Caracterização do perfil sócio-econômico, motivacional, stress e ansiedade percebidos de competidores de corridas de aventura |
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* Bacharel em Educação Física e Esportes ** Professor Doutor do Centro de Educação Física Fisioterapia e Desporto da Universidade do Estado de Santa Catarina *** Mestre em Ciências do Movimento Humano, CEFID - UDESC. (Brasil) |
Daniel Miguel Ferreira* danielmfer@hotmail.com Alexandro Andrade** Andrey Portela*** andreyportela@hotmail.com |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 91 - Diciembre de 2005 |
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Introdução
Atualmente sabe-se que os esportes de aventura, vêm cada dia mais se desenvolvendo e popularizando, juntamente com o crescimento e aparecimento de novas modalidades. Dentro deste contexto, a Corrida de Aventura é uma destas modalidades esportivas que vem ganhando novos adeptos e se desenvolvendo rapidamente no Brasil e no mundo.
As Corridas de Aventura segundo Rodrigues (2002), são competições das quais participam equipes compostas por homens e mulheres, dispostos a cumprir o percurso da prova no menor tempo, exigindo o máximo de suas capacidades físicas e psicológicas. Estas equipes praticam durante o percurso diferentes atividades esportivas como, Trekking, Mountain Bike, Canoagem, Escaladas, Rapel, Rafting, Natação, Mergulho, entre outras, orientando-se por dias e noites ininterruptos, utilizando bússola e mapas, em regiões normalmente pouco exploradas.
Estas provas impõem aos atletas grandes exigências psicológicas como a ansiedade e o stress, pois normalmente são realizadas em condições adversas como: terrenos desconhecidos, temperaturas extremas, racionamentos de água e alimentos, desgaste físico, competitividade entre equipes e também pela complexidade dos preparativos e detalhes que antecedem as mesmas.
A partir destes fatos questionamos: Qual o perfil sócio-econômico dos competidores de Corrida de Aventura do estado de Santa Catarina, seus motivos para praticar esta modalidade esportiva e as causas de stress e ansiedade percebidos nas competições?
Este estudo foi desenvolvido com o objetivo de caracterizar o perfil sócio-econômico e as motivações para a prática, dos atletas de Corridas de Aventura no estado de Santa Catarina, e as causas de stress e ansiedade percebidos.
A caracterização sócio-econômica dos praticantes, identificação dos motivos que os levam a participar destas competições, possibilita entender porquê estas práticas vem crescendo tanto e tão rápido em todo o mundo.
Identificar as causas de stress e ansiedade percebidos, poderá ajudar na elaboração de treinamentos psicológicos específicos para se enfrentar os grandes desafios das Corridas de Aventura com maior eficiência e segurança.
Com relação aos organizadores, estes passarão a ter embasamentos científicos para o planejamento das características físicas e psicológicas de suas provas, atraindo mais adeptos e patrocinadores para seu evento.
Corridas de aventuraSegundo Costa (2000), os esportes de aventura na natureza estão associados à idéia de aventura carregada de um forte valor simbólico, e são uma tendência de grupos de diferentes partes do planeta a fazer coisas fora do comum. Estes esportes, no movimento ecoturístico, possuem um caráter lúdico, uma vez que a atitude dos sujeitos que vivem a aventura no esporte é tomada por um risco calculado, no qual ousam jogar a si mesmos com a confiança do domínio cada vez maior da técnica e da segurança propiciada pela tecnologia.
A Corrida de Aventura é descrita por Rodrigues (2002), como uma expedição competitiva que acontece em lugares que possam oferecer a maior diversidade possível de terrenos e paisagens que possibilitem a prática de várias modalidades, como trekking, mountain bike, técnicas verticais, canoagem, equitação, natação e outras, orientando-se por mapas e bússola, disputadas por equipes compostas por três ou quatro competidores do sexo masculino e feminino.
MotivaçãoNuma larga acepção, o termo motivação denota os fatores e processos que levam as pessoas a uma ação ou à inércia em diversas situações. De modo mais específico, o estudo dos motivos implica no exame das razões pelas quais se escolhe fazer algo ou executar algumas tarefas com maior empenho do que outras, ou ainda, persistir numa atividade por longo período de tempo (CRATTY, 1983).
De acordo com Lobo (1973), podemos classificar os motivos de acordo com sua fonte. Por exemplo, alguns motivos provêm de fontes externas ao indivíduo e à tarefa, incluindo-se aí várias recompensas sociais manifestas ou latentes (como por exemplo o elogio) e sinais de sucesso mais palpáveis (dinheiro e presentes). Outras fontes de motivação podem ser resultado da estrutura psicológica do indivíduo e de suas necessidades pessoais de sucesso, sociabilidade, reconhecimento etc., bem como aquelas que parecem derivar de algumas características da própria tarefa. Nesta última categoria estão qualidades tais como, novidade e complexidade de experiência mental ou motora com a qual o indivíduo se defronta.
