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Esporte-espetáculo, televisão e pedagogia do esporte: o que crianças compreendem e as relações
com um programa esportivo de televisão

   
* Mestrando em Ciências do Desporto.
Facultade de Educação Física. UNICAMP
**Doutor. Professor do Departamento de Ciências do Esporte.
Facultade de Educação Física. UNICAMP
(Brasil)
 
 
Eduardo Fantato Rodrigues*
eduardo@fef.unicamp.br  
Paulo Cesar Montagner**
pcesarm@fef.unicamp.br
 

 

 

 

 
Resumo
    Esse artigo apresenta os resultados de uma pesquisa na qual buscamos compreender quais os elementos do Esporte-Espetáculo influenciam e interferem no cotidiano dos alunos do ensino fundamental de 5º a 8º série. Utilizamos a metodologia de análise do conteúdo, tendo como instrumentos: entrevistas semi-estruturadas e questionários com alunos, mais observação dos conteúdos do programa esportivo de televisão preferido. Observamos significativos indicadores entre o que os alunos identificam e manifestam em relação ao Esporte - Espetáculo com os conteúdos e mensagens produzidas por ele. Assim construimos algumas relações entre Esporte-Espetáculo, Meios de Comunicação e Pedagogia do Esporte (representada pelos alunos, agentes participantes da pedagogia do esporte).
    Unitermos: Esporte-Espetáculo. Televisão. Meios de Comunicação. Pedagogia do Esporte
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 85 - Junio de 2005

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Introdução

    Olhar para o Esporte atual e conceituá-lo como um fenômeno de múltiplas dimensões, implica em observar como sua evolução se correlaciona com os fenômenos políticos, econômicos, culturais e sociais. O Esporte Moderno, sobretudo o Esporte - Espetáculo, exerce influência direta na sociedade por estar imerso em transformações e desenvolvimento dos fenômenos citados, mantendo, no entanto suas características autônomas com o diferentes "recortes" possíveis para sua observação (BOURDIEU, 1983).

    O que estamos chamando de Esporte - Espetáculo é o desporto praticado no alto rendimento, que é reproduzido para o esporte educacional e para o participativo, com competições esportivas organizadas, esquemas intensivos de treinamento, relações mercantis, reproduzido por diferentes meios de comunicação, assalariamento de atletas. (PRONI,1998).

    A relação que se estabelece entre os meios e comunicação e o Esporte - Espetáculo nos possibilita falar sobre a vocação do esporte enquanto agente de comunicação, se considerarmos os meios como veículos e instrumentos de difusão e produção de mensagens e imaginários a um determinado público.

    Notamos que a evolução do esporte está intimamente relacionada com o desenvolvimento dos fenômenos sociais, que os vários recortes inerentes ao desporte se relacionam e tem forte poder de influência na sociedade.

    Um dos recortes possíveis é a conotação que o Esporte - Espetáculo adquire no âmbito escolar, sobretudo considerando adolescentes, período (faixa etária/educacional), em que suas relações com o esporte tomam uma forma mais consistente no que se refere ao desenvolvimento tanto da prática como da análise crítica e reflexiva. (PAES 1996)

     É possível identificar que o Esporte - Espetáculo, e sua inserção nos meios de comunicação tem sido um significativo influenciador em crianças e adolescentes. Utilizamos o método de analise de conteúdo para obter essas informações, desenvolvendo três instrumentos de investigação: questionário, entrevista, e observação dos conteúdos do programa esportivo Globo Esporte, da Rede Globo de Televisão, para o estado de São Paulo. Os dados obtidos nos permitem debater sobre a percepção e manifestação dos alunos sobre o elementos do Esporte Espetáculo, tendo os meios de comunicação, no nosso caso mais aprofundado a televisão como fator significativo nessa relação.

     Nessa perspectiva do Esporte - Espetáculo e sua interação com a sociedade, e mais especificamente sua influência em crianças e adolescentes é que desenvolvemos os objetivos desta investigação, estabelecendo parâmetros com os meios de comunicação.

