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Análise comparativa e classificatória do vO2máx
de indivíduos praticantes de musculação

   
*Acadêmico Curso de Educação Física - UNIPAR - Toledo
*Docente do Curso de Fisioterapia e Educação Física - UNIPAR
Doutorando em Fisiologia e Bioquímica do Exercício
(Brasil)
 
 
André Guilherme Romeiro Neumann*
Robson Olivoto**

robsonolivoto@unipar.br
 

 

 

 

 
Resumo
    O objetivo do presente estudo reside em comparar e classificar o consumo máximo de oxigênio (VO2máx), obtido através de um método indireto, em vinte (20) praticantes de musculação da academia Craft de Toledo divididos em Grupo A (1 a 6 meses de treinamento) e Grupo B (12 a 18 meses de treinamento). Sendo todos do sexo masculino, com idade entre 18 a 25 anos, massa corporal de 70 a 80 Kg e estatura de 166 a 185 cm. A mensuração foi realizada através do teste OwnIndex do monitor de freqüência cardíaca (MFC) Polar S610. Foram encontrados os seguintes valores: Grupo A, média do VO2máx: 39,9 ml/kg/min e Grupo B, média do VO2máx: 53,1 ml/kg/min. Quando comparados os grupos entre si, ficou claro haver diferenças significativas entre o VO2máx, a nível de 33%. Verificando-se os resultados de acordo com a tabela de Myers constatou-se que o Grupo A classifica-se Abaixo da Média e o Grupo B classifica-se como Bom. Portanto, concluímos que os valores de VO2máx obtidos aumentaram de acordo com o tempo de treinamento dos indivíduos, podendo dizer que a musculação com objetivo de hipertrofia muscular, ou seja, atividade anaeróbia, além da sua importância neuromuscular já comprovada, também pode aumentar significativamente os níveis de VO2máx dos seus praticantes. A partir de então, concluímos que devemos ampliar este estudo no sentido de obter, através de uma amostra significativa de atletas ou indivíduos saudáveis, respostas mais precisas acerca do referido método para se avaliar a potencia aeróbia máxima a fim de alcançarmos parâmetros fisiológicos mais seguros, para avaliação da aptidão física e funcional e posterior prescrição do treinamento físico.
    Unitermos: VO2máx. Musculação. Polar S610. OwnIndex.
 
Abstract
    The objective of the present study inhabits in comparing and classifying the maximum consumption of oxygen (VO2máx), gotten through an indirect method, in twenty (20) practitioners of resistive training of the Craft academy de the Toledo divided in Group (1 the 6 months of training) and Group B (the 12 18 months of training). Being all of the masculine sex, with age it enters the 18 25 years, corporal mass of 70 the 80 kg and stature of 166 the 185 cm. The estimate was carried through the OwnIndex test of the monitor of cardiac frequency (MFC) Polar S610. The following values had been found: Group A, the average one of the VO2máx: 39,9 ml/kg/min and Group B, average of the VO2máx: 53,1 ml/kg/min. When compared the groups between itself, it was clearly to have significant differences between the VO2máx, the 33% level. Verifying the results in accordance with the table of Myers was evidenced that the Group classifies It Below of the Average and Group B is classified as Good Therefore, concludes that the gotten values of VO2máx had in accordance with increased the time of training of the individuals, being able to say that the resistive training with objective of muscular hipertrofia, or either, anaerobic activity, beyond its importance neuromuscular already proven, also can significantly increase the levels of VO2máx of its practitioners. From now on, we conclude that we must extend this study in the direction to get, through a significant sample of athlete or healthful individuals, more necessary answers concerning the related method to evaluate harnesses it maximum aerobic in order to reach safer physiological parameters, for evaluation of the physical and functional aptitude and posterior lapsing of the physical training.
    Keywords: VO2máx. Resistive training. Polar S610. OwnIndex.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 85 - Junio de 2005

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I. Introdução

    Com a evolução cientifica e a busca constante pela cientifização do treinamento esportivo, buscando novas teorias para determinar níveis ideais de desenvolvimento físico em sua plenitude, para tanto realizamos esta pesquisa, seguindo princípios científicos já descritos por Meshinkov (1990), Volkov (1990), Gomes (1999), dentre outros pesquisadores da área de fisiologia do exercício, bioquímica do exercício e treinamento esportivo, com intuito de determinar níveis de VO2máx em atletas de atividades eminentemente anaeróbias, evidenciando uma análise comparativa e classificatória do VO2máx estimado de indivíduos praticantes de musculação que objetivam hipertrofia muscular.

