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Diferenças entre o futebol brasileiro e o
europeu sob a perspectiva de um jogador

   
* Alunos do Curso de Educação Física da
Universidade Católica de Brasília;
** Professora do Curso de Educação Física da
Universidade Católica de Brasília, Mestre em Educação.
** Professorado Curso de Educação Física da
Universidade Católica de Brasília,
Mestre em Atividade Física e Saúde e Coordenadora do NUBIP
Núcleo de Bioestatística e Instrumento de Pesquisa da UCB.
 
 
Fernando Delani | Marcelo da Silva Prazeres
Patrícia Luzia S. Santos | Liriane Mendes*
Sandra Mara Bessa Ferreira**
Gislane Ferreira de Melo***

gmelo@ucb.br
(Brasil)
 

 

 

 

 
    Este artigo objetiva tratar das diferenças entre o futebol brasileiro e o europeu sob a perspectiva do jogador Kaká. Baseado numa entrevista semiaberta com o jogador, foram identificados os pontos de divergência entre posições administrativas, culturais e de ação direta de dirigentes que nos ajudam a elucidar alguns dos problemas do futebol nacional e nos fazer repensar as possibilidades e limites de nossa realidade em busca da profissionalização tão necessária a este esporte, paixão nacional. Não podemos cruzar nossos braços enquanto vemos nossos craques simplesmente irem embora por pura falta de perspectivas profissionais e, em alguns casos, por serem tratados desrespeitosa e indignamente.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 87 - Agosto de 2005

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Introdução

    Rodrigues (2003); Jesus (2002) e Jesus (2003) afirmam que "o futebol é um dos esportes mais populares do mundo e vem sendo praticado em vários países, desde seu surgimento na china por volta de 3.000 anos a.C".

    Por sua facilidade de jogar e pela possibilidade de integração entre vários jogadores, foi sendo divulgado por todo mundo e começou a ser praticado profissionalmente. O profissionalismo no futebol foi iniciado somente no ano de 1885 na Inglaterra e no ano seguinte seria criada, naquele país, a International Board, entidade cujo principal objetivo era estabelecer e mudar regras do futebol quando necessária. No ano de 1897, a equipe de futebol inglesa Corinthians fez uma excursão fora da Europa, contribuindo para a difusão deste esporte.

    No Brasil, existem muitas histórias sobre a origem do futebol. Porém, a mais divulgada é a que coloca o brasileiro Charles Willian Miler como introdutor do futebol em nossa terra. Quando retornou da Europa em 1894, após seus estudos, ele teria trazido uma bola de futebol, durante 10 anos, ele pôde ensinar aos sócios do São Paulo Atlhetic club (SPAC) a praticarem tal jogo.

    O futebol começou como um mero jogo recreativo e foi se tornando, gradativamente, mais popular no Brasil, porém não havia ainda uma visão profissional do mesmo. Quando os países europeus tornaram-se profissionais, começaram a vir ao Brasil em busca de grandes jogadores para seus times. Em conseqüência a este fato, a Confederação Brasileira de Desporto (CBD) que preferia o amadorismo, teve que dar início ao profissionalismo brasileiro (Caldas, 1990).

    Apesar da tentativa de sair do amadorismo e buscar o profissionalismo, o futebol brasileiro continuava a tratar seus jogadores como amadores quando se tratava de pagamento. Os salários dos jogadores só cobriam despesas com o transporte e alimentação. Em razão deste fato, os times europeus conseguiram levar do Brasil mais de 50 jogadores, incentivados pela nova possibilidade de vida.

    A diferença no tratamento, na cultura, no profissionalismo entre o Brasil e a Europa, ainda nos dias de hoje, leva nossos jogadores a realizar grandes sonhos de estar no futebol europeu. Mesmo com a fama de melhores jogadores do mundo, a Confederação Brasileira e suas federações, bem como os grandes times, não conseguem mais manter os jogadores brasileiros jogando no território nacional. Quase a totalidade dos melhores jogadores do Brasil está na Europa.

