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Caracterização da eficácia do bloco no
Voleibol de elevado rendimento competitivo.

Estudo aplicado em equipas masculinas participantes na Liga Mundial 2003

   
*Faculdade de Ciências do Desporto e de
Educação Física da Universidade do Porto.
**Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto.
(Portugal)
 
 
Rui Oliveira*
Isabel Mesquita*
Manuel Oliveira**

imesquita@fcdef.up.pt
 

 

 

 

 
Resumo
    O presente estudo tem por objectivo identificar o valor médio de ocorrência do bloco no jogo, de acordo com o efeito provocado (positivo, neutro e negativo) bem como o valor da eficácia obtida. A amostra foi retirada das acções de bloco referentes a todos os jogos das 16 selecções nacionais participantes da Liga Mundial 2003, sénior masculino com excepção do jogo nº 109 entre Sérvia & Montenegro e Itália. Foram alvo de análise 10749 blocos, observados em 873 sets, pertencentes a 222 jogos. Como variável independente foi considerada a classificação na competição e como variáveis dependentes considerou-se o valor médio e a eficácia do bloco. Para a recolha de informação recorremos ao instrumento concebido pela FIVB, "Volleyball Information System" (VIS). Nos procedimentos estatísticos recorremos á estatística descritiva habitual (percentagens, média e desvio-padrão) e na inferencial ao teste t de student .
    Os resultados do presente estudo mostram que na acção de bloco o efeito de continuidade é o mais frequente, seguido do efeito de erro e de ponto. As equipas melhor classificadas revelaram vantagens na distribuição percentual da acção de bloco, segundo o efeito provocado. Apesar de não se registarem diferenças significativas verifica-se a tendência das equipas melhor classificadas pontuarem mais e errarem menos, registando maior eficácia.
    Unitermos: Voleibol. Análise do jogo. Alto rendimento. Bloco
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 84 - Mayo de 2005

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1. Introdução

    O Voleibol, enquanto jogo desportivo colectivo de não-invasão, constitui na actualidade tema de interesse na agenda da investigação centrada na análise do jogo, no sentido de se identificarem variáveis que melhor definam o rendimento desportivo das equipas e dos jogadores.

    É indiscutível o contributo dos estudos centrados na análise do jogo, na medida em que fornecem indicadores, tratados de forma objectiva, sistemática e rigorosa, passíveis de interpretar modelos organizacionais (Druenne & Moreaux, 1987).

    No Voleibol, o bloco é referenciado como sendo a primeira linha de defesa de uma equipa e simultaneamente a forma mais rápida de ataque. Sendo assim, a função principal desta acção é interceptar uma bola de ataque enviando-a para o campo adversário (bloco ofensivo) ou refletindo-a para o campo de defesa (bloco defensivo) (Selinger, 1986).

    No alto rendimento a acção de bloco reveste-se de grande importância, sendo responsável, não raramente, pelo resultado competitivo das equipas. Na década de 1990, devido ao maior número de serviços em suspensão, os esquemas ofensivos viram-se afectados e dificultados favorecendo os esquemas defensivos. Tal é corroborado por um estudo de Zimmermann (1995), onde se observaram o Campeonato do Mundo de 1994 e os Jogos Olímpicos de 1992. Os resultados indicaram menos 5% de erros na defesa e um maior número de blocos positivos.

    Caracterizar a eficácia do bloco, assim como, identificar o número médio de ocorrências, segundo o efeito provocado, constitui o objecto central deste estudo.


2. Metodologia

2.1. Caracterização da Amostra

    A amostra do presente estudo foi retirada das acções referentes a todos os jogos das 16 selecções nacionais participantes da Liga Mundial 2003, sénior masculino com excepção do jogo nº 109 entre Sérvia & Montenegro e Itália. No quadro 1 estão apresentados o número de jogos, de sets e blocos analisados por selecção e no total da amostra. Os 222 jogos analisados representaram 873 sets, sendo alvo de análise 10749 blocos.

Quadro 1. Número de jogos, sets, e blocos analisados por selecção e no total da amostra, na Liga Mundial de 2003.

    Foram considerados dois grupos tendo sido o critério de classificação das equipas a passagem à fase final da competição. Assim todas as equipas do Grupo 1 terminaram a competição melhor classificadas (primeiras oito) do que as equipas do Grupo 2 (do nono ao décimo sexto lugar). O Quadro 2 apresenta as equipas e os grupos de análise.