     O objetivo desta pesquisa procurou elementos que possam sustentar essa questão: de como o Esporte - Espetáculo está constituído e exposto para a sociedade nos meios de comunicação, estabelecendo relação com a pedagogia do esporte através da manifestação nas respostas dos alunos de 5º a 8º série do ensino fundamental da rede publica de ensino através de questionários e entrevistas.


Desenvolvimento do trabalho

    A pesquisa foi norteada por uma metodologia qualitativa, dentre as suas possibilidades utilizamos o método de análise de conteúdo. Tal método consiste em uma sistematização de conceitos que permitem codificar e descrever os significados relativos à produção e recepção da mensagem. (BARDIN,1994).

    O metodo foi fundamentado em temas trabalhados por meio de observação e análise de conteúdo do programa de televisão preferido, de entrevistas e questionários com alunos de 5º a 8º série do ensino fundamental, construindo assim os seguintes grupos tematicos:

  1. Importância da televisão

  2. As relações sobre as modalidades esportivas

  3. A relação do ídolo/mito

  4. A Pedagogia do Esporte e a (in) formação esportiva

    Foram gravados e analisados 6 programas esportivos, no período de uma semana. Realizado um questionário com 48 alunos dos quais 16 integraram a etapa de entrevistas seguindo as especificações a seguir.

    A coleta de dados se dividiu em três formas referentes ao instrumento e objeto estudados: questionário, entrevistas e observação do programa de televisão


Observação do Programa de televisão

    O meio de comunicação analisado foi a televisão, identificada como vetor de maior acessibilidade por parte dos alunos.

    Escolhemos o programa esportivo por ser um gênero de transmissão de informação especifica do Esporte. O programa observado foi o Globo Esporte da Rede Globo de Televisão. Foram gravados 6 programas, equivalentes ao período de uma semana (período de 06 à 10 de maio de 2002).

    A analise constitui-se da observação e inferência sobre o conteúdo das chamadas e apresentações das matérias na fala do apresentador, subdivididos em grupos de gêneros jornalisticos1 (nota simples, nota coberta, reportagem, comentário/ opinião, debate, charges /caricaturas, interativo), categorias de mensagens2 (heroísmo/ exacerbação individual, exaltação positiva de um fato, exaltação negativa de um fato, traços relativos à violência ), modalidades3, agentes esportivos4, e por fim os conteúdos das mensagens.


Questionários

     Procuramos utilizar uma linguagem mais próxima dos alunos com a finalidade de facilitar a compreensão da questão. Composto de nove perguntas estruturadas (uma semi-aberta e as demais abertas).

     Essas questões buscaram identificar elementos sobre a prática esportiva, o acesso e a relação com os conteúdos da televisão estabelecida pelos alunos.


Entrevistas

    Compostas por 5 perguntas abertas e semi - estruturadas, a entrevista contou com a participação do pesquisador apenas na formulação da pergunta, na repetição da pergunta ou complementação da mesma As entrevistas foram gravadas e seus conteúdos transcritos na integra para posterior análise. Entrevistamos no total dezesseis alunos. As questões visaram identificarb o que os alunos identificavam como agente propagador e fomentador de esporte, quais as modalidades esportivas o aluno têm conhecimento, omo percebe o auxilio das aulas de Educação Física para o entendimento e reflexão sobre o esporte (lembramos não estamos excluindo as demais manifestações da Educação Física, mas seguindo uma proposta de análise do reflexo do Esporte-Espetáculo nas crianças e adolescentes), qual o atleta que o aluno identifica como idolo e os motivos pelos quais o fazem como seu preferido e como o aluno percebe a contribuição da televisão para o entendimento do esporte.


Resultados

A importância da televisão

    Abordamos os meios de comunicação, sobre seu predomínio em detrimento a outras formas de fomentação esportiva, destacando a televisão.

     Pelos questionários pudemos observar que a televisão foi o meio de comunicação presente em todas as respostas. Reforçada ainda pela questão sete (onde você mais assiste esporte), na qual todos apontam direta ou indiretamente a presença da televisão como local de fomentação do esporte. Nas entrevistas, as respostas sobre os locais onde os alunos identificam o esporte, apresentaram em 92% das citações referencias aos meios de comunicação. Do mesmo total 81% se referiam à televisão.

