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Comparação da absortometria radiológica de dupla energia,
antropometria e impedância bioelétrica na avaliação da
composição corporal em mulheres

   
*Mestrando em Educação Física Universidade Federal de Santa Catarina.
**Alunos dos programas de Especialização em Educação Física
e Estatística da Universidade Federal de Santa Maria.
***Prof. Dr. Da Universidade Federal de Santa Catarina. Coordenador do
Grupo de Pesquisa em Cineantropometria & Desempenho Humano.
 
 
Cassiano Ricardo Rech*
crrech@hotmail.com  
Alexandre Tavares da Silva** | Cláudia Cruz Lunardi**
Tiago Bohrer** | Edio Luiz Petroski***

petroski@cds.ufsc.br
(Brasil)
 

 

 

 

 
Resumo
    O objetivo deste estudo foi determinar e comparar o percentual de gordura (%G) e a massa livre de gordura (MLG) obtida pelos métodos da absortometria radiológica de dupla energia (DEXA), impedância bioelétrica bipolar (BIA BP) e tetrapolar (BIA TP) e o método antropométrico, estimado pelas equações de Jackson et al. (1980) (JPW) e Durnin e Womersley (1974) (DW) em mulheres. A amostra foi compostas por 15 mulheres (63,5±8,07) pós-menopausa, aparentemente saudáveis e fisicamente ativas. A DEXA foi adotado como método de referência para a comparação dos escores obtidos. As equações de DW, e a BIA TP, apresentaram médias com diferença significativa para o %G em relação à medida da DEXA. Por outro lado, o modelo de BIA BP e a equação de JPW, estimaram de forma acurada o %G da amostra em relação à medida critério. Com isso, conclui-se que para a avaliação do %G os modelos de JPW e a BIA BP são válidos para aplicação em mulheres acima de 51 anos de idade.
    Unitermos: Composição corporal. Absortometria radiológica de dupla energia. Impedância bioelétrica. Antropometria. Mulher.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 91 - Diciembre de 2005

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Introdução

    O envelhecimento da população, tanto em países desenvolvidos quanto em desenvolvimento, tem demonstrado que informações sobre a avaliação do status nutricional (composição corporal), são de suma importância para a área de saúde pública, a fim de monitorar as mudanças associadas aos efeitos do envelhecimento (Chumlea & Baumgartner, 1989; Visser et al., 1994; Gariballa & Sinclair, 1998; Barbosa et al. 2001).

    Estudos têm relacionado à quantidade e a distribuição de gordura corporal em idosos com aumento de riscos para o desenvolvimento de doenças coronarianas, hipertensão arterial, colesterol (LDL), diabetes melittus e alguns tipos de câncer (Kubena et al., 1991; Kaye et al., 1991). Assim como, a eficiência funcional na realização de atividades diárias é afetada significativamente pelo acúmulo de gordura corporal e diminuição da massa livre de gordura (Chumlea & Baumgartner, 1989; Gariballa & Sinclair, 1998).

    A avaliação da composição corporal em idosos tem sido comumente realizada através de modelos de dois componentes (Siri, 1961), que divide a massa corporal em componentes de gordura e de massa livre de gordura. Porém os pressupostos de utilização deste método, não consideram a perda de mineral ósseo com a idade, como também as alterações na água corporal total (Goran et al. 1997).

    Outras mudanças associadas ao envelhecimento das características morfológicas estão relacionadas à redistribuição da gordura corporal, a dificuldade da medida de espessura de dobras cutâneas, devido ao aumento da elasticidade da pele e com isso causando uma menor resistência na medida do adipômetro (Heyward, 2001). A perda da compressibilidade da medida de espessura de dobras cutâneas também é apontada como um fator que influência na avaliação da composição corporal em idosos (Durnin & Womersley, 1974).

    Com o envelhecimento, o conteúdo mineral da massa livre de gordura (MLG) tende a diminuir aproximadamente 1% ao ano entre os 50 e 70 anos de idade (Perissinoto et al. 2002). Entre as idades de 25 e 65 anos, há um decréscimo substancial na massa corporal magra (10-16%) devido a perdas de massa óssea, massa muscular, água corporal total (Heymsfield et al. 1989).