Quadro 2. Constituição dos Grupos de análise


2.2. Procedimentos da recolha dos dados

    Para a recolha de informação recorremos ao instrumento concebido pela FIVB, "Volleyball Information System" (VIS). Este instrumento é utilizado desde 1996 em todas as competições internacionais da FIVB.

    Em cada competição internacional, a FIVB nomeia um "VIS Supervisor" que terá como função treinar e preparar o pessoal necessário para operar o VIS nesse país. Os Supervisores do VIS têm que fazer um "clinic" organizado pela FIVB, normalmente em Lausanne. O treino/preparação dos elementos que irão operar com o VIS, nas competições nos seus países, tem de ser iniciado um mês antes do início da competição. O aperfeiçoamento será feito em jogos realizados antes da competição. O clinic final é feito dois ou três dias antes do início da competição e é conduzido pelo supervisor do Vis, sobre controlo do Comité de Controlo da FIVB. Em cada jogo terão que estar presentes, um Supervisor VIS, dois observadores, dois operadores, um especialista de Hardware e Software e um estafeta.


2.3. Variáveis de Análise

    Como variável independente foi considerada a classificação na competição e como variáveis dependentes considerou-se a frequência e a eficácia do bloco.


2.4. Instrumento de observação

    Para a avaliação do bloco o modelo adoptado considera o seu efeito, mais precisamente a obtenção de ponto (efeito positivo), continuidade (efeito neutro) ou erro (efeito negativo) (Quadro 3).

Quadro 3. Modelo de avaliação do bloco (FIVB, 2003)

Particularidades

  • Só um dos blocadores pode ser avaliado em cada situação de bloco, o que tocou na bola.

  • No caso de a bola continuar em jogo depois de um bloco, somente se assinalará um bloco com efeito neutro.

  • No caso de, depois de um bloco, a bola for tocada por mais de um jogador da equipa adversária, para tentar salvar a bola, mas não continuar em jogo, o bloco deve ser considerado como um sucesso, bloco com efeito positivo.

    Para a análise da eficácia do bloco recorremos à fórmula utilizada pela FIVB (2003):


2.5. Procedimentos estatísticos

    Recorremos à estatística descritiva habitual para obter as frequências e respectivas percentagens.

    Para analisar as diferenças entre os valores dos dois grupos de análise, utilizamos o teste t de student para o ensaio de hipóteses; os valores exactos de probabilidade associados à hipótese nula (de erro igual ou inferior a 0,05), para considerarmos as diferenças significativas, foram consultados na tabela de distribuição normal t de student.


3. Apresentação e discussão dos resultados

3.1. Análise descritiva dos resultados

3.1.1. Análise do efeito provocado pelo bloco

    Na figura 1 podemos observar as percentagens de ocorrência dos blocos com efeito positivo (que permitem a obtenção imediata de ponto para a equipa do blocador), com efeito negativo (que permitem a obtenção imediata de ponto para a equipa adversária à do blocador) e com efeito neutro (que permite a continuidade do rally). De todas as acções de bloco efectuadas na competição (LM03) 40,5% delas resultam na continuidade dos rallys, não havendo conquista de ponto para nenhuma das equipas. Este valor está consonante com a função do blocador em efectuar um bloco defensivo e cobrir uma zona do campo mais do que pontuar (Colemam, 1992; Pelletier, 1988; Ryan, 1993; Selinger, 1986). A ocorrência de blocos com efeito negativo (perda de ponto) é superior (38,7%) aquela em que a equipa que efectua o bloco concretiza ponto (20,8%).

    Dada as características da acção de bloco, nomeadamente na oposição directa ao ataque, torna-se de difícil concretização, estando o êxito dependente, em grande medida, da acção do adversário no ataque. Neste sentido, a concretização de ponto em 20.8% das acções de bloco e o efeito de continuidade em 40,5%, significa que em 61,3% das acções a equipa efectivou ponto ou teve a possibilidade de defender e organizar o contra-ataque. Estes resultados revelam uma prestação positiva das equipas em estudo no bloco, tendo por referência que, como refere Lucas (2000), os melhores blocadores apenas ganham ponto em menos de 10% das tentativas.

