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Avaliação da força de preensão palmar e
composição corporal em portadores da
trissomia 21 no Distrito Federal

   
*Centro Universitário de Brasília
Doutorando no Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde UFRN

**Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde UnB
Faculdade de Educação Física - Universidade de Brasília
Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde UFRN
 
 
José Roberto Godoy*
Jônatas de França Barros**

jose62521@uniceub.br
(Brasil)
 

 

 

 

 
Resumo
    Este estudo teve como objetivo associar hipotonia com a força de preensão palmar, e esta com composição corporal, no intuito de indicar parâmetros, e conseqüentemente uma escala de força para portadores da Trissomia 21, visto que há um aumento crescente da longevidade nessa população e carência de trabalhos nesta área. É estudo de caráter analítico transversal que contou com a participação de 56 indivíduos, distribuídos em dois grupos: Grupo de Estudo =28 (Portadores de Trissomia 21) e o grupo controle (GC) = 28 indivíduos normais. Os instrumentos utilizados no estudo foram o dinamômetro JAMARâ e o DXA. Comparando-se os resultados obtidos, foi verificado um maior percentual de gordura (41,48% nos homens e 26,69% nas mulheres) e força de preensão significativamente menor em função do grupo GE em relação ao grupo GC. Conclui-se que indivíduos portadores de Trissomia 21 apresentam percentual de gordura corporal substancialmente mais elevados em relação à indivíduos normais na mesma faixa etária para os dois gêneros; existe um predomínio da força de preensão palmar nos homens em relação às mulheres nos dois grupos; verificou-se déficit da força de preensão palmar de maneira significativa do grupo GE comparados com o grupo GC; a correlação é baixa entre %GC e força; os resultados obtidos devem ser considerados como indicativo de força para a capacitação da função manual do portador de Trissomia 21.
    Unitermos: Trissomia 21. Força de preensão palmar. Composição corporal.
 
Abstract
    This study aims to associate hipotony with grip strength, and the latter with corporal composition, in the intention of indicating parameters, and consequently a scale of force for bearers of Trissomy 21, because there is a growing increase of the longevity in that population and lack of works in this area. This is a transversal analytic study which counted with the participation of 56 individuals, distributed in two groups: I Group of Study =28 (Bearers of Trissomy 21) and the group control (GC) = 28 normal individuals. The instruments used in the study were the JAMAR® dinamometer and DXA. By comparing the obtained results it was verified a higher percentile of fat (41, 48% in men e 26,69% in women)and grip strength significantly smaller for the group GE in relation to the group GC. It was concluded that individuals with Trissomy 21 present a percentile of corporal fat substantially higher in relation to normal individuals of the same age for both genders; It also does exist a prevalence of grip strength in function of the right hand in relation to the left in both groups and genders; it was verified a significant deficit of the grip strength palmar preehension in the group GE when compared with the group GC; the correlation is low between %GC and strength; the obtained results should be considered as indicative of force to rehabilitate the hand function in individuals with Trissomy 21.
    Keywords: Trissomy 21. Grip strength palmar prehension. Corporal composition (physical composition).
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 89 - Octubre de 2005

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Introdução

    A Síndrome de Down é a mais comum e bem conhecida de todas as Síndromes mal formativas da espécie humana. Cerca de 15% dos portadores de atraso mental que freqüentam instituições públicas para crianças especiais são Portadores da Síndrome de Down (PUESHEL, 1995). O primeiro a descrevê-la foi John Langdon Down em 1866.

    Os portadores da Síndrome de Down exibem características marcantes, das quais a hipotonia muscular e a frouxidão ligamentar se tornam evidentes por impedirem que a força muscular resultante da atividade de diferentes grupos musculares e articulações seja eficiente para atingir o resultado esperado, pelo fato de um frouxo sistema de alavancas consumir todo o esforço34.

    Entretanto, há poucos estudos analisando quais as características da força muscular em indivíduos com Síndrome de Down. MORRIS et al., (1982), apud SHARAV et al. (1992), relataram que a força muscular produzida pela força de aperto nessa população (idade entre 4 e 17 anos) é reduzida quando comparada a indivíduos com inteligência média, mostrando assim que existe uma correlação significante entre hipotonia e déficit de força. PITETTI et al. (1992) mostraram que adultos com Síndrome de Down exibem resultados mais baixos para força isocinética de braços e pernas, do que indivíduos dentro da média de inteligência, o que nos leva a refletir sobre o grave impacto que este déficit gera nas atividades de vida diária e oportunidades de trabalho nesta população.

