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Relação entre tempo de reação e
o tempo de prática no tênis de campo

   
* Docente do Curso de Mestrado em Ciências do Movimento Humano
** Mestre em Ciências do Movimento Humano
*** Mestranda da em Ciências do Movimento Humano
**** Acadêmicos do Curso de Educação Física

Universidade do Estado de Santa Catarina
UDESC, Florianópolis - SC, Brasil.
Laboratório de Psicologia do Esporte e do Exercício / LAPE / CENESP
 
 
Alexandro Andrade* | Andrey Portela**
Caroline Di Bernardi Luft***
Diego Itibere Cunha Vasconcellos
Joana Bastos Matos | Paulo José Perfeito****

diegoitibere@yahoo.com.br
(Brasil)
 

 

 

 

 
Resumo
    O presente estudo buscou verificar a diferença do tempo de reação em função dos anos de prática esportiva de tenistas juvenis, do sexo masculino, alunos de um clube desportivo de Florianópolis. Trata-se de uma pesquisa descritiva de campo. Participaram do estudo 8 atletas: 2 iniciantes (até 2 anos de prática), 3 intermediários (entre 2 e 4 anos) e 3 avançados (mais de 4 anos de prática) com média de idade de 16 anos (± 0,92). Os dados foram obtidos por meio de uma entrevista de caracterização pessoal, e de um software de computador específico para a mensuração do TR, através de estímulos visuais e sonoros (ANDRADE e JARDIM, 2002). Os dados foram tratados com estatística descritiva e inferencial, teste "t". A média do tempo de prática foi de 4,13 anos (± 2,64). Não foram encontradas diferenças significativas (p<0,05) no TR dos atletas em relação ao seu tempo de prática esportiva no tênis. Os grupos de intermediários e avançados destacaram-se, obtendo as melhores médias nos testes de TR auditivo e de discriminação. Os iniciantes apresentaram médias melhores apenas a estímulos visuais. Comparando as médias individuais dos TRs, as diferenças apareceram apenas ao comparar o TR auditivo e TR visual, sendo que sete dos oito atletas apresentaram valores menores para o TR auditivo, confirmando a literatura científica. Ao comparar o TR de discriminação com o auditivo e o visual, verificou-se que todos os atletas apresentaram valores melhores para o TR auditivo. Concluiu-se que o tempo de prática esportiva não influenciou o TR simples destes atletas, e que o TR auditivo é significativamente menor do que o TR visual e de discriminação.
    Unitermos: Tempo de reação. Tênis de campo. Tempo de prática esportiva
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 86 - Julio de 2005

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Introdução

    Tomar rápidas decisões motoras exige uma certa habilidade e velocidade de movimento de nossos membros, a fim de executar tarefas bem como as desejamos. Atletas, diferentemente das demais pessoas trazem consigo uma bagagem de experiências motoras que podem vir a auxilia-los quando submetidos a determinadas situações, tais como quando precisam responder da maneira mais rápida possível a determinados estímulos. O treino, a prática contínua de uma atividade, faz com que se desenvolva velocidade tanto nos sistemas perceptivo quanto motor. Assim sendo, o tempo de reação simples pode ser uma ferramenta para mensurar valores aproximados do tempo de resposta destes indivíduos. Entretanto, alguns estudam apontaram não haver relação entre o tempo de reação simples e o tempo de prática de atletas. Ou seja, nesses estudos o tempo de reação simples não foi um elemento limitante da velocidade de resposta.

    O tênis, sendo um esporte altamente envolvente no ambiente social, possui adeptos e praticantes em todas as partes do mundo, seja por lazer ou competição. O Brasil não é considerado uma potência mundial na modalidade, porém já possuiu e ainda possui grandes jogadores de renome internacional. Entre os mais conhecidos destacam-se Maria Esther Bueno, tri-campeã de simples do Aberto da Inglaterra (Wimbledon) nas décadas de 50 e 60, e Gustavo "Guga" Kuerten que até hoje é o único brasileiro que chegou a atingir o topo do ranking mundial.

    O tempo de reação é um fator de grande importância no desempenho esportivo, pois em qualquer situação de uma partida ou jogo, os atletas devem estar sempre prontos a tomar decisões rápidas e precisas.

