A atuação do profissional de educação física em relação às lutas no ambiente escolar. Ênfase na Capoeira |
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Professor de Educação Física da Rede municipal do município de barra mansa Professor substituto do Centro Universitário de Volta Redonda/UNIFOA Contra- Mestre de Capoeira do Centro Esportivo de Capoeira Quarto Crescente |
Lindinalvo Natividade nativaedfisica@bol.com.br (Brasil) |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 90 - Noviembre de 2005 |
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Introdução
A intenção deste artigo foi discutir a ação do profissional de Educação Física no âmbito escolar em relação às lutas, enfatizando ensino-aprendizado da Capoeira nas escolas de ensino fundamental, e identificando-a como prática pedagógica como meio de valorização da cultura nacional.
Sua pertinência e relevância social estão no fato de hoje, as lutas, se apresentarem como um possível conteúdo na área de Educação Física, além ser a Capoeira um patrimônio da cultura afro-brasileira, promovendo um resgate de valores do povo negro.
A metodologia de pesquisa utilizada foi do tipo qualitativa descritiva, baseando-se na revisão de literatura e também na pesquisa de campo, através de questionários e entrevistas a profissionais de Educação Física, e também a profissionais de Capoeira em atuação no ambiente escolar.
Enfim, o artigo teve como finalidade observar o comportamento, conhecimentos e concepções de profissionais de Educação Física acerca da pratica das lutas como possível conteúdo das aulas de Educação Física Escolar, e como estes profissionais concebem esta realidade na escola.
Diante dos resultados obtidos ficou perceptível ainda que, a luta não configura o espaço escolar como define o PCN-EF, sendo sua aplicação ligada alguns pontos isolados com ação de professores que pretendem modificar ou trazer conteúdos novos aos alunos e/ou em projetos de extensão curricular visando ampliar o acervo cultural do aluno.
1. Novos rumos para a educação fisica escolarSegundo Aranha (1989), a história da educação brasileira é moldada por uma série de transformações que buscavam a legitimação dos profissionais desta área, com uma relação dialética com a sociedade. As décadas de 30 e 40 foram o auge da educação brasileira, pois alcançou atenções de todo o contexto político vigente por seus movimentos educadores.
Após a era Vargas a Educação Brasileira é marcada pela criação do anteprojeto da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), projeto o qual levou 13 anos para ser aprovado e transformado em lei em 1961, quando foi considerado avançado para a época, mas envelheceu e adulterou-se no correr dos debates e nos confrontos de interesses (Aranha, 1989, p 250).
Em 1985 após a queda da ditadura e da supremacia militar, a liderança da nação volta a mão dos civis, surgindo movimentos estudantis e culturais, retornando às salas de aulas os debates políticos. Também são realizados estudos de nível acadêmico a fim de priorizar o processo pedagógico brasileiro, buscando solucionar problemas da educação brasileira e a recuperação do ensino nas escolas públicas(Aranha, 1989, p.261).
Assim também ocorreu com a Educação Física, principalmente com a Educação Física Escolar Brasileira. E como principal mudança para a Educação Física Escolar, citaremos a criação dos Parâmetros Curriculares Nacionais - PCN's.
Este documento, aprovado em 1.998, traz uma série de inovações ao campo da Educação Física Escolar. Seu discurso é centrado para uma educação baseada em uma perspectiva de cultura corporal de movimento, relacionando-os com temas transversais (Rodrigues, 2002, p.137).
"Cultura do movimento, constitui-se através do "se movimentar", capacidade inerente ao homem, em objeto da área de educação física. A cultura de movimento envolve todas as atividades do movimento humano, tanto no esporte como em atividades extra esportes" Kunz apud Rodrigues, 2002, p.138
O PCN-EF (2001) procura também enfatizar em seus diversos objetivos para o ensino fundamental, a construção de valores que busquem a cidadania, a integração, a inclusão, o respeito e a criticidade e apreciação à diversidade cultural de nossa sociedade
"É tarefa da Educação Física Escolar, portanto, garantir o acesso dos alunos, às". práticas da cultura corporal para a construção de um estilo pessoal de práticas, e oferecer instrumentos para que sejam capazes de apreciá-las criticamente" PCN-EF, 2001, p. 130
Para Neira (2003) "o movimento é uma importante dimensão do desenvolvimento e da cultura humana". Ainda citando o autor, Neira nos fala que o "movimento humano é mais do que um simples deslocamento do corpo no espaço, constitui-se em uma linguagem que permite as crianças agirem no meio físico e atuarem sobre o ambiente humano" (p.114).