    Devido à busca incessante ao corpo perfeito, milhares de pessoas recorrem a academias de musculação para alcançarem seus objetivos. O trabalho realizado dentro das academias de musculação com o objetivo de hipertrofia muscular baseia-se no treinamento anaeróbio e geralmente o trabalho aeróbio é descartado por treinadores e/ou alunos. Porém observa-se que a maioria dos médicos e alguns educadores físicos recomendam e prescrevem exercícios aeróbios aos seus clientes, como sendo a melhor forma de treinamento para aqueles que necessitam melhorar o seu VO2máx.

    Sugere-se comparar os grupos e classificar os resultados do teste de VO2máx, coletado através do Monitor de Freqüência Cardíaca (MFC) Polar S610, com o VO2máx proposto por uma tabela elaborada pelo autor Myers. A amostra constituirá de indivíduos do sexo masculino da academia Craft de Toledo, divididos em dois grupos de acordo com o tempo de treinamento de cada um.


1.1. Consumo Máximo de Oxigênio (VO2máx)

    O VO2máx é a máxima capacidade de absorção do oxigênio do meio externo, transportá-lo pela corrente sangüínea e utilizá-lo pela musculatura.

    "O VO2máx, chamado de consumo máximo de oxigênio ou potência aeróbica máxima, representa a maior quantidade de ATP que uma pessoa pode ressintetizar aerobicamente, e é definida como a velocidade em que o oxigênio é consumido". (DANTAS,1995, p. 126)

    Esta medida tem sido empregada como a meio mais representativo da adequação cardiorrespiratória. (POLLOCK & WILMORE, 1993)

    "A obtenção de um VO2máx alto requer a integração de altos níveis das funções pulmonar, cardiovascular e neuromuscular. Isto transforma o VO2máx em uma medida fundamental da capacidade funcional fisiológica para o exercício" (McARDLE, 2003, p. 237).

    Por essa razão o teste de aptidão física aeróbia é fundamental tanto para atletas de endurance como para atletas de força e fisiculturistas, objetivando determinar parâmetros de controle dos seus níveis de treinamento.

    POLLOCK & WILMORE (1993) relatam que existem métodos direto e indireto para medir o VO2máx. O método direto mensura o VO2máx através da coleta dos gases inspirados e expirados durante um exercício máximo. Os métodos indiretos utilizam fórmulas que abrangem a freqüência cardíaca (FC), peso, altura, idade, sexo e nível de condicionamento, geralmente medido em esforços submáximos.

    De acordo com FLECK e KRAEMER (1999, p. 62), a medida de VO2máx:

Normalmente é expressa seja em termos absolutos, como litros de oxigênio por minuto (l O2. min1), seja em termos relativos, como mililitros de oxigênio por quilograma de peso corporal por minuto (ml O2. kg1. min1). Expressando-se o VO2máx em ml O2. kg1. min1, todos os indivíduos ficam numa escala relativa de peso corporal. Desta forma, podem ser feitas comparações entre indivíduos de pesos diferentes.

    Atualmente, consideram-se 40ml O2/Kg.min como o mais baixo valor de VO2 de aptidão física, ou seja, só é considerado treinado um indivíduo com VO2 acima disso. (LEITE, 2000).

    Esses valores de VO2máx são influenciados por diversos fatores, sendo que para CARPENTER (2002) esses fatores são classificados com sendo genéticos, idade, sexo e treinabilidade. Os melhores resultados são obtidos entre 8 e 18 meses de treinamento.

    O consumo máximo de oxigênio está altamente relacionado com o débito cardíaco máximo e a diferença arteriovenosa de oxigênio (diferença AV O2).O débito cardíaco representa a quantidade de sangue bombeado pelo coração a cada minuto, podendo ser determinado multiplicando-se a freqüência cardíaca (FC) pelo volume sistólico (VS), quantidade de sangue que sai do coração a cada batimento. A diferença AV O2 representa a quantidade de oxigênio que está sendo utilizado pelas células a partir do sangue arterial. (POLLOCK, 1993).

