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Fatores motivacionais que influem na aderência de
adolescentes aos programas de iniciação desportiva
das escolas da Universidade Luterana do Brasil
Motivational factors that influence the participation of adolescents in sports programs at
the Lutheran University of Brazil's schools

   
* Professora graduada em Educação Física pela
Universidade Luterana do Brasil, Campus Canoas
** Professor Ph.D. do Curso de Educação Física da
Universidade Luterana do Brasil, Campus Canoas, RS
** Professor Mestre do Curso de Educação Física da
Pontifícia Universidade Católica - PUC, Porto Alegre, RS
 
 
Cíntia Sazana Machado*
João Carlos J. Piccoli**
Roberto Mário Scalon***

jebpiccoli@brturbo.com.br
(Brasil)
 

 

 

 

 
Resumo
    A presente investigação analisou os fatores motivacionais que influenciaram adolescentes na aderência a programas de iniciação desportiva. O estudo, de natureza descritiva, utilizou para a coleta dos dados O Inventário dos Fatores da Motivação de Gill, modificado por Scalon (1998). A amostra foi composta por 102 adolescentes na faixa etária de 14 a 17 anos, escolhidos voluntariamente dentre os participantes dos programas de iniciação desportiva desenvolvidos nas escolas da Ulbra, situadas nos estados brasileiros do Rio Grande do Sul e de Mato Grosso. Os resultados demonstraram que os fatores motivacionais que influenciaram os sujeitos do sexo masculino na aderência a programas desportivos foram por uma questão de saúde e os do sexo feminino, por divertimento. Foi, também, detectado que a habilidade técnica é valorizada, mas não priorizada pelos sujeitos do estudo.
    Unitermos: Adolescente. Motivação. Iniciação desportiva.
 
Abstract
    The present research analyzed the motivational factors that influenced adolescents to participate in sports programs. It was a descriptive study in which Gill`s Motivational Inventory modified by Scalon (1998) was utilized to gather the data. The research sample was 102 adolescents from 14 to 17 years of age chosen voluntarily from the Ulbra sports program offered in the schools located in the Brazilian states of Rio Grande do Sul and Mato Grosso. The results showed that the motivational factors that influenced male subjects to join sports programs were related to health reasons. The female subjects, on the other hand, revealed they participated in such sports programs for leisure purposes. It was also shown that the development of technical abilities was stressed by the sample subjects but it was not a priority to them.
    Keywords: Adolescent. Motivation. School sports program.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 89 - Octubre de 2005

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Introdução

    A iniciação desportiva é um processo de ensino-aprendizagem mediante o qual o indivíduo adquire, desenvolve e especializa técnicas de uma modalidade desportiva.

    Na adolescência, Krebs (1992) denomina o treinamento como especialização motora, pois é a fase que requer uma seqüência de etapas caracterizadas como estimulação, aprendizagem e prática.

    Analisando-se o jovem e seu envolvimento esportivo, observa-se que na faixa de 14 a 17 anos a adesão a esta prática é guiada por uma motivação intrínseca, pois é uma opção pessoal, como também, por existir uma acentuada necessidade do jovem pertencer e ser aceito por um grupo.

    Na relação ensino-aprendizagem, em qualquer ambiente, conteúdo ou momento, a motivação se constitui num dos elementos centrais para o alcance do objetivo pretendido. Assim, supõe-se que sem motivação, não haja comportamento humano ou animal (MACHADO, 1997).

    Constantemente indaga-se o que o jovem pretende, o que influencia a sua decisão, o que será importante para ele naquele momento, naquela circunstância. Sabe-se, de antemão, que cada teoria psicológica possui uma proposta específica sobre o que leva o indivíduo a se comportar de certa maneira (LUNDIN, 1972).

    Vários fatores motivam o adolescente, em seu dia-a-dia,, tanto intrínseca como extrinsecamente e a força de cada motivo e seus padrões são influenciados e inferenciados pela maneira dele perceber o mundo. Segundo Machado (1997), alguns motivos predominam sobre outros, orientando o jovem no alcance de certos objetivos, ou seja, direcionando o seu comportamento.