Os conteúdos trazidos pelo PCN-EF são divididos em blocos, para uma melhor contextualização e aplicação no espaço escolar. Estão assim divididos: Esportes, jogos, lutas (grifos nossos) e ginásticas (primeiro bloco); Atividades rítmicas e Expressivas (segundo bloco) e Conhecimentos sobre o corpo (terceiro bloco). Nosso foco de estudo está centrado no primeiro bloco, especificamente no que diz respeito às lutas no ambiente escolar.
Segundo o PCN-EF (2001, p. 70), "lutas são disputas em que o(s) oponente(s) deve(m) ser subjugado(s) com técnicas e estratégias de desequilíbrio, contusão, imobilização ou exclusão de um determinado espaço na combinação de ações de ataque e defesa". Como exemplo de lutas para se trabalhar no ambiente escolar, o PCN-EF cita brincadeiras desde o cabo de guerra e braço de ferro, até as mais complexas como a Capoeira, Judô e Caratê.
2. O que é Capoeira?Paranauê, paranauê paraná
Paranauê, paranauê paraná
Paranauê, paranauê paraná
Paranauê, paranauê paraná
Música de Domínio PúblicoCapoeira: de capão s. f., grande gaiola ou compartimento gradeado onde se criam capões ou outras aves; cesto com que os defensores de uma praça resguardavam a cabeça; escavação que se guarnece com seteiras; Ornit., Brasil, Ave semelhante à perdiz; "Jogo atlético constituído por um sistema de ataque e defesa de caráter individual eorigem folclórica genuinamente brasileira, surgida entre os escravos procedentes de Angola; " (grifos nossos)". s. m., negro sertanejo que assaltava os viandantes; capanga; pop., sege velha. "Dicionário on line"
Para efeitos de denominações, utilizaremos o termo Capoeira (com inicial maiúscula) para designar a prática do jogo, da luta e capoeira (com inicial minúscula) para nos referirmos aos praticantes do jogo.
Nos dias de hoje, a discussão ainda é interminável. Pesquisadores, folcloristas, Historiadores e africanistas buscam respostas para a pergunta: "A Capoeira é uma invenção brasileira ou africana?"
Segundo Silva (2002, p.10) as respostas tendem para o lado brasileiro, pela documentação editada em 1.595, pelo padre José de Anchieta, relatando que "índios tupi-guaranis divertiam -se jogando Capoeira". E como se já não bastasse, a própria palavra Capoeira (Caa-puéra), é um vocábulo tupi-guarani e significa mato ralo ou mato que foi cortado, extinto.
"... pelo fato de não haver no continente africano e nos outros países influenciados pela cultura negra, nada parecido com a capoeira, pode-se concluir que ela foi criada em solo brasileiro pêlos negros africanos" Silva, 2002, p. 11
Ouviu-se falar de capoeira, a primeira vez nas invasões holandesas, quando negros e índios (as duas vitimas da colonização), aproveitando a confusão gerada, fugiram para as matas. Alguns foram capturados, mas os que conseguiram escapar se refugiavam em quilombos, sendo o mais famoso o Quilombo de Palmares, situado no serra da Barriga, atual estado de Alagoas, sendo seu rei, o lendário Zumbi( Silva, 2002, p. 11)
Segundo Silva (2002) em 1.687, Domingos Jorge Velho, assina um contrato e Comanda sete mil homens com o intuito de por fim a nação Palmarina, não obtendo sucesso.
"o escravo se mostrava evidentemente superior na luta, pela agilidade, coragem, sangue-frio, e astúcia, aprendidas ali, afrontando bichos, as feras mais perigosas, lutando mesmo com elas... explicavam os da escolta que estava em saber e aplicar o foragido um jogo estranho de braços, pernas e tronco, com tal agilidade... espalhou-se então, a fama do "jogo da Capoeira" depois chamado de capoeiragem". Silva, 2002, p.13
Somente após um período de 10 anos, Domingos Jorge Velho consegue por fim ao Quilombo de Palmares. Porém, a Capoeira sobreviveu aos tempos, tendo participações em fatos históricos como a Guerra do Paraguai. (Silva, 2002, p.16).
