docente; intermediário entre técnico e atleta; especialista em psicodiagnóstico, especialista em análise das condições do treino; especialista em otimizar o desempenho; conselheiro para solucionar conflitos; consultor-especialista em consultoria de programas psicológicos e responsável pela saúde e bem-estar dos atletas" (p. 06). Nitsch, também citado por Samulski (2002), propõe, além do ensino e da pesquisa, a intervenção como forma de atuação do psicólogo no âmbito esportivo. O ensino diz respeito à transmissão dos princípios psicológicos fundamentados cientificamente ao aluno vinculado a uma instituição de ensino superior. Já em relação à pesquisa, refere que uma atividade dentro desta proposta seria criar procedimentos que possam medir as características psicológicas de atletas em situação de treino e competições. Atualmente tem-se desenvolvido estudos sobre características biopsicológicas de atletas, a influência do esporte sobre a personalidade, o diagnóstico de atletas, a adaptação da bateria de testes, a influência do estresse sobre o rendimento, entre outras. Por fim, no que diz respeito à tarefa de intervenção, o autor sugere que esta pode enfatizar o aconselhamento e acompanhamento dos atletas e das comissões técnicas.

    Tubino (1984) ressalta que a tarefa de preparação psicológica seria uma das principais funções do psicólogo. O principal objetivo deste trabalho é favorecer a preparação do atleta para responder de modo satisfatório aos estímulos que perpassam as situações de treinamento e competição. Este autor estabelece quatro fases que fazem parte desta função. A primeira fase diz respeito ao psicodiagnóstico dos atletas, que inclui sondagens psicológicas, formulação de procedimentos adequados para as próximas fases e análises de perfis diagnosticados. Na fase do preparo psicológico de treinamento (segunda fase), dá-se ênfase ao acompanhamento psicológico dos atletas diagnosticados na primeira fase, com observações de suas condutas nas atividades de treinamento e extratreinamento e orientações aos treinadores sobre os relacionamentos e condutas desejáveis, julgados como tendo importância psicológica; à canalização de todos os recursos psicológicos possíveis para a motivação dos atletas durante o treinamento, com o acompanhamento, controle e estimulação positiva de todos os aspectos psicológicos de importância no período preparatório e à estimulação para o desenvolvimento da ambição desportiva nos atletas.

    No que concerne à fase do preparo psicológico de competição (terceira fase), aborda-se os seguintes aspectos psicológicos da competição: as reações dos atletas, os pontos de partida para sua motivação, a experiência desportiva na modalidade e a adequação da ansiedade. Por fim, na quarta e última fase proposta por Tubino (1984), preparo psicológico pós-competição, avalia-se todas as condutas para possíveis reformulações, tais como: avaliação individual dos comportamentos psicológicos, considerando modificações positivas e negativas; registros das confirmações e não confirmações de cada atleta em relação às sondagens iniciais do psicodiagnóstico; formulação de sugestões para a preparação do próximo treinamento; feedback psicológico individual para os atletas cujos comportamentos foram considerados problemáticos. Após a realização destas quatro fases da preparação psicológica é que o profissional da Psicologia poderá intervir, de acordo com sua linha teórica.


A Tipologia Junguiana e o Esporte

    Para cada uma das avaliações que são realizadas no esporte, pesquisadores e profissionais utilizam-se de bases teóricas vigentes, principalmente da Psicologia, para estruturarem seus trabalhos. Nesse sentido, a Teoria Junguiana trouxe consideráveis contribuições ao esporte, segundo Matarazzo (apud Rúbio, 2000). Essa autora considera que em equipes esportivas, assim como em qualquer outro grupo em que pessoas estejam envolvidas, há inevitavelmente dificuldades no relacionamento entre atletas. Refere ainda que muitos conflitos acabam surgindo nessa relação interpessoal em função das particularidades de cada pessoa, pois cada um tem sua maneira de ser e de agir. Por meio da tipologia individual e do grupo, obtêm-se informações de características do perfil psicológico que podem servir de ferramenta para facilitar e melhorar o relacionamento entre os atletas, bem como dispor mais adequadamente as tarefas dentro de um grupo, reflete Matarazzo (1997). "Compreendendo os tipos psicológicos de cada pessoa e do grupo, identificando as características existentes e conscientizando-as desses aspectos, as pessoas podem ajudar-se mutuamente, melhorando a qualidade do relacionamento consigo mesmo, com o outro e com o ambiente" (p.68).

