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Capacidade física de indivíduos sedentários,
treinados e treinados que utilizavam anabolizantes

   
Centro Universitário Toledo de Araçatuba - SP
UNITOLEDO - Educação Física
(Brasil)
 
 
Roberto Werneck
Prof. Ms. Sérgio Tumelero

tumelero.prof@toledo.br
 

 

 

 

 
Resumo
    Não é de hoje que alguns atletas usam anabolizantes com o objetivo de melhorar a performance, porém, principalmente, na última década o abuso dos anabolizantes se disseminou entre freqüentadores de academias, mesmo para aqueles sem nenhum interesse em participar de competições esportivas, sendo utilizado unicamente para melhora da aparência física. Quando do uso destes anabolizantes, apenas uma parte é absorvida de imediato, o restante permanece estagnado no local. A maior quantidade é reconhecida pelo organismo como um corpo estranho dentro do músculo e, como meio de proteção, uma camada de tecido conectivo é formada em volta da droga para evitar que ela se espalhe e cause mais danos.
    Unitermos: Exercício físico. Anabolizantes. Massa muscular
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 90 - Noviembre de 2005

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Introdução

    Durante a Segunda Guerra Mundial, os nazistas administravam hormônios derivados da testosterona para aumentar a agressividade dos soldados alemães. Esses hormônios anabolizantes - chamados de esteróides androgênicos - foram estudados na década de 1950 como agentes promotores de crescimento, mas suas propriedades virilizantes tornaram o uso clínico inviável (SALZANO JR. 1991).

    Para COSTILL & WILMORE (2002) não é de hoje que alguns atletas usam anabolizantes com o objetivo de melhorar a performance, mas foi nos últimos dez anos que o abuso dos esteróides se disseminou entre freqüentadores de academias sem nenhum interesse em participar de competições esportivas, unicamente para melhorar a aparência física.

    Quando andrógenos são ingeridos ou injetados na corrente sangüínea, ao passar pelo fígado, a testosterona é metabolizada e tornada inerte. Para impedir essa inativação surgiram no mercado adesivos transdérmicos, cápsulas de liberação prolongada e preparações contendo modificações estruturais na fórmula da testosterona (SALZANO JR. 1991).

    Doses fisiológicas de testosterona e seus derivados, como aquelas empregadas em homens com hipogonadismo (insuficiência de produção de testosterona), não exercem efeitos indesejáveis em homens normais. Por isso, quem abusa de anabolizantes é obrigado a aumentar e escalar as doses para obter o efeito desejado - exatamente como o fazem os usuários de outras drogas.

    Doses mais altas (suprafisiológicas) de testosterona estimulam a síntese de proteínas e aumentam a massa muscular, porque o hormônio se liga a receptores específicos localizados nas fibras musculares. Dosagens mais elevadas provocam ainda euforia e resistência à fadiga, facilitando a realização de exercícios mais vigorosos que colaboram decisivamente para hipertrofiar a musculatura. Praticamente, todo freqüentador de academia tem algum grupamento muscular que deseja desenvolver de maneira prioritária. Pode ser o bíceps, que poderia ser um pouco maior; a panturrilha, que não acompanha o desenvolvimento da coxa; ou a coxa, que se mostra desproporcional em relação ao tronco (COSTILL & WILMORE 2002).

    Para SALZANO JR. (1991), tais desequilíbrios, via de regra, são originados por falhas no treinamento, limitações genéticas e/ou problemas psicológicos, como a distrofia muscular. No entanto é difícil que se tenha humildade e sabedoria para reconhecer os problemas e corrigi-los de forma saudável e eficiente. Ao invés disso, tem ocorrido uma busca irracional pela "hipertrofia localizada", que culminou com a injeção de óleos dentro de determinados grupamentos musculares. Apesar de ser perigosa e não ter nenhum suporte técnico, ou ao menos explicação supérflua. Essa prática tem se tornado assustadoramente comum, produzindo sérios efeitos lesivos, e dentre os sobreviventes, verdadeiras aberrações.