    A fim de conhecer melhor o que o próprio jogador acha destas diferenças, uma vez que este é a estrela do jogo, este trabalho visou tratar as diferenças do futebol italiano e brasileiro, sob a visão de um único jogador, o que caracteriza este artigo como estudo de caso. Serão avaliados os tipos de treinamento, organização de campeonatos, tratamento e apoio pessoal.


Material e métodos

    Esta investigação caracterizou-se como estudo de caso, através de uma pesquisa qualitativa, fazendo uso de entrevista para coletar informações de um sujeito amostral e avaliada pela Análise de Conteúdo.


Metodologia

    Inicialmente, foi elaborado um plano estrutural de entrevista. As perguntas constantes desse plano dizem respeito à qualidade de tratamento destinado a jogadores de futebol brasileiros em contraponto com a política de nossos clubes. Os resultados da entrevista são listados a seguir, apresentando-se a pergunta, a resposta e a conseqüente discussão do ponto ali abordado.


Resultados

01 - Entrevistador: Como é a hierarquia dos clubes italianos? Existe diferença em relação aos times brasileiros?

Kaká: A hierarquia do futebol italiano é bem diferente. No Brasil, os presidentes e diretores não têm compromisso com o clube diretamente. Eles, muitas vezes, buscam seus próprios interesses. Aqui na Itália, normalmente, os presidentes são os donos dos clubes, ou seja, são mais honestos, porque estão trabalhando com seu próprio dinheiro. Eles só escolhem pessoas de confiança para cargos altos, e por isso, eles possuem grandes estruturas.

Comentário: A forma de trabalho de times italianos é bem mais profissional que os times brasileiros, uma vez os mesmos zelam pelo time em todos os seus aspectos. Corroborando esta idéia, Barros (1990) comenta sobre a relação da assessoria aos jogadores brasileiros e afirma o seguinte: "os jogadores brasileiros precisam ser melhores assessorados pelos seus clubes, ajudando-os a empregar melhor o seu dinheiro. Um assessoramento honesto, até mesmo na hora de discutir um novo contrato. Se os dirigentes fossem mais honestos e mais inteligentes, proporcionariam um contrato justo, o qual desse para o atleta sustentar bem a sua família e assim evitariam de levar problemas para dentro do clube. Agindo dessa forma, o atleta desempenharia muito melhor a sua função dentro do campo".

02 - Entrevistador: Como é de conhecimento de todos, os clubes brasileiros estão sempre atrasados em seus pagamentos junto aos jogadores. Como é isso aí na Itália?

Kaká: Aqui pagar em dia é obrigação. Até porque se algum time não estiver em dia com os seus pagamentos, ele não poderá ser inscrito em nenhum campeonato.

Comentário: Cerca de 70% dos times brasileiros não pagam os atletas em dia, e em muitos casos até mesmo não pagam. Como exemplo, poderíamos citar o caso de atletas do clube Botafogo e Regatas que segundo Delani* disputaram o campeonato do ano passado da série "A" e até hoje, com o fim do contrato, jogadores não receberam salários de 5 meses de atraso, e o pior é que não é possível recorrer a nenhum tipo de justiça, pois os clubes estão interligados entre si, e nenhum clube contrata jogadores que já ocasionaram problemas para outros clubes, envolvendo a justiça. Barros (1990) afirma que os dirigentes deveriam contratar assistentes sociais, com a função de visitar a casa dos atletas, e fazer levantamentos das necessidades reais da família principalmente em época de renovação de contrato. Segundo o mesmo autor, o clube deve saber tudo sobre o atleta, incluindo o quanto ele precisa realmente para viver. No caso citado acima, os dirigentes não pensaram em nenhum momento no conforto dos atletas e de seus familiares. Segundo Delani*, os atletas devem viver com o mínino de conforto, para que possam ter tranqüilidade, a fim de obter melhores desempenhos em seus clubes. No ano desse campeonato, o Botafogo escapou do rebaixamento nas últimas rodadas, um grande exemplo que um trabalho mal remunerado rende menos.

03 - Entrevistador: Os dirigentes têm compromisso, responsabilidade e tratam das coisas do clube com profissionalismo?

Kaká: Os dirigentes daqui são bastante responsáveis e profissionais. Muitas vezes acontece do dinheiro do patrocínio não ser suficiente para p agar as dívidas do clube, então eles acabam pagando déficits (são as dívidas que o time adquiriu, e não foram pagas até o fim do campeonato) com o seu próprio dinheiro.