     Esses dados confirmam a televisão com importante participação no cotidiano da sociedade. E quantos aos sujeitos desta pesquisa, crianças e adolescentes, devemos estar atentos e essa relação da televisão com o seu desenvolvimento, uma vez que possuem acesso maior a esse meio, como também aos demais, do que seus pais tiveram.

"... o que os jovens vêem na televisão pode não ter sido inteira e voluntariamente absorvido por seus pais, que foram criados sem a presença, ou pelo menos com uma presença muito menor, e de acordo com códigos estritos de comportamento moral".(YUSHKIAVITSHUS, 2000).

    Arnaldo e Finnström (2000) falam sobre uma pesquisa da Organização Mundial do Movimento de Escoteiros, publicada em 1998, realizada em 23 países e com mais de 5000 alunos de 12 anos, de diferentes origens sociais, geográficas e culturais, mostra que a televisão é um meio sempre presente, e que as crianças passam mais tempo em frente à TV de que qualquer outro meio de comunicação ou atividade.

     Sem a preocupação de nos tornarmos repetitivos, sabemos que, a televisão tem hoje uma participação significativa no processo de comunicação e informação da sociedade e isso reflete-se no esporte.

     No questionário, ainda, podemos perceber a influência da televisão mesmo que de forma indireta na quinta questão, quando perguntamos sobre o consideravam "legal" quando assistiam algum esporte, tendo nas respostas indicadores da participação da televisão nesse processo: "As entrevistas",e "os lances do jogo". "Quando o narrador" puxa o saco "do Corinthians", "falação, enrolação", respostas sobre o que não gostavam quando assistiam esporte, presente na questão seis, também são exemplos.

    Podemos falar sobre a preocupação que a pedagogia dever ter em relação aos meios de comunicação, sabendo sobre da "necessidade" de sua forma de transmissão de informações compactas e com interesses de mercado em busca de audiência, sobre sua participação no cotidiano dos alunos, que os dados nos comprovam, sem no entanto, esquecer dos benefícios que podem ser tirados dessa relação.

Quadro resumo.


Quadro 1: resumo sobre a inserção da televisão no cotidiano dos alunos


As relações sobre as modalidades esportivas

    Historicamente o esporte desenvolveu formas e modalidades diferentes para atender uma demanda que se originava do surgimento de novas classes sociais e conseqüentemente de novos perfis de praticantes de esporte. (BOURDIEU, 1983).

     Baseando-se nos resultados obtidos, podemos dizer que existe um equilíbrio entre oferta e demanda sobre as modalidades, uma vez que temos diferentes formas de esporte para um público diversificado. O que não está bem evidenciado é esse equilíbrio a partir do esporte oferecido pela televisão.

     Esse tópico sobre o esporte oferecido na televisão gera uma discussão em torno da questão - Os esportes oferecidos na televisão, são ofertados porque o público contempla uma demanda, ou o público aceita essa proposta porque na televisão não são ofertadas outras modalidades?.

     No quadro a seguir colocamos o percentual das principais modalidades que aparecem em cada um dos momentos do estudo apontando aspectos interessante sobre essa discussão.


Tabela 1: repostas referentes as formas como se relacionam com as modalidades (prática, conhecimento, desejo, enquanto espectador), analise das matérias apontadas pelo programa esportivo, e ciclo de vida econico apontado pela FGV.

    Percebemos que nos dois instrumentos que possuem uma relação mais direta com a participação da televisão (esportes assistidos e programa esportivo), as modalidades Futebol (85% e 59%), em primeiro plano, e depois significativamente abaixo o Vôlei (48% e 11%), aparecem como principais modalidades.

    Quando discutimos a questão da oferta e demanda das modalidades é com base nesses dados que desenvolvemos a argumentação, nas demais questões, as modalidades aparecem com uma distribuição mais equilibrada, embora as duas modalidades citadas mantêm suas posições, exceto nas modalidades desejadas na qual o volei aparece em primeiro seguida da natação e futebol.