    De acordo com a taxonomia de Gentille, o tênis pode ser caracterizado como um esporte de movimentos altamente complexos. Mesmo sabendo o que fazer com a bola, o tenista nunca tem o domínio total da situação, a quadra se torna um ambiente instável (principalmente no saibro, onde a bola quica de maneira bastante irregular). Outra marcante característica do jogo de tênis é o jogo de efeitos, os jogadores mudam a direção e a velocidade da bolinha constantemente. Basicamente utilizam-se dois tipos de efeitos, o top spin e o slice (under spin). O top spin é mais usado nas trocas de bola do fundo de quadra em alta velocidade, já o slice, geralmente, serve para variação do ritmo de jogo, pois ao contrário do primeiro, ele deixa a bola mais lenta, ela flutua mais. Para tornar o tênis ainda mais complexo, o contato com a bolinha não é feito diretamente pelo corpo, e assim através de um instrumento, pesado e difícil de manejar, a raquete.

    Pesquisadores apresentam uma dedução experimental que relaciona a variabilidade do TR com o tipo de movimento. Schmidt citado por Greco (2001, p. 179) afirma que "...o tempo de reação depende da complexidade do movimento, caso o movimento seja mais complexo, o tempo de reação será maior, o que caracteriza uma organização prévia à execução do movimento, provavelmente na preparação do programa motor". Dados da literatura afirmam que o tempo de reação quando treinado pode ser melhorado em até 15%.

    Os estudos do tempo de reação dentro do tênis são de fundamental importância, pois é este pequeno intervalo de tempo que o tenista tem para tomar a decisão de como ele irá recepcionar um saque (que empunhadura utilizar), de como fará um voleio, se ele deve optar por uma "deixada" ou simplesmente como rebater a bola do fundo da quadra. O tenista deve ter uma percepção aguçada para julgar uma bola que vem em alta velocidade em sua direção, deverá ter antecipação em relação para quando e aonde a bola vai quicar, e também saber calcular o tempo exato para chegar até ela e rebate-la da maneira desejada (timing). Por exemplo, segundo Schmidt (1993), um jogador tem várias possibilidades de rebatidas de uma determinada área da quadra, isso faz com que a incerteza de seu oponente aumente, pois ele não saberá exatamente qual golpe será utilizado, atrasando assim seu tempo de resposta.

    Enfim, no tênis, para se tomar essas decisões o tenista deve saber ler o golpe do adversário, essa condição de leitura de golpes é adquirida com o tempo, por isso supomos que jogadores com mais experiência levam menos tempo para responder a certos estímulos. Seja quando o oponente levanta a bola para sacar (assim quem esta recebendo o saque sabe para onde vai a bolinha), ou ainda de que maneira ele chegará em determinada bola e como fará para tentar responder (se chegou "atrasado" ou em boas condições de rebater).

    Diante disto surge a seguinte questão: jogadores de diferentes níveis respondem de maneira diferente aos mesmos estímulos? Qual a relação entre o TR de tenistas e o tempo de pratica esportiva? Por fim realizou-se uma comparação, com base nos dados da literatura, do tempo de reação para diferentes estímulos.


Método

    Trata-se de uma pesquisa descritiva de campo, que tem como objetivo conhecer a natureza dos fenômenos e relacioná-los com os objetivos do estudo de acordo com os métodos de coleta (RUDIO, 1986).

    Participaram deste estudo tenistas juvenis do sexo masculino, em boas condições de saúde, alunos de um clube desportivo de Florianópolis (SC). A amostra se constituiu de 8 atletas que voluntariamente se dispuseram a participar do estudo. Foram divididos em três categorias, de acordo com o tempo de prática no tênis: iniciantes (até 2 anos de prática), intermediários (2 a 4 anos de prática) e avançados (com mais de 4 anos de prática). Os participantes realizaram os testes sentados à frente de um de uma mesa com um noteboock, este por sua vez equipado com o software que permitiu realizar os testes para tomada do tempo de reação. Os avaliados realizaram os testes com um fone de ouvido, para que nenhum ruído externo pudesse intervir na performance no teste, permitindo assim que os eles se concentrassem da melhor maneira possível. O Software de Avaliação da Aprendizagem e Controle Motor: Aplicação Para Habilidades Motoras Finas Discretas e Fechadas de Membros Superiores (programa de computador utilizado no estudo, que permite a tomada do tempo de reação para diferentes estímulos) possibilta: nomear a base de dados onde serão gravados os registros; identificar o indivíduo; identificar o registro; utilizar campos auxiliares identificação; configurar o tempo de preparação (em ms); configurar o tempo mínimo e tempo máximo (em ms) de sorteio (rdm); configurar o número de tentativas para cada uma das 5 etapas do teste (Visualteste, Sonoroteste, Visual + Sonoroteste, Visual ou Sonoroteste). O teste foi realizado no período da tarde, na própria quadra, antes dos tenistas começarem a aula, antes mesmo do aquecimento e alongamento. À medida que concluíam o teste iam sendo liberados para a aula. Foram utilizados apenas o Visualteste, Sonoroteste e o Visual ou Sonoteste com sete tentativas para cada atleta em cada uma dessas três situações. Linguagens de programação utilizadas: ActionScript, Macromedia Flash, Perl, Html, Javascript.

