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Porque a Europa não produz Robinhos?

   
Educador Físico, Mestrando em Educação em Saúde (UNIFOR),
Professor da Universidade Estadual do Ceará (UECE)
 
 
Heraldo Simões Ferreira
heraldosimoes@bol.com.br
(Brasil)
 

 

 

 

 
Resumo
    Este artigo possui o objetivo de tentar compreender o porque de a Europa não produzir bons jogadores de futebol como o brasileiro Robinho. Para explicar o fenômeno o autor levanta uma série de nove fatores, são eles: clima, financeiro, grupo étnico, geografia, lazer, cultura, rotina escolar, ascensão social e mídia. Como conclusão, foi constatado que através dos fatores expostos, o Brasil ainda vai continuar exportando craques de futebol por um longo tempo.
    Unitermos: Futebol. Iniciação esportiva. Talentos esportivos.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 89 - Octubre de 2005

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Introdução

    Ele vem avançando, pedala passando os pés por cima da bola, uma, duas, três e outras tantas vezes, não para, segue, hipnotiza, brinca e oferece prazer a quem assiste. O zagueiro, incapaz de agir, percebe que está à frente do saci, do Negrinho do Pastoreiro ou do curupira, teme e perde a jogada. O goleiro, assustado, lembra-se da figura de Pelé, mas só vê um menino... seu nome Robinho. A cena seguinte, já podemos imaginar, é a bola entrando de forma marota no gol.

    Quantas vezes, nós, simples brasileiros, terceiro-mundistas, nos alegramos com esta situação. Demos boas risadas deste menino sapeca, franzino e moleque, quantas vezes não nos vimos nele, jogando com bola de meia na rua, matando a aula da tarde para um rachinha no campinho de areia, ou naquela pelada de praia.

    Fomos agraciados com a arte de Robinho, camisa 7 do Santos Futebol Clube (o mesmo time de um outro craque que encantou e encanta o mundo até hoje - Édson Arantes do Nascimento, o Rei Pelé) e da Seleção Brasileira, por pouco, pouquíssimo tempo. Quatro ou cinco anos nos foi permitido vê-lo atuando pelos gramados brasileiros. Agora, Robinho foi-se para a Europa, irá brilhar, encantar e levar suas pedaladas e outras brincadeiras com a bola para o Velho Continente.


Fatores

    Sabemos que o Brasil forma craques, é um país exportador de jogadores. Mas, qual seria a razão da Europa não produzir Robinhos? Seria só o "dom" que o jogador brasileiro possui? Acreditamos que não. Muitos fatores podem tentar esclarecer este fenômeno. Senão, vejamos:

1. Clima

    A Europa sofre com invernos rigorosos boa parte do ano. O Brasil, por ser um país tropical, possui a companhia do sol a maior parte do tempo, e quando está no inverno, não sofre em demasia. Queremos com isso dizer que, o europeu, durante o período frio, fica mais em casa ou em lugares fechados, já o brasileiro, vai para as ruas, praças e praias. Nestes espaços, podemos afirmar que o jogo de bola é o mais praticado como forma de distração.

2. Fator financeiro

    Sabemos que o abismo que separa o trabalhador assalariado no Brasil e na Europa é enorme. Enquanto um operário europeu presenteia seus filhos com vídeo-games, computadores e outros brinquedos eletrônicos, o empregado brasileiro só consegue juntar alguns trocados para presentear seus filhos com... uma bola! Assim, fica constatado que o contato com a bola, é muito maior pelas bandas de cá.

3. Grupo étnico

    Somos o fruto de uma miscigenação de três grupos étnicos, a saber: o branco, o índio e o negro. Herdamos das duas últimas a habilidade e a força. Do índio a habilidade, pois para sobreviver nas matas o nativo precisava de agilidade e velocidade, qualidades necessárias para caçar, pescar, fugir ou apanhar presas. Do negro, tão injustiçado no período da escravidão, recebemos sua estrutura muscular, forte para suportar o trabalho pesado nas plantações e nos engenhos. Portanto, através desta combinação genética, formamos atletas com as qualidades específicas para o futebol. O corpo franzino de alguns atletas nossos, antes de irem para a Europa, engana, pois a força não aparente (como é o caso de Robinho), está demonstrada na sua grande explosão muscular.

4. Geografia

    Os países Europeus, em sua grande maioria, são pequenos, do tamanho de um estado brasileiro, às vezes, até menores. O Brasil, ao contrário, é um gigante pela própria natureza, um país continental. Assim, é fácil chegar à conclusão de que os espaços no nosso país são muito mais freqüentes. Na Europa, praticamente inexistem espaços urbanos, há somente prédios, shoppings e demais construções. O Brasil, ainda se dá ao luxo, de registrarmos a presença de campos de futebol, seja no interior ou nas capitais.