AnsiedadeSegundo Weinberg e Gould (2001), ansiedade é um estado emocional negativo caracterizado por preocupação, apreensão e nervosismo estando ligado com a ativação ou agitação do corpo. Para Machado (1997), a ansiedade é caracterizada como sendo o medo de perder alguma coisa, quer seja esse medo real ou imaginário. A intensidade desta ansiedade dependerá da severidade da ameaça e da importância da perda para o indivíduo.
Os estudos sobre ansiedade para Murray (1965), mostram de modo claro, que os níveis de medo variam sempre antes, durante e após uma situação tensionante. A perspectiva de um evento próximo tensionante, ao que parece, exerce influência considerável na dinâmica da personalidade do indivíduo, ao passo que o contato real com a situação faz que os níveis de ansiedade diminuam.
Segundo Endler (1977), os níveis de ansiedade se elevam durante os últimos anos da adolescência, e tendem a diminuir aos 30 anos, e aumentar depois dos 60. As faixas etárias durante as quais a ansiedade tende a subir corresponde ás idades em que tanto homens quanto mulheres atingem o ápice de seu potencial físico no esporte.
StressSegundo Delboni (1997), A palavra stress é um termo que foi usado inicialmente na física para traduzir o grau de deformidade sofrido por um material quando submetido a um esforço ou tensão. Hans Selye (médico) transpôs este termo para a medicina e biologia, significando esforço de adaptação do organismo para enfrentar situações que considere ameaçadoras a sua vida e a seu equilíbrio interno.
De acordo com Weinberg e Gould (2001), stress é definido com um desequilíbrio substancial entre as demandas físicas e psicológicas impostas ao indivíduo e sua capacidade de resposta, sob condições em que esta falha na satisfação de tais demandas gerem conseqüências importantes.
Para Delboni (1997), stress em princípio não é uma doença. É apenas a preparação do organismo para lidar com as situações que se apresentam, sendo então uma resposta do mesmo a um determinado estímulo, a qual varia de pessoa para pessoa. O prolongamento ou a exacerbação de uma situação específica é que, de acordo com as características do indivíduo naquele momento, podem gerar alterações indesejáveis.
MétodoEste estudo constituiu-se segundo Andrade (1999), de uma pesquisa do tipo descritiva de campo, contando com uma população de competidores da modalidade Corrida de Aventura do estado de Santa Catarina, não havendo restrição de idade, sexo, ou tempo de prática no esporte. Foram entrevistados os competidores que participaram de provas realizadas neste estado entre Agosto de 2002 e Abril de 2003.
A amostragem, segundo Rúdio (1983), foi não probabilística intencional e contou com 22 atletas que foram abordados em situação de competição.
O instrumento utilizado para a obtenção das informações foi um questionário, com perguntas fechadas, abertas e ainda a combinação de perguntas de múltipla escolha, O instrumento utilizado no estudo foi elaborado com base no questionário utilizado por Andrade (2001) e no roteiro de entrevista utilizado por Portela (2000). Este instrumento passou por um estudo piloto envolvendo a avaliação da clareza e a validade, em um teste aplicado em 20 acadêmicos de 7ª fase da área de Educação Física.
O procedimento utilizado para a obtenção e registro das informações foi o seguinte:
Contato com os organizadores das corridas que já se encontravam no calendário, informando os objetivos da pesquisa e os procedimentos a serem utilizados para abordar os competidores.
Contato com os competidores nos dias e locais de competição recebendo explicações quanto aos objetivos do questionário e os procedimentos de preenchimento do mesmo.
Os competidores foram abordados individualmente, ficando próximos ao pesquisador para tirar possíveis dúvidas.
Os competidores foram orientados a: responder todas as questões optando sempre pela alternativa que mais se aproximasse de sua condição, opinião ou atitude; ser totalmente honesto em suas respostas; não escrever seu nome ou qualquer identificação pessoal.
Ao término do preenchimento dos questionários, os atletas o depositavam em uma urna lacrada que lhes davam maior segurança quanto ao sigilo de sua identidade e informações contidas no mesmo.
Os dados foram separados em categorias para análise e posteriormente colocados em tabelas de freqüência simples e percentual, utilizando a estatística descritiva.
Apresentação dos resultadosCaracterização sócio-econômica dos competidores
Os principais resultados apontaram que os participantes da pesquisa tem idade entre 19 e 43 anos, a maioria 77,3% é homem, a maior parte dos competidores residente na cidade de Florianópolis, 63,6% do total da amostra são solteiros, trabalham em média de 5 a 8 horas, recebendo de 3 a 9 salário mínimos, tendo 3 ou 4 pessoas na família e 81,8% tem escolaridade acima do segundo grau completo.
Motivos para a prática da modalidadeOs principais motivos para a prática da modalidade Corrida de Aventura, apresentado pelos competidores são: a busca de aventuras, a identificação com o esporte, o contato com a natureza e a preferência por esportes radicais.
Tabela 1. Motivos para iniciar a prática da modalidade Corrida de Aventura
Causas de AnsiedadeCom relação à ansiedade, os competidores possuem um nível médio de ansiedade percebida, sendo apontadas como causas a expectativa com a dificuldade do percurso, a competição de forma geral, o preparo do equipamento e o preparo físico. Durante a competição, as causas de ansiedade apresentadas são a orientação no percurso, o rendimento físico da equipe, a expectativa do resultado, a expectativa com o equipamento e a alimentação.
