Avaliação psicomotora em pessoas portadoras de paralisia cerebral da APAE de Toledo/Pr |
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* Professora de Educação Física ** Professores da Universidade Paranaense -UNIPAR Toledo - Paraná (Brasil) |
Prof. Esp. Débora Della Coletta* Prof. Esp. Ricardo Alexandre Carminato Prof. Dr. José Irineu Gorla Prof. MSc. Décio Roberto Calegari** carminato@unipar.br |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 85 - Junio de 2005 |
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Introdução
Na atualidade tem-se visto um aumento relativamente grande no interesse da deficiência humana. Cerca de 10%, ou mais da população mundial sofre de alguma deficiência, seja ela física, mental ou sensorial. No Brasil segundo os dados do IBGE (2000), este índice chega a 14,5% da população com algum tipo de deficiência.
Segundo Souza e Ferraretto (2001), a Paralisia Cerebral foi descrita pela primeira vez em 1843 por um ortopedista inglês chamado William John Litle como uma rigidez espástica. O termo "Paralisia Cerebral" foi introduzido por Freud para diferenciá-la da Paralisia Infantil causado pelo vírus da Poliomielite.
A Paralisia Cerebral (PC), é um termo utilizado para descrever uma condição de ser, ou um estado de Saúde, que podemos afirmar ser contínua, instável e irreversível, uma deficiência física adquirida, um dano cerebral ou no sistema nervoso central (SNC) que leva o Sujeito a ter certa dificuldade ou descontrole muscular, impedindo-o de executar certos movimentos com maior perfeição, afetando diretamente a coordenação motora e a postura corporal de seus portadores, como se fosse uma "confusão" de envio de mensagem entre o estímulo do cérebro e a resposta do músculo. Para Bobath (1978), a Paralisia Cerebral, é uma seqüela de uma agressão encefálica, que se caracteriza por um transtorno persistente, do tono, da postura e do movimento do Sujeito, uma agressão não progressiva, mas geralmente mutável, quando nos referimos as suas seqüelas.Em muitos casos a inteligência do portador é normal, a não ser que a lesão tenha afetado áreas responsáveis pelo pensamento ou pela memória. Portanto, um portador de Paralisia Cerebral não pode ser classificado, exclusivamente, como um portador de deficiência mental. Machado (1981), enfatiza que o sistema nervoso da vida de relação a todas as partes do corpo, relacionando o organismo com o meio, os quais são conduzidos do cérebro por neurônios sensitivo através da medula ou tronco encefálico a todos os receptores do corpo, por tanto, a coordenação de todos os movimento do corpo é feita pelo cérebro, e no caso do portador de Paralisia Cerebral, esses estímulos foram de alguma forma bloqueados, causando aos seus portadores seqüelas, como ausência de coordenação motora, dificuldades na fala, em alguns casos paraplegias, tetraplégicas, e assim sucessivamente.
Acredita-se que estímulos ao S.N.C., aplicados de formas coerentes apresentam resultados satisfatórios, onde as células nervosas (neurônios) vizinhas a da lesão, acabam por se adaptar e assumirem, em partes, a função da célula afetada. Marchean (1996), cita que através de um estudo derivado de uma lesão central do córtex, onde região afetada foi a da coordenação fina do Sujeito, mais precisamente nos dedos, e após estímulos sensoriais: "a função do tecido destruído foi assimilado pelo tecido nervoso vizinho intacto as custas de uma assimilação da sensibilidade..." (pg.171). Dessa forma podemos dizer, que através de estímulos adequados, poderes ao menos minimizar seqüelas motoras em portadores de Paralisia Cerebral (PC).
A relevância deste estudo está em proporcionar uma contribuição aos portadores de Paralisia Cerebral e especialmente, aos profissionais de Educação Física que trabalham com essa população, ampliando o conhecimento sobre causas, lesão e o comprometimento motor.
Partindo da premissa que o desenvolvimento completo do Sujeito se dá por aspectos motores, cognitivos, psicológicos e neurológicos e tendo como base, o BPM (Bateria Psicomotora) idealizada por Fonseca (1995), procurou-se identificar a influência do equilíbrio, da tonicidade, da lateralização, da noção do corpo e das praxias global e fina no resultado motor final, utilizando-se de uma abordagem transversal para analisar as alterações psicomotoras em portadores de Paralisia Cerebral utilizando como instrumento o teste BPM (Bateria Psicomotora) de Vitor da Fonseca.
Material e métodoPara o presente estudo foram considerados como elementos pertencentes da população, pessoas portadoras de Paralisia Cerebral, caracterizados individualmente, com idade cronológica entre 8 a 18 anos, matriculados na escola de Educação Especial Bem Me Quer - APAE do município de Toledo/PR. A amostra foi selecionada por conveniência (Rodrigues, 2002, p.89), e constituída por dois Sujeitos do sexo feminino e sete do sexo masculino.
A Bateria Psicomotora de Fonseca (BPM) visa buscar o verdadeiro papel da motricidade no desenvolvimento psicológico e no processo de aprendizagem de crianças. Caracteriza-se por um conjunto de situações e tarefas, avaliando o perfil intra-individual e sua propensão à aprendizagem (FONSECA 1995).