    Segundo LEITE (2000, pg.69):

Os músculos esqueléticos treinados extraem mais oxigênio devido: ao maior teor de mioglobina; ao maior número e tamanho de mitocôndrias; a maior atividade e concentração das enzimas envolvidas no ciclo de Krebs; a maior capacidade de oxidação de gorduras; a maiores concentrações de glicogênio muscular e, ao aumento na densidade capilar (mais capilares por fibras musculares).

    O VO2máx quase sempre melhora com o treinamento aeróbio, poucas investigações mostram um significativo aumento com o exercício anaeróbio. Fox e Mathews apud HERNANDES JR (2002) relata que o treinamento anaeróbio não altera significativamente o VO2máx, enquanto o aeróbio produz grande aumento de VO2máx.

    "Com o treinamento anaeróbio do tipo de explosão e com o treinamento de força, podem ocorrer algumas melhorar na função cardiorrespiratória, mas essas melhoras do VO2máx são pequenas." (WILMORE & COSTILL, 2001, p. 277)

    No entanto Gettman e Pollock apud FLECK E KRAEMER (1999, p. 144) relatam que o treinamento com pesos promove melhoras no consumo máximo de oxigênio.


1.2. Metabolismo Anaeróbio e Aeróbio

    A soma dos processos que ocorrem num organismo vivo para gerar energia é denominado Metabolismo, que subdivide-se em Anaeróbio e Aeróbio. O combustível que gera energia é o ATP (adenosinatrifosfato).

    Segundo WILLMORE E COSTILL (2001), quando as reações para gerar ATP ocorrem sem a presença de oxigênio (O2), o processo é chamado metabolismo Anaeróbio e quando elas ocorrem com o auxílio do VO2, o processo global é denominado metabolismo Aeróbio.

    Essas reações ocorrem dentro de três mecanismos químicos (energéticos): sistema ATP-CP, sistema Glícolitico e sistema Oxidativo. Descritos por VERKHOSHANSKY (2001), como sendo os primeiros dois mecanismos - creatinofosfato e glicolítico - caracterizados como sendo sistema Anaeróbio, o terceiro como sendo sistema de oxidação classificado como Sistema Aeróbio. Todos os sistemas ocorrem concomitantemente, a atuação de cada um depende do volume e intensidade do trabalho muscular exercido.

    Conforme WEINECK (1999) a primeira reação que participa do fornecimento de energia é a quebra do ATP, estocado no músculo em pequena quantidade, podendo gerar energia suficiente para somente alguns segundos de contração muscular máxima. Para possibilitar a continuidade do trabalho muscular o suprimento interno de ATP é rapidamente suprido a partir ATP-CP.

    O método mais rápido de produção de ATP é o sistema ATP-CP ou Anaeróbio Alático, utiliza a energia proveniente da separação das moléculas de Creatina (C) e Fosfato (P) estocadas no músculo para ressintetizar ATP. (MONTEIRO, 1996)

    "Esse sistema gera energia para 6 a 10 segundos de contração muscular, sendo utilizado nos trabalhos de potência muscular máxima (impulso de saída de velocista, esforços musculares de curto tempo explosivos)." (VERKHOSHANSKY, 2001, p.42)

    A partir desse ponto os músculos passam a depender de outros processos para a ressíntese de ATP. Uma segunda via capaz de produzir ATP rapidamente é o sistema Glicolítico Anaeróbio ou Anaeróbio Lático.

    "Esse sistema faz a quebra da glicose, que se encontra estocada na forma de glicogênio nos músculos e no fígado, gerando energia para contração muscular entre 10 segundos até 3 minutos. Tendo como conseqüência à produção de lactato" (HERNANDES JR, 2002, p. 22)

    Esse lactato se difunde para os músculos e sangue, e está relacionado aos processos de fadiga quando suas concentrações no sangue são elevadas e não há O2 suficiente. Se o O2 estiver presente acontece então, a terceira via para produção de energia: o sistema Oxidativo ou Aeróbio.

    Para HERNANDES JR (2002) o sistema Aeróbio é utilizado em atividades de média e longa duração, superior a 6 minutos. Nesse sistema tanto o carboidrato (glicose) quanto as gorduras (ácidos graxos livres) são utilizados como fonte energética.

    Já, segundo WEINECK (1999), esse sistema começa a atuar após 1 minuto de trabalho muscular. Relata também que em esforços extremos ou fome até as proteínas são degradadas na forma de aminoácidos para geração de energia.

