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Magnitudes de impactos das cortadas e bloqueios
associados com lesões em atletas de voleibol

   
*DEF/CDS/UFSC - autora
**DEF/CDS/UFSC - participante
***DEF/CDS/UFSC - Bolsista PIBIC-CNPq
*participante
(Brasil)
 
 
Profª. Drª Saray Giovana dos Santos*
Profª Ms. Audrey Cristine Esteves**
Acadêmico Victor Hugo Fernando de Oliveira***
Fisioterapeuta Luara Chagas****

saray@cds.ufsc.br
 

 

 

 

 
    Este estudo do tipo descritivo teve como objetivo analisar as características de impacto nos membros inferiores (magnitudes e número de repetições por treino), em atletas de voleibol realizando cortadas e bloqueios, associando-as com lesões (local e número) sofridas pelos mesmos. Participaram do estudo 14 atletas que foram questionados sobre lesões, filmados em sessões de treino e medidos via acelerometria ao realizarem cortadas e bloqueios. Os resultados demonstram que o acometimento maior de lesões é no membro inferior; que os bloqueios e as cortadas são os maiores causadores dessas lesões; cada atleta realiza em média 22±12 cortadas e 26±12 bloqueios por sessão de treino com intervalo entre cada impacto 1:19±2:25 minutos e, as maiores magnitudes de impactos é na cortada no eixo antero-posterior (87,88±49,82 g); não se encontrou associação entre número e magnitude de impactos com local de lesão. Os resultados permitem concluir que muito embora os atletas realizem um menor número de impacto que equipes de alto nível, o elevado número de lesões, aponta para iniciativas aprimoradas em termos de melhoria do treinamento físico e técnico da equipe.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 87 - Agosto de 2005

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1. Introdução

    As lesões decorrentes de práticas esportivas são freqüentes e geram preocupações constantes na vida do atleta, do técnico e dos dirigentes esportivos, pois além do prejuízo físico e psíquico para o atleta, também é prejuízo financeiro para o clube e gera dificuldades para o técnico em seu plano geral de treinamento (AMORIN et al., 1989).

    Independente do tipo de lesão desportiva (agudas ou leves) estas são resultantes de uma complexa interação de fatores de risco. Em alguns esportes as causas são por fatores de risco intrínsecos , aqueles relacionados a: idade, sexo, condição física, desenvolvimento motor, alimentação e fatores psicológicos, em outros, por fatores extrínsecos que estão associados a: especificidade técnica de cada modalidade, tipo de equipamento usado, organização do treino e da competição, cargas do treino e da competição e condições climáticas; enquanto que outros pela combinação de ambos (ALMEIDA, 1991).

    As solicitações físicas específicas de cada modalidade esportiva, bem como a influência do meio, no caso de esportes caracterizados de destrezas abertas (esportes de contato), geram lesões características, como é o caso das lesões mais freqüentes em nível de membros inferiores (joelho e tornozelo) no futebol; lesões de joelhos e ombros em judocas; lesões no cotovelo de tenistas; lesões nos ombros de nadadores e voleibolistas, dentre outros. Isto posto, este estudo teve como objetivo analisar as características de impacto nos membros inferiores (magnitude e número de repetições por treino) em atletas de voleibol realizando cortadas e bloqueios, associando-as com lesões (local e número) sofridas pelos mesmos.


2. Material e métodos

    Neste estudo do tipo exploratório, participaram 14 atletas titulares de uma equipe masculina amadora de voleibol, escolhidos de forma casual-sistemática, com média de idade de 23,8 ± 2,9 anos, estatura de 186,2 ± 3,6m, e peso de 82,9 ± 9,9Kg, com tempo de prática de voleibol em média de 7,7± 3,6 anos.

