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A abordagem holística no contexto da
agressividade de crianças em Educação Física

   
*Aluna Especial do Mestrado em Ciências do Movimento Humano
**Prof. Dr. do Programa de Pós-graduação "Stricto-Sensu"
em Ciências do Movimento Humano

Laboratório de Psicologia do Esporte e do Exercício - LAPE
Centro de Educação Física, Fisioterapia e Desportos - CEFID
Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC
 
 
Maria Bernadete Schreiber*
Evânea Joana Scopel*
Alexandro Andrade**

evanea@terra.com.br
(Brasil)
 

 

 

 

 
Resumo
    As tendências atuais referentes à formação do aluno como um todo, direcionam para o desenvolvimento de profissionais com postura crítico reflexiva. O presente artigo propõe a analisar informações sobre a agressividade escolar e abordagem holística, e a partir deste estudo, refletir sobre a contribuição que esta abordagem pode dar a disciplina de Educação Física em relação ao comportamento agressivo em escolares. Esta forma de comportamento apresentada pelas crianças em ambiente escolar continua despertando o interesse de pesquisadores da psicologia e educação. Ao manifestar atitudes de agressividade a criança acaba por tornar o ambiente menos receptivo à busca do conhecimento, por meio da prática educativa. Em contraposição a cultura da agressividade encontra-se a educação com paradigma holístico. Esta abordagem caracteriza-se pelo desenvolvimento do ser humano em sua totalidade. A Educação Física ao assumir a sua prática com viés holístico, pode atenuar as causas de desequilíbrios comportamentais, neste caso a agressividade. Ter atitudes e conceitos mais humanos deve ser uma das características marcantes do educador deste novo século.
    Unitermos: Abordagem holística. Comportamento agressivo. Educação Física. educação.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 86 - Julio de 2005

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"A educação atual privilegia a inteligência do homem, em detrimento de sua sensibilidade e de seu corpo,
o que certamente foi necessário em determinada época, para permitir a explosão do saber.
Todavia, esta preferência, se continuar, vai nos arrastar para a lógica louca da eficácia,
que só pode desembocar em nossa autodestruição".

Basarab Nicolescu (2001)


Introdução

    Frente à preocupação em ocupar seu espaço na sociedade, o indivíduo apresenta em média duas características: a preocupação com a especificidade na educação e com a violência que se manifesta de forma tão freqüente no contexto escolar.

     A crescente desestruturação familiar torna cada vez mais frágil o conceito de limite, ética e responsabilidade social. Como uma resposta natural a toda esta fragilidade a criança apresenta dificuldades de relacionamento.

     O comportamento agressivo não é tema novo na literatura. Este comportamento apresentado por crianças no meio escolar, vem sendo estudado por diversos autores (CORSINI, 2000; MARQUES E NETO, 2001; AQUINO, 1996).

     Os psicólogos definem agressão como "qualquer forma de comportamento dirigido ao objetivo de prejudicar ou ferir um outro ser vivo que está motivado a evitar tal tratamento" (BARON e RICHARDSON apud, WEIMBERG e GOULD, 2001: p 494). A sensação de perda ou de frustração provoca na criança a manifestação de agressão. Atualmente pesquisas em psicologia do desenvolvimento identificam que as idades em torno dos 12 anos, são períodos críticos para as crianças, tendo importantes conseqüências em sua auto-estima e em seu desenvolvimento social (WEIMBERG & GOULD, 2001). Conforme Bee (apud JAEGER, 1997) as crianças, independente de sua faixa etária ao serem contrariadas sentem-se frustradas e em seguida manifestam o comportamento agressivo.

     De acordo com Newcombe (1999) encontramos como determinantes da agressividade fatores biológicos, com nível de testorona, influências familiares, rejeição dos pais e permissividade. Conforme a autora, a raiva é uma emoção básica sentida desde a primeira infância. Essa emoção pode desencadear muitos conflitos internos em crianças, adolescentes e adultos resultando muitas vezes em agressão.

     O meio em que a criança vive é um fator que pode vir a influenciar na agressividade e neste sentido a escola não pode ser excluída. É comum presenciarmos situações onde este convívio se torna principalmente para a criança em seu ambiente escolar, momento de insatisfação e descontentamento, que acabam por gerar atitudes de agressividade.