    A avaliação da força de preensão palmar é objeto de vários estudos, pois constitui um indicador relevante na análise do estado geral de força do indivíduo (BALOGUN, 1990; DURWARD, 2001; MOREIRA et al. , 2001), e é essencial para a realização das atividades de vida diária (AVD's). Com exceção das atividades locomotoras, a força de preensão palmar é utilizada em quase todas AVD's realizadas durante o dia 10

    A obesidade também é uma constante na população retardada 29. Riscos para a saúde a curto e longo prazo associados à obesidade contribuíram para sua crescente não aceitação. Além disso, indivíduos obesos mentalmente retardados são prováveis objetos de preconceito social, aumentado a não aceitação, devido ao estigma social associado a ser retardado e obeso3. 83% dos deficientes mentais com Síndrome de Down estão acima de seu peso ideal 3.

    A expectativa de vida de indivíduos com Síndrome de Down têm aumentado nas últimas décadas. É estimado que 80% dos adultos atingem a idade de 50-55 anos e 45% atingem a idade de 60 anos. Aproximadamente 14% atingem 68 anos 3.

    Com isto, o problema que nos levou a desenvolver esta pesquisa está caracterizado da seguinte maneira: faz-se necessário que novas investigações sejam realizadas associando hipotonia muscular com força de preensão palmar e esta com a composição corporal, no intuito de indicar parâmetros, e conseqüentemente uma escala de força para portadores da Síndrome de Down, visto que há um aumento crescente da longevidade nesta população e carência de trabalhos nesta área.


Objetivo do Estudo

    Avaliar a força de preensão palmar em indivíduos de ambos os sexos, portadores da Trissomia 21 com idade compreendida entre 20 e 40 anos e correlacionar os dados obtidos com a composição corporal.


Material e Métodos

Delineamento do Estudo

    Trata-se de um estudo de caráter analítico transversal e correlacional, no qual será identificada a força de preensão palmar e composição corporal de indivíduos de ambos os gêneros (masculino e feminino) portadores da trissomia 21, na faixa etária entre 20 e 40 anos, no âmbito do Distrito Federal.


Seleção da Amostra

    O presente estudo contou com a participação de 56 indivíduos, distribuídos em dois grupos, dos quais 28 formaram o grupo controle (GC), por não apresentarem Trissomia 21 (Síndrome de Down), e 28 o grupo de estudo, portadores da Síndrome de Down (GE). Cada grupo foi constituído de indivíduos dos dois gêneros (14 masculino e 14 feminino), com idade compreendida entre 20 e 40 anos, por ser a faixa etária de maior atividade laboral.

    Todos os indivíduos participaram do estudo de forma voluntária e foram informados do objetivo do estudo, dos procedimentos, dos possíveis desconfortos, riscos e benefícios antes de assinarem (GC), ou serem autorizados por seus responsáveis que assinaram (GE) o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.


Critérios de Inclusão

  • Ser portador de Trissomia 21;

  • Ter idade entre 20 e 40 anos;

  • Apresentar grau 5 para o sistema de classificação da atividade motora voluntária para a mão proposta por Omer (1981), ou seja, apresentar mobilidade completa contra a gravidade com resistência total;

  • Compreender as informações fornecidas pelo pesquisador durante a coleta de dados com o dinamômetro e Dual Energy X-Ray Absortometry;

  • Interesse em participar do Estudo.


Instrumento de Coleta de Dados

a. Dinamômetro JAMARâ

    Vários instrumentos são utilizados para mensurar a força de aperto na preensão palmar, mais nenhum é tão utilizado quanto o dinamômetro JAMARâ 2,6,9O dinamômetro JAMARâ apresenta precisão de 1 Kg/f (Kilograma/força), consistindo de um sistema de aferidores de tensão, constituído por duas barras de aço que são ligadas juntas. Para mensurar a força de preensão, o sujeito é orientado a apertar as duas barras com o intuito de aproximá-las.