    Após a assinatura dos atletas em um consentimento informado, os dados foram coletados, de acordo com as especificidades, com os seguintes instrumentos e procedimentos: 1) para as medidas das magnitudes de impacto (acelerações m/s2) foi usado um acelerômetro triaxial, fixado no joelho (sobre a articulação tibio-femural da perna dominante) com fita elástica de tal modo que permitisse as cortadas e os bloqueios da forma natural e ao mesmo tempo não houvesse oscilação do acelerômetro e cabos. Ao atleta era arremetida a bola o qual realiza 10 cortadas e após 10 bloqueios, simulando a performance em jogo; 2) um questionário para investigar o histórico de lesões (validade = 93% e clareza = 100%) foi apresentado a todos, e solicitado para que fosse entregue no próximo treino; 3) uma filmadora compacta, Panasonic foi utilizada para filmar seis sessões de treinos, as quais foram analisadas para o diagnóstico do número, da freqüência e do intervalo entre as repetições de cortadas e bloqueios de cada atleta.

    Os dados foram tratados estatisticamente, utilizando: média, desvio padrão e teste Qui-Quadrado a p< 0,05.


3. Resultados e discussões

    Inicialmente verificou-se o número e o local das lesões que acometeram os atletas, nos últimos dois anos, sendo que a somatória de lesões dos 14 atletas foi de 78 lesões, sendo que o segmento mais afetado foi tornozelo (22); seguido da mão (12); ombro (8); joelho (8); punho (6); região lombar (5); cotovelo (3), abdômen (3) e pés (3); panturrilha (2) e dedos (2); coxa anterior (1), coxa posterior (1), braço (1) e tórax (1). Os dados obtidos vão ao encontro dos resultados obtidos por Willian (1999) e por Ferreti (1996) apud Silva (2004), que encontraram lesões no tornozelo como a mais comum entre os atletas de vôlei, seguidos de lesões na mão e joelho, e ainda, bastante comuns foram às lesões no ombro, punho e região lombar.

    Na seqüência questionou-se sobre os mecanismos causadores de lesões, na percepção dos atletas e, detectou-se que o bloqueio foi responsável por 28 lesões; a cortada por 24 lesões; manchete por 12; toque por outras 8 e o saque por 6 lesões. Apenas o bloqueio e a cortada juntos representaram o dobro dos outros mecanismos de lesão, assim como as lesões no tornozelo foram as mais ocorridas. Gerberich et al. (1987) investigando atletas de voleibol encontraram que a seqüência de salto e aterrissagem (bloqueio e cortada) era responsável por 63% de todas as lesões, destas 61% na articulação do joelho e próximo de 90% de todas as lesões sofridas pelos atletas, foram concentradas nas extremidades baixas.

    Com relação à magnitude de impactos gerados na fase de aterrissagem da cortada e do bloqueio, assim como o número de cortadas e bloqueios realizados por atletas a cada treinam e seus respectivos intervalos, os dados estão contidos no Quadro 1.

Quadro 1. Magnitudes de impactos no eixo vertical durante cortadas e bloqueios; número de cortadas,
número de bloqueios e tempo de intervalo entre impactos realizados por treino.

    Com relação à magnitude dos impactos, mediante a aplicação de uma análise de variância e uma pós-análise de Tukey, verificou-se que as magnitudes de impacto foram significativamente maiores para todos as atletas no eixo antero-posterio (z), e os maiores níveis foram obtidos na cortada (Quadro 1). Muito embora não se tenha referência de medidas de acelerometria específica no voleibol, utilizando o critério de Macaulay (1987), os valores médios obtidos neste estudo são considerados como causadores de moderadas lesões, haja vista a duração do pulso obtida (0,08s cortada e 0,11s no bloqueio). Por outro lado, o critério não se refere ao número de impactos por tempo, para que ocorra lesão moderada ou severa. Neste caso houve muita oscilação entre um impacto e outro, porém não se pode afirmar se este tempo é suficiente para que haja o reparo do biomaterial frente as microlesões.

    Com relação ao número médio de repetições das cortadas (22) e bloqueios (26) realizados por treino, é considerado baixo quando comparado com equipes de alto nível (KOLLATH apud FANTINI e MENZEL, 2001). Mesmo que a somatória de cortadas e bloqueios deste grupo não seja elevada, vale ressaltar que os dois fundamentos são considerados como os maiores causadores de lesões nas extremidades baixas de atletas de voleibol (GERBERICH et al.,1987). Por outro lado, se as aterissagens forem executadas com técnicas apropriadas, podem reduzir significativamente os impactos e assim os riscos de lesão (STACOFF et al. 1988; VALIANT & CAVANAGH, 1985).