    Assim, modelos multicomponentes como a medida da absortometria radiológica de dupla energia (DEXA), tem sido proposta como critério para validação de outros métodos de avaliação da composição corporal em idosos (Kohrt, 1998). Mas são poucos os estudos onde as medidas de multicomponentes podem ser utilizadas, devido ao seu custo e aplicabilidade em estudos populacionais.

    Deste modo, métodos de campo, como antropometria e a impedância bioelétrica (BIA), têm sido testados, quanto sua validade em amostra de idosos, por representarem métodos rápidos, não invasivos, baratos e de fácil aplicação (Lukaski, 1986; Baumgartner, et al. 1991; Goran et al., 1997).

    Várias equações preditivas baseadas em medidas antropométricas (Durnin & Womersley, 1974; Visser et. al., 1994; Petroski, 1995) e de impedância bioelétrica (Gray et al., 1989; Lukaski e. al., 1986) foram desenvolvidas, contudo a grande maioria dessas equações é especificas para populações jovens ou foram desenvolvidas com um número reduzido de idosos.

    Assim, o presente estudo visa comparar o percentual de gordura e a massa livre de gordura, obtida pelos métodos da absortometria radiológica de dupla energia (DEXA), impedância bioelétrica bipolar, tetrapolar e o método antropométrico, estimado pelas equações de Jackson et al. (1980) e Durnin e Womersley (1974) em mulheres entre 51 e 75 anos de idade.


Procedimentos metodológicos

     Este estudo caracteriza-se como descritivo correlacional (Thomas & Nelson, 2000). Participaram do estudo 15 mulheres pós-menopausa, aparentemente saudáveis, participantes do grupo de atividades aquáticas (com atividades duas vezes semanais, com duração de uma hora por sessão), da Universidade Federal de Santa Maria-RS, no período de agosto de 2003.

    A amostra foi selecionada por conveniência em um grupo de idosas, sendo que, foram excluídas mulheres que realizavam tratamento medicamentoso de qualquer tipo, estavam realizando reposição hormonal e apresentassem alguma prótese fixa ou marcapasso, que pudesse alterar as estimativas realizadas pela medida da DEXA ou da BIA.

    Todas as participantes do estudo foram informadas dos objetivos e procedimentos do estudo, tendo assinado um termo de consentimento livre e esclarecido concordando com os objetivos propostos.

    Solicitou-se que as avaliadas adotassem as seguintes recomendações para a realização das avaliações, a fim de minimizar os erros de medida: não realizar atividades físicas no dia anterior ao teste, não comer ou beber a menos de quatro horas do teste, urinar a menos de 30 minutos do teste, não consumir álcool a menos de 48 horas antes do teste, não tomar medicamentos diuréticos a menos de sete dias do teste (Heyward e Stolarczyk, 1996).


Método da Absortometria Radiológica de Dupla Energia (DEXA)

    Foi realizada no Instituto de Densitometria Óssea de Santa Maria-RS (OSTEOLAB), por meio de um aparelho Hologic-QDR 4500 (fan Beam X-Ray Boné Densitometer -Walthan, MA 02154-USA) que utiliza raios de baixa intensidade para avaliar a absorção dos tecidos e quantificar cada componente corporal.

    Para a avaliação, o indivíduo deitou-se em decúbito dorsal em uma mesa e um scaner de corpo inteiro foi realizado. Foram mensurados os componentes de gordura corporal, conteúdo mineral ósseo, massa livre de gordura. A realização do exame durou entre 10-20 minutos para cada indivíduo.


Método da Impedância Bioelétrica

     Para a análise da Impedância Bioelétrica Tetrapolar (BIATP) foi utilizado um aparelho da marca Biodinamics@ (modelo 310). As avaliações foram realizadas com o indivíduo deitado, na posição em decúbito dorsal, com os braços e pernas abduzido a 45 graus, a partir do corpo. A fixação dos eletrodos e procedimentos de avaliação seguiu as recomendações descritas por Heyward e Stolarczyk (1996).