Comentário: Corroborando a resposta do entrevistado, Budolla (1999) afirma que "o caminho adotado pelos europeus nos fornece dados, mas que estão muito longe de ser a verdade para o futebol brasileiro. Quem pode descobrir a nossa direção somos nós mesmos. Para poder desenvolver o produto futebol, é necessário haver união, porém a maioria de nossos dirigentes só pensa em seus interesses pessoais, achando que cada um por si e Deus por todos irá significar uma otimização dos resultados para o seu time em campo. É necessário que os caríssimos dirigentes se conscientizem da sua importância na maximização dos esforços em busca da alegria, emoção e também da competitividade,sem que no entanto ela resulte na alteração dos padrões éticos e morais".

04 - Entrevistador: Como é feita a organização dos campeonatos na Europa ?

Kaká: A organização de campeonatos aqui é muito interessante, cada país tem a sua cota de times para jogar a "Champions League" que é o maior campeonato da Europa. E uma outra cota para disputa da copa "UEFA" que é a segunda maior competição européia. Os campeonatos são a pontos corridos sendo que a tabela sai um mês antes do campeonato começar. A tabela já é feita tendo em consideração os jogos de cada Seleção.

Comentário: Observa-se que há diferença na organização dos campeonatos na Europa com os campeonatos realizados no Brasil, onde há três competições principais: os estaduais, o brasileiro e a Copa do Brasil. Se o time está participando das três competições, ele deve ter no mínino dois jogos por semana - quarta e domingo ou terça e sábado. E, também, a tabela destes campeonatos não acompanha a tabela dos jogos da Seleção Brasileira, o que pode ocasionar choques na convocação dos jogadores. Um ponto positivo observado na Confederação Brasileira de Futebol é que a tabela dos campeonatos são elaboradas e divulgadas, com bastante antecedência.

05 - Entrevistador: Existe alguma diferença entre o futebol europeu e o brasileiro, na forma de jogar? Quem são mais violentos e maldosos?

Kaká: Existe uma diferença em relação a espaço, no futebol brasileiro, temos mais espaço para jogar, a marcação é feita mais de longe, em comparação ao italiano, no qual, os espaços são mais limitados, ou seja, a marcação é feita de perto. Em relação à violência, aqui na Itália eles jogam duro, mais não maldosos.

Comentários: No livro Na Boca do Túnel (1968), Moreira relata o seguinte: "O europeu tem um jogo viril, com muitas faltas e muita violência, principalmente dentro da área. O jogador brasileiro que vai jogar na Europa é o primeiro a sentir esta diferença".

06 - Entrevistador: Os treinamentos feitos na Itália são diferentes dos treinamentos feitos no Brasil?

Kaká: Os treinos são bem diferenciados. No Brasil, os treinos são mais longos e com menos intensidade. Já na Itália, os treinos são mais curtos e mais intensos. Outra grande diferença, é que na Itália, não temos muito o treino chamado coletivo, o qual se usa muito no Brasil, mas, por outro lado, temos muito treino tático.

Comentário: Segundo Macedo Filho (1968), o jogador brasileiro levado para Europa, após a indispensável adaptação, pode render o necessário dentro de seu sistema de treinamento. Mas não pode fazer o mesmo no Brasil, se adotado o sistema de treinamento europeu. O autor considera que tal coisa seja impossível, por causa dos problemas do clima, da alimentação e da raça, pois temos ainda uma mistura e não um tipo de raça definida. A adaptação dos métodos e sistemas europeus seria possível, por exemplo, no Rio Grande do Sul, onde o clima assemelha-se ao de algumas regiões mais quentes da Europa.

07 - Entrevistador: Qual a diferença entre as torcidas européia e brasileira?

Kaká: A torcida daqui é bem mais fanática que a do Brasil. Até porque, os europeus vivem o futebol o tempo todo, muito mais intenso que os brasileiros. Só que a maior, e melhor diferença, é que aqui raramente acontece violência nos estádios pelo fato da punição ser tão severa. E com isso, os jogos de futebol passam a ser um programa para a família no final de semana, no qual é super comum a presença de pais, filhos, crianças e idosos.