    Baseando-se nessas premissas, realizou-se a presente investigação que tem como objetivo verificar os fatores motivacionais que influenciam o adolescente na faixa etária de 14 a 17 anos, na aderência aos programas de iniciação desportiva oferecidos pelas escolas da Ulbra situadas nos estados do Rio Grande do Sul e de Mato Grosso.

    A psicologia do desenvolvimento, segundo Osório (1992), considera a adolescência como uma fase do desenvolvimento humano que apresenta características biopsicossociais específicas.

    A adolescência é, então, uma idade não só com características biológicas próprias, mas com aspectos psicológicos e sociais peculiares (OSÓRIO,1992). Erikson (1971), chamou a adolescência como crise normativa, de organização ou estruturação do indivíduo e, que do ponto de vista psicológico, a tarefa básica desta fase é a aquisição do sentimento de identidade pessoal, por isso, diz-se que a crise evolutiva do processo adolescente é, sobretudo, uma crise de identidade.

    Segundo Levinski (1998), a adolescência é considerada como uma fase singular da vida em virtude de ocorrências simultâneas de um conjunto de mudanças evolutivas na maturação física, no ajustamento psicológico e nas relações sociais.

    Segundo Weineck (2002), no período da puberdade ocorre uma aceleração do crescimento, verificando-se que segmentos isolados do esqueleto, como mãos e pés crescem antes do que a porção inferior da perna e do antebraço, cujo crescimento precede o da coxa e do braço, sendo considerado um crescimento centrípeto. Davies et al. (2001) afirma que nos jovens, o metabolismo plástico (anabolismo) desempenha um importante papel, do mesmo modo que o aumento do metabolismo basal, que é de 20 à 30% maior que dos adultos.

     Da mesma maneira, o grande aumento de força e a grande capacidade de memorizar movimentos fornecem as condições ideais para o desempenho esportivo, já que ocorre uma estabilização dos níveis hormonais, onde os mecanismos de regulação neuro-humorais do hipotálamo e hipófise consolidam-se de maneira definitiva.

    Os componentes de força e de resistência apresentam um grande desenvolvimento em função do aumento do peso e da altura. Aliás, segundo Guyton (1988), durante a adolescência a resistência atinge seu ápice porque ocorre o crescimento longitudinal e transversal e, paralelamente, há um grande aumento da musculatura, isso se as condições de desenvolvimento do indivíduo forem normais. Ainda, segundo Weineck (2002), a estrutura óssea dos jovens é relativamente elástica em função do baixo teor de cálcio da mesma, apresentando menos resistência à pressão e à curvatura, pois a calcificação total do sistema esquelético ocorre entre os 17 e 20 anos.

    Segundo Reiter e Roof (1975), citados por Weineck (2002), nessa fase de desenvolvimento há uma re-harmonização das proporções corporais e um aumento do nível de testosterona (em meninas até 60mg/100 ml e em meninos até 600 mg/100 ml), o que proporciona o aumento da força máxima e da força de velocidade; em contrapartida, a flexibilidade é o único requisito motor que atinge o seu valor máximo já na transição entre a infância e a adolescência, decrescendo logo em seguida e, por isso, o treinamento de flexibilidade deve ser o mais exigente possível desde a infância, para se manter a flexibilidade máxima. De modo geral, segundo Weineck (2002), na adolescência há uma melhoria da capacidade de coordenação, de adaptação e combinação de movimentos, favorecendo a aprendizagem motora e sendo melhor observado em rapazes do que em moças.

    Para Lawter (1973) citado por Scalan e Simons (1995), faz parte das características dos adolescentes experenciar desafios em grupo, para pôr em evidência suas potencialidades. Através das atividades físicas os jovens podem experimentar desafios em relação às atividades e à destreza dos participantes. O desafio é, então, considerado pelos jovens uma forma de comprovarem suas competências.

    O grupo é um conjunto de indivíduos, que se reúne por ou para alguma coisa. Além disso, é uma situação indeterminada com dois referenciais: um problema comum e o conhecimento entre as pessoas. A característica de um grupo é a interação entre seus membros, pois todos eles dependem um dos outros, assumindo objetivos comuns, onde há sentimentos de atração pessoal e linhas de comunicação aberta. O essencial para um grupo é que haja a necessidade de um sentimento de identidade coletiva, pela qual seus integrantes o consideram uma unidade em si mesmo, diferente dos demais (BECKER JR. 2000).