Para a mensuração do estudo foi utilizado o BPM - Bateria Pisicomotora de Vitor da Fonseca (1995), que se compõe de sete fatores: tonicidade, equilibração, lateralização, noção do corpo, estruturação espaço temporal, praxia global e praxia fina.
Para a realização em portadores de Paralisia Cerebral o sub-fator de estruturação espaço temporal, que exige ordens mais complexas, não foi utilizado, devido o comprometimento na amostragem.
O sub-fator da tonicidade mensurou a extensibilidade, a passividade e a paratonia de membros superiores e inferiores, a diadococinesias da mão direita e esquerda e as sincenesias bucais e contralaterais.
O fator equilíbrio determinou a imobilidade, o equilíbrio estático com apoio retilíneo, com pontas dos pés e com apoio num pé, o equilíbrio dinâmico, a marcha controlada, e a evolução para frente, pra trás, do lado direito, do lado esquerdo, pé cochinho esquerdo e direito, pés juntos para frente, para trás e de olhos fechados.
Foram avaliadas a lateralização ocular, auditiva, manual, pedal, inata e adquirida e o fator noção do corpo analisou o sentido sinestésico, o reconhecimento de direita e esquerda, a auto -imagem, a imitação de gestos e o desenho do corpo.
O sub fator da praxia global mensurou a coordenação oculomanual e oculopedal, a dismetria e a dissociação de membros superiores, inferiores e agilidade. E o ultimo fator que é a praxia fina observou a coordenação dinâmica manual, o tamborilar e a velocidade de precisão.
Como auxilio para a realização do teste BPM (bateria psicomotora), foram utilizados, os seguintes instrumentos para execução do mesmo: bolinha de tênis, fita métrica, cinco clipes, folha quadriculada, folha lisa para desenho, tubo de papel, telefone (brinquedo), lápis para desenho, colchonete, cadeira, cesta, mesa e as fichas de avaliação do teste.
Caracterização individual dos sujeitos
Resultados e discussãoOs resultados foram obtidos pela soma dos valores adquiridos da avaliação dos subfatores que variam de 1 e 4, os quais indicam:
Realização imperfeita, incompleta e descoordenada (fraco) perfil apráxico.
Realização com dificuldade de controle (satisfatório) perfil dispráxico.
Realização controlada e adequada (bom) perfil eupráxico
Realização perfeita, econômica, harmoniosa e bem controlada (excelente) perfil hiperpráxico.
Em seguida foi feita a soma, e divididos pelos sub fatores de cada unidade, para se obter a média, e quando necessário arredondar para cima.
Com a observação dos escorres pode-se observar os seguintes resultados individuais:
Sujeito I: A tonicidade, a lateralização, a noção corporal, a praxia global e fina tiveram o escore 3, que equivale à realização controlada e adequada, considerado bom. O equilíbrio teve escore 2, equivalente a uma realização com dificuldades de controle mais satisfatório.
Sujeito II: A tonicidade teve um escorre quatro, que equivale à realização perfeita, econômica harmoniosa e bem controlada. Já para os fatores equilíbrio lateralização e praxia global, o sujeito teve uma realização com dificuldade de controle, referente ao escore dois. E para noção do corpo e praxia fina teve um escore de 1, uma realização imperfeita, incompleta e descoordenada.
Sujeito III: O sujeito obteve escore dois pra tonicidade, equilíbrio lateralização e praxia global, uma realização com dificuldades de controle. Na praxia fina obteve escore 1 considerado fraco, e para noção do corpo três, que é considerado uma realização controlada e adequada.
Sujeito IV: Neste caso o sujeito teve uma realização perfeita na lateralização e na noção do corpo com escore quatro, para equilíbrio, praxia global e fina dois, considerado um perfil satisfatório, e para tonicidade um escore de três, um perfil bom e adequado.
Sujeito V: O sujeito teve uma grande variação para cada fator. Obteve três em equilíbrio e noção do corpo, sendo a realização controlada e adequada; dois para tonicidade e praxia global, realizados com dificuldades de controle; quatro para lateralização, considerado perfil excelente e um escore um pra praxia fina, que resultou na realização imperfeita incompleta e descoordenada (fraco).
Sujeito VI: Este apresentou um escore dois para os fatores de tonicidade, equilíbrio, noção do corpo e praxia global considerado satisfatório, mas com dificuldades na realização; quatro para lateralização, sendo um perfil excelente e um para praxia fina, considerado uma realização imperfeita, incompleta e fraca.
Sujeito VII: Apresentou um escore de dois para equilíbrio, lateralização e praxia global, tendo obtido uma realização com dificuldade de controle, mas satisfatório; três para a tonicidade, uma realização controlada e adequada. Para praxia fina e noção de corpo um, equivalente a uma realização imperfeita, incompleta e descoordenada.