    A avaliação da Impedância Bioelétrica Bipolar (BIABP) utilizou-se um aparelho da marca ONROM® (modelo HBF-300), que utiliza uma equação de estimativa generalizada que não permite ajustes a características diferentes e considera o sexo, idade e massa corporal para a conversão em massa gorda e massa livre de gordura.

    As medidas foram realizadas com o avaliado em pé, partindo da posição anatômica, segurando nos sensores metálicos do aparelho, com os cotovelos estendidos e os braços formando um ângulo de 90 graus, em relação ao solo.


Medidas Antropométricas

    A medida de massa corporal foi mensurada utilizando uma balança Arja, com resolução de 0,1 kg. Para a mensuração da estatura foi utilizado um estadiômetro com resolução de 0,5 cm, em ambas a medidas seguiu-se o procedimento de Álvarez & Pavan (2003). As dobras cutâneas tricipital, bicipital, subescapular, supra-iliaca e coxa média, foram mensuradas por meio de um compasso específico para a medição da espessura das dobras cutâneas de marca Lange, seguindo os procedimentos de Benedetti et al. (2003).

    Os valores de densidade corporal foram obtidos através das equações de regressão de Jackson et al. (1980) (JPW) e da equação generalizada de Durnin e Wormesley (1974) (DW), para mulheres (tabela 1).

Tabela 1. Equações antropométricas utilizadas no estudo.

3DC = somatório de três dobras: tríceps + suprailíaca + coxa; 4DC = somatório de quatro dobras: tríceps + suprailíaca + subescapular + bíceps; D (g/cm3)= densidade corporal.

    Para conversão da densidade corporal em percentual de gordura corporal, utilizou-se a equação de Siri (1961):

%G = (495 / D) - 450

Onde:
%G = Percentual de gordura corporal
D (g/cm3) = Densidade corporal

    Para o cálculo da MLG, foi utilizada a equação que segue:

MLG = MC - (%G x MC/100)

Onde:
MLG= massa livre de gordura (kg)
MC= massa corporal total (kg)
%G= percentual de gordura (%)


Análise Estatística

    A análise dos dados foi realizada através da estatística descritiva (média aritmética, desvio-padrão, valor mínimo e máximo). A comparação entre médias foi realizada através dos procedimentos sugeridos por Lohman (1992): teste "'t" pareado, correlação de Pearson, erro padrão de estimativa (EPE), erro total (ET) e erro constante (EC) e análise do desvio-padrão entre as medidas do DEXA e das equações antropométricas e de BIA, sendo:

Onde:
Vmens. = Valor mensurado (critério)
Vestim.= Valor estimado
n= número de sujeitos

    Também foi utilizada a análise gráfica da variação residual em relação à média, sugerida por Bland e Altman (1986). Os dados foram analisados pelo pacote SPSS 11.0 for Windows, adotando-se um nível de significância de 5%.


Resultados

    Para realização do estudo foram avaliadas 15 mulheres pós-menopausa da cidade de Santa Maria, região central do estado do Rio Grande do Sul/ Brasil, aparentemente saudáveis, fisicamente ativas, a tabela 2 apresenta as características descritivas da amostra.

Tabela 2. Parâmetros Morfológicos de mulheres entre 51-75 anos de idade.


*dp = desvio-padrão; 3DC = somatório de três dobras: tríceps + suprailíaca + coxa; 4DC = somatório de quatro dobras: tríceps + suprailíaca + subescapular + bíceps.

    A média do IMC foi acima das recomendações, que considera um IMC entre 18,9 e 24,9 kg/m2 como faixa de normalidade (WHO, 1998). A tabela 3 apresenta os resultados dos critérios de validação cruzada proposta por Lohman (1992), para a estimativa da gordura corporal de mulheres acima de 51 anos.