     Considerando as constantes variações no comportamento da criança no contexto escolar, o professor sente necessidade de buscar subsídios que possam auxiliá-lo frente a este problema. As constantes manifestações de agressividade com a qual a criança convive (família, televisão e social) contribuem de forma acentuada para a reprodução desse comportamento (SILVEIRA, 2003).

     Nas sociedades orientais, por exemplo, devido à cultura da competitividade, a agressividade costuma ser aceita e até mesmo incentivada, sobretudo, se estiver relacionado a atitudes de iniciativa, ambição, decisão ou coragem. Porém, é reprimida se estiver associada à atos de hostilidade, sentimentos de cólera ou atos agressivos individuais (BARROS, 1998).

    Para Jaeger et al (1997), agressão existe no âmbito escolar e não podemos simplesmente ignora-la, porém o que ocorre normalmente são brigas sem importância e sem maiores conseqüências, temporalmente insignificantes.

     A agressividade esta alcançando grandes proporções dentro e fora da escola. Fortes questões sociais como: desemprego, moradia, fome, saúde e educação, abalam a estrutura familiar refletindo no contexto escolar, pois a criança reproduz o que ela vivencia. Estas questões relacionadas com a desigualdade, exclusão social tem conduzido ao crescimento da delinqüência e da violência, quer na sociedade ou no interior da escola (FERNANDES, 2000).

    Durante as atividades desenvolvidas nas aulas práticas de Educação Física, naturalmente ocorrem situações em que expectativas e opiniões costumam divergir. Frente a estes problemas e na busca de um melhor aproveitamento da afinidade que normalmente é observada no relacionamento entre o professor de Educação Física e a criança, buscamos incorporar a nossa prática, abordagens que possam melhor fundamentar nosso planejamento.

     Conforme Esperidião (2000), a literatura tem apontado o relacionamento interpessoal como sustentáculo significativo para o processo ensino aprendizagem (TRAVELBEE, 1979; ROGERS, 1991; 1992; PEPLAU, 1993; HYCNER, 1995; FUREGATO, 1999).

     Travelbee, "alerta para o fato de que ninguém pode dar ao outro o que não tem, aspecto abordado também por Buscaglia (1995) que, referindo-se à dimensão da afetividade, traz a idéia de que ao oferecermos o que possuímos, ficamos mais abastecidos e não desprovidos dela" (apud ESPIRIDIÃO, 2004: p.4). Afetividade é um tipo de valor humano que apresenta várias dimensões: amor, respeito, aceitação, apoio, reconhecimento, gratidão, interesse (FEIJÓ, 1998, p.43).

    A educação centrada no aluno com ênfase na valorização do conhecimento sobre "si próprio e o outro" encontrada na visão holística sugere que, o comportamento agressivo e hostil percebido em ambientes e crianças em idade escolar pode ser amenizado frente a esta relação.

    Afirmar que atualmente os nossos alunos são mais agressivos na sua forma de manifestar-se física ou oralmente, não significa dizer que a educação esta mais difícil, mas sim, desafiadora. Assumir a complexidade da ação educativa nos tempos atuais, com conhecimento e reflexão contribui de forma pertinente no processo de formação da criança (FREIRE, 1991).

    O presente estudo objetivou-se a analisar a literatura referente à agressividade infantil e a abordagem holística de forma a refletir sobre a relação que pode haver com a disciplina de Educação Física. A partir desta relação direcionar o planejamento das atividades físicas para a prevenção e diminuição de comportamentos agressivo de crianças no contexto escolar.


Agressividade e educação física escolar

     Devido a sua importância com relação ao comportamento humano e frente ao aumento considerável da violência em nossa sociedade, a agressividade na fase escolar, vem despertando especial atenção de vários estudiosos (AQUINO, 1998; ZAGURY, 1995; BARROS, 1988).

     O meio em que a criança esta inserida é um dos fatores que mais influência na conduta da agressividade (SILVEIRA, 2003).Os fatores que desencadeiam as brigas e discussões surgem muito cedo entre as crianças, seja no ambiente familiar ou escolar. Estes fatores são considerados manifestações espontâneas da vontade de apropriar-se de objetos ou de um território, de impor suas idéias é com freqüência à maneira mais comum que a criança encontra para mediar seus conflitos; surge então o comportamento agressivo..