    A personalidade é, segundo Fadiman e Frager (1986), um conjunto de traços e características únicas de cada pessoa que a distingue das outras. Diferentes formas foram sugeridas para que se pudesse descrever estas diferenças individuais entre as pessoas. Cloninger (1999, p. 04) menciona que as classificações dos indivíduos em geral se dão através de dois tipos de abordagem: por tipos ou traços. "Os tipos de personalidade são categorias de pessoas com características similares. Um pequeno número de tipos é suficiente para descrever todas as pessoas. Cada pessoa é ou não é membro de uma categoria de tipos". Sendo assim a Tipologia Junguiana se baseia nesta forma de classificação.

    A tipologia de Jung surgiu dos estudos de Sigmund Freud e Carl Gustav Jung sobre o inconsciente e o consciente. Tal tipologia não diz respeito à compreensão total do comportamento humano, mas serve como um instrumento que auxilia no entendimento das características individuais e grupais.

"Enquanto as antigas classificações foram feitas com base na observação de padrões de comportamento temperamental ou emocional, o modelo de Jung diz respeito ao movimento da energia psíquica e ao modo como cada indivíduo se orienta no mundo, habitual ou preferencialmente" (Sharp, 1987, p.12).

    Para Jung, a personalidade é composta por vários sistemas diferenciados que atuam entre si. Hall e Lindzey (1984) referem em seu texto que Jung definiu esses sistemas como ego, inconsciente individual e seus complexos, inconsciente coletivo e seus arquétipos (persona, anima e animus, sombra). "A estes sistemas interdependentes, acrescentou as atitudes de introversão e extroversão e as funções do pensamento, do sentimento, da sensação e da intuição" (p. 88).

    Para determinar um tipo psicológico, primeiramente identifica-se se a pessoa está orientada para o mundo interno (introversão) ou para a realidade externa (extroversão). Posteriormente a isso, é importante analisar qual das quatro funções psicológicas a pessoa prefere utilizar (pensamento, sentimento, sensação ou intuição). Dessa forma, as atitudes são combinadas às quatro funções, constituindo assim os dezesseis tipos psicológicos, que são: Sensação Introvertida com Pensamento, Sensação Introvertida com Sentimento, Intuição Introvertida com Sentimento, Intuição Introvertida com Pensamento, Pensamento Introvertido com Sensação, Sentimento Introvertido com Sensação, Sentimento Introvertido com Intuição, Pensamento Introvertido com Intuição, Sensação Extrovertida com Pensamento, Sensação Extrovertida com Sentimento, Intuição Extrovertida com Sentimento, Intuição Extrovertida com Pensamento, Pensamento Extrovertido com Sensação, Sentimento Extrovertido com Sensação, Sentimento Extrovertido com Intuição, Pensamento Extrovertido com Intuição.

    As atitudes correspondem ao foco de atenção do indivíduo. Para Zacharias (2000), as pessoas podem centrar seu foco de atenção, sua energia psíquica, tanto no mundo externo, nas pessoas, atividades ou coisas (extroversão), como em seu próprio mundo de idéias, emoções e impressões (introversão).

    De acordo com Zacharias (2000), o introvertido dirige a sua atenção para o seu mundo interior de impressões acerca do mundo externo. É introspectivo e prefere mais a companhia de livros à de pessoas. Os introvertidos tendem à reflexão antes da ação. Geralmente são retraídos, exceto em companhia de pessoas íntimas. "O introvertido é mais voltado para atividades solitárias e que se processam em seu interior, prefere compreender a realidade antes de posicionar-se sobre ela" (p.08). De acordo com Matarazzo (1997), a introversão é muitas vezes confundida com timidez. "Qualquer pessoa pode ser tímida, o que significa certa ansiedade de ser ou não aceita em um grupo, e introversão é levar a atenção mais para o seu mundo interno" (p.71).

    Já o extrovertido, segundo Zacharias, orienta-se pelo que é objetivamente dado, dirige a sua atenção para o mundo externo de fatos, coisas e pessoas. Aprecia a ação e expressa-se melhor falando do que escrevendo, gosta mais de ouvir do que ler. Caracteriza-se por uma certa impulsividade frente ao mundo, precisa experimentar as coisas e situações. Gosta de movimento e mudanças constantes, e pode ser agressivo e impensado. Gosta de arriscar e sempre tem uma resposta imediata para qualquer situação. Em pesquisa realizada por SCOPEL e ANDRADE (2005), observou-se em um grupo de goleiros profissionais a predominância da atitude extroversão. Esses autores referem em seu estudo que atletas que utilizam a extroversão preferem variedade e ação durante as atividades e são impacientes com treinos longos e lentos, além de serem pessoas mais práticas do que teóricas. BRIDI (2004) em sua pesquisa com jogadores de futebol de salão detectou também essa atitude como predominante.