    O grupo de adolescentes, segundo Outeiral (1994), é um meio que possibilita a busca de identificação, sendo que essa ocorre com influências de um ou outro amigo ou com a figura de um líder da turma. No grupo se oferecem situações variadas e múltiplas que são necessárias para os jovens, pois como afirma Hotyat (1978), eles poderão tomar iniciativas, em que as conseqüências dos fracassos eventuais serão menos traumatizantes pois, percebendo as dificuldades dos companheiros, aprenderão a relativizar as suas próprias debilidades e, assim, dissolver eventuais sentimentos de inferioridade. Outeiral (1994), afirma que as características dos amigos ou do grupo que o adolescente busca fornecem uma idéia de suas dificuldades pessoais, pois quando um adolescente troca de grupo de amigos, passando de um, com características adequadas e saudáveis, para um outro, com peculiaridades negativas, este fato indica problemas com o próprio adolescente.

    Já no plano social e moral, segundo Piaget e Inhelder (1983), a agregação entre jovens deve conduzi-los a uma disciplina gerada a partir de normas internas, produto do consenso grupal, visto que a cooperação, naturalmente, levará a um conjunto de valores relativos à justiça, à igualdade e à solidariedade e, dentro dos grupos organizados, também, encontram-se os grupos desportivos.

    Segundo Outeiral (1994), os grupos desportivos, os quais formam as equipes, também possuem uma identidade coletiva e isto pode ser observado através dos uniformes, dos cânticos e dos rituais especiais, que os fazem um grupo diferente dos demais, mas a interação entre os membros dessa equipe também dependerá da conduta coerente do treinador.

    Motivação, segundo Pfromm Neto (1987), é o estado interior e emocional que desperta o interesse ou a inclinação do indivíduo para algo. O indivíduo motivado encontra-se disposto a desprender-se dos esforços para alcançar os seus objetivos. Becker Jr. (2000), a considera um fator muito importante na busca de qualquer objetivo pelo ser humano, pois os treinadores reconhecem este fato como sendo principal, tanto nos treinamentos como nas competições. Assim sendo, a motivação é um elemento básico para o atleta seguir as orientações do treinador e praticar diariamente as sessões de treinamento.

    A motivação encontra-se no nível mais básico da personalidade, que, segundo Martens (1978), é denominado de núcleo psicológico. Nele incluem-se, ainda, as atitudes, os valores, os interesses, os motivos e as convicções sobre si e sua importância (ego-valor). Em essência, o núcleo psicológico representa o componente central da personalidade, sendo a própria realidade do indivíduo e não o que esse quer que os outros pensem sobre ele próprio.

    O núcleo psicológico é a parte mais estável e constante da personalidade provendo, assim, a estrutura necessária para se viver em sociedade. Considerando-se que o componente dinâmico ou variável do núcleo psicológico permite aprender, podem ser incluídos no campo da aprendizagem não apenas conhecimentos e habilidades mas, também, preferências, preconceitos e relações afetivas. O estudo da motivação, então, é voltado para os fatores que desencadeiam a atividade de um organismo, a dirigem para um fim e a mantém, mesmo que o objetivo não seja imediatamente atingido (SABINI, 1986).

    A motivação, segundo Becker Jr. e Samulski (1998), apresenta-se subdividida em: estudos das razões pelas quais se escolhe uma atividade e não outra; e razões pelas quais se realizam ações com diferentes graus de intensidade. As razões pelas quais um atleta escolhe um esporte e dele participa com um grau de competência, podem ser influenciadas por experiências primitivas, situações e pessoas mais recentes. Os motivos que levam um indivíduo a desempenhar um determinado esporte, são formados por uma combinação de acontecimentos passados e próximos, ambos atuando sobre a consciência do atleta e classificando-se em interna e externa.

    Segundo Pelletier (1995), citado por Scalon (1998), motivação interna refere-se ao comprometimento em uma atividade puramente por prazer e satisfação obtidos por fazer a atividade. Quando uma pessoa é internamente motivada ela decide executar o comportamento voluntariamente, sem precisar de gratificações materiais ou obrigações externas. Atletas que praticam seu esporte pelo prazer de aprender mais ou pela satisfação de ultrapassar seus próprios limites constantemente, são considerados internamente motivados para seu esporte.