     Para a criança é saudável, que haja equilíbrio em seu relacionamento nestes ambientes, observando também as influências dos meios de comunicação e as transformações biológicas.

     Conforme Dias (apud SILVEIRA, 2003), o ser humano vive em uma eterna competição com outros e consigo mesmo produzindo uma agressividade natural. A agressividade associada a temas como a violência, limites e indisciplina tem despertado o interesse de vários estudiosos da psicologia, pedagogia e educação á realizarem pesquisas que contribuam para melhor compreensão dos fatos.

     Segundo Moser (1991), a agressão é um comportamento interativo, específico que envolve um agressor e uma vítima.

     Mussem et al (apud, SILVEIRA, 2003), colocam a agressão como comportamento que ofende ou tem o potencial para ofender uma outra pessoa ou objeto. Pode ser um ataque físico (bater, dar pontapés, morder), ataque verbal (gritar, xingar, depreciar), violação dos direitos alheios. A agressão está relacionada com a intenção de causar danos à outra pessoa ou objeto, levando em conta a intenção do agente. Este comportamento nocivo aos outros é considerado agressão, principalmente quando a criança está consciente da sua capacidade de ferir alguém.

     Na literatura autores como Osmar e Silva (1994); Samulski (2002), diferenciam dois tipos de agressão: agressão hostil ou reativa, e agressão instrumental. A primeira tem como objetivos causar danos físicos ou psicológicos a outra pessoa. A agressão instrumental, por outro lado, acontece na busca de algum objetivo não agressivo. Forma de agressão mais freqüente durante as aulas de Educação Física é a agressão hostil.

     Nota-se na literatura que a agressividade está sempre ligada a ferir outro indivíduo ou bem material, logo sempre estará ligada a prejudicar o outro.

    Weimberg & Gould (2001), identificam quatro importantes teorias em relação às causas de agressão:

  1. Teoria do instinto: onde a pessoa tem o instinto nato de serem agressivas que irá se desenvolver até que seja expresso sem que ao menos consiga se evitar, (esta teoria já não é mais vista atualmente).

  2. Teoria da frustração-agressão: diz que a agressão é resultante direta de uma frustração que se sucedeu devido ao bloqueio do objetivo.

  3. Teoria da aprendizagem social: psicólogos descobriram que crianças repetiam atos que os adultos faziam, o fato ocorria mais com crianças que assistiam a tais modelos adultos, do que as não expostas a tais modelos agressivos.

  4. Teoria da frustração-agressão revisada: embora, saibamos que a frustração nem sempre leva à agressão, ela aumenta a probabilidade da excitação e da raiva.

     O comportamento agressivo das crianças sofre modificações conforme o seu desenvolvimento (NEWCOMBE, 1999). As condições do meio em que a criança convive também são fatores determinantes no processo de minimizar a agressividade. A teoria da aprendizagem social confirma que a criança apresenta uma forte tendência a reproduzir o que ela observa e vivencia no meio.

     Conforme Bandura (apud BARROS, 1998) durante interações sociais, como resultado da observação do modo como as outras pessoas do grupo estão reagindo, um indivíduo pode modificar seu comportamento.

     Crianças de dois e três anos de idade, muitas vezes entram em conflito, quando esta em jogo a questão da posse de brinquedos e outros objetos (agressividade instrumental). Ao ter início à fase pré-escolar à agressividade verbal, como caçoar e dizer ofensas torná-se mais presente. A freqüência com que à agressividade física e verbal for expressada na idade de 6 a 10 anos tem relação com a agressividade dirigida aos colegas nas idades de 10 a 14 anos (apud NEWCOMBE, 1999, p.329).

     Segundo Freire (1991) as atividades de Educação Física devem cuidar do domínio do corpo e da mente o que significa proporcionar ao indivíduo o auto-conhecimento. Educando desta forma, oportuniza o professor em trabalhar com ansiedades, medos e traumas desses alunos, sentimentos estes que refletem tensões e agressividade.

     Sabendo que o ambiente escolar é o meio onde á criança permanece por um grande período, torna-se indispensável à atenção de educadores quanto a alternativas no sentido de educar para a prevenção ou diminuição da agressividade no comportamento social destas crianças (ZAGURY, 1996).