    Quando se aplica uma droga, apenas uma pequena parte é absorvida de imediato, o restante permanece estagnado no local. A maior quantidade é reconhecida pelo organismo como um corpo estranho dentro do músculo e, como meio de proteção, uma camada de tecido conectivo é formada em volta da droga para evitar que ela se espalhe e cause mais danos. Ou seja, ao aplicar não se está aumentando a massa muscular e sim criando uma espécie de tumor (COSTILL & WILMORE 2002).

    Para GENTIL (2001), a inflamação leva ao aumento do volume no local, que permanece por alguns anos, até que o corpo consiga removê-lo totalmente, ou pior até que ele destrua os tecidos e tenha que ser removido cirurgicamente.

    O organismo pode não ser capaz de controlar adequadamente os processos lesivos decorrentes da presença do óleo, gerando uma progressiva destruição tecidual que leva ao comprometimento de toda a região, que culmina com a remoção cirúrgica dos tecidos mortos e, em casos extremos, leva a amputações. Apesar de parecer distante para muitos usuários, nos Estados Unidos, onde esta moda se espalhou e ganhou proporções absurdas, as amputações já ocorrem, e há quem diga que são relativamente comuns (COSTILL & WILMORE 2002).

    Através de manipulações moleculares, pode-se alterar a estrutura das ligações bioquímicas da testosterona gerando diversas substâncias, com diferentes efeitos anabólicos e androgênicos. De acordo com BASARIA et al (2001) os anabolizantes podem ser divididos em três classes:

  • Classe A - possuem cadeias de carbono mais longas, sendo portanto, mais solúveis em lipídeos. São muito usados em injeções intramusculares oleosas. Esta variação tem menor polaridade, sendo absorvida de forma mais lenta (exemplo: proprianato de testosterona, cipionato de testosterona e enantanato de testosterona).

  • Classe B - sofrem 17-a-alquelação para dificultar sua degradação pelo fígado quando ingeridos oralmente, tornado-se mais lesivos, como a Metiltestosterona.

  • Classe C - sofrem modificações nos anéis A, B ou C, como a mesterolona, também usados na forma oral.

  • Classe AC - híbrido as classes A e C, ex: Deca-durabolin e Durbolin.

  • Classe BC - misto das classes B e C, ex: Winstrol e Anavar.

    Para GENTIL (2001), o exercício físico é muito importante para o ganho de massa muscular se for associado ao uso de anabolizantes. Estes, quando administrados a sedentários, provocam aumentos bem mais discretos. O abuso de anabolizantes provoca distúrbios comportamentais, endócrinos, cardiovasculares, hepáticos e musculoesqueléticos.

  • Comportamentais: São freqüentes as queixas de agressividade exacerbada, irritabilidade, agitação motora e aumento ou diminuição da libido. Síndromes psiquiátricas como transtorno bipolar (anteriormente conhecida com o nome de psicose maníaco-depressiva), síndrome do pânico e quadros depressivos podem surgir na vigência do uso de doses elevadas.

  • Endócrinos: É comum aparecerem lesões dermatológicas típicas de acne - principalmente na face -, atrofia dos testículos, calvície, impotência sexual, diminuição do número e da motilidade dos espermatozóides, redução do volume de esperma ejaculado, ginecomastia (crescimento das mamas em homens), masculinização das mulheres e alterações na tolerância à glicose, que podem desencadear quadros de diabetes em indivíduos predipostos.

  • Cardiovasculares: Retenção de líquido que favorece o aparecimento de edemas. Aumento da pressão arterial. Alteração no metabolismo dos lípides que podem levar a aumento do risco de doenças cardiovasculares: aumento do colesterol total, diminuição de HDL ("bom colesterol"), aumento de LDL ("mau colesterol") e aumento de triglicérides.