Comentário: Segundo Monsôres (1968), "a torcida é uma força da maior significação no futebol. Nem os torcedores calculam a força que representam, quanto atuam ou deixam de atuar. Acompanhando os clubes aos jogos que eles disputam, dando-lhes incentivo, elas ajudam muitas e muitas vezes a construir uma vitória ou a transformar o resultado de uma partida. Muitas vezes, a torcida faz com que jogadores de qualidades inferiores aos de outros times cresçam e apareçam mais. Às vezes, levando-os a se tornarem verdadeiros heróis".

08 - Entrevistador: Em relação à pressão psicológica, você sofreu mais no Brasil ou na Itália? Isso gerou algum tipo de estresse em você?

Kaká: Pressão tem em todo lugar, tanto no Brasil quanto na Itália. Como em ambos lugares, eu joguei e jogo em times grandes e importantes, a pressão também é grande. Nunca me gerou nenhum problema, pois sempre aproveitei o lado positivo das cobranças para crescer.

Comentário: Patmore (1986) afirma que "o fator de natureza psicológica que distingue o atleta vencedor do atleta perdedor é sua habilidade para lidar com o estresse das competições. Não saber lidar com o estresse é a principal fonte geradora de maus rendimentos esportivos, de aumento de insegurança, aumento dos sintomas de ansiedade antes e durante o desempenho esportivo, diminuição da auto-estima, da auto-confiança e do auto-controle".

"Quando os demônios do esporte querem destruir um atleta, eles começam pela mente [...]" (NOGUEIRA, 1996).

09 - Entrevistador: A maioria dos jogadores brasileiros estão saindo de seus times para jogar futebol no exterior. Qual o motivo que leva isso a acontecer com tanta freqüência?

Kaká: O futebol europeu é muito mais organizado, além disso, tem a oportunidade de aprendizagem em países europeus e, principalmente, o lado financeiro.

Comentário: Segundo Caldas (1990) desde 1930, quando o futebol se tornou profissional no Brasil, os jogadores brasileiros foram visados pelos empresários europeus, pois o que se pagava e paga ainda hoje no Brasil é bem inferior ao que se paga na Europa. Se isso fosse diferente, o futebol brasileiro não perderia seus melhores jogadores para os times europeus e asiáticos.

10 - Entrevistador: Quantos jogadores brasileiros jogam no seu time? E quantos há no total na Europa?

Kaká: No meu time, jogam quatro brasileiros, eu, Cafu, Dida e Serginho. Agora, espalhados pela Europa são muitos.

Comentário: Se já no início do século XX, saíam por ano 30 jogadores (CALDAS, 1990), a continuidade desde processo torna-se verídica até os dias de hoje. Jogadores brasileiros, dos quais ninguém nunca ouviu falar, tornam-se verdadeiros heróis do futebol estrangeiro.

11 - Entrevistador: Qual motivo o levou a sair do Brasil?

Kaká: Eu sempre tive o grande sonho de jogar na Europa, então quando a oportunidade apareceu, não deixei passar, pois é um sonho realizado.

12 - Entrevistador: Além do salário, o Milan propicia alguma estrutura pessoal, como curso de línguas, casa, entre outros? Os times brasileiros também fornecem esses benefícios?

Kaká: Em relação aos outros times brasileiros, eu não sei, mas o São Paulo fornecia o Centro de Treinamento para os jogadores que preferiam morar lá. Mas essa assistência é muito relativa, depende de cada contrato específico. Já o Milan me dá toda assistência fora do campo, eles me deram um carro, aluguel do apartamento é o clube que paga, fiz curso de italiano quando cheguei e hoje faço curso de inglês no clube.

13 - Entrevistador: A assistência dada pelo Milan é apenas para você ou eles também se preocupam com sua família?

Kaká: A assistência é dada para o jogador, mas o time acaba estendendo a mesma para os familiares, que moram comigo.

14 - Entrevistador: Aqui no Brasil, há uma diferença de tratamento entre jogadores casados e solteiros. E na Europa, como funciona isso, um jogador casado pode morar no Centro de Treinamento?