    Na medida em que a força é aplicada, provoca uma alteração na resistência dos aferidores, que é diretamente proporcional à força exercida sobre as barras10.

    O aparelho tem manopla ajustável para espaçamento de 1, 1.5, 2, 2.5 e 3 polegadas, ou seja, 1ª, 2ª, 3ª, 4ª e 5ª posições, sendo que 1 polegada corresponde à 1ª posição e assim respectivamente18.

b. Dual Energy X-Ray Absortometry (DXA)

    Consiste de um densímetro ósseo de raios-X com smartscan, DPX-IQ, versão 4.7E. DXA é uma tecnologia praticamente nova que esta sendo reconhecida como um método de referência na investigação da composição corporal. Este método avalia a composição corporal com o uso de conversão de raios-X em picos de energia de altos e baixos para estimativa de gordura, densidade óssea e tecidos magros livre de minerais12.


Procedimentos do Estudo

    Durante a coleta dos dados procurou-se estabelecer parâmetros de comparação confiáveis, realizando pareamento entre os grupos estudados para a força de preensão palmar, levando em consideração três aspectos: sexo, idade e dominância. Os dados referentes ao percentual de Gordura Corporal (%CG) com DXA para comparação com o GE foram captados na literatura, onde se buscou trabalhos com amostragem semelhante ao GC.

    A coleta de dados referentes à preensão palmar foi realizada pelo pesquisador com o dinamômetro ajustado na posição 2 (preconizada pela SATM) 13.

    Antes de iniciar a avaliação procurou-se explicar de forma objetiva a finalidade do teste, mostrando ao indivíduo como segurar o aparelho, com o objetivo de familiarização e adaptação ao esquema de teste. Durante a avaliação da força de preensão palmar, os sujeitos foram orientados a permaneceram sentados seguindo a posição padronizada pela SATM, na qual os quadris e joelhos encontram-se fletidos a 90º, ombro aduzido em posição neutra, cotovelo fletido a 90º e antebraço em semi-pronação, sem que haja desvio radial ou ulnar (CROSBY et al., 1994). Foi orientado para que fosse realizado o movimento de preensão palmar para cada tentativa após o comando verbal do examinador (um, dois, três e já). Foram no total 3 tentativas para cada mão, iniciando pela direita e intercalando com a esquerda, respeitando intervalo de pelo menos 1 minuto para a mesma mão, com a intenção de evitar fadiga durante o teste. A força foi aplicada durante 5 segundos para cada tentativa8, 9, 20, 21, 22.

    Os resultados foram registrados em Kg/f, de acordo com as especificações mostradas no "dial" do aparelho. O fabricante recomenda que se proceda a calibragem anual do aparelho, procedimento este realizado antes do início da coleta.

    Para avaliação no DXA, o participante permaneceu deitado em decúbito dorsal, com os membros superiores ao longo do corpo. Não havia em sua vestimenta nenhum tipo de metal, tal como fivelas ou botões, que pudessem inferir no resultado do teste. Nenhum dos participantes poderia ter sido submetido a exames radiológicos contrastados nos últimos sete dias. Os testes constam de uma varredura completa no corpo do sujeito, através de uma série de escaneamentos transversais ao eixo longitudinal do corpo. Cada um dos escaneamentos transversais mede entre 0.6 e 1.0 cm. A velocidade de escaneamento seguiu parâmetro constante no manual do operador do equipamento (?75 Kg - padrão; ?75 Kg - prolongada).

    Todos os indivíduos que participaram do estudo, diretamente (GC) ou indiretamente por terem sido autorizados pelos seus responsáveis (GE), foram informados através de um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, sobre os procedimentos e objetivos do estudo.


Tratamento dos Dados

     Utilizou-se o pacote estatístico SPSS for Windows 12.0. O tratamento estatístico foi considerado através da utilização das médias, desvio-padrão, amplitude, análise de variância (ANOVA) e coeficiente de correlação de Pearson, esta para verificar se houve associação entre %GC (DXA) e força de preensão palmar.

     As áreas de rejeição pré-estabelecidas foram de 0.05.