    Os alunos relatam conhecer, praticar e desejam modalidades diferentes de futebol. No quadro sobre os gêneros jornalísticos utilizados para divulgar matérias sobre cada modalidades percebemos essa tendência de favorecimento ao vôlei e ao futebol em relação às demais, sendo que essas são em boa parte noticiadas através de gêneros mais simples e menos exploratório, como a chamada simples.


Tabela 2: quadro de unidades de matéria e relações com gêneros jornalísticos

    Na entrevistas as respostas referentes aos ídolos, trazem um quadro importante sobre as modalidades.


Gráfico 1: Relação de modalidades dos ídolos citados

     O futebol continua com sua predominância, mas há um equilíbrio maior entre as demais modalidades, sendo o tênis aparecendo em segundo, seguido de natação, vôlei e automobilismo, indicando que o idolo tem papel importante na relação com os anseios dos alunos.

     A partir do momento em que desperta o interesse pela modalidade e pela sua pratica o aluno torna-se um futuro "consumidor" ligado a tal modalidade. Essa lógica esta descrita em A melhor jogada da NBA, reportagem de Glenn Rifkin, na qual descreve alguns dos enfoques adotados pela NBA,: "se uma criança joga basquete aos 11 anos, a probabilidade de que venha a ser fã aos 25 anos é oito vezes maior".


A relação do ídolo/mito

     Observamos algumas referências aos ídolos de forma indireta, quando o aluno respondeu sobre o que gostava quando assiste esporte, e uma das categorias de resposta apresentada foi justamente nomeada de ídolo. Respostas como, esperança de ser um vencedor e vontade de um dia ser um craque, sobre o que o esporte traz para o aluno, reflete a representatividade do idolo nos anseios e desejos, funcionando como um imaginário das ações da sociedade. Ao ver e admirar o que seu ídolo representa para a sociedade e para si mesmo, o aluno desenvolve uma vontade e expectativa de alcançar o mesmo patamar.

     Helal (2001) fala sobre o universo do esporte estar imerso em aspectos competitivos tornando o atleta em herói por causa do agonismo entre vitória e derrota. "O 'sucesso' de um atleta depende do 'fracasso' do seu oponente", complementa ainda que esse componente ocorre no bojo do próprio espetáculo.

     Ao observamos nomes como o de Pelé, Maradona e Ayrton Senna, sendo citados como ídolos pelos alunos, temos de perceber uma realidade sobre o que nos referimos à veiculação do herói pela mídia. São ídolos de gerações diferentes, os alunos não viveram o momento dos seus ídolos, embora alguns possam ter acompanhado parte da carreira de Senna, possibilitando-nos dizer que essa fascinação pode estar relacionada ao ambiente familiar e também ao continuísmo dado pela mídia sobre o herói - o momento passa, as glórias são eternas, a perpetuação do ídolo.

     Foram citados alguns ídolos em atividade, nomes que vem sendo construído e há algum tempo figurando como ídolos no cenário mais recente, como é o caso dos jogadores de futebol Ronaldo e Kaka, pentacampeões mundiais, o primeiro eleito em três ocasiões o melhor jogador do mundo, e o segundo tido como o grande craque da nova geração, Gustavo Kuerten, tenista que trouxe uma nova dinâmica aos adoradores do tênis, os meninos do vôlei, colhendo frutos de resultados constantes e importantes no cenário mundial, tendo a televisão participado ativamente na divulgação das competições e conquistas, e Fernando Scherer, nadador com importantes conquistas e divide com Gustavo Borges, um dos maiores medalhistas olímpicos do Brasil, as atenções da modalidade no Brasil.

     As conquistas desses atletas são a sustentação para que continuem constantemente na mídia e na "cabeça" dos alunos enquanto modelos de sucesso e comportamento. Não importa o momento atual, estarão sempre aparecendo em comerciais, em programas de tv, em entrevistas, enfim em destaque, como percebemos em uma nota coberta do programa Globo Esporte do dia 7 de maio, que informa uma derrota do tenista Gustavo Kuerten: "Guga bem que tentou, chegou a empatar mais foi eliminado do Master Series de Roma", sendo que durante as imagens em alguns lances de pontos conquistados pelo tenista, a narração em off dizia "esse ai é o bom e velho Guga".