Kaká: Aqui quando um jogador casado chega, ele e sua esposa podem morar no Centro de Treinamento até que eles encontrem uma casa para morar.

15 - Entrevistador: O clube investe para o jogador ter uma outra formação profissional, apóiam os jogadores a começar uma faculdade, um curso ou qualquer outra coisa que eleve sua cultura? Qual a sua opinião em relação a isso?

Kaká: O clube não investe nem apóia seus jogadores em relação aos estudos. Quanto a isso, aqui na Itália e no Brasil é tudo bem parecido, nenhum jogador cursa faculdade. Na minha opinião, é muito difícil os jogadores conseguirem relacionar o futebol com uma outra formação, seja ela qual for. Geralmente, saímos do treino muito cansados, o que dificulta a procura por uma outra formação. Quando saio do treino tudo que eu mais quero é curtir o tempo com a minha família.

Comentário: De acordo com Hallal et.al (2004), grande número de atletas, principalmente quando mais jovens, acabam abandonando o futebol pela incompatibilidade com os estudos. Os que continuam seguindo a carreira futebolística, quase sempre abandonam seus estudos para poderem se dedicar totalmente aos seus treinos. Isso se torna um grande problema, quando chega ao fim de sua carreira sem ter adquirido nenhuma outra formação profissional.

16 - Entrevistador: E os próprios jogadores, eles se preocupam em ter essa formação profissional, ou isso não é importante para eles? Kaká: Os italianos, em particular a grande maioria, começou a fazer faculdade, mas logo depois pararam. Entre os estrangeiros que jogam aqui no Milan, quase nenhum começou a cursar faculdade. E enquanto eu joguei no Brasil, nunca ouvi de nenhum dos meus companheiros que eles estavam cursando uma faculdade.

17 - Entrevistador: Os técnicos possuem alguma formação profissional? E os preparadores físicos?

Kaká: Os técnicos, alguns são formados em Educação física, e outros não possuem nenhuma formação. Em geral, a maioria dos técnicos são ex-jogadores e os preparadores físicos são todos formados.

Comentário: Barros (1990) afirma que "com raras exceções temos técnicos formados. Particularmente acho um absurdo uma pessoa que deseja ser técnico de futebol ter de cursar quatro anos de Educação Física e depois mais um ano de especialização duvidosa para se considerar técnico de futebol". Logo após, Barros sugere que "seria bom que as faculdades contassem com um curso exclusivo para técnico de futebol com duração de um ou dois anos que seja , mas cuja tônica fosse realmente as partes técnica e tática e que a parte física ficasse em segundo plano, abordada como conhecimento geral. Este curso deveria ser mais prático do que apenas teorias dentro da sala de aula. Conseguiríamos assim formar melhores técnicos e sermos mais exigentes, evitando o aparecimento de novos técnicos não formados".

18 - Entrevistador: A maioria dos preparadores físicos são formados, e o salário deles em relação aos dos técnicos são menores. Isso causa alguma indignação para os preparadores físicos, levando-os a pedir demissão ou parar de se informar mais, e de se atualizar em determinados assuntos?

Kaká: Isso não acontece, porque cada um sabe o seu valor dentro do clube. A diretoria procura valorizar a todos, principalmente quando a equipe ganha. Os preparadores daqui sempre estão se atualizando, viajando e assistindo a palestras no exterior, principalmente nos Estados Unidos.


Conclusão

    Ao concluir esse trabalho, observamos que persiste nos dias de hoje, uma enorme popularidade do futebol. No entanto, as formas como são administrados os clubes e federações variam de país para país, às vezes, de estado para estado. Pois em cada lugar, o futebol foi difundido de uma forma que repercute efetivamente em seu grau de profissionalização.

