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Nível de atividades físicas e barreiras percebidas pelos
alunos do Mestrado de Educação Física da Universidade Federal de
Santa Catarina: um estudo de caso

   
U. F. Santa Catarina; CESUFOZ, Paraná
(Brasil)
 
 
Elto Legnani
elto@fa.edu.br  
Rosimeide Francisco Dos Santos Legnani
rlegnani@bol.com.br
 

 

 

 

 
Resumo
    Introdução: Um comportamento fisicamente ativo e a adoção de um estilo de vida saudável são de suma importância para aquisição de um bom nível de saúde física e mental. Evidências fortes apontam para os benefícios que as atividades físicas de moderada a vigorosa intensidade podem exercer sobre a saúde das pessoas. Objetivo: Portanto, o objetivo deste trabalho foi quantificar o nível de atividade física, e identificar as principais barreiras percebidas para a prática de atividades físicas dos alunos do mestrado de Educação Física da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), regularmente matriculados no ano de 2004. Material e Métodos: foram estudados 25 indivíduos (13 homens e 12 mulheres), com média de idade de 29 anos (DP= 5,3). Os dados foram coletados a partir de um questionário composto de dois instrumentos previamente testados. Um para mensurar a percepção das barreiras para a prática de atividades físicas e outro para medir o nível de atividades físicas. Os dados foram analisados no programa estatístico SPSS (versão 12.0), utilizando-se a estatística descritiva (média, desvio padrão e distribuição de freqüência). Resultados: verificou-se que as barreiras percebidas de maior importância foram: jornada de trabalho extensa (53,8%), compromissos familiares (19,2%). Com relação às atividades físicas moderadas, a maior parte do grupo (84,6%), pode ser considerado ativo. Porém, quando são analisadas as atividades físicas vigorosas, percebemos que a percentagem de sujeitos que atingem os critérios mínimos estabelecidos para a saúde está dentro do esperado (15,3%). Conclusão: as principais barreiras percebidas pelos alunos do mestrado da UFSC./2004, são predominantemente de ordem pessoal, especialmente à jornada de trabalho, compromissos familiares e falta de energia. Os níveis de atividades físicas moderadas são elevados. Porém os níveis de atividades físicas vigorosas durante uma semana habitual, foram baixos.
    Unitermos: Percepção de barreiras. Nível de atividades físicas.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 91 - Diciembre de 2005

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Introdução

    Um comportamento fisicamente ativo e a adoção de um estilo de vida saudável são de suma importância para aquisição de um bom nível de saúde física e mental. Evidências fortes apontam para os benefícios que as atividades físicas de moderada a vigorosa intensidade podem exercer sobre a saúde das pessoas13-14-15.

    Vários estudos buscam estabelecer a relação inversa entre atividade física habitual e a incidência de vários tipos doenças e a mortalidade por todas as causas6-9-11-12. Os efeitos benéficos das atividades físicas podem ser entendidos como uma proteção especial para alguns tipos de doenças, em especial aquelas de origem crônico-degenerativas, tais como: doenças cardiovasculares, hipertensão arterial, diabetes, hipecolesterolemia, obesidade e alguns tipos de câncer11-13-16.

    Apesar da abundância de informações demonstrando os benefícios da atividade física na saúde e qualidade de vida, parece que somente isto não tem sido suficiente para a promover estilos de vida saudáveis na maioria da população. Estima-se que 60% da população sejam insuficientemente ativos4.

    A atividade física representa um comportamento inerente ao ser humano. É de natureza complexa e com múltiplas formas de manifestação. A adoção e a manutenção de hábitos de atividade física é um processo que envolve múltiplas variáveis pessoais, inter pessoais e ambientais, tais como: fatores demográficos, biológicos, psicológicos, cognitivos, emocionais, culturais, sociais e etc. 1-2-5.

    Por outro lado, alguns fatores surgem como determinantes para influenciar hábitos de atividade física. Eles podem ser de origem biológica, físico-ambientais e sócio-culturais, e estão presentes no cotidiano das pessoas. São classificados como "facilitadores", quando promovem um aumento no nível de atividade física ou diminuem o nível de sedentarismo e "barreiras" quando agem como fatores que dificultam ou desencorajam a prática de atividades físicas9-2-5 9-2-5 .

    Portanto, torna-se importante quantificar o nível de atividade física, bem como identificar as principais barreiras percebidas para a prática de atividades físicas de grupos específicos, tais como os alunos do mestrado de Educação Física da Universidade Federal de Santa Catarina regularmente matriculados no ano de 2004. Porque neste grupo de sujeitos outros fatores importantes também estão presentes, tais como a falta de tempo, dupla jornada (estudo e trabalho), falta de oportunidade e falta de tempo.


Material e Métodos

    Neste estudo de caso foram estudados 25 indivíduos, 13 do sexo masculino e 12 do sexo feminino, com uma média de idade de 29 anos (DP= 5,3). Matriculados no curso de mestrado em Educação Física da Universidade Federal de Santa Catarina no ano de 2004.