     Esse é um aspecto que os meios de comunicação possuem: criar ídolos. O esporte facilita esse processo pelo fator de envolver a questão de conquistas, vitórias. A criação do mito é baseada em conquistas, mas não respeita tempo, nem desenvolvimento natural dos atletas para se tornarem ídolos, um exemplo é o jogador Robinho, que se profissionalizou no segundo semestre de 2002, e pelo destaque obtido, é colocado pela imprensa como herói, apelidado de rei dos dribles, comparado com Pelé, nos possibilitando identificar a mídia, caracterizando a criação do herói ao falar sobre um ídolo emergente comparando com outro consolidado como tal.

     Na pesquisa percebemos que o ídolo para o aluno possui elementos relativos à competência e eficiência, espírito vencedor, e outros aspectos que não se relacionam com a ação desportiva dele, que extrapolam a modalidade, o esporte em si. Brandão citado por Helal (2001) fala sobre virtudes inerentes a condição do herói: honorabilidade pessoal, excelência e superioridade aos outros mortais.


A Educação Física e a (in) formação esportiva

     O papel da mídia na educação é um tema de discussões amplas e profundas. O intelectual colombiano Bernardo Toro (2001) fala sobre um tópico que deve ser bem elucidado quando se discute a relação dos meios de comunicação com a educação, é a diferença existente entre comunicação e meios de comunicação.

     O professor deve se instrumentalizar e aperfeiçoar para saber lidar com os meios de comunicação no seu cotidiano de aulas, mas deve também ter em mente que não deve substituir o conhecimento pelo meio.

"... todo ato comunicativo tem conseqüências educativas. Uma telenovela tem conseqüências educativas para o bem ou para o mal. Todo ato educativo, por sua vez, tem componentes comunicativos, mas nem todo ato comunicativo tem propósitos educativos" (TORO, 2001)

     O professor deve lidar com essa relação sabendo tirar proveito para a sua proposta de ensino, tendo conhecimento de que ele mesmo é também um meio pelo qual o aluno colhe informações, possibilitando uma pedagogia do esporte que considere o que o aluno já sabe, e aproveitar esse conhecimento direcionando-o de acordo com os objetivos do ensino.

     A maioria dos alunos relata que a Educação Física auxilia na compreensão de esporte na promoção de saúde, na pratica com fim em si mesma, na ocupação do lazer, dos sentimentos de prazer proporcionados. Sabemos das dificuldades de materiais e espaços das instituições, sobretudo publicas, mas a pedagogia do esporte adotada poderia contemplar senão as modalidades apontadas, pelo menos elementos acerca delas.

    Os alunos trazem para a aula o discurso da mídia, os seus anseios, a sua concepção de esporte a partir do que assistem, e conforme já dissemos, seus pais tiveram menos acesso que eles, portanto, maior dificuldade para lidar com a questão, e se a pedagogia não promove um dialogo, o discurso torna-se o modelo e os alunos meros reprodutores e consumidores do espetáculo esportivo.


Considerações

    Nossa intenção quando começamos esta pesquisa foi de abrir mais possibilidades para o entendimento sobre a relação Esporte, Mídia e Pedagogia, buscando elementos do fenômeno do espetáculo esportivo presente nos meios de comunicação, e através de que maneira a sociedade (no recorte feito por nós, representada pelas crianças e adolescentes), "percebe" e manifesta essa influencia e tendência do esporte nos meios de comunicação.

     Entendemos que a compreensão desse processo é de importante utilidade no desenvolvimento e aperfeiçoamento de uma pedagogia esportiva preocupada em fazer com que o aluno desenvolva de forma critica sua visão sobre o espetáculo esportivo midiatizado, presente no seu cotidiano, através de elementos pedagógicos disponibilizados e integrados com a realidade social do acesso aos meios e as informações.