Tabela 3. Valores de validação para a estimativa da gordura corporal (%G) em mulheres entre 51-75 anos de idade.


onde: EPE: erro padrão de estimativa; ET: erro total e EC: erro constante.
* difere significativamente da medida critério (p < 0,05).

    As estimativas realizadas pela equação de Durnin e Womersley (1974) (DW) para o somatório de quatro dobras cutâneas e o modelo de BIA tetrapolar (BIA TP), apresentaram diferença estatisticamente significativa (p < 0,05) com a medida critério (DEXA). Por outro lado, a equação desenvolvida por Jackson et al. (1980) (JPW) para soma de três dobras cutâneas e o modelo de BIA Bipolar (BIA BP) estimaram a medida critério com acuracidade (p < 0,05).

    A associação entre a medida da DEXA e os modelos propostos foram elevados (r=0,80 a 0,92), com exceção do modelo de espessura de dobras cutâneas proposto por DW (r=0,55). O modelo de JPW e da BIA BP apresentou valores de EPE e EC considerados com válidos para a estimativa da gordura corporal, já o modelo de DW apresentou valores de EC e ET, não recomendados.

    Na análise da estimativa da massa livre de gordura (tabela 4), são apresentados os valores de validação em relação à medida critério (DEXA).

Tabela 4. Valores de validação para a estimativa da Massa Livre de Gordura para mulheres entre 51-75 anos de idade.


onde: EPE: erro padrão de estimativa; ET: erro total e EC: erro constante. * difere significativamente da medida critério (p < 0,05).

    Somente a MLG estimada pelo modelo da BIA BP, não apresentou diferença estatística em relação à medida critério (p < 0,05). Os outros modelos apresentaram erros considerados inadequados para a avaliação da MLG em mulheres. Apesar das associações terem sido de moderadas a altas (r=0,65 a 0,91) o EPE variou de 1,84 kg, para a BIA BP e 2,52 kg para a equação de DW.

    As correlações foram significativas em todos os métodos de avaliação, contudo, através da análise dos escores residuais, propostos por Bland e Altman (1986), pode-se observar que a equação de JPW estimou com acuracidade (dentro do valor estipulado para o erro padrão, 2,5%G) em 46,66% da amostra, e o modelo de BIA BP estimou com acuracidade 60% da amostra.


Figura 1. Escores residuais de %G e MLG entre os valores de DEXA e os modelos antropométricos e de BIA. A linha pontilhada representa o limite adotado para validação para o percentual de gordura (2,5%) e a MLG (2,5 kg).

    Em relação a MLG, o modelo de BIA BP apresentou 13,3% dos escores residuais fora do intervalo de confiança (2,5 kg) em relação à medida da DEXA. A equação de DW foi a que apresentou a maior variação na estimativa da MLG (figura 1), estimando de forma acurada apenas 33,34% da amostra analisada.


Discussão

    A avaliação da composição corporal faz parte de um dos componentes relacionados à saúde que tem despertado imenso interesse da comunidade científica nos últimos anos. O aumento da prevalência de sobrepeso e obesidade na sociedade contemporânea tem demonstrado que um esforço deve ser empregado no busca de um melhor controle sobre este quadro.

    Nesse sentido, a avaliação da composição corporal tem sido um campo de estudo que tem procurado desenvolver e validar métodos simples, de baixo custo operacional e aplicáveis em estudos populacionais e, principalmente, que apresente uma validade de seus resultados.

    O método antropométrico e da impedância bioelétrica atendem esses pré-supostos, porém sua validade em certos grupos populacionais depende das características da população de origem da equação desenvolvida e também das características da amostra onde se deseja usar a equação.

    No presente estudo foram analisados quatro métodos para a avaliação da gordura corporal e massa livre de gordura em mulheres acima de 50 anos de idade. Os modelos de BIA Biodinamics e ONROMâ e as equações antropométricas propostas por Jackson et al. (1980) e Durnin e Womersley (1974).