"Nem tudo que reluz é ouro, nem tudo que balança cai. Nem tudo no mundo é malícia e nem todo pensamento é frágil. no giro que o mundo deu, colega véio capoeira foi lutar. Menino toma cuidado. Assim dizia meu pai. Capoeira tem patente, para lutar por sua gente, colega véio na Guerra do Paraguai..." Cd Muzenza VI, 1996
Apesar de alguns negros voltarem da guerra como "heróis", as perseguições aos capoeiras não acabou, mais culminou com o decreto 487 do código Penal Brasileiro que no seu capitulo XIII, art. 402, dos vadios e capoeiras insituía:
"Fazer nas ruas e praças publicas exercícios de agilidade e destreza corporal, conhecido pela denominação de capoeiragem (andar em correrias, com armas, andar com instrumentos capazes de produzir uma lesão corporal, provocando tumulto ou desordens, ameaçando pessoas certas ou incertas, ou incutindo temor ou algum mal). Pena: Prisão celular de dois a seis meses" Código Penal in: Silva, 2002, p.17
Porém, estes recursos não exterminaram a Capoeira, sendo esta ensinada e praticada em absoluto sigilo, nas matas e fundos de quintais, sendo passada de avô para pai e de pai para filho.
A história da Capoeira nos traz o nome de dois ícones de total expressividade no mundo capoeirístico: Vicente Ferreira Pastinha, o Mestre Pastinha, e Manoel dos Reis Machado, o Mestre Bimba. Mestre Pastinha, é considerado defensor e patriarca da Capoeira Angola e Mestre Bimba, criador da Capoeira Regional, ou luta regional baiana.
Após a criação da luta regional baiana por Mestre Bimba, estabeleceu-se um corte, que separa a Capoeira chamada de "tradicional"(angola) e a "moderna" (regional). Viera (1998, p.87) apresenta esta separação esquematicamente da seguinte forma:
Mestre Bimba, teve participação fundamental no processo de liberação da Capoeira, pelo então presidente Getúlio Vargas. A Capoeira antes marginalizada, agora era praticada em recintos fechados com métodos de ensino/aprendizagem.
"Criando uma sistematização ampla que inclui seqüências de ensino, sistema hierárquico, regulamento para competições, normas de comportamento do capoeirista dentro e fora da roda, Bimba operou o inicio do contato da Capoeira com outras esferas sociais, além da periferia das grandes cidades, recodificando os rituais nos moldes do ambiente político e cultural da década de trinta." Vieira, 1998, p 130
A Capoeira, deixava de ser uma prática marginal para incorporar-se ao status mais elevados na sociedade. Mestre Bimba, recebeu uma autorização para ministrar aulas de Capoeira em Salvador, sendo considerado pela Secretaria de Educação, Assistência e Saúde da Bahia Professor de Educação Física (Vieira, 1998, p.13). Aceitava em sua academia somente alunos que passavam por um teste de aptidão física, o que ele mesmo chamou de teste de admissão.
Assim, Bimba metodizou a prática da Capoeira, instituiu formaturas, abdicou o uso do atabaque, criou seqüências de ensino, cursos de especialização etc. A Capoeira crescia, não era mais privilégio de centros urbanos como Rio de Janeiro, Salvador e Recife. Começava a dominar todo Brasil. Segundo Nestor Capoeira(1999, p.90) houve em 1969 um simpósio a fim de unificar a Capoeira em um único órgão. As palestras realizadas foram:
História do grupo senzala, por Rafael Flores.
Arte e ciência na capoeira, por Ricardo "macaco" Machado.,
A mulher na capoeira, por Márcia, Edna, Morena e Luzia
Capoeira na federação, por João Mulatinho
Capoeira nos Estados Unidos, por Ubirajara "Acordeon"
Capoeira na Bahia, por César "Itapoá"
E duas mesas de debates:
Descaracterização e preservação da Capoeira
Bate-papo com a velha guarda de Salvador (Capoeira, 1999 p. 169)
Em 1972, a Capoeira foi inserida na CBP (Confederação Brasileira de Pugilismo), sendo considerada como esporte, tendo seu departamento especial. Desvinculou-se mais tarde com a criação da Federação Paulista de Capoeira em 1974 e da Federação de Capoeira do Estado do Rio de Janeiro em 1984. Em 1.994 foi criada a Confederação Brasileira de Capoeira (CBC) e a Federação Internacional de Capoeira (FICA).