    De acordo com MONTEIRO (1996, p.27):

Quando o consumo de O2 for suficiente para produzir toda a necessidade de energia através da via aeróbia, dizemos que o "steady state" ou estado de equilíbrio foi alcançado. Isso ocorre devido à produção de lactato ser realizada na mesma velocidade que sua remoção, assegurando a continuidade da atividade, pois altas concentrações de lactato na corrente sangüínea e no músculo, geram fadiga.


1.3. Musculação ou Treinamento Resistido

    A Musculação refere-se ao treinamento com pesos, hoje em dia também conhecido como exercício resistido. Sendo conceituado como "o treinamento com peso normalmente utilizado para se referir ao treinamento com resistência normal que usa pesos livres ou equipamentos com pesos" (FLECK e KRAEMER,1999, p. 19)

    Um dos principais objetivos de um treinamento resistido é a hipertrofia muscular. As características básicas de um programa de treinamento de força visando hipertrofia são: quantidade considerável de exercícios de isolamento, ações concêntricas e excêntricas são importantes; exercícios de múltiplos ângulos para uma articulação são usados; a intensidade é de alta a moderada (6 -12 repetições máximas), números mais altos de repetições são usados algumas vezes, especialmente com super-séries; períodos de descanso curtos entre as séries e exercícios (<1,5min); número total de séries alto por músculo ou grupo muscular (>3). (FLECK, 1999)

    Do ponto de vista metabólico, segundo SANTARÉM (2004):

Os exercícios resistidos são sempre anaeróbios, a não ser quando realizados com intensidade muito baixa, o que não é normalmente utilizado. A falta de O2 disponível nos músculos por ocasião do início de esforços intensos é o principal determinante do metabolismo anaeróbio nos exercícios com pesos. Alem disto a contração de várias fibras musculares ao mesmo tempo leva à interrupção parcial do fluxo sangüíneo ao músculo, dificultando o metabolismo aeróbio.

    Como acontece uma grande produção de lactato no exercício anaeróbio lático (alta intensidade), ele é interrompido devido á fadiga. Por isso existe um período de descanso entre as séries. Para compensar a falta de O2 suficiente o organismo sofre uma taquicardia e dispinéia momentânea. A via metabólica aeróbia em atividade durante os exercícios anaeróbios, e nos seus intervalos de recuperação, é a principal via metabólica para eliminação do lactato produzido. Assim sendo, o ácido láctico formado na via anaeróbia, reconvertido a precursores, é oxidado pela via aeróbia, e pode-se compreender o aumento de enzimas oxidativas nas fibras musculares induzido por esforços habituais não realizados em estado estável (aeróbio). (SANTAREM, 2004)

    Pode-se dizer que a hipertrofia é a maior adaptação ao treinamento resistido, que é o aumento na seção transversa das fibras musculares. Essa hipertrofia é caracterizada por alguns fenômenos, como: aumento nos estoques de glicogênio, aumento do número e tamanho das miofribilas, maior quantidade de água dentro da fibra. (RAMOS, 2000)

    Também, aumento de até 25 a 40% nos componentes do sistema metabólico do fosfageno, inclusive o ATP e a fosfocreatina, aumento de até 100% no glicogênio armazenado e aumento de até 75 a 100% nos depósitos de triglicerídeos (gorduras). Além disso, as enzimas oxidativas ficam aumentadas, o que aumenta a capacidade máxima de oxidação, bem como a eficiência do sistema metabólico oxidativo, em até 45%. (GUYTON, 1988)

    Fox apud RAMOS (2000) relata que o aumento da densidade capilar por fibra muscular também é um dos aspectos que contribui para a hipertrofia muscular. Essa hipertrofia acelera o metabolismo basal que, em conseqüência, aumenta o gasto calórico. (RAMOS, 2000)

    Algumas adaptações em repouso decorrentes da musculação indicam a função cardiovascular: a FC diminui ou não se altera; Pressão Arterial Sistólica (PAS) e Diastólica (PAD) mantém-se na média ou ligeiramente abaixo; o Duplo Produto (DP) diminui significativamente; o Volume Sistólico (VS) normal ou acima do normal; o perfil lipídico altera mais significativamente aos programas de volume alto com períodos curtos de repouso. Em fisiculturistas a massa ventricular esquerda aumentada é causada tanto pela espessura da parede ventricular esquerda maior como pelo tamanho da câmara. (FLECK, 1999).