    Julga-se que indivíduos motivados intrinsecamente, têm probabilidade de serem mais persistentes, de apresentarem níveis de desempenho mais altos e de realizarem mais tarefas do que as que requeiram esforços externos (CRATTY, 1983). Os agentes socializantes, segundo Samulski (1995), também influenciam o interesse dos jovens pela prática desportiva, sendo esses percebidos como estímulos externos. Observa-se, então, que o atleta competitivo valoriza mais o reforço externo, enquanto que o atleta cooperativo, o reforço interno.

    A iniciação desportiva é um processo de ensino - aprendizagem mediante o qual o indivíduo adquire, desenvolve e especializa as técnicas básicas para o desporto. As escolas desportivas, segundo Brauner (1994), fazem parte de uma modalidade educativa formal, pois são guiadas por motivos construídos socialmente e se organizam através do esporte e da prática desportiva; agindo através de seus objetivos e conteúdos por adotarem um modo de currículo escolar.

    Em particular, a iniciação desportiva do adolescente, sofre influência direta dos pais, visto que os jovens os procuram para receberem apoio emocional durante as competições, nas quais se supervaloriza a vitória. Considerando-se que o jovem ainda não tenha habilidade para enfrentar pressões psicológicas dentro da esfera desportiva, deve-se considerar, também, nessa fase de especialização, que a competição e o ganhar ou perder não sejam a mesma coisa. Assim, é necessário desvincular os sentimentos negativos e a demasiada ênfase de vitória da competição, já que as circunstâncias ambientais nas quais se compete é que são fundamentais, não o processo competitivo em si.

    Da mesma forma, Menéndez (1991) afirma que se deve eliminar os efeitos negativos de uma iniciação desportiva de jovens que seja direcionada somente para a vitória, de forma a equilibrar o ensino, o jogo e a competição. Sendo a prática desportiva um dos fenômenos sociais de grande valor educativo (BRAUNER,1994), deve-se incentivá-la entre os jovens em todos os níveis, desde a iniciação até o desporto de rendimento.


Materiais e métodos

    O presente estudo seguiu o modelo descritivo de investigação que visa estudar os fenômenos tais como se apresentam na realidade empírica, sem neles interferir.

    A amostra foi composta por 102 adolescentes, na faixa etária de 14 a 17 anos, participantes dos programas de iniciação desportiva desenvolvidos pelas escolas da Ulbra localizadas nos estados do Rio Grande do Sul e de Mato Grosso, escolhidos de forma voluntária.

    Foi selecionada a Ulbra, Canoas, RS, para ser o centro de coleta dos dados, pois nela foi realizado um evento desportivo de jovens atletas entre as suas escolas localizadas no Brasil e no Uruguai.

    Para se identificar os fatores motivacionais que influenciam os adolescentes a aderirem aos programas de iniciação desportiva utilizou-se o Inventário dos fatores da Motivação de Gill (1983), modificado por Scalon (1998), o qual é composto por vinte questões, agrupadas em quatro categorias: saúde, divertimento, socialização e auto-realização. O instrumento foi validado e pré-testado anteriormente à coleta dos dados.

    O inventário, para cada uma das 20 afirmações que respondiam à perqunta: "Por que pratico esporte?", apresentava uma escala composta por quatro níveis de importância: 1 - nada importante, 2 - pouco importante, 3 - importante e 4 - muito importante. Assim, os sujeitos, após terem lido cada uma das afirmações deveriam escolher os seus níveis de importância, marcando um "X" nessa escala.

    Os dados coletados foram analisados utilizando-se para tal a estatística descritiva, através do cálculo da média e do desvio padrão.


Discussão dos resultados

    Analisando-se a Tabela 1 observou-se que os atletas do sexo masculino, no que se refere aos fatores motivacionais da categoria saúde, revelaram que ficar em forma, ser forte e sadio foi o principal motivo nesta categoria, apresentando uma média de 3,57 numa escala de importância de 1 a 4. Melhorar as habilidades técnicas, fazer exercícios e ter algo para fazer apresentaram uma média de 3,55, 3,52 e 3,34 respectivamente entre os sujeitos investigados. Isto indica que os sujeitos consideraram importantes tais aspectos na aderência à programas de iniciação desportiva da Ulbra.