5. Lazer

    Museus, parques dec diversões, grandes monumentos, bibliotecas que funcionam, Internet para todos, clubes, teatros. Formas de lazer comuns na Europa. Formas de lazer para toda a população e não só para poucos como ocorre no Brasil. Nas camadas populares brasileiras, o lazer se resume à ida à praia, ao parque e ao estádio. Nas praias e nos parques se pratica o futebol, no estádio se assiste. O lazer do brasileiro, generalizando, se volta ao futebol.

6. Cultura

    A cultura brasileira está impregnada pelo futebol. Ditados populares, histórias e fábulas contêm personagens futebolísticos. Quando um bebê nasce, um de seus primeiros presentes é uma bola e a camisa de um time de futebol. Na escola o futebol é citado em problemas de matemática e em textos de português. Todos os anos vários livros são editados sobre o assunto, álbuns de figurinhas são uma tradição passada de pais para filhos, novelas abordam o tema com freqüência, não são raras as músicas que cantam as proezas dos grandes nomes do futebol e até o cinema produz trabalhos que levam o futebol como atração principal. Em toda instituição, seja educação, comércio ou igreja, o futebol recebe uma atenção especial, times são formados e torneios realizados. Sabemos que na Europa, o assunto futebol, apesar de também ser muito popular, não se compara ao Brasil.

7. Rotina escolar

    Na Europa as crianças, geralmente, entram em sala de aula por volta das nove horas da manhã e terminam seu expediente escolar por volta das dezessete horas, no final da tarde. Após isso, quase sempre retorna para sua residência, onde inicia suas tarefas escolares.A prática do futebol acontece como aqui, no intervalo entre as aulas, ou durante as aulas de escolinha. O diferencial é que no Brasil, os alunos freqüentam a escola no período da manhã ou da tarde, restando sempre um turno livre, seja para o estudo ou para o lazer (futebol).Queremos demonstrar com este fator, que o escolar, no Brasil, possui mais tempo para se dedicar à prática do futebol.

8. Ascensão social

    Como uma criança, da classe popular, no Brasil, pode sonhar com casa própria, ajuda aos pais, carro conversível e conforto? Qual o caminho que ela deve trilhar para alcançar estes sonhos? Pergunte a qualquer garoto e a resposta está na ponta da língua: ser jogador de futebol! Ao analisarmos a prática do futebol na infância, a ascensão social parece ser um dos maiores objetivos. Muitas vezes estimuladas pelos pais, que vêem nas crianças um futuro promissor, os pequenos imaginam que, um dia possam subir o padrão de suas vidas. Este fator, faz com que as crianças considerem o futebol como único caminho, portanto se esforçam como se esta realmente fosse a única oportunidade que lhes é oferecida. Diferentemente na Europa, as crianças possuem outras formas de ascensão social, seja pelo estudo, ou pelas heranças de família.

9. Mídia

    A televisão brasileira explora o mundo do futebol como jamais foi visto em outra parte do mundo. Os astros são exibidos de forma contínua, seja em programas esportivos, humorísticos ou de variedades. Os programas de esportes, na realidade são programas de futebol e o mesmo se diz em relação aos jornais de esportes, que trazem apenas 10% de conteúdo de outras modalidades, o restante é só futebol. Os comerciais e propagandas de TV utilizam o futebol como pano de fundo para vender seus produtos.


Conclusâo

    Através do exposto acima, observamos que o Brasil possui diversos fatores que influenciam no surgimento de Robinhos. Somos um país agraciado, temos sol, espaço, genética favorável . Fatores que devemos nos orgulhar. Porém não devemos esquecer que alguns fatores são tristes espelhos da realidade em que vivemos. A injustiça social, a falta de outras formas de lazer, o pouco tempo na escola e a ausência de perspectivas de ascensão social nos envergonham.

    Encerramos este texto desejando que o Brasil continue produzindo Robinhos, não queremos ser os únicos privilegiados de assistir suas proezas, não nos importamos de ver nossos meninos brilhando na Europa, mas queremos que nossos Robinhos também leiam mais, tenham outras oportunidades de crescer na vida e que continuem pedalando em busca de seus sonhos. Porque, como dizia Jorge Bem Jor: "Moro, num país tropical, abençoado por Deus e bonito por natureza".

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revista digital · Año 10 · N° 89 | Buenos Aires, Octubre 2005  
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