    Deste modo, a prestação positiva no bloco, evidenciada no presente estudo, é revelador da importância acrescida assumida por este procedimento do jogo no rendimento das equipas, indo ao encontro do perfilhado pelos especialistas, quando referem o bloco, como um dos procedimentos do jogo mais importantes no Voleibol de alto nível (Anastasi, 2003; Aurelio e Vallín, 2003; Pino et all, 2002; Velasco, 2001).


Figura 1. Percentagem de ocorrência dos blocos positivos, negativos e neutros.


3.1.2. Análise da frequência e do efeito do bloco, por equipa

    No Quadro 4 podemos observar o número de blocos efectuados por cada equipa durante toda a prova, assim como as médias por jogo, tendo presente o efeito que provocaram. O número médio de acções de bloco que cada equipa efectuou por jogo foi de 48,2 sendo que destas, 10 resultaram em blocos com efeito positivo, 18.7 em blocos com efeito negativo e 19,6 em blocos com efeito neutro. O desvio padrão das médias de blocos com efeito positivo, embora sendo o mais reduzido de todos (1,6), relativamente às restantes médias, revela uma situação bastante curiosa. A equipa que fez, em média, mais pontos de bloco, fê-lo o dobro das vezes do que a equipa que fez menos pontos: Portugal fez em média 6,67 pontos de bloco por jogo e a Bulgária, para a mesma acção consegui uma média de 13,07.

Quadro 4: Número de blocos efectuados durante toda a prova e médias por jogo por equipa

    O quadro 4 permite ainda constatar que dos 10749 blocos efectuados durante toda a competição, 2233 tiveram efeito positivo sendo a média destes, por equipa, de 139,6. Apesar de cada equipa fazer em média mais blocos com efeito neutro (272,1) do que negativo (260,1), observou-se que o desvio padrão é superior para os blocos com efeito negativo, o que sugere maior variabilidade entre as equipas relativamente a estas acções.


3.1.3. Análise da eficácia do Bloco

    O quadro 5 apresenta os resultados relativos à eficácia do bloco na competição por equipa. Da sua análise podemos verificar que a eficácia média do bloco situou-se nos -18,1%, tendo todas as equipas valores negativos. Estes valores surgem em consequência da fórmula proposta pela FIVB (2003) na qual só são contemplados os blocos com efeito positivo e com efeito negativo relacionados com o total de tentativas, fazendo consequentemente pender os resultados para valores negativos.

Quadro 5. Eficácia do bloco na competição por equipa.

    A análise dos resultados revela diferenças substanciais entre algumas equipas. Assim, a Itália, equipa que obteve melhores índices de eficácia no bloco, registou uma média de -6,9%, valor este muito superior ao obtido pela Holanda que apenas conseguiu uma eficácia de -26,6%.


3.2. Análise comparativa dos resultados em função da classificação na competição

3.2.1. Análise do efeito provocado pelo Bloco

    Relativamente ao bloco, como se pode observar na Figura 2, verifica-se a tendência para as equipas do Grupo 1 (melhor classificadas) obtiverem valores percentuais mais elevados de blocos com efeito positivo e valores percentuais mais baixos de blocos com efeito negativo, do que as equipas pertencentes ao Grupo 2 (pior classificadas).


Figura 2. Percentagem de ocorrência dos blocos positivos, negativos e neutros pelos dois Grupos de análise.

    A percentagem de blocos que culminam na obtenção directa de ponto, nas equipas do Grupo 1 e nas do Grupo 2 é de 21,3% e 20,0%, respectivamente. A diferença entre os dois Grupos é menor quando analisados os blocos com efeito negativo, ficando-se esta em 0,6%, 38,5% para as equipas do Grupo 1 e 39,1% para as equipas do Grupo 2.

    Quando analisamos as percentagens de blocos que resultam na continuidade do rally, podemos constatar que as equipas do Grupo 2 fazem-no em maior número (40,9%) do que as do Grupo 1 (40,2%).