Resultados

    A média de idade verificada em cada grupo estudado foi de 27,82 anos (tabela 1).

Tabela 1 - Distribuição dos indivíduos por grupo, gênero e média de idade. Brasília, 2004.

    Com relação a média da força de preensão obtida nos grupos estudados, observou-se que houve predomínio da força de maneira significativa no grupo grupo controle (GC) em relação ao grupo de estudo (GE) para ambas as mãos. Dados estes que podem ser observados na tabela 2.

Tabela 2 - Valores médios, desvio padrão e análise de variância (Anova) para força de preensão palmar (Kg/f) entre os grupos. Brasília, 2004.


* Valores estatisticamente significativos (p<0,05)

    Em relação à média da força para a preensão palmar e considerando os dois gêneros (masculino e feminino) nos dois grupos em relação a mão direita e esquerda, verifica-se que houve predomínio da força de maneira significativa no grupo controle (GC) em relação ao grupo de estudo (GE) (tabela 3).

Tabela 3 - Valores médios, desvio padrão e análise de variância (Anova) para força da preensão palmar (Kg/f),
da mão direita e esquerda, entre os grupos, para o gênero masculino e feminino. Brasília, 2004.


* Valores estatisticamente significativos (p<0,05)

    Quando se observa as diferenças percentuais em relação à força de preensão palmar (Kg/f) entre os grupos, verifica-se que a mão direita no grupo controle (GC) apresenta 51,63% a mais de força em relação a mesma mão no grupo de estudo (GE) e que o mesmo acontece com a mão esquerda, sendo esta 49,13% mais forte, diferenças estas estatisticamente significativas (tabela 4).

Tabela 4 - Valores médios e desvio padrão para preensão palmar (Kg/f), diferença dos valores médios das medidas, diferença percentual e análise de variância (Anova) das médias das medidas coletadas entre os grupos. Brasília, 2004.


* Valores estatisticamente significativos (p<0,05)

    Quando se observa as diferenças percentuais em relação à força de preensão palmar (Kg/f) nos gêneros masculino e feminino,
verifica-se que os resultados se mantém próximos em relação às diferenças percentuais de todo o grupo (tabela 5), diferenças estas estatisticamente significativas.

Tabela 5 - Valores médios e desvio padrão para preensão palmar (Kg/f), diferença dos valores médios das medidas, diferença percentual e análise de variância (Anova) das médias das medidas coletadas no gênero masculino e feminino entre os grupos. Brasília, 2004.


* Valores estatisticamente significativos (p<0,05)

    Com relação às diferenças percentuais da força de preensão (Kg/f) para a mão direita e esquerda no grupo controle (GC) e grupo de estudo (GE), não há diferença estatisticamente significativa nos dois gêneros (masculino e feminino) (tabela 6).

Tabela 6 - Valores médios e desvio padrão para força de preensão palmar (Kg/f), diferença dos valores médios, diferença percentual das medidas e análise de variância (Anova) para mão direita e mão esquerda dos gêneros masculino e feminino do GE. Brasília, 2004.


* Valores não estatisticamente significativos (p < 0,05)

    Com relação às medidas da força nas mãos para os gêneros masculino e feminino obtidas no grupo de estudo (GE), os resultados demonstram que, em relação a mão direita e esquerda (tabela 7), homens são significativamente mais fortes que mulheres em todas as medidas.

Tabela 7 - Força de preensão da mão direita para os gêneros masculino e feminino entre o GE ao longo das medidas. Brasília, 2004.


* Valores estatisticamente significativos (p<0,05)

    Não obstante, encontramos resultados semelhantes para o grupo controle (GC), ou seja, com relação à medida da força nas mãos para os gêneros masculino e feminino, obtida no GC ao longo das medidas, os resultados demonstram que em relação a mão direita e esquerda (tabela 8), homens são significativamente mais fortes que mulheres em todas as medidas.

Tabela 8 - Força de preensão da mão direita para os gêneros masculino e feminino do GC ao longo das medidas. Brasília, 2004.