Devido a grande diversidade existente na Capoeira ainda encontraremos a ABPC(Associação dos Professores de Capoeira), ABRACAP (Associação Brasileira de Capoeira Angola) e Federação Desportiva de Capoeira. Todas buscando o mesmo objetivo, unificar e regrar a Capoeira, cada uma dentro de sua concepção.
2. Situando a Capoeira como cultura corporal para Educação Fisica escolar"O ser humano, desde suas origens, produziu cultura. Sua história é uma história de cultura, na medida em que tudo o que faz está inserido num contexto cultural, produzindo e reproduzindo cultura. O conceito de cultura é aqui entendido como produto da sociedade, da coletividade à qual os indivíduos pertencem, antecedendo-os e transcendendo-os". PCN-EF, On line
A história da capoeira, retrata bem o tópico citado acima. A capoeira nasceu não só para atender aos ideais de liberdade do negro no Brasil colonial, mas também nasceu pela necessidade de cultivar, enraizar, propagar sua cultura. Segundo Vieira,(2004) "a capoeira surgiu no Brasil como luta de resistência de uma comunidade que trazia uma imensa bagagem cultural de sua terra de origem".
Sem dúvida, a Capoeira traduz uma expressão corporal de seus praticantes. Na roda, o capoeira joga, dança, canta, toca, estabelece um diálogo corporal com perguntas/respostas, sem que haja uma interrupção neste dialogo.
Cada participante contribui de forma singular e também de forma coletiva para o enriquecimento deste diálogo. Em contrapartida a Capoeira provoca em seu participante uma série de produções cognitivas, emocionais, afetivas e principalmente motoras.
Cognitivas, ao fazer com que o capoeira tenha um pensamento rápido para cada situação do jogo. Emocional à medida que cada "volta"(tempo do jogo) é diferente da outra, assim como um jogador é diferente do outro. As energias trocadas não são as mesmas.
Afetivas, a partir do despertar que todos na roda são iguais. Todos necessitam Cooperar para o "axé" da roda. Não há roda sem ritmo, sem coro e sem jogadores. Motoras através da percepção de seus movimentos tão naturais e ao mesmo tempo tão complexos.(Cordeiro, 2003)
Por se tratar de uma luta onde são utilizados instrumentos e musicalidade, faz com que alguns autores a considerem mais que uma luta. Consideram-na um jogo, dança, cultura, arte, folclore, esporte, etc. tendo uma enorme familiaridade com a Educação Física.
Segundo Neira (2003, p.115),os trabalhos com o movimento, descrito pelo PCNEF, devem contemplar a multiplicidade de funções do ato motor, visando a ampliação corporal de cada criança.
Na Capoeira, diferentemente de outras lutas, esta multiplicidade se apresenta com maior naturalidade. A participação em uma roda por exemplo: ninguém fica estático. Alguns tocam, outros jogam, enquanto outros batem palmas e cantam atentos ao jogo. Neste momento o capoeira observa, ouve, analisa, interpreta uma dada situação e planeja sua ação.
"o gesto carregado de sentido, significado e intenção assumirá, então um papel fundamental no processo educativo...reunindo em uma mesma ação a dimensão ação cognitiva, e claro motora" Neira, 2003, p.119
Enfim, a Capoeira pode proporcionar aos seus praticantes, vivenciar cada momento e cada movimento não só com músculos, nervos e tendões, mas também primordialmente com "cabeça e coração".
3. Educação Física e Capoeira: experiências que deram certo"Vamos começar a brincadeira, A brincadeira do jogo de capoeira Vamos começar a brincadeira, A brincadeira do jogo de capoeira Andar eu vou - aruê..." Canto de Domínio público
Vários têm sido os estudos a fim de mostrar os benefícios da Capoeira na escola. Faremos então um breve histórico: em 1.928, Aníbal Burlamaqui publica um opúsculo intitulado:"Ginastica Nacional(Capoeiragem) Metodizada E Regrada". Em 1.937 Mestre Bimba conseguiu da Secretaria de Educação um registro oficial que qualificava seu curso de Capoeira como "Curso de Educação Física". Em 1.972, foi homologada pelo Ministério da Educação e Cultura como modalidade desportiva. Atualmente tem sua inclusão nos currículos de várias escolas de Educação Física do Brasil.(Silva,2002, p.22-24).