    O modelo antropométrico desenvolvido por DW (1974), é baseado no cálculo da densidade corporal, avaliada através do peso submerso, em mulheres 37 mulheres acima de 50 anos de idade. Na análise da validação cruzada (tabela 3 e 4), pode-se observar que tanto a MG quanto a MLG apresentaram erros significativos (7,43% e 3,16kg) para MG e MLG, respectivamente.

    Além disso, os valores de correlação, EPE e ET não atendem os critérios sugeridos por Lohman (1992) para a validação cruzada. O modelo de dois componentes utilizado no desenvolvimento desta equação não tem sido recomendado para utilização em idosos (Baumgartner et al. 1991), devido à redistribuição da gordura, perda de compressibilidade da espessura de dobras cutâneas, e as constantes de MG e MLG que não refletem as características específicas dos grupos de idosos.

    Deste modo, e também pelo fato do reduzido número de idosos avaliados, pode representar fatores de perda do poder preditivo encontrado na aplicação da equação de DW na amostra estudada (Lohman, 1992).

    Outro fator que pode ter sido decisivo para a não validação é de que quantidade de gordura corporal encontrada no estudo de DW foi de 39%, enquanto no presente estudo a média foi de 37,6%, no entanto, o somatório da espessura de dobras cutâneas utilizadas no modelo foi superior na amostra estudada (109,9 mm), enquanto na amostra original a média do somatório foi de 86 mm. O que pode explicar a superestimação dos valores de gordura corporal neste estudo.

    A equação desenvolvida por Jackson et al. (1980) (JPW) para o somatório da espessura de três DC mostrou-se válida para a estimativa da gordura corporal em mulheres acima de 50 anos de idade. Uma das principais características dos modelos desenvolvidos por JPW é de que os mesmos utilizam o modelo de regressão quadrático, que diferente do modelo proposto por Durnin & Womersley (1974) e Guedes (1985). De acordo com os autores a relação entre densidade corporal e espessura de DC é melhor explicada pelo modelo curvelinear e não linear ou logaritmo (Jackson, Pollock & Ward, 1980).

    As equações de Jackson et al. (1980) têm sido amplamente utilizadas em amostras brasileiras, uma vez que Petroski e Pires-Neto (1995) demonstraram a validade cruzada das equações para brasileiras em uma amostra de 281 mulheres entre 18 e 51 anos de idade da região Sul do Brasil.

    Contudo, diferem dos resultados encontrados por Barbosa et al., (2001) para mulheres idosas (62-79 anos), onde a equação de Jackson et al. (1980) apresentou diferença significativa (9,7%) em relação à medida do DEXA. As diferenças encontradas nos estudos citados podem estar relacionados ao reduzido número de indivíduos avaliados (20 e 15, respectivamente), que comprometem algumas confirmações estatísticas.

    Quanto analisado os critérios de validação da equação de JPW em relação à medida de MLG, houve diferença estatística (p < 0,05) (tabela 4). A medida realizada pela equação de JPW é uma medida de dois componentes (gordura e massa livre de gordura), no entanto, as constantes de hidratação e o conteúdo mineral ósseo podem interferir na estimativa da MLG do DEXA, o que pode explicar a não validação do mesmo em relação a MLG (Kohrt, 1998; Pietrobelli, et al. 1998).

    Além disso, devido ao reduzido número de indivíduos avaliados, os mesmo podem ter apresentado variações interindividuais consideráveis em relação à amostra de desenvolvimento utilizada por JPW (Gariballa & Sinclair, 1998).

    Com relação aos resultados apresentados pelos modelos da BIA (tabela 3) o modelo Biodinamics (BIA tetrapolar) apresentou um valor que subestimou em 3,5% a gordura corporal em relação ao DEXA, tendo o mesmo modelo apresentado um valor de EPE (3,4%), valor esse considerado inadequado para a avaliação do componente de gordura corporal e um ET também considerado alto (3,5%).

    A BIATP apresenta como característica a avaliação de uma corrente de baixa intensidade que percorrem os tecidos magros de todo o corpo, desde as falanges da mão até o pé. As diferenças na hidratação dos tecidos magros, e a quantidade de tecido muscular podem explicar essa variação causada no %G (Lukaski, 1987).