* Valores estatisticamente significativos (p<0,05)

    A tabela 9 demonstra os resultados obtidos referentes a coleta com DXA para o GE, onde as mulheres apresentam um %GC de 41,48% contra 26,65% dos homens, valores estes estatisticamente significativos e inversamente proporcionais à força de preensão apresentada nos dois gêneros. A média da idade é de 28,21 anos e 27,43 anos para homens e mulheres, respectivamente.

Tabela 9 - Valores médios e desvio padrão para preensão palmar (Kg/f) e idade em anos, percentual de gordura, diferença dos valores médios das medidas, diferença percentual e análise de variância (Anova) das médias das medidas coletadas no GE entre os gêneros masculino e feminino. Brasília, 2004.


* Valores estatisticamente significativos (p<0,05)

    A tabela 10 apresenta os resultados obtidos para o GE comparados aos colhidos na literatura com populações semelhantes.

Tabela 10 - Comparação dos valores médios das medidas do percentual de gordura corporal (DXA) da amostra e resultados obtidos na literatura, para os gêneros masculino e feminino no GE. Brasília, 2004.

    Nota-se na tabela 11, baixa correlação entre percentual de gordura (%GC) e força de preensão para o gênero masculino e feminino no grupo de estudo (GE).

Tabela 11 - Correlação dos valores médios e desvio padrão da preensão palmar e percentual de gordura para o gênero masculino do GE. Brasília, 2004.


r= Correlação


Discussão

    A funcionalidade da mão depende da integridade dos complexos do ombro e cotovelo, que lhe permite o posicionamento adequado para realização da tarefa desejada. As tarefas motoras e sensoriais executadas pela mão são todas organizadas de forma a atender o funcionamento geral do corpo em termos de desempenho das atividades de vida diária (AVD's), necessárias para sobrevivência 10.

    Boa parte da literatura atual a respeito da função manual tende a se concentrar na força. Isto provavelmente ocorre porque a avaliação da força é um dos aspectos da função manual mais fáceis de medir de uma maneira realmente objetiva 10, 27, 22.

    O dinamômetro JAMARâ consiste de um sistema de calibração que ganhou maior aceitação clínica e tem sido considerado o instrumento mais aceito para avaliar a força de preensão palmar. Neste sentido, tem sido regularmente utilizado em vários estudos para quantificar a força de aperto da mão 2, 6, 9, 17.

    A SATM recomenda a padronização, tanto da posição do individuo a ser avaliado, quanto da manopla do aparelho, para uma análise precisa e o mais correta possível 8, 16, 20, 22.

    MATHIOWETZ et al. (1985), constataram que a confiabilidade dos dados coletados quando dois observadores experientes seguem um protocolo padronizado é elevada, com um coeficiente de correlação de 0,97 e concluíram que eles podem obter medidas semelhantes da força de preensão. Quando considerada a confiabilidade do teste-reteste em diferentes números de tentativas, descobriu-se que a média das três era a mais consistente, apresentando um coeficiente de correlação de 0,80 ou mais.

    A média de idade (anos) observada na tabela 1 nos grupos de estudo foi de 27,82 ± 6,634 e amplitude (20 a 40) caracterizando um período da vida, onde grande parte da população encontra-se em grande atividade laboral. Além disto, BOWEN et al. (2001) observaram um aumento gradual da força desde os 18 aos 39 anos em estudo realizado com a população normal e CROSBY et al. (1994) concluíram que os maiores valores para a força de preensão são obtidos na faixa etária entre os 20 e 40 anos, estando o dinamômetro na segunda posição. Com relação à média da força de preensão obtida nos grupos estudados (tabelas 2 e 3), observou-se que houve predomínio da força de maneira significativa no grupo controle (GC) em relação ao grupo de estudo (GE) para ambas as mãos. O grupo de estudo (GE) apresentou redução da força de preensão quando comparados com indivíduos do grupo controle (GC).

    No presente estudo, procurou-se estabelecer parâmetros que favorecessem a análise dos dados, minimizando vieses de aferição e seleção (PEREIRA, 1997). Desta forma apenas o pesquisador foi responsável pela aquisição dos dados da força de preensão palmar. Ainda, no sentido de minimizar possíveis vieses, foi realizado um estudo piloto com os indivíduos que formaram o grupo de estudo (GE) para identificar se os mesmos compreendiam o comando verbal para imprimir força no aparelho. Acredita-se que não tenha havido simulação por parte destes indivíduos, pois estes resultados se repetiram durante a aquisição definitiva dos dados.