    Durante o exercício esses mecanismos sofrem diferentes adaptações: a FC aumenta; a Pressão Diastólica e Sistólica aumentam; Débito cardíaco também está aumentado tanto na fase excêntrica como na concêntrica; o Volume Sistólico encontra-se aumentado apenas na fase excêntrica, na fase concêntrica não ocorre mudança.

    LEITE (2000), reforça a teoria de que a modalidade esportiva influencia o grau e o tipo de adaptação anatômica (cardíaca) que será provocada, ou seja, a hipertrofia cardíaca dos atletas de endurance se caracteriza por uma grande cavidade ventricular e por uma espessura normal ou pouco aumentada da parede ventricular (sobrecarga de volume) e, dos atletas de atividades físicas anaeróbias e ou isométricas se caracteriza por uma cavidade de tamanho normal e por uma espessura de parede ventricular mais espessa. De acordo com o autor a Musculação acarreta uma mistura de efeitos de treinamento sobre o coração, com aumentos tanto na cavidade ventricular quanto na espessura da parede ventricular.


1.4. Polar Fitness Test - OWNINDEXs

    O Polar Fitness Test é um método rápido, confiável e fácil de avaliar a capacidade máxima individual. O OwnIndexS é equivalente a capacidade aeróbia máxima, VO2máx, em ml/min/Kg. Indica quantos milímetros de O2 seu corpo é capaz de transportar em cada quilograma de seu peso corporal em um minuto.

    De acordo com o Manual do Usuário Polar:

O OwnIndexS é um valor que é comparável à captação máxima de oxigênio (VO2máx.) um descritor de adequação aeróbica comumente utilizado. O OwnIndexS baseia-se, na freqüência Cardíaca (FC) em descanso, variabilidade da FC em descanso, idade, sexo, altura, peso e atividade física auto-avaliada.

    As variáveis secundárias: gênero, idade, altura e peso corporal, assim como o nível de atividade física, são dados, pelo monitor de freqüência cardíaca. A altura aproximada deve ser dada em cm e o peso aproximado em Kg. A avaliação da atividade física é dada selecionando a alternativa que melhor descreve o nível de atividade física do avaliado a longo prazo.

    Nos monitores cardíacos da série "S" os níveis de atividade são: Baixo (Low): você não participa regularmente de lazer esportivo ou atividade física pesada. Ex. você anda somente por prazer ou ocasionalmente faz exercícios o suficiente para causar respiração pesada ou sudorese. Médio (Middle): você pratica esportes recreativos regularmente. Ex. você corre cinco milhas por semana ou gasta 30 a 60 minutos em uma semana com atividade física. Alta (High): você pratica regularmente, pelo menos três vezes por semana, exercícios físicos pesados. Ex. corre regularmente 6 a 12 milhas por semana ou gasta duas a três horas em atividade física comparável. Top: você participa regularmente em exercícios físicos pesados pelo menos cinco vezes por semana. Ex., você se exercita com o objetivo de melhorar sua performance para fins competitivos.

    Conforme o Manual do Usuário Polar, para obter resultados confiáveis do teste os seguintes requisitos básicos se aplicam: você deve estar relaxado e calmo; o teste pode ocorrer em qualquer lugar (em casa, no escritório, no clube), desde que o ambiente do teste seja tranqüilo, sem barulhos que possam perturbar, nem outras pessoas falando com você; mantenha o mesmo local, hora do dia e ambiente de teste a cada vez que o teste for repetido; evite comer exageradamente ou fumar durante as duas ou três horas que antecedem o teste.

    O OwnIndexS foi validado em estudos realizados por Peltola (Proceedings of 5th Anual Congress pf ECSS, 2000) e Tschopp (Schweizerische Zeitschrift für Sportmedizin und Sporttraumatologue, 2000) com sujeitos em treinamento. Foi demonstrado que a previsão do VO2máx tem alta associação com a medição do VO2máx em laboratório, tanto em homens como em mulheres.