  • Hepáticos: elevação das enzimas do fígado (transaminases, fosfatase alcalina, gama GT, etc.), quadros de icterícia e, mais raramente, câncer do fígado.

  • Musculoesqueléticos: Lesões osteomusculares por solicitação exagerada (overuse). Fechamento precoce das epífises, com conseqüente interrupção do crescimento dos ossos. Não existe tratamento específico para o uso abusivo de anabolizantes.

    Como essas drogas são geralmente comercializadas por vias ilegais e administradas em dosagens e concentrações variáveis por pessoas leigas, não há estudos clínicos para nos ajudar a definir esquemas seguros de administração, se é que eles existem (SALZANO JR. 1991).

    Para se ter sucesso em qualquer fase do treinamento, independente do que você estiver fazendo, há dois fatores exógenos que são de grande importância para o seu sucesso: treino e dieta. O primeiro, aumentando o número de receptores (KADI, 2000; LU et al, 1997) e potencializando os resultados; o segundo, fornecendo o material para o anabolismo.

    Por ser uma prática leiga, obscura e sem nenhum controle, será muito difícil obter dados oficiais dos problemas advindos do uso de anabolizantes para crescimento localizado, mas já se ouve muitos relatos de efeitos colaterais sérios, como morte, embolia, infartos, amputações, paralisias e necroses.

    Além dos males diretos, a facilidade em obter um aumento do volume de determinado músculo através de injeções localizadas está criando verdadeiras aberrações. O uso desses anabolizantes está fazendo com que se perca o bom-senso, sendo comum vermos braços desproporcionais ao tórax, com uma aparência e consistência que denuncia claramente que aquilo não é músculo.

    O treino correto e a alimentação disciplinada são meios valiosos não só de se obter benefícios estéticos, mas principalmente para se alcançar melhoras que atingem a saúde e outros aspectos qualitativos da vida.


Objetivo

    Quantificar as diferenças apresentadas entre indivíduos, durante a realização do teste dos 12 minutos, comparando indivíduos sedentários, treinados e treinados que utilizavam anabolizantes.


Metodologia

    Foram avaliados 9 voluntários, com idades entre 19 a 43 anos, divididos em três grupos assim especificados: 3 indivíduos ativos, 3 que utilizavam anabolizantes e 3 sedentários.

    Utilizamos para a avaliação o teste de distância percorrida no período de 12 minutos, em esteira elétrica, com avaliação da distância e da frequência cardíaca máxima atingida no período.


Resultados

    Quando comparamos o peso corporal, observamos que o grupo de indivíduos classificados com indivíduos que utilizaram anabolizantes apresentava peso significativamente superior aos indivíduos dos outros grupos. O grupo de indivíduos classificados como ativos também apresentou valores significativamente superiores ao grupo sedentário. Estes valores estão representados no gráfico 1.


Gráfico 1. Peso corporal apresentado pelos voluntários

    Com relação a estatura, houve uma inversão dos resultados com relação ao peso corporal, pois os indivíduos sedentários apresentaram estatura superior aos dois outros grupos, porém, somente sendo significativo quando comparado ao grupo de indivíduos que utilizaram anabolizantes. Estes valores estão representados no gráfico 2.


Gráfico 2. Estatura dos indivíduos voluntários

    No gráfico 3, apresentamos a distância percorrida no período de 12 minutos, onde observamos que os indivíduos classificados como ativos percorreram uma distância superior aos demais grupos. Os indivíduos sedentários também percorreram uma distância superior ao grupo de utilizadores de anabolizantes.

    Com relação a Freqüência Cardíaca Máxima, observamos durante a realização do teste, que os indivíduos classificados como indivíduos que utilizaram anabolizantes atingiram maiores valores de freqüência cardíaca, sendo estes valores significantes em relação aos demais grupos. Com relação aos indivíduos ativos, quando comparados os valores ao sedentários, também apresentou valores significativamente superiores. Estes valores estão representados no gráfico 4.