    Foram também observadas na tabela 4 diferenças significativas durante a análise da média da força de preensão palmar em relação ao gênero masculino e feminino durante a comparação dos grupos de estudo e controle. Estes achados indicam que a diminuição do tônus muscular, associado à frouxidão ligamentar é marcante e significativa para ambos os gêneros em função do grupo de estudo (GE) e como a força de preensão palmar é indicativo da força geral do corpo (DURDWARD, 2001; MOREIRA, 2001, 2003), esta é significativamente menor em indivíduos portadores da Síndrome de Down.

    Ainda neste sentido, na tabela 5 com as mulheres para a mão direita, observou-se para o grupo controle (GC) valores médios para a força de preensão palmar de 31,02kg contra 15,14kg no grupo de estudo (GE), o que representa uma percentual de 51,19%; para a mão esquerda 28,29kg para o grupo controle (GC) contra 14,43kg do grupo de estudo (GE) com diferença percentual de 48,99%. Entre os homens na mão direita a média da força foi de 44,43kg no grupo controle (GC) e 21,36kg no grupo de estudo (GE) e a diferença percentual calculada é de 51,92%; para a mão esquerda 40,76kg no grupo controle (GC) e 20,69kg no grupo de estudo (GE), o que equivale a uma diferença percentual de 49,24%. Estes resultados demonstram que homens são consistentemente mais fortes que mulheres, independentemente do grupo estudado e que a hipotonia gera uma diferença significativa na força em função do grupo controle (CC).

    Estudo realizado por MORRIS et al. (1982), confirma este achado, no sentido de terem encontrado força reduzida na população Down em relação a população normal e uma significante relação entre hipotonia e déficit de força. Decréscimo significativo na força também foi relatado por PITETTI et al. (1992) na população Down em relação à população normal.

    Se compararmos os gêneros masculino e feminino entre os grupos, os achados indicam melhores resultados em função dos homens nos dois grupos (GE e GC), concordando desta forma com achados da literatura (AGNEW, 1982; MATHIOWETZ, 1986, MOREIRA et al., 2001, 2003), cujos resultados indicaram maior força de preensão para homens em relação a mulheres em todas as faixas etárias.

    Na tabela 6, quando consideramos a diferença percentual da força de preensão palmar entre a mão direita e esquerda, apesar de termos em nossa amostra 5 sinistros em cada grupo, observamos que esta no grupo controle (GC) é de 8,26% nos homens e 8,80%. Resultados da literatura giram em torno de 10% nos homens e 12% nas mulheres (CAPORRINO et al., 1998); 10% de variação em função da mão direita nos dois sexos (SU et al. 1994; CROSBY, et al., 1994) e para as pessoas sinistras, normalmente não há diferença na força de preensão entre as duas mãos. Para o grupo de estudo (GE) a diferença percentual é de 3,14% nos homens e 4,69% nas mulheres. Estes resultados indicam diferença percentual menor em função do grupo de estudo (GE). MOREIRA et al. (2001), relatam que não há predomínio da força em relação ao padrão de dominância da mão e especulam que a mão direita é mais forte que a esquerda em função dos indivíduos terem de se adaptar para viver em uma sociedade organizada para pessoas destras.

    Considerando-se a média da força de preensão para ambas as mãos ao longo das medidas obtidas para os gêneros masculino e feminino (tabelas 7 e 8), os resultados demonstram que, em relação as mãos direita e esquerda, homens são significativamente mais fortes que mulheres em todas as medidas. Segundo MOREIRA et al.(2001), os maiores valores são observados durante a segunda medida. Este fenômeno, no presente estudo só não foi observado em relação a mão esquerda entre as mulheres no grupo de estudo (GE), porém todas as medidas encontram-se bem próximas.

    Para NEWMAN et al., apud MOREIRA 2003, a força de preensão palmar vem sendo considerada como um teste clínico dos mais confiáveis para a detecção da força humana. Consiste em um importante indicador na determinação da integridade, tanto dos neurônios motores superiores, quanto da unidade motora.