    Este estudo classifica-se como sendo quantitativo descritivo por determinar um objeto de estudo produzir uma intervenção e determinar níveis de evolução ou involução para comparação entre valores previamente estabelecidos, tendo como objetivo uma análise comparativa e classificatória do VO2máx dos indivíduos avaliados com o VO2máx proposto por Myers, praticante de musculação, uma atividade eminentemente anaeróbia.

    A pesquisa foi realizada com 20 indivíduos, somente do sexo masculino da academia Craft de Toledo, que não possuíam histórico em atividade física ,praticantes de musculação que possuam como objetivo hipertrofia muscular, com idade entre 18 a 25 anos, massa corporal de 70 a 80 Kg e estatura de 166 a 185cm. Os indivíduos foram divididos em dois grupos: Grupo A (indivíduos com 1 a 6 meses de treinamento), Grupo B (indivíduos com 12 a 18 meses de treinamento).

    Para realizar o teste foi utilizado um MFC Polar S610, na sua função OwnIndexS, já validado por Peltola (2000). Os dados foram coletados em uma sala de ginástica da academia Craft de Toledo, onde só se encontrava o avaliado e o avaliador no momento do teste. Cada sujeito que seria avaliado recebeu instruções antecipadamente para não comer exageradamente, não fumar durante as três horas antecedentes ao teste e nem realizar exercícios físicos vigorosos no dia do teste. A coleta ocorreu das 17:00 as 20:00h em um único dia.

    Os dados pessoais que o MFC Polar S610 requer para realização do Polar Fitness Test- OwnIndexS, que calcula o VO2máx, foram inseridos no aparelho de acordo com as características individuais de cada um: data de nascimento, altura (cm), massa corporal (kg), sexo e nível de condicionamento atual (Low, Middle, High, Top). Após inserir os dados no MFC, foi colocado no peito do avaliado, logo abaixo dos músculos peitorais, a cinta com o transmissor.

    Orientou-se para que os avaliados se posicionassem deitados em decúbito dorsal, em colchonetes; para que ficassem calmos e relaxados mantendo as mãos ao lado do corpo; e, que evitassem fazer movimentos. Após 3 minutos nessa posição dava-se início ao teste que durava de 3 a 5 minutos


II. Desenvolvimento

2.1. Apresentação dos resultados

    Os Valores obtidos durante o Polar Fitness Test- OwnIndexS do MFC Polar S610 respectivamente da referida amostra são detalhados a seguir:

Quadro 01. Grupo A: Demonstrativo dos dados coletados pelo MFC Polar S610 de praticantes de Musculação de 1 a 6 meses de treinamento

Quadro 2. Grupo B: Demonstrativo dos dados coletados pelo MFC Polar S610 de praticantes de Musculação de 12 a 18 meses de treinamento

    Os resultados dos testes nos indicaram para o Grupo A, média do VO2máx estimado de 39,9ml/kg/min e para o Grupo B, média de 53,1ml/kg/min .

Tabela 1. Padrões de VO2máx para homens com idade entre 18 e 25 anos


Fonte: Myers apud POLLOCK E WILMORE (1993, p. 658)

    Conforme a tabela o Grupo A (média VO2máx: 39,9ml/kg/min) classifica-se como padrão Abaixo da Média. Já, o Grupo B (média VO2máx: 53,1ml/kg/min) classifica-se como padrão Bom.

Gráfico 01. Comparativo das médias de VO2max entre os grupos amostrais.

    Os resultados mostram que houve diferença significativa entre os grupos, onde os praticantes com maior tempo de treinamento (Grupo B) obtiveram uma média de 13.2ml/kg/min superior aos praticantes com menor tempo de treinamento, o que corresponde a um aumento de 33% do VO2máx.

Grafico 02. Comparativo das medias de VO2max dos grupos amostrais com a media proposto pelo autor Leite

    De acordo com LEITE (2000), o Grupo A encontra-se 15,25% abaixo do nível de aptidão física e o Grupo B encontra-se 24,6% acima do nível de aptidão. Portanto somente o Grupo B pode ser considerado treinado e apto fisicamente.