    Desenvolvemos nossas considerações sobre o esporte, os aspectos e argumentos referentes aos meios de comunicação e seu reflexo nas observações e respostas dos alunos.

    No trabalho pudemos observar alguns indicativos do processo discutido por nós. Quando analisamos o programa esportivo, percebemos uma incidência significativa de conteúdos que enaltecem a vitória , como também conteúdos que denigrem a questão de derrota, e conforme notamos, existem nas respostas dos alunos elementos que refletem esse discurso, ao apontarem como aspectos do esporte que despertam seu interesse, elementos relacionados a questão do vencer, da conquista, sendo de modo inverso elementos relativos a derrota, apontados como aspectos negativos sobre seu interesse e gosto pelo esporte.

Coimbra (2001) diz que a lógica da mídia "é da homogeneização do espetáculo, obedecendo ao valor da excepcionalidade, do ser extraordinário, da dramaticidade, da encenação voltada também para a produção de emoções".

    Essa produção de emoções como produto disponibilizado pelos meios de comunicação é da mesma maneira apresentado nas manifestações dos alunos quando dizem sobre o interesse e gosto pelo esporte, centralizando esse sentimento no ídolo, nas emoções sentidas e oferecidas por ele, na "adrenalina" que desperta nele, o (tele) espectador, e condiz ainda sobre o que dizem adquirir para suas vidas através do esporte, sentimentos de alegria, felicidade, enfim, emoções, quais estão presentes e difundidas nos meios.

    Ao falarmos que o aluno leva para a escola um conjunto de conhecimentos e saberes que adquiri de maneiras distintas e informais, nos referindo ao processo de aprendizado através de experiências não disponibilizadas, ou transmitidas de modo mais formal pela escola, centralizamos nosso foco na questão do esporte na televisão e da pedagogia do esporte.

    O momento em que se insere a pedagogia do esporte é aquele em que o aluno traz seu imaginário e sua concepção sobre o esporte. Com presença significativa da televisão no cotidiano dos alunos, notamos ainda que os conteúdos expostos por ela aparecem bem evidenciados nas manifestações deles, que acabam por levar essa concepção à pratica formal, logo, a pedagogia deve inserir-se na realidade trazida por eles afim de compreender o que manifestam e de interferir dando lhes condições de participar e entenderem o fenômeno esportivo, suas dimensões e suas possibilidades.

     Não pretendemos caracterizar os meios de comunicação, sobretudo a televisão, como nocivos ao processo de aprendizado. Entendemos que tem importante participação ao transmitir informações e posicionamentos, embora definidos por interesses de mercado e audiência, mas contribuem ao despertar curiosidades, mostrando novas situações e outras realidades. A discussão, no nosso entendimento, deve ser feita sobre a pedagogia esportiva compreender e visualizar a participação dos meio de comunicação nas experiências e concepções dos alunos, partindo também do que os próprios alunos compreende desse processo.


Notas

  1. Tomamos como parâmetros os estudos de Camargo (1998), efinindo gêneros como os modos comunicativos baseando-se na intenção e estilo de redação das mensagens. Utilizamos as classificações com algumas adaptações com intenção de facilitar as analises, permitindo um reagrupamento que condiz com os objetivos propostos

  2. Essência da mensagem utilizando aqui como referencia de classificação do estudo de Sanfelice, Hatje e Carvalho (2001), fazendo também adaptações para a compreensão deste estudo.

  3. Diferentes modalidades esportivas presentes no programa analisado.

  4. aqueles que fazem parte do espetáculo esportivo e aparecem nos conteudos do programa esportiva: atletas, ex-atletas, comentaristas, dirigentes.

  5. A Globo tem direito sobre os amistosos da Seleção Brasileira de Futebol, sobre a Copa Libertadores da América, sobre o Campeonato Brasileiro de Futebol, sobre a Liga Mundial de vôlei, sobre o campeonato mundial de vôlei, sobre a copa do mundo de futebol, sobre a Formula 1, sobre importantes torneios de tênis, e outros.

  6. Presente no livro O Esporte como Industria: Solução para Criação de Riqueza e Emprego, presente no referencial bibliográfico deste estudo


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