    A obesidade oferece riscos para a saúde a curto e longo prazo e representa um potencial problema de saúde para a população retardada, sendo uma constante na população Down 11, 19, 24, 29, 30, 31.

    Na população retardada o problema está relacionado a um estilo de vida sedentário, hábitos alimentares inapropriados e falta de oportunidades para desenvolver autocontrole 14.

    Desde o seu desenvolvimento, DXA emergiu como um dos métodos mais amplamente aceitos para medir a composição corporal humana. Sua popularidade pode ser atribuída em parte a sua velocidade, facilidade de desempenho e baixa exposição à radiação 27.

    POLLOOCK e WILMORE (1993) relatam que um %GC considerado bom aos 45 anos de idade gira em torno de 18% para homens e 23% para mulheres. HEYWARD E STOLARCZYK (1996) não fazem distinção de idade e se referem em termos de médios (15% para homens e 23% para mulheres). Já para COOPER (1987), um percentual aceitável até os 39 anos de idade para homens é de 16,5% e para mulheres, 20%.

    Na tabela 9, os dados coletados para o grupo de estudo (GE) com DXA, relativos ao %GC demonstram um valor de 41,48% nas mulheres contra 26,65% dos homens, valores estes estatisticamente significativos e inversamente proporcionais à força de preensão apresentada nos dois gêneros.

    Na tabela 10, os dados normativos referentes ao %GC no grupo controle (GC) para comparação com o grupo de estudo (GE) foram buscados na literatura, com amostras semelhantes em estudos de MARQUES et al. (2000) para as mulheres (n= 44, 20 a 40 anos, média de idade 29,39 ± 5.52, todas de Brasília-DF) e PEIXOTO (2001) para os homens (n= 45, 20 a 44 anos, média de idade 32,09 ± 7.91, todos de Brasília-DF), cujos resultados foram 26,25% e 17,09% respectivamente. Estes resultados giram em torno dos valores apresentados como normativos e, quando comparados ao grupo de estudo (GE), representam valores substancialmente menores (com diferença percentual de 36,72% e 35,97% para os gêneros feminino e masculino, respectivamente). Tais diferenças se devem em parte ao estilo de vida sedentário e hábitos alimentares, que estão diretamente relacionados com a obesidade, tornando esta uma constante na população Down (PRASHER, 1995). 83% dos deficientes mentais com Síndrome de Down estão acima de seu peso ideal 5.

    De acordo com a classificação do sobrepeso e da obesidade pelo %GC segundo NIDDK (1993), os homens apresentam obesidade em grau elevado, porém as mulheres apresentam obesidade mórbida, desta forma apresentando nível excessivo de gordura.

    A correlação apresentada na tabela 11 entre gordura corporal e força é baixa no grupo GE em homens e mulheres para a mão direita e esquerda.


Conclusão

    Com base nos resultados da análise de força de preensão palmar com o uso do dinamômetro JAMAR® e percentual gordura corporal utilizando-se DXA no grupo GE comparado com o grupo GC no Distrito Federal em relação aos resultados obtidos e os achados descritos na literatura, pode-se concluir que:

  1. Indivíduos portadores de Trissomia 21 apresentam percentual de gordura corporal substancialmente mais elevados em relação à indivíduos saudáveis na mesma faixa etária para os dois gêneros;

  2. Existe um predomínio da força de preensão palmar nos homens em relação às mulheres nos dois grupos;

  3. Verificou-se déficit da força de preensão palmar significativo do grupo GE comparado com o grupo GC;

  4. Existe uma baixa correlação entre %GC e força muscular para a amostra estudada;

  5. O grupo GE que constituiu nossa amostra apresenta níveis preocupantes de gordura corporal;

  6. Os resultados obtidos devem ser considerados como indicativo de força para a capacitação da função manual do portador de Trissomia 21.

  7. É importante que sejam realizados novos estudos, com amostras maiores, para que se possam criar parâmetros para reabilitação de membros superiores em indivíduos portadores de Trissomia 21 após trauma ou cirurgia;

  8. É importante estimular a prática de atividade física entre os portadores de Síndrome de Down, visando melhoria da qualidade de vida e conseqüente desempenho das atividades de vida diária.


Referências bibliográficas

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