Tabela 2. Causas de ansiedade percebida durante a competição
Causas de StressQuanto ao stress, os atletas se percebem com baixo nível de stress, apontando como as causas antes da competição, o medo de imprevistos, preparo de materiais, planejamento da prova, gastos financeiros e formar uma equipe. As causas de stress durante a competição foram, desgaste físico excessivo, se perder durante o percurso, falhas no equipamento, desentendimentos na equipe e falta de água e comida.
Tabela 3. Causas de stress percebido durante a competição
ConclusõesTrata-se de uma população jovem, com uma proporção aproximada de três homens para cada mulher, tendo sua maior parte residente na cidade de Florianópolis. A maioria dos competidores são solteiros, trabalham nas mais variadas profissões, e em média de 5 a 8 horas. Muitos indivíduos somente trabalham, a média salarial dos atletas é de 7,1 salários mínimos e a média de rendimentos das famílias é de 16,3 salários mínimos, sendo as mesmas compostas geralmente por três ou quatro pessoas e em geral o principal responsável pelo sustento delas é o próprio competidor.
Metade dos competidores possui automóvel e mais da metade possui casa própria, tendo a maioria apresentando grau de satisfação regular quanto a sua situação financeira. O nível de escolaridade dos atletas é alto, pois a maior parte deles esta acima do segundo grau.
Os principais motivos para a prática da modalidade Corrida de Aventura, apresentado pelos competidores são: a busca de aventuras, a identificação com o esporte, o contato com a natureza e a preferência por esportes radicais.
Com relação à ansiedade, os competidores possuem um nível médio de ansiedade percebida, sendo apontadas como causas a expectativa com a dificuldade do percurso, a competição de forma geral, o preparo do equipamento e o preparo físico. Durante a competição, as causas de ansiedade apresentadas são a orientação no percurso, o rendimento físico da equipe, a expectativa do resultado, a expectativa com o equipamento e a alimentação.
Quanto ao stress, os atletas se percebem com baixo nível de stress, apontando como as causas antes da competição, o medo de imprevistos, preparo de materiais, planejamento da prova, gastos financeiros e formar uma equipe. As causas de stress durante a competição foram, desgaste físico excessivo, se perder durante o percurso, falhas no equipamento, desentendimentos na equipe e falta de água e comida.
Conforme ressaltado nas conclusões, apontamos algumas sugestões aos competidores de Corridas de Aventura como, utilizar o preparo psicológico visando o controle dos níveis de ansiedade e de stress, visando melhor performance durante a competição e diminuição dos riscos de acidentes, formular estratégias para auxiliar na resolução de tarefas que possam alterar os níveis de tais fatores psicológicos.
Sugerimos também a realização de novos estudos mais profundos e pesquisas que possam esclarecer melhor a relação entre a prática da modalidade Corrida de Aventura as características psicológicas presentes nestas competições, pois a realização destes poderá também acrescentar conhecimento em áreas como a sociologia e psicologia do esporte.
Referências bibliográficas
ANDRADE, Maria Margarida de. Introdução à Metodologia do Trabalho Científico. São Paulo: Atlas, 1999.
ANDRADE, Alexandro. Ocorrência e controle subjetivo do stress na percepção de bancários ativos e sedentários; A importância do sujeito na relação "atividade física e saúde". 2001 (Tese de Doutorado) Centro Tecnológico, Curso de pós-graduação em Engenharia de Produção - UFSC.
COSTA, Vera Lúcia de Meneses; Esportes de aventura e risco em alta montanha. São Paulo: Editora Manole, 2000.
CRATTY, Brayan J.; Psicologia no Esporte. Rio de Janeiro: Prentice-Hall, 1983.
DELBONI, Thais Helena; Vencendo o stress. São Paulo: Makron Books, 1997.
ENDLER, N.S. The interaction model of anxiety: Some possible inplications. Human Kinetics publischers, 1997.
LOBO, Roberto Jorge Haddok; Psicologia dos Esportes. São Paulo: Atlas, 1973.
MACHADO, A.A; Psicologia do esporte: temas emergentes 1. Jundiaí: Ápice, 1997.
MURRAY, Edward J; Motivação e Emoção. Rio de Janeiro: Zahar Editores, 1965.
PORTELA, Andrey. O uso de drogas ilícitas entre os praticantes de escalada em rocha. Florianópolis, 2000. 76 p., Monografia (Graduação em Educação Física) - Centro de Educação Física Fisioterapia e Desportos, Universidade do Estado de Santa Catarina, 2000.
RODRIGUES, Ana Carla; site 360°. 2003. URL. http://360graus.terra.com.br/adventurerace/default.asp?did=5009&action=história
WEINBERG, R. S.; GOULD, D. Fundamentos da psicologia do esporte e do exercício. 2 ed. São Paulo: Artmed, 2001.
revista
digital · Año 10 · N° 91 | Buenos Aires, Diciembre 2005 |