    Os dados foram coletados a partir de um questionário (anexo) composto de dois instrumentos previamente testados. Um para mensurar a percepção das barreiras para a prática de atividades físicas3 e outro para medir o nível de atividades físicas7.

     Foi solicitada autorização dos professores ministrantes de algumas disciplinas do primeiro trimestre do curso de mestrado em Educação Física, para a coleta de dados no intervalo de suas aulas. Antes do preenchimento dos questionários, os indivíduos receberam algumas informações de como proceder para responderem às perguntas. Ficou estabelecido que a participação no estudo seria de caráter voluntário, assim como a garantia de sigilo das informações coletadas para a pesquisa.

    Em seguida os dados foram tabulados em uma planilha do aplicativo Excell, para uma posterior análise no programa estatístico SPSS (versão 11.0), utilizando-se a estatística descritiva (média, desvio padrão e distribuição de freqüência) para o tratamento dos dados.


Resultados

Índice de Massa Corporal

    Para o cálculo do Índice de Massa Corporal, utilizou -se das medidas de massa corporal e estatura, sendo que os valores médios 62,9 kg. (dp= 17,6) e 162 cm (SD= 33,9), respectivamente. Ambas as medidas foram referidas pelos sujeitos no momento do preenchimento do questionário. Em relação a variável IMC, o grupo apresentou um valor médio de 22,9 kg/m2 (dp=3,1).

Percepção de Barreiras

    Considerando o rol de respostas possíveis em relação às barreiras percebidas e para uma melhor compreensão dos dados, adotou-se uma escala numérica onde: para representar as respostas a uma barreira sempre presente atribuiu-se o valor 5, para uma barreira quase sempre presente o valor 4, uma barreira às vezes presente valor 3, valor 2 para barreiras raramente presentes e o valor 1 para nunca ou ausência de barreira. Para uma melhor compreensão e interpretação dos dados, resolveu-se apresentar os resultados agrupados da seguinte forma: aspectos pessoais (jornada de trabalho, falta de energia e tarefas domésticas); aspectos ambientais (clima, espaço físico e ambiente inseguro); aspectos sociais (falta de companhia e falta de incentivo) e aspectos físico-pessoais (limitações físicas, dores e falta de interesse).

Tabela 1. Principais barreiras para a prática de atividades físicas, percebidas pelos alunos do mestrado em Educação Física da UFSC/2003.


Nível de importância das barreiras: 5 = barreira sempre presente; 4 = quase sempre presente; 3 = às vezes presente; 2 = raramente presente e 1 = nunca.


Aspectos Pessoais

    Em relação aos aspectos pessoais nota-se que a jornada de trabalho e a falta de energia aparecem como as principais barreiras citadas pelos mestrandos, com 53,8%. As tarefas domésticas representaram uma barreira pouco expressiva, com 19,2% das respostas.

Figura 1. Percepção das principais barreiras pessoais para a prática de atividades físicas dos alunos do Mestrado em Educação Física da UFSC - 2004.


Aspectos ambientais

    Ao analisarmos as respostas referentes aos aspetos ambientais, parece que o clima e o espaço físico exercem maior influência no comportamento dos mestrandos de Educação Física de 2004. Onde, o clima (42%) e a falta de espaço físico adequado (34,6%), foram as duas barreiras mais citadas pelos mestrandos para a prática de atividade física. O ambiente inseguro (19,2%) não foi uma barreira significativa para a prática de atividades físicas para esse grupo de sujeitos, representando apenas 11,5% das respostas.

Figura 2. Principais barreiras ambientais para a prática de atividades físicas percebidas pelos alunos do Mestrado em Educação Física da UFSC - 2004.


Suporte social

     Com relação ao suporte social, os dados demonstram um número reduzido de sujeitos, apenas 11,5%, referiram a falta de companhia e incentivo familiar como sendo barreiras para a prática de atividades físicas. O que demonstra uma auto-eficácia muito boa do grupo em relação a prática de atividades físicas, o que pode ser visualizado pelo percentual das respostas do gráfico 3.

Figura 3. Principais barreiras sociais para a prática de atividades físicas percebidas pelos alunos do Mestrado em Educação Física da UFSC - 2004.


Aspectos físico-pessoais

    A percepção desses indivíduos em relação a essas barreiras parece ser pouco significativa. Porém quando analisamos o gráfico 4, percebemos que a limitação física é citada como a principal barreira percebida por esse grupo de sujeitos com 30,7 %, em seguida a dor com 23% e a falta de interesse com 28% das respostas.

Figura 4. Principais barreiras físico-pessoais para a prática de atividades físicas percebidas pelos alunos do Mestrado em Educação Física da UFSC - 2004.