Gráfico 3. Distância percorrida entre os voluntários


Gráfico 4. Freqüência Cardíaca Máxima atingida durante a realização do teste.

     No gráfico 5, apresentamos os resultados em Met´s, onde observamos que os indivíduos ativos apresentaram valores superiores aos outros grupos. O valor de Met´s, para os indivíduos sedentários também foi superior os indivíduos classificados como indivíduos que utilizaram anabolizantes.


Gráfico 5. Valores dos Met´s apresentado durante o teste.

    No que se refere ao VO2 Máximo, atingido durante o teste observamos que os indivíduos do grupo de ativos apresentaram maior capacidade de VO2 Máx. quando comparados aos demais grupos. Neste item o grupo de sedentários, também apresentou valores superiores, no que se refere ao valor do VO2 Máx., comparado ao grupo de utilizadores de anabolizantes. Estes valores estão representados no gráfico 6.


Gráfico 6. Valores de VO2 Máximo durante a realização do teste.


Conclusões

  • Quanto ao peso corporal: Os indivíduos classificados como ativos, apresentaram peso superior aos demais avaliados, sendo os sedentários os que apresentaram peso menor.

  • Quanto a estatura: Os indivíduos sedentários são os que apresentam maior estatura, seguidos pelos indivíduos que são ativos e utilizam anabolizantes e pelos indivíduos ativos.

  • Sobre a distância percorrida: indivíduos ativos apresentaram maior capacidade para a distância percorrida, seguidos pelos indivíduos classificados como sedentários e pelos indivíduos ativos que utilizavam anabolizantes. Uma explicação para isso, seria o fato de os indivíduos que utilizam anabolizantes dificilmente realizarem atividades do tipo aeróbia, caracterizando seus treinamentos por atividades do tipo anaeróbias.

  • Quanto a frequência cardíaca máxima atingida: Os indivíduos ativos alcançaram valores de FC máximo superior aos demais grupos, seguidos pelos indivíduos ativos e que utilizavam anabolizantes e pelos indivíduos sedentários. A explicação para os ativos, seria o fato da distância percorrida ser maior e como consequência a FC máxima atingida também. Com relação aos ativos e que utilizavam anabolizantes, provavelmente tenha-se ai uma resposta ao uso dos esteróides.

  • Quanto ao VO2 máximo atingido: proporcionalmente a distância percorrida os indivíduos ativos apresentaram valores superiores com relação ao VO2 máximo dos demais grupos, seguidos pelos indivíduos sedentários e pelos ativos que utilizavam anabolizantes.

  • Quanto a capacidade geral: observamos que em relação aos avaliados, o melhor desempenho para a atividade proposta é do grupo ativo, seguido pelo grupo sedentário e depois seguido pelo grupo ativo que utilizava anabolizante, enfatizando que para a proposta do trabalho o uso do anabolizante, ao invés de auxiliar no desempenho tem efeito reverso para a atividade.


Referências bibliográficas

  • BASARIA S; WAHLSTROM JT; DOBS AS. Esteróides Anabólicos Androgênicos no tratamento de doenças crônicas. J Clin Endocrinol Metab 86:5108-5117, 2001.

  • COSTILL, D. L. & WILMORE, J. H. Fisiologia do esporte e do exercício, 2ª edição, Editora Manole, 2002.

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  • LU Y; TONG Q; HE L The effect of exercise on the androgen receptor binding capacity and the level of testosterone in the skeletal muscle. Chung Kuo Ying Yung Sheng Li Hsueh Tsa Chih, 1997.

  • SALZANO JR., I. Drogas no esporte e testes antidoping. Probiótica - divisão editorial, 1991.

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revista digital · Año 10 · N° 90 | Buenos Aires, Noviembre 2005  
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