    Por outro lado, quando tais dados são comparados com os do sexo feminino, observa-se que o principal motivo de aderência é a prática do exercício, apresentando uma média de 3,69. Melhorar habilidades técnicas, ficar em forma, ser forte e sadio e ter algo para fazer apresentaram uma média de 3,67, 3,53 e 3,16 respectivamente nessa escala.

Tabela 1 - Distribuição das médias dos fatores motivacionais da categoria saúde, dos sujeitos do estudo (n = 102).

    Os dados obtidos sugerem que a prática geral de exercícios esteja relacionada com alguns aspectos fisiológicos dos jovens, o que indica a necessidade de usar a energia, a força, a resistência e a coordenação, que estão no ápice durante a adolescência, segundo Weineck (2002), em atividades que lhes dêem prazer.

    Conforme Gould (1987), uma das formas de ser aceito socialmente, entre os jovens, é demonstrar competência numa atividade valorizada por outros; e a habilidade motora é uma das mais valorizadas, especialmente pelos meninos.

    A mídia exerce grande influência sobre as pessoas e, o adolescente, em virtude de sua busca de identidade, valoriza em demasia o físico bonito e elegante, pois a aparência, para os jovens, também desempenha um grande papel de aceitação social. Por outro lado, segundo Fiorese (1993), atletas com baixa percepção de competência buscam uma melhor aptidão, pois ficar em forma, fazer exercícios, e ser fisicamente apto, parece compensar as deficiências que o adolescente apresenta na sua técnica.

     O adolescente apresenta grande necessidade de movimento por ter curiosidade do mundo e por querer encontrar seu lugar dentro do contexto social. Sendo que o desporto parece ser, também, uma maneira dos jovens alcançarem esse desejo.

Tabela 2 - Distribuição das médias dos fatores motivacionais da categoria
divertimento, dos sujeitos do estudo (n = 102).

    Para os sujeitos do sexo masculino, os fatores motivacionais relacionados à categoria divertimento, apresentam diferentes níveis de importância dentre os quais se destacam os motivos: estar com os amigos, pertencer a uma equipe e estar alegre e se divertir, com uma média de 3,59, 3,52 e 3,51 respectivamente. Dentre os sujeitos do sexo feminino, observou-se que os motivos principais destacados foram: estar alegre e se divertir, pertencer a uma equipe e estar com os amigos, apresentando uma média respectiva de 3,91, 3,88 e 3,74 no que se refere a escala de importância para cada fator.

    O divertimento e a excitação devem ser mantidos nos treinamentos e nas competições para que os jovens permaneçam ativos na vida esportiva (GOULD,1987). Assim, os esportes e as atividades físicas podem se tornar um hábito na vida adulta, principalmente se estas atividades forem fontes de prazer e alegria, nos períodos anteriores de seu desenvolvimento.

    Os resultados sugerem que, pelo fato de a equipe se tornar uma segunda família, os jovens aprendem que a união é importante na busca de objetivos comuns, fato que contribui no processo de inserção do jovem na vida adulta.

    Aberastury e Knobel, citados por Marques (2000), afirmam que a tendência grupal e a procura de outras identidades similares transmitem ao ego uma experiência de poder aos jovens. Isso sugere que os atletas adolescentes entendem que a equipe os auxiliará a desempenhar melhor as suas potencialidades, visto que poderão trocar informações e experiências a respeito de suas dificuldades. Acredita-se que este fator, também, seja importante para os jovens, pois, como afirma Scalon (1998), a prática desportiva propicia contatos com novas amizades, ampliando, assim, as suas relações interpessoais.

    Segundo Lawther (1973), Scalan e Simons (1995), as atividades físicas proporcionam aos jovens desafios, já que as consideram uma exigência para comprovarem as suas potencialidades.

Tabela 3 - Distribuição das médias dos fatores motivacionais, da categoria
socialização, dos sujeitos do estudo ( n = 102).