Sujeito VIII: Neste caso se faz necessário ressaltar que o sujeito te atrofia nos membros superiores, por tanto a realização da maioria dos fatores do teste foi realiza com os membros inferiores.Dessa forma o mesmo obteve um nos fatores noção do corpo praxia global e praxia fina, que indica uma realização incompleta, imperfeita e descoordenada, um perfil fraco; dois em tonicidade e equilíbrio, referente a uma realização com dificuldade. Para lateralização três, uma realização controlada e adequada.
Sujeito IX: Este apresentou escore três nos fatores tonicidade, noção do corpo e praxia global, indicando uma realização controlada e adequada (boa); em equilíbrio uma realização com dificuldades de controle, já em lateralização um escore de quatro que se refere a uma realização perfeita. Por ultimo o sujeito obteve escore um em praxia fina, uma realização imperfeita, incompleta e descoordenada, um perfil considerado fraco.
Em relação a média final de cada fator da bateria BPM, foi observado uma variação de sujeito para sujeito, pois cada um tem um grau de lesão diferenciado. A tabela 1 mostra claramente a variação entre os sujeitos. Em relação aos fatores, percebemos que a praxia fina obteve uma média geral baixa de escore um, a qual faz uma referência à realização imperfeita, incompleta e descoordenada. Os outros fatores ficaram na média entre escores dois e três. Os valores foram arredondados para cima ou para baixo, de acordo com o resultado.
Tabela 1. Resultados individuais da Bateria Psicomotora de Fonseca (BPM)
Podemos verificar com os resultados, que as tarefas de execução voluntária, tiveram respostas imperfeitas ou incompletas, sendo realizadas com dificuldade. Conforme Fonseca (1995), a pessoa com síndrome cerebral pode falhar em muitas tarefas da bateria. Encontramos maior dificuldade na realização das tarefas de equilíbrio, de praxia fina e global, pois a própria lesão cerebral já é caracterizada pelo encurtamento e atrofia dos flexores dificultando a noção de respostas motoras dos sujeitos.
De acordo com o escore final, a média dos avaliados é boa, mas com dificuldades na realização e com falta de controle. O teste não pode ser utilizado como identificação de um possível déficit da lesão cerebral, mas somente como um fator que indica uma disfunção psicomotora da aprendizagem e na coordenação motora.
Considerações finaisNeste estudo, foi possível identificar entre os portadores de Paralisia Cerebral os aspectos motores e psicomotores através da Bateria Psicomotora de Fonseca.
Concluímos que, no decorrer do estudo e da aplicação do teste, os sujeitos obtiveram um resultado compatível aos esperados, onde os mesmos demonstram uma falta de coordenação, principalmente fina, devido à lesão cerebral.
Os resultados mostraram a área onde o sujeito tem um maior comprometimento ou atraso psicomotor, e reconhecendo a extensão do problema, o profissional saberá onde trabalhar e como aplicar o estímulo ao portador de Paralisia Cerebral, bem como fazer um desenvolvimento global de sua coordenação motora. O sujeito com Paralisia Cerebral depende em grande parte de um estímulo externo para conseguir desenvolver sua coordenação motora. A Educação Física desenvolve um papel importante nessa estruturação motora oferecendo recursos para tais estímulos.
Percebemos que a BPM pode ser utilizada como forma de identificação das capacidades motoras e psicomotoras, desde que utilizada como uma avaliação individual, pois a lesão cerebral determina a diferenciação dos afetados. Devemos considerar a importância de estudos nessa área, pois a coordenação motora influencia diretamente no desenvolvimento global da criança, como o falar,o caminhar, o físico, mental e o social, fatores importantes para um bom relacionamento dentro da sociedade.
Referências bibliograficas
BOBATH, Karel/ BOBATH, Berta. O desenvolvimento motor nos diferentes tipos de paralisia cerebral, Manole LTDA, 1978.
FONSECA, Vitor da. Manual de observação Psicomotora: significação psiconeurológica dos fatores psicomotores. Porto Alegre, ed. Artes Médicas, 1995.
IBGE - 2000/ Site www.ibge.com.br 06/05/2002
MARCHEAN Q. Irene / ZORZI L. Jaime/ GOMES C. Dias Ivone. Tópicos em Fonoaudióloga - Vol. III Ed. Lovise - SP 1996.
MACHADO Ângelo. Neuroanatomia Funcional. Ed. Atheneu, 1981, Rio de Janeiro.
RODRIGUES, P.C. Bioestatística. 3a. ed. Niterói: EduFF, 2002. p.89
SOUZA, Ângela Maria Costa de / FERRARETO, Ivan - Paralisia Cerebral, aspectos Práticos. São Paulo, Memnon LTDA, 2001.(ABPC).
Bibliografia consultada
GORLA, J.I. Coordenação corporal de portadores de deficiência mental: avaliação e intervenção. Campinas, 2001, pp. 134, dissertação de mestrado em Educação Física. Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP, 2001.
REZENDE, Jelmary; GORLA, José Irineu; ARAÚJO, Paulo; CARMINATO, Ricardo. Bateria Psicomotora de Fonseca: uma Analise com Portadores de Deficiência Mental - Revista Digital - Buenos Aires ano 9, Nº 62 - Julho de 2003. Site www.efdeportes.com
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