Nível de atividade física

    Para facilitar a visualização e compreensão dos dados, pretende -se apresentar os resultados referentes ao nível de atividade física de forma dicotomizada. Considerando que o grupo investigado é constituído de adultos jovens, optou-se por estabelecer o seguinte critério: considerando que um indivíduo adulto deve promover um gasto energético igual ou superior a 900 MET/min/sem em atividades moderadas ou vigorosas. Os sujeitos deste estudo foram divididos em dois grupos: os que não atenderam aos padrões mínimos de atividade física para a saúde e os que atingiram os critérios mínimos recomendados pela literatura. Desta forma, a maioria do grupo estudado 84,6 % (n=22), atendeu aos critérios mínimos em relação à atividade física moderada (900 MET/min/sem). Porém, quando se observam as atividades físicas vigorosas, percebemos que o grupo de indivíduos que não atende aos critérios mínimos de dispêndio energético semanal aumenta consideravelmente, 84,6 % (n=22). Como pode ser visualizado no gráfico 5.

Figura 5. Percentagem de sujeitos que atendem as recomendações de atividades físicas moderadas ou vigorosas para a saúde.


Discussão dos resultados

    Com relação ao índice de massa corporal, os resultados médios apresentados pelo grupo de sujeitos, 22,9 kg/m2 (sd= 3,1), pode ser considerado compatível com os padrões de saúde preconizados pela literatura que é de 18,5 a 24,9 kg/m2 (Nahas, 2003).

    Apesar da escassez de literatura em relação a dados referentes aos determinantes positivos "facilitadores" e os determinantes negativos "barreiras" e considerando as diferenças metodológicas empregadas em alguns estudos nesta área, torna-se difícil estabelecer uma discussão adequada.

    Porém, analisando um estudo realizado com docentes do ensino superior da Universidade Federal de Santa Catarina2, verificou-se que as barreiras percebidas de maior importância foram: jornada de trabalho extensa (72,1%), compromissos familiares (25%), sendo similares aos encontrados neste estudo com relação à percepção das barreiras. Somente que, a freqüência com que estas barreiras foram percebidas pelos sujeitos deste estudo foram menores: jornada de trabalho (53,8%) e compromissos familiares (19,2%).

    Pesquisas com o objetivo identificar o impacto do nível de atividade física no estilo de vida das pessoas tem sido realizadas em muitos países. Uma pesquisa realizada no Estado de São Paulo7, revelou que 46% da população não atingem as recomendações mínimas de atividade física para a saúde. Estes dados podem variar de acordo com o gênero, a idade, nível sócio econômico e a região do estado. Em estudo realizado com docentes da Universidade Federal de Santa Catarina2 os resultados obtidos revelam que apenas 33% do grupo investigado realizam atividades físicas moderadas ou vigorosas regularmente. E que, apesar do alto grau de conhecimento específico sobre atividade física demonstrado por estes sujeitos, isso não foi suficiente para evidenciarem um alto nível de atividade física.

    Com relação ao presente estudo, quando se analisam os dados relativos às atividades físicas moderadas, podemos notar que o maior parte do grupo (84,6%), pode ser considerado ativo. Porém, quando são analisadas as atividades físicas vigorosas, percebemos que a percentagem de sujeitos que atingem os critérios mínimos estabelecidos para a saúde está dentro do esperado (15,3%).


Considerações finais e sugestões

    Após análise dos dados apresentados neste estudo, de um modo geral, podemos destacar as seguintes observações:

  • As barreiras percebidas pelos alunos do mestrado da Universidade Federal de Santa Catarina do ano de 2004 são predominantemente de ordem pessoal, especialmente à jornada de trabalho, compromissos familiares e falta de energia.

  • Os níveis de atividades físicas moderadas são elevados, sendo suficientes para cumprir com as recomendações atuais sobre os padrões de saúde.

  • Porém quando se trata de atividades que promovem alterações fisiológicas importantes na saúde das pessoas, "as vigorosas", os níveis de atividades físicas durante uma semana habitual foi muito baixo.

    Reconhecendo as limitações inerentes a este tipo de estudo, e entendendo que mais investigações relacionadas ao tema proposto devam ser efetuadas junto a esses indivíduos, podemos sugerir as seguintes recomendações:

  1. Realização de atividades físicas esportivas, como uma forma de integração social e aumento dos níveis de atividades físicas vigorosas.

  2. Utilização dos programas de extensão universitários (práticas esportivas de intensidades vigorosas), tais como: dança, lutas, ginástica e musculação.

  3. Utilização dos espaços físicos disponíveis na Universidade para aumentar os níveis de atividades físicas vigorosas, tais como: esportes de quadra (basquete, voleibol, futebol, tênis e natação), corridas (pista de atletismo).

  4. Organização de um grupo de mestrandos, para a realização de trilhas ecológicas pela ilha de Santa Catarina, para aumentar o nível de Atividades Físicas dos sujeitos.


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