     Apesar do sistema educacional mostrar-se um tanto quanto inseguro quanto à preparação e a formação desta criança para o futuro, a escola é ainda um dos poucos locais onde a mesma é estimulada á seguir normas que podem conduzí-la a um convívio social equilibrado.

"Mesmo com todos os defeitos, a instituição escola é ainda um lugar em que as novas gerações convivem com respeito e a orientação, é ainda um lugar em que o saber é valorizado e no qual, apesar de seus erros e problemas, o ser humano socializa, aprende a conviver, torna-se um cidadão". (ZAGURY, 1996 p.56)

     Neste sentido, estando a Educação Física inserida no contexto escolar e sendo uma disciplina que desperta o interesse da maioria das crianças, torna-se significativo que os educadores desta disciplina façam uso deste conhecimento para atenuar a agressividade que é percebida no contexto escolar.


Holismo e educação

     A percepção total de mundo é ponto que identifica o indivíduo como verdadeiramente inteiro. O holismo é em essência uma maneira que cada um de nós pode usar para nos compreender melhor e entendermos a posição que ocupamos no mundo em que vivemos (PIETRONI, 1988). Por meio desta visão algumas das dificuldades ou preocupações que atravessam nosso caminho parecerão mais aceitáveis.

     Narango (apud OLBRZYMEK, 2001) apresenta em suas palavras um breve resumo sobre educação holística:

"A educação holística, como a abordagem das coisas em geral tem um aspecto de síntese. Foi Rousseau quem primeiro fez um apelo para a educação dos sentimentos. Depois dele, muitos outros enfatizaram o aprendizado através do fazer. As escolas de Steiner e Waldorf enfatizaram o desenvolvimento da intuição e daquilo que agora denominamos de educação transpessoal. A educação holística deseja reunir todas essas vozes, pois pretende dedicar-se a pessoa como um todo: corpo, sentimentos, intelecto e espírito. Entretanto, além do ser holístico no sentido de educar a pessoa como um todo, penso que deveria ser holística também sobre outros aspectos como: a busca de uma integração de conhecimento, de uma orientação voltada à integração cultural, de uma visão planetária das coisas, de um equilíbrio entre teoria e prática, da consideração de futuro, juntamente com o passado e o presente" (p. 31).

     A educação holística por apresentar um caráter profundamente vivencial da prática educacional, às vezes é confundida com uma concepção que surge do espontaneísmo de pequenos grupos. Mas, o propósito da visão holística é de forma objetiva estabelecer um diálogo profundo entre a ciência e outras formas de apreensão da realidade na tentativa de superação do racionalismo reducionista (CARDOSO, 1995).

     Conforme o autor acima citado "A atual abordagem holística da educação não pretende ser uma nova verdade que detenha a chave única das respostas para os problemas da humanidade. Ela é essencialmente uma abertura incondicional e permanente para o novo, para as infinitas possibilidades de realização do ser humano" (1995 p. 47).

     Cada ser humano traz consigo potencialidades infinitas que a todo instante podem ser exploradas e afloradas, dependendo do processo educativo a que for exposto e colocado em contato (SOUZA e SILVA, 2003).

     Diante de uma nova abordagem, no caso a holística, o educando passa a ser um sujeito ativo e valioso. O educador busca desenvolver neste educando, uma visão de respeito ao planeta, por toda e qualquer forma de vida, aos valores éticos como respeito às diferenças a cooperação, a generosidade, a honestidade, a justiça entre outros (BRANDÃO e CREMA, 1991).

     As crises paradigmáticas que surgem apontam que o presente momento é oportuno em abrir espaços para uma nova abordagem. Na educação, em especial área da Educação Física, encontramos uma forte tendência a vislumbrar na criança o que ela é capaz de produzir em forma de resultados mensuráveis.

     Para a abordagem holística, o corpo, os movimentos e o esporte são vistos como um fenômeno profundamente humano e não apenas mecânico.

     Nas atividades relacionadas ao esporte o holismo se manifesta como uma abordagem que se preocupa em trabalhar no atleta seus valores culturais, suas motivações, enfim preocupação com a personalidade da criança por inteiro. Esta preocupação em não aceitar trabalhar apenas a biomecânica do movimento, reforça a idéia de uma Psicologia humanista (FEIJÓ, 1998).