    Observou-se na Tabela 3 que os sujeitos dos sexos masculino e feminino demonstraram que fazer coisas nas quais se sentem capazes de executar com perfeição foi o motivo principal da categoria socialização, apresentando uma média respectiva de 3,70 e 3,40, tomando-se como referência a escala de importância para os fatores. Outros fatores identificados em menor importância para o sexo masculino foram: gostar de viajar, ter reconhecimento de parentes e amigos e receber elogios, com uma média de 2,91, 2,84 e 2,73, respectivamente.

    Os sujeitos do sexo feminino, também, demonstraram que receber elogios, com uma média de 3,22, gostar de viajar, ter reconhecimento de parentes e amigos e gostar de esporte individual, este últimos com uma média de 3,17 cada, foram os fatores motivacionais relacionados a categoria socialização revelados secundariamente.

    Os resultados sugerem que o jovem queira demonstrar suas habilidades físicas e técnicas para obter mais popularidade e, assim, se tornar o líder do grupo. Os jovens atletas tratam as viagens como conseqüência da vida desportiva, embora traga a vantagem de conhecerem novos lugares.

    O adolescente não se importa com que os outros pensam a seu respeito, levando a crer que praticam o desporto para superarem suas expectativas e não para obterem algum reconhecimento ou satisfazer a opinião alheia, mas sim, seus propósitos pessoais. Em contrapartida, sabe-se que os elogios trazem benefícios para todas as pessoas, tanto para o ego como para a auto-estima e, talvez, o jovem concorde com essa idéia secretamente, visto que nessa fase da vida ele se sente auto-suficiente.

    O fator motivacional "gostar de receber elogios" sugere que as meninas recebem ou gostariam de receber mais elogios. Este resultado supõe que uma eventual falta de estimulação das atletas seja compensada, ou poderia ser, através de elogios de outra ordem; não referentes as suas performances, mas que poderiam ser recebidos e valorizados como estímulos para que elas se iniciassem em programas desportivos.

Tabela 4 - Distribuição das médias dos fatores motivacionais, da categoria auto-
realização, dos sujeitos do estudo ( n = 102).

    A Tabela 4 demonstra que tanto os sujeitos do sexo masculino como os do feminino informaram que o fator motivacional relacionado à categoria auto-realização mais evidenciado foi competir para vencer, com uma média de 3,05 e 3,40 respectivamente. Outros aspectos evidenciados por ambos os sexos foi o fato de praticar esporte para receber medalhas e troféus, apresentando uma media de 2,95 e 3,34, respectivamente para os sexos masculino e feminino.

    Os estudos de Hahn (1988), parecem confirmar os resultados obtidos, pois, segundo o autor, existe o desejo constante de comparação entre os jovens pois, quando houver possibilidade, eles estarão dispostos a competir. Menéndez (1991), afirma que os seres humanos tendem a competir, também, para merecerem e ganharem recompensas da vida e, no desporto, igualmente, a competição é quase um fator primordial para alcançar mais êxitos, visto que tal objetivo parece aumentar o interesse, o desafio e o calor emocional do desporto.

     Percebe-se que a motivação externa também é valorizada, embora em proporções menores que a interna, sugerindo que a satisfação pessoal do jovem esteja acima da promoção social, para que não ocorram mudanças bruscas em seu estilo de vida. Pelo fato de os jovens se espelharem em seus ídolos, esperava-se que esse fator fosse apresentar uma média maior. Porém, isso sugere que os jovens estejam empenhados nos programas de iniciação desportiva por motivos bem mais concretos e simples do que ter fama.

     Esse resultado sugere que os adolescentes não vêem o desporto como profissão e fonte de renda. Talvez isso esteja relacionado à realidade dos jovens que vivem com os pais e não precisam se dedicar a alguma atividade para ganhar dinheiro, sugerindo que a aprendizagem de uma modalidade desportiva não esteja vinculada ao lucro.

Tabela 5 - Distribuição das médias dos fatores motivacionais nas categorias saúde, divertimento, socialização e auto-realização ( n = 102).