3.2.2. Análise da frequência do bloco e do efeito do bloco

    O quadro 6 apresenta os valores médios e desvio padrão dos efeitos do bloco, em toda a prova e por jogo. Assim, verificamos que as equipas do Grupo 1 fizeram uma média de blocos superior às do Grupo 2 (785,5 para o Grupo 1 e 558,1 para o Grupo 2). Este fenómeno verificou-se para todo o tipo de blocos, seja com ganho de ponto (167,4 para o Grupo1 e 111,8 para o Grupo 2), com perda de ponto (302,3 para o Grupo 1 e 218,0 para o grupo 2) ou nos blocos que possibilitaram a continuidade do rally (315,9 para o Grupo 1 e 228,4 para o Grupo 2). Estas diferenças são estatisticamente significativas uma vez que, em todos os casos, a diferença entre as médias, dos dois grupos, se situa fora da Região de Aceitação, calculada pelo teste t de student, para a hipótese das duas médias serem iguais a um nível de significância de 5%. O facto de as equipas do Grupo 1, por terem sido apuradas para a fase final da competição, terem efectuado mais jogos do que as equipas do Grupo 2, que apenas efectuaram 12 jogos cada uma, justifica as diferenças encontradas.

    Assim, verificamos que as equipas do Grupo 1 fazem, por jogo, uma média de 50 acções de bloco. Este número é menor entre as equipas do Grupo 2, que não vão além de uma média de 46,5 blocos por jogo. Assim, a diferença entre os dois grupos situa-se em 3,5 blocos por jogo. Quando se faz a análise pelo efeito que provoca esta acção do jogo, constata-se que o Grupo 1 tem vantagem em todas as situações. Assim faz, em média, mais 1,3 blocos com efeito positivo, mais 1,1 com efeito negativo e mais 1 com efeito neutro.

Quadro 6: Valores médios e desvio padrão dos efeitos do bloco, em toda a prova e por jogo, para os dois Grupos de analise; Região de aceitação (RA) para a hipótese das médias serem iguais e diferença entre as médias dos dois Grupos de analise (Dif. Med.).

    Analisando o desvio padrão das médias de todas acções de bloco efectuadas observa-se um valor ligeiramente mais elevado entre as equipas do Grupo 1 (4,9), em relação às equipas do Grupo 2 (4,2).

    Da análise dos desvios padrões das médias dos blocos com efeito negativo observa-se que as equipas do Grupo 1 obtém um número mais elevado (4,6) do que as equipas do Grupo2 (1,8). Esta diferença sugere que entre as equipas do Grupo 1 é possível encontrar valores mais diferenciados entre as equipas, relativamente à média de blocos com efeito negativo por jogo. Tal não acontece, de uma forma tão acentuada nas equipas do Grupo 2.

    No entanto, regista-se uma tendência oposta para o efeito positivo e de continuidade: as equipas do Grupo 1 demonstram valores mais homogéneos nas médias dos blocos com efeito positivo (1,4 no Grupo 1 e 1,7 no Grupo 2) e com efeito neutro (2,5 no Grupo 1 e 3,3 no Grupo 2).

    De destacar o facto de, por jogo, as diferenças entre os dois grupos não serem significativas, em nenhumas da situações, o que é revelador de uma certa homogeneidade entre os dois grupos não só no total de blocos realizados como no efeito obtido.


3.2.3. Análise da eficácia do bloco

    O quadro 7 apresenta os valores médios da eficácia de bloco dos dois grupos de análise.

Quadro 7: Eficácia do bloco

    Observou-se a supremacia da eficácia das equipas melhor classificadas (-16,9%) relativamente às equipas pior classificadas (-19,3%), situando-se a diferença em 2,5%.


4. Conclusões

    Os resultados obtidos no presente estudo permitem-nos destacar as seguintes conclusões:

Análise descritiva

  • As equipas analisadas evidenciam o valor de 20,8% no efeito de ganho de ponto na acção do bloco, contrapondo com 38,7% em perda de ponto e 40,5% em continuidade.

  • As equipas perdem, em média, mais pontos do que ganham no bloco Cada equipa conquista, em média, 10 pontos de bloco por jogo e perde 18,7 pontos.

  • As equipas, por jogo, realizam em média, 48,2 blocos.

  • As equipas revelem uma eficácia no bloco de -18,1%.

Análise Comparativa

  • A distribuição percentual dos blocos segundo o efeito que provocam no marcador, revelou vantagens para as equipas melhor classificadas, o Grupo 1.

  • A diferença do número de blocos, segundo o efeito que provocam no marcador, efectuados por jogo pelos dois Grupos não é estatisticamente significativa. No entanto há tendência para as equipas do Grupo 1 fazerem mais pontos e errarem menos.

  • As equipas do Grupo 1 são mais eficazes no bloco.


Bibliografia

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