     Para as análises estatísticas foi utilizado o programa SPSS 11.0, através da aplicação da estatística não paramétrica (devido ao "n" da amostra), utilizando o teste "t".


Resultados: apresentação e discussão

    De acordo com o tratamento estatístico dos dados verificou-se que a média do tempo de reação visual para os iniciantes foi de 341,36 ms, para os intermediários 316,86 ms, e para os avançados 326,09 ms. Para estímulos auditivos a média do tempo de reação dos avançados ficou em 261,19 ms, dos intermediários em 291,14 e dos iniciantes em 300,07. Já para o tempo de reação de discriminação as médias apresentaram valores decrescentes, 326,68 ms para os iniciantes, 324,62 ms para os intermediários e 313,17 ms para os avançados.

    Nota-se que a relação tempo de prática e tempo de reação não foi significativa para nenhum nível de classificação de experiência (iniciante, intermediário e avançado). Isto pode ser justificado pelo pequeno "n" da amostra. Para o TR visual o grupo que mais se destacou foi o dos intermediários, obtendo as melhores médias, seguidos dos avançados e dos iniciantes. Relacionando o tempo de prática com o TR auditivo, os escores melhoraram à medida que o tempo de prática aumentou, seguindo a ordem: iniciantes, intermediários e avançados. O mesmo aconteceu para a relação tempo de prática e TR de discriminação. Assim sendo, concluímos que o tempo de prática esportiva dos participantes pode estar associado a valores mais baixos do Tempo de Reação Simples (exceto para estímulos visuais) e de Discriminação, pois os grupos com mais tempo de prática obtiveram os melhores resultados em 2 dos 3 testes. Fato este que está de acordo com a literatura, pois segundo Schmidt (1993), existe um pequeno efeito do tempo de prática sobre o TR simples.

Gráfico 1. Natureza do estímulo x tempo de prática

    Comparando as médias dos TRs em função dos diferentes estímulos, verificou-se que o TR auditivo foi menor do que o visual e o de discriminação, concordando com BELMONTE (1996) que ao pesquisar 15 atletas de Tae Kwon Do com os mesmos estímulos observou que o TR auditivo foi consideravelmente menor que e o visual e de discriminação.

Tabela 1. Resultados do teste


T.P: Tempo de Prática (em anos); (-) Menor tempo obtido no teste; (+) Maior tempo obtido no teste; DP: Desvio Padrão

     No teste comparativo entre as médias individuais de cada atleta, foi possível notar que sete apresentaram TR auditivo menor que o TR visual, e apenas um obteve resultado inverso. A literatura justifica isto pelo fato de que o período pré-motor do TR auditivo é menor (mais rápido) do que o período pré-motor do TR visual (MAGILL, 1994). A diferença entre o TR auditivo e o TR visual apresentou valores estatisticamente significativos.

     Todos os atletas apresentaram TR auditivo menor que o TR de discriminação. Schmidt (2001) afirma que o TR mais curto é encontrado quando existe somente um estímulo e uma resposta (TR simples). Nota-se que a diferença entre os valores de TR auditivo e TR de discriminação não foi significativa.

     Pôde-se constatar ainda que não houve predominância entre os TR de discriminação com relação ao TR visual dos tenistas. Quatro atletas (50% da amostra) apresentaram TR de discriminação menor, e os demais, TR visual menor. Estes dados conflitam um pouco com a literatura, pois esperava-se que os valores aumentassem com o aumento do número de estímulos, conforme Schmidt (2001) afirma no parágrafo anterior. A diferença entre os valores do TR visual e TR de discriminação não foi significativa.

Gráfico 2. Médias gerais dos TR's encontrados

     Kida et. al. (2004) realizaram um estudo envolvendo jogadores de baseball (rebatedores), tenistas universitários e indivíduos não atletas (todos japoneses). Os resultados indicaram que o tempo de reação simples não foi significativamente diferente quando comparado entre os grupos. Porém, no teste Vai/Não Vai (Go/Nogo task), os jogadores de baseball apresentaram valores significativamente menores em relação aos demais. O teste Vai/Não Vai consiste numa tomada de decisão (responder ou não) através de estímulos visuais. Aparecendo determinada cor (estímulo) o individuo responde (pressionando qualquer tecla), e quando aparece outra cor (no caso, verde) o avaliado não responde, envolvendo assim processos de inibição. Neste teste, os rebatedores mais experientes (profissionais) destacaram-se com médias significativamente menores em relação aos atletas menos experientes. Apontaram ainda, num estudo longitudinal que, 2 anos praticando rebatidas fez com que o tempo de reação Vai/Não Vai desses atletas diminuísse, enquanto que o tempo de reação simples permaneceu constante.