    Observou-se na Tabela 5 que as categorias apresentaram diferentes graus de importância. Os sujeitos do sexo masculino priorizaram a saúde como o motivo principal para a aderência aos programas de iniciação desportiva da Ulbra, com uma média de 3,49. Entre os sujeitos do sexo feminino foi priorizado mais o divertimento, apresentando uma média de 3,54 relacionada a escala de importância dos fatores. Outros resultados dos sujeitos do sexo masculino foram: divertimento, socialização e auto-realização enquanto os do sexo feminino, apontaram para as categorias: saúde, socialização e auto-realização, que apresentaram uma média de 3,51, 3,03 e 3,00, cada.

    Estudos realizados por Scalan (1991), sugerem que o divertimento seja a chave para compreender e aumentar a motivação no esporte e indica que o motivo principal para a participação de crianças e adolescentes nos programas de desportos escolares e juvenis, é o desejo de diversão. E, percebe-se que a categoria divertimento foi considerada a mais importante entre os sujeitos do sexo feminino.

    Possivelmente, o fato de a categoria saúde ter sido apontada como a mais importante, para os meninos, possa ser explicado pela grande difusão de informações sobre qualidade de vida, recebidas no ambiente familiar, escolar e na mídia.

    Os resultados, também, sugerem que, embora o desporto seja reconhecido pelos jovens como agente socializador, outros fatores motivacionais parecem ser mais importantes para aderir à iniciação desportiva.

    A categoria auto-realização apresentou a menor média dentre as quatro, tal fato demonstra que a auto-realização tem a mínima influência sobre os adolescentes do estudo na aderência ao desporto.

     Indiscutivelmente, os fatores que influenciam as meninas a aderirem aos programas de iniciação desportiva não são os mesmos dos meninos. Observou-se que as meninas estavam mais direcionadas ao desporto pelo desejo de estarem alegres e se divertirem, por pertencerem a uma equipe e por gostarem de estar com os amigos. Possivelmente, os aspectos culturais possam explicar as diferenças encontradas, já que estudos realizados por Gaya e Torres (1996), demonstraram que os estímulos para as práticas desportivas, recebidos tanto de pais como de professores, são menores para as meninas e que elas também são menos cobradas em relação a melhora de suas habilidades técnicas.

    Os meninos optaram pela categoria saúde como o mais importante fator motivacional seguindo-se pela do divertimento. Assim, parece que os sujeitos do sexo masculino têm maior interesse de fazer coisas nas quais sejam bons; estar com os amigos; gostar de ficar em forma, ser fortes e sadios e de gostar de melhorar suas habilidades técnicas. Isso sugere que, em função das influências de pais e técnicos, os meninos se condicionem a valorizar mais as suas habilidades técnicas, auto-imagem e aptidão física, reconhecendo-as como fatores motivacionais para a prática desportiva. Tais resultados são semelhantes aos obtidos por Paim (2001) em sua investigação que, também, concluiu que a categoria saúde foi o principal motivo de aderência à prática desportiva

Tabela 6 - Distribuição geral das médias dos fatores motivacionais observados no estudo ( n=102 ).

    Analisando-se os dados obtidos, pode-se supor que as meninas sejam mais determinadas em relação as suas convicções, visto que as médias apresentadas por elas foram mais altas que as apresentadas pelos meninos em dezesseis, das vinte questões do instrumento. Tal fato foi determinante para que os fatores motivacionais de maior importância para elas configurassem nos primeiros lugares dentro da classificação geral. Para Machado (1997), isto pode ser explicado porque certos motivos têm maior intensidade em diferentes indivíduos, dependendo de fatores como a personalidade de cada um, já que indivíduos diferentes podem realizar a mesma atividade animados por motivos e intensidades diferentes.


Conclusão

    Através dos resultados obtidos pelo referido estudo, percebe-se que os motivos que levam os adolescentes à iniciação desportiva não são os mesmos habitualmente valorizados por alguns educadores e treinadores. A habilidade técnica é valorizada, mas não priorizada pelos jovens. Fatores de ordem superior, como o divertimento e a saúde, figuram como os fatores motivacionais mais importantes para a iniciação de adolescentes à prática desportiva.

    Por isso, sugere-se que educadores e treinadores dêem atenção, também, ao divertimento e à saúde, para atenderem às expectativas desse exigente público e, assim, garantirem maior adesão dos adolescentes aos programas de iniciação desportiva.


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revista digital · Año 10 · N° 89 | Buenos Aires, Octubre 2005  
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