Também em 1.972, Mestre Zulu inicia no Colégio Agrícola de Brasília, os primeiros passos com a Capoeira no espaço escolar(Zulu 1995, p. 34).
"contávamos apenas com o consentimento da direção e nada mais, além da surpresa e espanto de alguns colegas professores ao saberem que eu era capoeirista. Dava a impressão que eu como Professor estava envolvido com algo bastante indigno" Zulu (1995, p. 34 )
Mestre Zulu não era remunerado, e o projeto ainda não integrava o currículo do Colégio Agrícola. Mas seu projeto foi tomando consistência e em 1981, juntamente com o Professor Inezil Penna Marinho, apresentaram um novo projeto a Secretaria de Educação e Cultura do Distrito Federal.
Somente em 1982, a Capoeira passou a configurar na escola Agrícola do Distrito Federal, atendendo a alunos de 5ª a 8ª série e 2º grau(hoje ensino médio) como um projeto experimental. (Zulu, 1995, p.35).
Mestre Zulu, então, estendeu seu projeto a toda rede oficial de ensino do Distrito Federal. Dentre as novas metas nos chamam a atenção a "instrumentalização" de professores de Educação Física através de cursos e reciclagens, aos professores interessados na nova proposta, e a criação de centros de aprendizagem de capoeira(Zulu 1995, p.35).
Foram então, contratados Mestres e Professores de Capoeira devido a falta de professores de Educação Física qualificados para dar coerência a prática da Capoeira nas escolas.
Castro Jr. (2002) nos relata que há um crescimento da prática da Capoeira nas Escolas de Salvador(BA). Porém, reproduzem o trabalho desenvolvido nas academias com batizados, troca de cordas e formaturas.
"a nossa intenção não é desvalorizar o ensino da Capoeira nas academias em detrimento do ensino da Capoeira no âmbito escolar, e sim reconhecer que a escola, enquanto local de incorporação e produção de conhecimento é dotada de outros atributos" Castro Jr. 2002, p.90
O Professor possui um papel de extrema importância no processo escolar, uma vez que deverá desenvolver um pensamento crítico, desocultando as mentes adormecidas pelos processos neo-liberalistas(Castro Jr. 2002, p.90)
No Rio de Janeiro, mas precisamente na Escola Bosque, situada no bairro da Gávea, atendendo a uma comunidade de classe média, iniciou-se trabalhos com Capoeira na Educação Física, em meados de 1997 (Mattos, 2001).
Segundo Mattos(2001) foram elaborados conjuntamente com os alunos, todo o planejamento, objetivos a serem alcançados, formas de alcançá-los, atividades possíveis de serem realizadas, métodos de avaliação etc. Mattos(2001), dividiu estas sugestões em duas categorias.
A primeira , chamou campo de atividades práticas, e a segunda, campo de atividades teóricas. Com isso contribuiu para o enriquecimento das discussões acerca do conteúdo proposto.
Mattos (2001) preocupado com o desenvolvimento do pensamento crítico e o "acordar" de mentes, sugeriu as seguintes reflexões teóricas a cerca da prática da capoeira na Escola Bosque:
Capoeira e os Quilombos: símbolos de resistência
Capoeira como elemento da cultura corporal do brasileiro
Evolução da Capoeira: os brancos e a mulher
Capoeira e jiu-jitsu: discriminações semelhantes ou não?
Ao final do semestre, propôs apresentação de um trabalho como forma de avaliação de todo o conteúdo(pratico e teórico) abordado em aula, assim como a participação da turma na nova proposta.
Assim como no projeto de Zulu, foram convidados Mestres de Capoeira para palestrarem e dividir suas vivências com a turma. O que nos remete ao questionamento de Cordeiro(2003), quando analisou "alguns pontos críticos da pratica da capoeira na escola".
Em seu trabalho questiona: "qual seria o profissional melhor capacitado para trabalhar aCapoeira na escola?" Deparamo-nos com dois exemplos distintos, com algumas semelhanças e peculiaridades, sendo o primeiro, abrangente em toda rede oficial de ensino do Distrito Federal, coordenada por um Professor com formação em Química, Pós- graduado em Educação Física e Mestre de Capoeira(Zulu, 1995, p.6), e o segundo, restrito somente a uma escola particular do Rio de Janeiro, coordenada por um Professor de Educação Física sem vivência em Capoeira.