    Goran et al. (1997) também analisando 41 mulheres com média de idade de 70,2 anos, e utilizando o método de quatro componentes, proposto por Heymsfield encontrou valores de %G superestimado pelas equações de BIA que utilizavam o modelo tetrapolar.

    Outra observação está relacionada com a resistência em diferentes segmentos corporais e relacionando com a medida do %G. Baumgartner et al. (1989) ao analisar a resistência em diferentes segmentos corporais concluíram que a relação do comprimento dos segmentos (pernas e braços) explica melhor a resistência do corpo total, do que a utilização da resistência do corpo total como é preconizado pela BIATP.

    Apesar de o tronco ter apresentado uma correlação significativa com a resistência do corpo total, o mesmo apresentou variação muito grande entre indivíduos.

    Segundo Baumgartner et al. (1989), essa variação pode, ser relacionada aos componentes anisotrópicos (líquidos intracelulares, espaços de ar e a própria orientação dos eletrodos que dificulta a passagem da corrente elétrica em músculos do tronco que possuem orientações diferenciadas nas fibras musculares).

    Outro fator que parece influenciar as medidas da composição corporal foi relatado por Gray et al. (1989) ao analisar o efeito de diferentes níveis de obesidade em homens e mulheres pelos resultados da BIA que tendeu a superestimar os valores de MLG em indivíduos com mais de 42% de gordura corporal e acima 48% esses erros tornam-se ainda maiores, já em indivíduos com valores menores que 41% de gordura não apresentaram diferenças entre a MLG mensurada entre BIA e PH.

    Já o modelo de BIABP (ONROM®) superestimou o %G em 0,8% em relação à medida da DEXA, e um valor ET (2,8%) e EPE (1,8%). Estes valores são considerados como excelentes para a avaliação da gordura corporal (Lohman, 1992).

    Esses resultados vão ao encontro aos relatados por Cox-Riejven et al. (2002) que comparou três diferentes modelos de BIA que conduziam correntes elétricas em três segmentos entre pé-pé (PP), mão-pé (MP), mão-mão (MM) numa amostra de 53 mulheres e encontraram resultados que apontam para uma validade de métodos alternativos da BIA como os modelos de BIABP (Tanita ou ONROM®).

    Heymsfield et al. (1998) analisando a relação entre a massa muscular dos membros superiores com a resistência dos mesmos encontrou valores de r=0,88 (p<0,01), para 50 homens e mulheres com idade média de 50,9±17 anos, evidenciando a sua utilização da medida da BIA BP em avaliação clinica. Marques et al. (2000) também encontrou correlações entre a DEXA e o ONROM® de 0,87 e um EPE de 2,96% para mulheres brasileiras jovens (20-40 anos), o que corrobora com os achados neste estudo.

    Uma das principais limitações do estudo foi o número de indivíduos analisados, que compromete algumas inferências estatísticas, outro fator é a utilização da comparação entre um modelo multicomponente (DEXA) e um modelo de dois componentes (Jackson et al. 1980 e Durnin & Womersley, 1974) que apresentam princípios diferentes.


Conclusões

    Com base nos resultados obtidos, pode-se inferir que o modelo antropométrico desenvolvido por Jackson et al. (1980), mostrou-se válido para estimativa do %G em mulheres idosas, porém superestimou os valores de MLG em relação à medida da DEXA.

    A equação antropométrica de Durnin & Womersley (1974) e o modelo de BIA TP (Biodimancs) não se mostraram válidos para estimativa do %G e da MLG na amostra analisada.

    E o modelo de BIA BP (ONROMâ) foi o único método testado, neste estudo, que apresentou validade cruzada, tanto para a estimativa do %G, quanto da MLG em mulheres acima de 51 anos de idade.


Agradecimentos

    Os autores agradecem o apoio do Instituto de Densitometria Óssea de Santa Maria (OSTEOLAB).


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revista digital · Año 10 · N° 91 | Buenos Aires, Diciembre 2005  
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