    Até mesmo na hierarquia do futebol, a cultura conta muito. O futebol brasileiro reflete hábitos e relações de países de terceiro mundo e por conter pessoas com caráter depravado, os clubes estão se acabando, falindo. Conseqüência da ação de dirigentes de grandes clubes brasileiros que sobrepõem interesses pessoais aos interesses dos clubes. Geralmente não se preocupam com o caixa do clube e sua saúde financeira. Aqui, no Brasil, os dirigentes não estão nem pouco interessados com a vida pessoal dos jogadores, em relação a salário, e nem mesmo a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) faz alguma coisa para que esse quadro mude. Na Itália, as regras feitas pela Confederação Italiana de Jogo Cálcio (CIJC) exige que cada clube esteja com os pagamentos dos atletas em dia, caso contrário, as equipes não podem ser inscritas em nenhum campeonato. Uma atitude dessa é primordial para a organização de qualquer campeonato.

    Definitivamente, o futebol brasileiro não apóia os estudos de seus atletas, o que ao parecer de alguns autores, é muito prejudicial, pois a partir do momento que o jogador não tem o apoio do seu próprio clube para dar início a um projeto, com certeza ele se desmotivará. Só que sem formação superior, o jogador, quando pára de jogar, não será mais ninguém, e é pensando no futuro de seus atletas que o clube deveria apoiá-los. Sem contar com os adolescentes iniciantes na carreira, que poderiam futuramente ser grandes jogadores e deixam seu sonho de lado, por não conseguir conciliar os estudos com o futebol.

    Percebemos também como o jogador europeu é mais valorizado, tem uma assistência muito maior materialmente, e até mesmo uma assistência estendida a sua família, diferentemente daqui, em que o jogador não é praticamente assistido pelo seu clube.

    Enfim, são muitos os descaminhos do futebol brasileiro, apesar de ser uma indiscutível paixão nacional... O mais triste, porém, é percebermos que o futebol, assim como ocorre em outros setores da sociedade brasileira, só reflete nossa realidade, um contexto triste e vergonhoso que precisa ser revisto brevemente antes que seja tarde demais.


Referências bibliográficas

  • BARROS, José Mário de Almeida. Porque foi e porque não é mais. Rio de Janeiro: Sprint, 1990. p.23.

  • BUDOLLA, Marcelo. Gol! A emoção aliada aos negócios, o processo de construção da marca por meio do futebol. Curitiba, 1999.

  • CALDAS, W. O Pontapé Inicial: Memória do Futebol Brasileiro. São Paulo: IBRASA, 1990.

  • MACEDO FILHO, Evaristo de. Preparação Física: no Brasil e na Europa. In: PEDROZA, Milton. (Org.). Na Boca do Túnel. Rio de Janeiro: Ed. Gol, 1968. p. 79-82.

  • HALLAL, P. C. et.al. Fatores intervenientes associados ao abandono do futebol em adolescentes. Revista Brasileira Ciência e Movimento, Brasília, DF, 2004.

  • JESUS, Gilmar Mascarenhas de. Futebol, globalização e identidade local no Brasil. Revista digital: Efdeportes, Bueno Aires, ano 8, n. 57, fev. 2003. Disponível em: http://www.efdeportes.com. Acesso em: 02 maio. 2005.

  • JESUS, Gilmar Mascarenhas de. São Paulo: a cidade e o futebol. Revista digital: Efdeportes, Bueno Aires, ano 8, n. 46, mar. 2002. Disponível em: http://www.efdeportes.com. Acesso em: 02 maio. 2005.

  • MONSÔRES, Plácido de Assis. Influência da torcida. In: PEDROZA, Milton. (Org.) Na Boca do Túnel. Rio de Janeiro: Ed. Gol, 1968. p. 151-153.

  • NOGUEIRA, Armando. O estado de São Paulo, 01 maio. 1996.

  • MOREIRA, Aimoré. Espionagem e despistamento. In: PEDROZA, Milton. (Org.) Na Boca do Túnel. Rio de Janeiro: Ed.Gol, 1968. p. 27-31.

  • PATMORE, A. Sportmen under stress. Londres: Stanley Paul, 1986.

  • RODRIGUES, Francisco Xavier Freire. Modernidade, corpo e futebol: uma análise sociológica da produção social do jogador de futebol no Brasil. Revista digital: Efdeportes, Buenos Aires, ano 8, n. 57, fev. 2003. Disponível em: http://www.efdeportes.com. Acesso em: 02 maio. 2005.

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revista digital · Año 10 · N° 87 | Buenos Aires, Agosto 2005  
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