O que podemos notar é que, tanto no primeiro quanto no segundo exemplo, houve uma cooperação entre os profissionais, cada um no âmbito de sua atuação. Até mesmo no primeiro exemplo onde Zulu, além de ser mestre em Capoeira também era Professor pós - graduado em Educação Física, não dispensou auxilio dos amigos capoeiristas(Zulu, 1995, p. 35), e Mattos(2001) por ser somente um Professor de Educação Física não deixou de promover o que define o PCN-EF como objetivo para o final do ensino fundamental:
"Espera-se que ao final do ensino fundamental os alunos sejam capazes de: conhecer, valorizar, respeitar e desfrutar da pluralidade de manifestações de cultura corporal do Brasil e do mundo, percebendo-as como recurso valioso para a integração entre pessoas e entre diferentes grupos sociais; " PCN- EF, 2001, p. 63
5. A realidade que encontramosBarra Mansa e Volta Redonda, são cidades situadas no chamado complexo médio Paraíba do Estado do Rio de Janeiro, onde focamos nossa pesquisa. Foram aplicados questionários com respostas objetivas acerca da prática docente, conhecimento e aplicação do PCN-EF no âmbito escolar.
Os professores entrevistados de ambas as cidades totalizaram 15(sendo oito do sexo feminino), todos atuantes em escolas públicas e/ou privadas. Possuindo idade entre 28 e 47 anos de idade, com 05 a 27 anos de magistério, sendo 53,3% dos entrevistados com mais de 15 anos de pratica docente.
Segundo as respostas obtidas através dos questionários, 73,3% dos entrevistados conhecem o PCN-EF, 20 % conhece o documento, mas ainda não o leu, e apenas 6,67% desconhece totalmente o documento.
Para os professores, 40% acreditam que o PCN-EF, hoje é uma realidade aplicável aos profissionais de Educação Física, 33,3% concordam ser aplicável em alguns pontos e 26,7% disseram que o PCN-EF não se aplica a realidade vivida hoje pela a Educação Física nas escolas, por motivos como: o ensino na escola ainda segue muito o modelo tecnicista, em algumas regiões do Brasil é impossível implantar o PCN-EF como propõe o documento entre outras.
Mesmo sendo 73,3% conhecedores do PCN-EF, apenas 33,3% trabalham ou já trabalharam com lutas como conteúdo de suas aulas de educação física. Deste contexto, 26,6% iniciaram a pratica através de atividades lúdicas e 6,67% como atividade extra-classe.
O outro montante, referente a 66,6%(isso no geral), não trabalham ou nunca trabalharam o conteúdo luta em suas aulas. 46,6% alegaram falta de experiência na área de lutas, 13,3% achou o conteúdo inadequado ao ambiente escolar e 6,67% não trabalha por falta de espaço física na escola.
Porém, 93,3% concordam que o PCN-EF acertou em incluir as lutas como possível conteúdo para a Educação Física. Também concordam com alguns autores que a Capoeira como um instrumento da Educação Física é importante para a educação global do indivíduo.
Quanto à intencionalidade pratica da luta nas aulas de educação física, 33,3% acreditam que a violência cotidiana em que vivemos não interfere na pratica pedagógica da luta. 26,6% acreditam que possa interferir em alguns pontos e 40% afirma que interfere sim. Mas foram unânimes em suas justificativas que esta interferência ou não, está diretamente ligada ao docente, em suas atitudes e como conduz sua aula.
Colocamos aos professores, uma situação-problema, onde a escola oferecia aos alunos praticas de lutas como conteúdo das aulas de educação física. 53,3% dos entrevistados procuraria ajuda de um especialista da área (professor de Capoeira, judô, Karate etc.). 26,6% faria um curso de reciclagem, 13,3% convenceria a direção da escola que esta pratica é inadequada ao ambiente escolar e 6,67% procuraria outros meios não citados.
Concluindo o questionário, solicitamos a opinião dos professores quanto à aceitação das lutas nas aulas de Educação Física. Quais seriam as lutas em que alunos pudessem ter maior afinidade. Destacou-se a Capoeira, seguido do Judô.
Em uma conversa com professores entrevistados, podemos notar que a luta de alguma forma configura o espaço escolar, através de atividades extraclasse, feitas por voluntários da comunidade onde se situa a escola, com apresentações sempre ocorridas em datas comemorativas específicas ou nas festividades da escola.