     A Psicologia existencial, conforme sua ênfase é conhecida por outros nomes. Em sua abrangência ela é chamada de abordagem holística, pois sua preocupação está voltada para a totalidade do ser humano, seus objetivos mais amplos e as suas necessidades psicofísicas (FEIJÓ, 1998).

     Este mesmo autor afirma que embora do ponto de vista filosófico existam diferenças entre elas, tanto a Psicologia Humanista quanto à Psicologia Existencial apresentam um mesmo denominador comum: características holísticas (p. 128).

     Segundo Cardoso (1995) a Educação Física na abordagem holística, aplica a sua atividade em direção ao desenvolvimento corporal exterior e interior, no entanto, não abandona os tradicionais exercícios físicos, destaca a importância dos exercícios de concentração e relaxamento, cuidados com a respiração e alimentação adequadas.

     Conforme Freire (apud ARAÚJO, 2000) as atividades de Educação Física devem cuidar do domínio do corpo e da mente que significa proporcionar auto-conhecimento. Educar em direção a busca de equilíbrio das ansiedades do ser humano, que desencadeiam tensões e agressividade no homem. Enfim, educar compreendendo este ser em sua totalidade são indicadores de uma nova geração, capaz de realizar mudanças significativas na sociedade.


Considerações sobre a abordagem holística e agressividade

     Souza e Silva (2003) alertam para o fato das dificuldades nas relações entre professor-aluno e aluno-aluno nas escolas. O crescimento da violência nos espaços escolares apresenta relação com a sociedade estar imersa em várias crises, inclusive de fundo emocional.

     Essa autora ainda associa estas dificuldades de relacionamento que causam conflitos com outros e consigo mesmo à emoções destrutivas. Ao desenvolver atividades em que este aluno tenha oportunidade de se conhecer e conhecer ao outro, o professor estará ampliando a comunicação entre as crianças e favorecendo a percepção de que mesmo as emoções destrutivas são constitutivas do ser humano e de ser humano.

     Atualmente é possível reconhecer diversas abordagens na educação, entre elas, citamos a tradicional, a comportamentalista e a cognitivista (CARDOSO, 1995). No entanto, na literatura em geral são bastante reduzidos os estudos sobre a abordagem holística interagindo na Educação Física.

     Feijó (1998) em seus estudos enfatiza a importância da abordagem holística na área da Educação Física e esportes. Ao mesmo tempo em que valoriza esta abordagem aponta falhas na abordagem comportamentalista, bastante conhecida no meio educacional e esportivo.

     Segundo este autor; a abordagem holística procura ver o corpo, o movimento e o esporte, como um fenômeno em sua essência humano e não apenas técnico, ou mecânico. Ao acreditarmos nesta abordagem, abandonamos o mecanismo fragmentário e materialista do comportamentalismo, valorizando uma visão mais abrangente, mais harmoniosa do ser com seu mundo.

     Atualmente, a Educação Física Escolar engloba em seus objetivos desenvolver e conhecer os seus alunos não somente por meio da capacidade motora, mas também como desenvolver a capacidade de transformação pessoal, aspecto fundamental para a melhora no âmbito social. Marinho (1993) acredita que as atividades de Educação Física podem atuar no comportamento do aluno, nas suas atitudes e até mesmo em sua personalidade.

     Como educadores sensíveis às manifestações de nossos alunos, percebemos a freqüência com as atitudes de agressividade fazem parte da rotina escolar. Atitudes como, por exemplo: o desinteresse pela aula, a revolta diante de situações de derrota em jogo competitivo, ou rebeldia e agressividade frente aos aborrecimentos do cotidiano, não são justificativas para que o professor rotule como "aluno que perturba o bom andamento das aulas" ou que o encaminhe simplesmente para o serviço de orientação da escola. Conhecendo as limitações ou o que talvez pudesse ser significativo para este aluno, o professor estaria evidenciando que valoriza o ser por inteiro e não somente sua capacidade motora. Cabe a esse professor ir em busca de conhecimentos que possam modificar a visão fragmentada onde há espaço para exclusão e discriminação (VERA, 2004).