    Para verificar possíveis associações entre as magnitudes e o número de impactos com local (região corporal) das lesões ocorridas nos últimos dois anos, aplicou-se o teste Qui-Quadrado seguido da prova exata de Fisher, cujo resultado, tanto para a associação entre magnitudes e local da lesão (X2c=1,63; p=0,20) quanto entre magnitudes e número de lesões (X2c= 1,04; p=0,31), demonstra que não houve associação significativa. Assim, mesmo que alguns atletas apontem várias lesões nos segmentos inferiores, principalmente no tornozelo, nos últimos dois anos, não se pode afirmar que as lesões sofridas pelos atletas sejam decorrentes tanto das magnitudes quanto do número de impacto. No entanto, este estudo não foi um estudo de acompanhamento, ou seja, os números e os locais de lesões foram conforme a percepção do atleta e, a avaliação do número de impactos foi realizada apenas em seis sessões de treinos. Tanto este fato quanto o nível técnico da equipe amadora pode ter interferido nos resultados.


4. Conclusões

    Com base nos resultados obtidos e respeitando as limitações do estudo, conclui-se que:

  1. a equipe investigada apresenta lesões prioritariamente nos membros inferiores, sendo o tornozelo o segmento mais acometido;

  2. da mesma forma que detectado em atletas de voleibol de equipes de alto nível, as causas da maioria das lesões são referidas aos bloqueios e as cortadas;

  3. tanto o número de impactos quanto as magnitudes apresentadas, parece não serem suficientes para justificarem os segmentos corporais lesados dos atletas.

    Por fim, pode-se enfatizar que muito embora os atletas de voleibol participantes deste estudo, realizem um menor número de impacto que equipes de alto nível e não se ter encontrado associação entre as variáveis, as magnitudes encontradas principalmente nas cortadas, são valores causadores de lesões e o número de lesões citadas pelos mesmos, apontam para tomadas de decisões que resultem em melhoria no treinamento físico e técnico da equipe.


Referências bibliográficas

  • ALMEIDA, J. P. P. de. Programa de prevenção de lesões no desporto. Treino Desportivo, n. 19, p. 38-42, mar. 1991.

  • AMORIN, J., MORAIS, N., OLIVEIRA, R., MAMEDE, R.P. Lesões dos tecidos moles: perspectiva para treinadores. Treino Desportivo, Lisboa, n. 11,p. 47-54, mar. 1989.

  • FANTINI, C., MENZEL, H. J. Análise de impactos em aterrissagens após saltos máximos em diferentes grupos de atletas e não-atletas. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE BIOMECÂNICA, 8., 2001. Gramado. Anais ... Gramado: UFRGS, 2001. v.2, 369 p. p. 89-93.

  • GERBERICH, S.G., et al. Analysis of severe injuries associated with volleyball activities. Physician and Sports Medicine. v. 15, n. 8, p. 75-79, 1987.

  • MACAULAY, M. Introduction to impact engineering. London: Chapman and Hall. 1987, 276 p.

  • SILVA, Ana Paula S., Blois, Luana Valéria S., ROSA, UlissesA. Estudo de Treinamento Físico e as Principais Lesões no Voleibol Sob o Ponto de Vista da Fisioterapia. Disponível em: www.efartigos.hpg.ig.com.br/esportes/artigo6.html. Acesso em: 09 nov. 2004

  • STACOFF, A., et al. Running injuries and shoe construction: some possible relationships. International Journal Sport Biomechanics, v. 4, p. 342-357, 1988.

  • VALIANT, G. A., CAVANAGH, P. R. A study of landing from a jump: implications for the design of a basketball shoe. Biomechanics. v.9b, p. 117-122, 1985.

  • WILLIAN W., BENJAMIM J. Volleyball Injuries: managing acute and overuse disorders. The Physician and Sportsmedicine Jounal. . v. 27., n. 3, p. 1-8,1999.

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