Já em Barra Mansa, encontramos uma realidade diferente de Volta Redonda, onde a Secretaria Municipal de Educação (SME), mantém um projeto denominado "Arte e Cultura", cujo objetivo e proporcionar aos alunos atividades como: pintura, teatro, coral, recreação e Capoeira.
Conversamos com o Sr. João Guilherme da Silva Filho, conhecido nas rodas de Capoeira como Mestre Guilé, responsável da Associação de Capoeira Berimbau Dourado e Professor do projeto mencionado acima.
Segundo o Mestre, iniciou seus trabalhos em outubro de 1991(no inicio o projeto tinha outro nome). Hoje atende a 10 escolas da rede pública municipal com uma média geral de 300 alunos.
Para o desenvolvimento do trabalho, a escola apoia somente com o espaço físico, porem não há nenhuma restrição quanto a pratica da Capoeira na escola. As aulas são ministradas uma ou duas vezes por semana com duração de cinqüenta e sessenta minutos de aula.
As turmas são mistas, separadas somente por séries. As aulas transcorrem como nas academias: alongamento, aquecimento, ginga, movimentos básicos, roda, batizado e troca de corda a cada final de ano letivo.
Os alunos são avaliados de acordo com seu desenvolvimento nas aulas, sem vínculo nenhum com a vida escolar do aluno. Sua avaliação não entra no boletim ou na média dos alunos. Não influencia em nada.
A teoria acerca da Capoeira é passada oralmente, aos poucos em cada dia de aula. Não são feitos trabalhos em grupos, discussões críticas relacionando fatos ocorridos através da historia da Capoeira com os acontecidos em nossos dias.
Quanto à violência, Mestre Guilé diz não ter tido problema com seus alunos e a pratica da Capoeira. Segundo o Mestre "hoje os alunos estão mais disciplinados do que, quando começou em 1.991". Alguns pais, ainda apresentam uma certa resistência a Capoeira, principalmente os de religião evangélica.
Mestre Guilé possui o registro do CREFI/RJ e se posiciona contra este tipo de registro, mas precisou obtê-lo para continuar seu trabalho, já que foi uma exigência da SME do município de Barra Mansa.
Considerações finaisAdeus, adeus
Boa viagem
Eu vou me embora
Boa viagem
Vocês ficam com Deus
Boa viagem
E com Nosssa Senhora
Boa viagem
Musica de Domínio PublicoDe acordo com os temas abordados, visto e revisto em literaturas, é perceptível ainda uma certa resistência de Professores em aplicar o PCN-EF em suas aulas no que se refere às lutas. Onde a prática existe, vimos que começou a acontecer de forma isolada, com iniciativa de um Professor ou um projeto como é o caso de Barra Mansa.
A falta de vivência, conhecimento da área de luta é um dos grandes empecilhos para que esta pratica se torne rotineira como o futsal, handebol, basquete, dança entre outras. Porém, nossos educadores, em sua grande maioria conhecem o PCN-EF, sabem de sua importância para o acervo corporal e cultural do aluno. Entretanto a presença da luta no espaço escolar, está cada vez maior, seja através de apresentações, voluntários da comunidade, projetos do governo etc.
A peça fundamental para o sucesso desta prática, sem duvida é o Professor, que poderá buscar conhecimentos, informações, parcerias para que os alunos também possam vivênciar aspectos motores, cognitivos e afetivo-sociais da luta.
Fechar os olhos para este contexto é negar aos alunos, e o pior, é negar a si mesmo ampliar, conhecer, vivenciar, admirar com criticidade esta manifestação de cultura corporal, que ainda traz implícito em seu desenvolvimento, valores os quais lidamos na vida cotidiana como: disciplina, autocontrole, cooperação, integração, coesão e socialização.
Referências bibliográficas
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CAPOEIRA, Nestor - O Galo já cantou - Rio de Janeiro, 2ª ed., Record - 1999
CASTRO JR, Luís Vítor e SOBRINHO, José Sannt'Anna - O ensino da Capoeira: por uma pratica nagô. Rev. Brás. Ciênc. do Esporte - Campinas, v.23, p.89-103, jan. 2002.
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CORDEIRO, Yara Cordeiro - Reflexões de Alguns Pontos Críticos da Prática da Capoeira na Escola. Disponível em www.geocities.com/colosseum/field/3170/yara.02.htm acessado em: 07/04/2003
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revista
digital · Año 10 · N° 90 | Buenos Aires, Noviembre 2005 |