2.2. Discussão dos dados

    Pessoas treinadas anaerobiamente, de acordo com Fox apud RAMOS (2000), possuem um aumento da densidade capilar por fibra muscular. RAMOS (2000) afirma que há um aumento no estoque de glicogênio, GUYTON (1988) relata ainda que pode ocorrer aumento de até 100% no glicogênio armazenado. Além disso, as enzimas oxidativas ficam aumentadas o que aumenta a capacidade máxima de oxidação, bem como a sua eficiência do sistema metabólico oxidativo, em até 45%. Tanto FLECK (1999), como LEITE (2000), afirmam que o treinamento causa um aumento massa ventricular esquerda tanto na cavidade quanto na espessura da parede. Durante o exercício a FC e o VS estão aumentados, porém no repouso A FC diminui e o VS se mantém. De acordo com SANTAREM (2004), o treinamento anaeróbio também melhora a contratilidade do ventrículo esquerdo e o metabolismo basal encontra-se aumentado. Todos esses fatores influenciam o aumento do VO2máx.

    O VO2máx está altamente relacionado com o débito cardíaco máximo e a diferença arteriovenosa de oxigênio (diferença AV O2). O débito cardíaco representa a quantidade de sangue bombeado pelo coração a cada minuto, podendo ser determinado multiplicando-se a freqüência cardíaca (FC) pelo volume sistólico (VS), quantidade de sangue que sai do coração a cada batimento. A diferença AV O2 representa a quantidade de oxigênio que está sendo utilizado pelas células a partir do sangue arterial. (POLLOCK, 1993).

    De acordo com LEITE (2000), músculos treinados utilizam mais oxigênio devido ao maior teor de mioglobina; ao maior número e tamanho de mitocôndrias; a maior atividade e concentração das enzimas envolvidas no ciclo de Krebs; a maior capacidade de oxidação de gorduras; a maiores concentrações de glicogênio muscular e, ao aumento na densidade capilar (mais capilares por fibras musculares).

    Portanto, percebe-se que algumas adaptações provenientes do treinamento anaeróbio (musculação) estão intimamente ligadas aos fatores que influenciam o aumento VO2máx.

    Sendo assim, este estudo confirma os achados de Fleck e Kraemer que o treinamento de força afeta diretamente o pico de VO2máx. Para estes pesquisadores a media do VO2máx para os fisiculturistas varia desde 41 até 55ml/kg/min. Segundo LEITE, um indivíduo só é considerado treinado quando o VO2 é maior que 40ml/kg/min. E, Gettman e Pollock apud Fleck (1999), que afirmam que esse tipo de treinamento resulta em ganhos no pico VO2 de 4% nos homens em 8 até 20 semana de treinamento. Também se relaciona aos achados de Carpenter, onde o VO2máx atinge seus melhores resultados entre 8 e 18 meses.


III. Conclusão

    O objetivo desta pesquisa foi comparar e classificar o VO2máx estimado pelo MFC Polar S610. Os resultados alcançados, permitem-nos realizar as seguintes considerações: a) Os valores do VO2máx estimados pelo MFC Polar S610 aumentaram com o tempo de prática dos indivíduos. b) Apesar do Grupo B só realizar exercícios anaeróbios, obteve uma boa classificação de acordo com a tabela de Myers. Podendo então, o exercício anaeróbio, ser incluído em um programa de condicionamento com o objetivo de melhorar o VO2máx.

    A partir de então, concluímos que devemos ampliar este estudo no sentido de obter, através de uma amostra significativa de atletas ou indivíduos saudáveis, respostas mais precisas acerca do referido método para se avaliar a potencia aeróbia máxima a fim de alcançarmos parâmetros fisiológicos mais seguros, para avaliação da aptidão física e funcional e posterior prescrição do treinamento físico.


Referências bibliográficas

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  • RAMOS, Alexandre Trindade. Treinamento de Força na Atualidade. 1ª ed. Rio de Janeiro. Editora Sprint, 2000. 115p.

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  • SANTAREM, José Maria. Metabolismo energético dos Exercícios Resistidos. In: Saúde Total.

  • VERKHOSHANSKI, Yuri V. Treinamento Desportivo. Traduzido por Antonio Carlos Gomes e Valeri V.Gorokhov. 1ª ed. Porto Alegre. Editora Artmed, 2001, 215p.

  • WEINECK, Jürgen. Treinamento Ideal. Traduzido por Beatriz Maria Romano Carvalho. 9ª ed. São Paulo. Editora Manole, 1999, 740p.

  • WILMORE, Jack H. e COSTILL, David L. Fisiologia do Esporte e do Exercício. Traduzido por Marcos Ikeda. 1 ed. São Paulo. Editora Manole, 2001, 709p.

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