     Estas situações conflitantes durante a prática de Educação Física podem levar o aluno a perder o gosto pela mesma. Quando o educador acredita que as transformações significativas acontecem a partir do seu "eu", e que o ponto de partida é o encontro do ser humano consigo mesmo (OLBRZYMEK, 2001), estará despertando a reflexão sobre si mesmo, o outro, o grupo, a realidade da qual participa e conseqüentemente gerando modificações positivas quanto à agressividade.

     A ação pedagógica do professor de Educação Física orientada por uma abordagem holística, pode se caracterizar por uma intervenção preventiva e pedagógica. Ela é preventiva quando a partir de um posicionamento com revisão de conceitos e posturas, tanto no que se refere à teoria, à prática e a metodologia, por parte do educador e do educando.Em função de tantas variáveis em relação a comportamentos agressivos em crianças no ambiente escolar, as atenções na área da educação estão voltadas para temas em que a indisciplina, violência e limites estão sempre presentes.

     Para Freire (1991), as atividades de Educação Física deveriam cuidar do domínio do corpo e da mente, o que significa proporcionar o auto-conhecimento (apud, SILVEIRA, 2003).

     Por meio de Educação Física com abordagem holística, mais humana, menos competitiva, voltada à compreensão e ao respeito do ser que o cerca, podemos incorporar a nossa prática pedagógica. Desenvolver objetivos que contribuam para além do desenvolvimento motor do aluno, contribua assim para um necessário ajuste social, associado a busca de esclarecimentos sobre a agressividade, sobretudo em crianças em idade escolar durante sua prática de Educação Física (FEIJÓ, 1998).

     Portanto, pensar em um aluno como um ser menos agressivo implica em pensar numa sociedade diferente, em educação e educadores voltados não somente para os resultados técnicos de aprendizagem, mas acima de tudo preocupação em conhecer nosso aluno em sua totalidade.


Considerações finais

     A possibilidade que o holismo tem de contribuir na formação dos valores da criança, nem sempre é contemplada nos diferentes grupos sociais, como por exemplo, na família e na escola. Desta forma desde cedo à criança deixa de ser compreendida em sua totalidade.

     No entanto, observa-se em instituições de ensino e em alguns educadores dificuldade em interagir junto ao seu aluno em situações de conflito. Este fato, quase sempre está associado à formação dos profissionais que interagem nestas instituições. Podemos relacionar esta dificuldade ao fato da graduação na área de Educação Física ser contemplada por uma valorização das disciplinas biomédicas e técnicas esportivas, restando uma parcela bem menor para as disciplinas associadas a Psicologia ou Filosofia (OLIVEIRA, 1985).

     Parte do comportamento agressivo, expresso pelas crianças, está relacionado com o meio em que ela vive e ao espaço oportunizado para a mesma na sociedade. Sendo assim, a escola no processo de socialização da criança tem como uma de suas premissas básicas o controle da agressividade infantil (ZAGURY, 1995).

     No sentido de uma permanente busca por uma qualidade pedagógica que possa nos fortalecer frente aos desafios do contexto escolar propomos conhecer nosso aluno para além das suas capacidades motoras, objetivando um desenvolvimento harmonioso deste ser, portanto, feliz na sociedade em que vive.

     Esta proposta aponta em direção a abordagem holística que por meio desta valorização do ser humano pode influenciar na redução dos níveis de agressividade, bem como, inibir a manifestação da mesma.


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  • CARDOSO, Clodoaldo Meneguello. A canção da inteireza: uma visão holística da educação. São Paulo: Summus, 1995.

  • ESPERIDIAO, Elizabeth. Holismo só na teoria: trama dos sentimentos do acadêmico de enfermagem sobre sua formação. Ribeirão Preto, 2001. Dissertação de mestrado. 106p.

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  • SILVA, Vera Lúcia de Souza. Educar para a Conexão: reflexões a cerca de uma ecologia cognitiva para a promoção de saúde integral em espaços de aprender biologia. Tese de doutorado, Universidade Federal de Santa Catarina - Florianópolis: 2003.

  • ZAGURY, Tânia. O adolescente por ele mesmo. 5 ed. Rio de Janeiro: Record, 1996.

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revista digital · Año 10 · N° 86 | Buenos Aires, Julio 2005  
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