    Um fator que pode ter influenciado positivamente na performance dos tenistas no teste é a familiarização e experiência dos atletas com vídeo-games, computadores ou similares que exijam coordenação óculo-manual. Na entrevista realizada antes do início dos testes, todos os atletas relataram utilizar esses tipos de equipamento com bastante freqüência.

     Segundo Manno, citado por Belmonte (1996), o tempo de reação depende do aquecimento. Portanto, pode-se deduzir que um prévio aquecimento neuro-muscular ajudaria a encontrarmos valores menores para o tempo de reação.


Considerações finais

    Neste trabalho buscou-se identificar o tempo de reação de jovens tenistas, com um enfoque na diferença existente entre os valores de TR encontrados e o tempo de prática esportiva de cada um, bem como entre os valores de TR para diferentes estímulos, levando em consideração dados atuais da literatura sobre esse mesmo assunto. Inicialmente constatou-se que o tempo de reação está intimamente ligado à natureza do estímulo, onde, de acordo com a literatura, ficou comprovado que a resposta a estímulos auditivos é mais rápida em relação a estímulos visuais.

    De acordo com os objetivos propostos pelo estudo e os resultados encontrados tem-se que os jogadores com mais experiência não apresentaram valores significativamente melhores no TR, comparados aos que praticam tênis há menos tempo. Isso demonstrou que o tempo de reação não é um fator preditor de performance, embora este fosse o esperado. Então, o que pode diferenciar um jogador mais experiente de um iniciante pode ser o tempo de processamento de uma informação, e não o tempo que ele leva para reagir especificamente.

    Muitos são os fatores intervenientes na performance de um praticante de uma modalidade esportiva. Uma melhora significativa nas capacidades envolvidas pode significar grandes avanços em termos de resultados, tanto nas seções diárias (aulas ou treinos) como nas competições. Grande parte desses fatores são encontrados tanto nos treinos, como na vida cotidiana do atleta. Ainda, além dos fatores fisiológicos e psicológicos para o treinamento em qualquer modalidade, considera-se importante a combinação desses fatores com outros como o técnico e o tático.

    Sendo assim, para tornar essas possibilidades reais ao futuro atleta, deve-se planejar desde cedo seus treinos respeitando suas etapas de desenvolvimento, a fim de proporcionar um treinamento mais completo e direcionado, lembrando que, à vontade de crescer e evoluir no esporte parte do atleta.


Referências bibliográficas

  • BELMONTE, A.P. Verificação da Correlação Entre Tempo de Reação Com a Flexibilidade e Velocidade de Membros Inferiores em Atletas de Taekwondo. P. 11 a 24. Monografia (Educação Física). Florianópolis: 1996. Centro de Educação Física, Fisioterapia e Desportos. Universidade do Estado de Santa Catarina.

  • FERNANDES, J.L. O Treinamento Desportivo: procedimentos, organização e métodos. São Paulo: Epu, 1981 (p. 70).

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  • GRECO, P.J. Iniciação Esportiva Universal: da aprendizagem motora ao treinamento técnico. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2001 (p. 179).

  • GRECO, P.J. Caderno Técnico do Goleiro de Handebol. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002 (p. 179).

  • KIDA, N. et al. Intensive baseball practice improves the Go/Nogo reaction time, but not the simple rection time. 2004. Disponível em www.sciencedirect.com

  • MAGILL, R.A. Aprendizagem Motora: Conceitos e Aplicações. 5a ed, São Paulo: Editora Edgard Blücher Ltda, 2000 (p. 18-19).

  • MAGLISCHO, E.W. Nadando Ainda Mais Rápido. 1a ed brasileira, São Paulo: Manole, 1999 (p. 510).

  • SCHMIDT, R.A. Aprendizagem e Performance Motora: dos princípios à prática. São Paulo: Movimento, 1993.

  • SCHMIDT, R.A; WRISBERG, C.A. Aprendizagem e Performance Motora: uma Abordagem da Aprendizagem Baseada no Problema. 2a ed. Porto Alegre: Artmed, 2001.

  • RUDIO, F.V. Introdução ao Projeto de Pesquisa Científica. Petrópolis: Vozes, 1986.

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revista digital · Año 10 · N° 86 | Buenos Aires, Julio 2005  
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