    Já em relação às funções psicológicas, que dizem respeito à forma de receber informação do meio e processá-la para agir no mundo, haveria funções perceptivas ou irracionais, que, segundo Matarazzo (1997), baseiam sua ação na intensidade da percepção e da experiência e não nos juízos racionais. São elas a intuição e a sensação. Quem utiliza a intuição prefere receber a informação pela observação inconsciente e buscar possibilidades futuras, enquanto que as pessoas que utilizam a sensação preferem receber uma informação através dos órgãos dos sentidos e observar o que é concreto.

    Zacharias (2000) diz que o intuitivo parte do que está percebendo no momento, mas esta não é a sua preocupação. Está mais interessado nos significados, nas relações e nas possibilidades futuras inerentes ao que está percebendo. Observa o todo e não as particularidades de uma situação. Busca novas soluções, novas estratégias para os problemas, e tende a "farejar" possibilidades e a ter atitudes imprevisíveis. Prefere planejar a executar, e torna-se muito útil quando é necessário avaliar uma situação sem dados suficientes.

    Já o sensitivo, conforme Zacharias, confia em seus órgãos do sentido para compreender objetivamente uma situação. Nos estudos anteriormente citados de SCOPEL e ANDRADE (2005), os goleiros avaliados apresentaram a sensação como função psíquica predominante. Os sensitivos estão mais interessados no "aqui e agora", no dado imediato e real. Preferem trabalhar com dados reais e objetivos, sendo assim práticos e realistas. A impressão que o sensitivo tem do mundo não é influenciada pela imaginação. Observa os detalhes e não se prende a uma visão geral do todo. Tem facilidade para lidar com objetos e máquinas que exijam precisão e cuidados. Gosta de manter as coisas funcionando, prefere executar a planejar e necessita de dados concretos para avaliar uma situação.

    Outras duas funções psicológicas seriam o pensamento e o sentimento, consideradas funções avaliativas ou racionais, por basearem-se em princípios racionais, incluindo a tomada de decisões e a avaliação de uma situação. De acordo com Zacharias (2000) quem utiliza a função psíquica pensamento prefere decidir pelo caminho lógico e impessoal, e as pessoas que utilizam o sentimento decidem pelo caminho dos valores pessoais.

    O reflexivo, que utiliza predominantemente o pensamento, está atento à causalidade lógica de seus atos e dos eventos. Inclui na sua avaliação os prós e os contras de uma mesma situação, e busca um padrão objetivo da verdade. Gosta da organização e da lógica, baseando sempre seu julgamento em padrões universais e coerentes, ao invés de valores pessoais. Voltado para a razão, muitas vezes mostra-se frio em seus julgamentos, porém consegue uma análise isenta de julgamentos pessoais e de significado geral (ZACHARIAS, 2000).

    Já o sentimento não deve ser confundido com afeto ou emoção, pois está ligado à dimensão volarativa das pessoas e coisas, um valor pessoal e não geral como o pensamento (ZACHARIAS, 2000). Segundo o autor, o tipo sentimental toma decisões com base em seus próprios valores pessoais (ou de outras pessoas), mesmo que estas decisões não tenham lógica e objetividade alguma. Sempre vai levar em conta o que sente (valor) em relação a algo, como também os sentimentos dos outros; assim, as idiossincrasias humanas são respeitadas. Voltado para as relações pessoais, mostra-se receptivo e bom para lidar com pessoas.


Considerações finais

    A partir do que foi exposto, pode-se ter uma noção do quanto a tipologia junguiana pode vir a auxiliar no entendimento de algumas características de personalidade. Com as informações fornecidas por esse tipo de avaliação, é possível determinar parte do perfil psicológico de atletas, obtendo-se informações significativas que servirão de auxílio na preparação psicológica de atletas.

    Espera-se que a reflexão desenvolvida neste texto possa contribuir para o desenvolvimento da Psicologia do Esporte, pois sendo esta uma área bastante nova, que ainda requer muitos estudos, é imprescindível que novas formas de avaliação, calcadas em bases teóricas consistentes, possam ser desenvolvidas.


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