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Proposta de auxílio cognitivo (PAC) para atletas
Proposal of cognitive aid (PAC) for athletes

   
*Laboratório de Biomecânica - BIOMEC/CDS/UFSC
**Laboratório de Neurociência do Esporte e Exercício - LANESPE/CFH/UFSC
***Doutorando Informática em Saúde - DIS/EPM/UNIFESP
****Laboratório de Experimentação Remota - REXLAB/CTC/UFSC
*****Mestrando em Ciência da Computação INE/CTC/UFSC
*****Doutoranda Interdisciplinar em Ciências Humanas - DICH/CFH/UFSC
(Brasil)
 
 
Ms. Josenei Braga dos Santos*
Dr. Antônio Renato P. Moro*
Dr. Emílio Takase**
Ddo. André Junqueira Xavier***
Dr. João Bosco da Mota Alves****
Mdo. Gilberto Medeiros de Souza*****
Dda. Geórgia Maria F. Benetti*****

joergo@pop.com.br
 

 

 

 

 
Resumo
    Este artigo apresenta uma proposta de intervenção que visa dar suporte cognitivo para atletas, auxilia na tomada de decisões, trabalha de forma prática e inovadora e ajuda a superar dificuldades. Esta Proposta de Auxílio Cognitivo (PAC) está fundamentada no pensamento de Morin (2000) e na categoria superação conforme Silva e Rubio (2003). É realizada em três etapas (antes, intervenção e após), na qual a base está centrada na técnica expositiva-dialógica, é feita em sessões individuais resgatando as experiências vivenciadas pelos atletas dentro e fora do contexto esportivo e relaciona com quatro elementos conceituais: a) superação, b) potência interativa, c) concentração e d) promoção humana. A partir dessa discussão avalia-se o estado de potência através de uma escala interativa que varia de 0 a 10 pontos onde o atleta quantifica suas percepções. Participaram da pesquisa três atletas nas modalidades de atletismo, voleibol e taekwon-do durante um período médio de cinco meses. Os resultados apontaram as seguintes mudanças: a) atletismo - antes 18 pontos e após 46,5 pontos, diferença de 28,5 pontos, b) voleibol - antes 35 pontos e após 44,5 pontos, diferença de 9,5 pontos e c) taekwon-do - antes 29 pontos e após 41 pontos, diferença de 12 pontos. Com isto, percebeu-se que a intervenção ajudou no desempenho dos atletas, conseguiu-se estabelecer como ocorreu a mudança nos estados de potência e identificou-se que estes, superaram suas dificuldades mostrando que a PAC pode ser mais uma alternativa a ser adotada na melhora da performance esportiva.
    Unitermos: Psicologia do esporte. Auxílio cognitivo. Superação no esporte.
 
Abstract
    This article presents an intervention proposal that seeks to give cognitive support for athletes, to aid in decision making, to work in a practical and innovative way and to help to overcome difficulties. This Proposal of Cognitive Aid (PAC) is based on Morin's ideas (2000) and on the challenge category according to Silva and Rubio (2003). PAC is established in three stages (pre-intervention, intervention and post-intervention), and having as the backbone the presentation-conversation technique, where individual sessions bringing back life experiences of the athletes in and outside the sports context. PAC is related to four conceptual elements: a) transcendence, b) interactive power c) concentration and d) human promotion. With that discussion, the power state is evaluated through an interactive scale varying from 0 to 10 points where the athlete quantifies their perceptions. The sample of this study was formed by 3 athletes from Track and Field, Volleyball and Tae-kwon-do during an mean time of five months. The results pointed the following changes: a) For the Track-and-field athletes, PAC pre-intervention was 18 points and post-intervention 46.5 points (D=28.5 points), b) for Volleyball, PAC was 35 points pre-intervention and 44.5 points post-intervention (D=9.5points) and c) for Tae-kwon-do, 29 points and 41 points, pre-and post-intervention, respectively (D=12 points). Therefore, it was noticed that the intervention helped the athletic performance. It was possible to establish how changes in power state occurred and to identify that the athletes overcame their difficulties showing that PAC can be another alternative to enhance sports performance.
    Keywords: Sport Psychology. Cognitive aid. Overcoming in Sport.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 84 - Mayo de 2005

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Introdução

    Diversos programas e/ou métodos de intervenções são desenvolvidos no esporte com atletas na busca pela melhora de rendimento (performance esportiva, quebra de recordes e superação de limites) e com não atletas, pessoas que visam saúde (melhora do bem estar, promoção da saúde e qualidade de vida).

    Exemplos práticos de trabalhos desenvolvidos no Brasil que ajudam atletas e não atletas, podem ser citados, como é o caso de Ribeiro (2003), onde em suas intervenções com atletas a abordagem está centrada no aprimoramento físico e mental, e suas temáticas voltadas para o desenvolvimento físico, mental, espiritual e o emocional buscando a prática da ecologia interior e Guiselini (2001), com não atletas, onde a abordagem mais utilizada é a da integração do corpo, ou seja, educar através do movimento, onde suas atividades estão mais voltadas para os seguintes aspectos: físico, emocional, social, mental e espiritual dentro de uma concepção que mobilize o equilíbrio da energia pelo exercício.

    Estas abordagens de intervenção que são desenvolvidas visando aspectos físicos e mentais se relacionam com a afirmação de Casal (2000), pois para este autor, é impossível separar o treinamento físico do treinamento psicológico.

    Com isto, nesta pesquisa procura-se apresentar algumas temáticas sobre os fatores emocionais no esporte, psicologia do esporte e o desenvolvimento de uma intervenção - Proposta de Auxílio Cognitivo (PAC) para atletas - centrada no pensamento de Morin (2000) e na categoria superação, proposta por Silva e Rubio (2003).


Fatores emocionais no esporte

    Conforme Silveira et. al. (2001), o esporte rendimento cria uma imagem geradora de altas taxas de lesões músculo-esqueléticas e distúrbios mentais em atletas, o que provoca em seus praticantes um elevado índice de lesões somáticas e transtornos mentais que carecem de estudos e pesquisas.

    De Rose Jr., Deschamps e Korsakas (2001), falam que o esporte competitivo envolve esforço físico vigoroso ou uso de habilidades motoras relativamente complexas, por indivíduos cuja participação é motivada por uma combinação de fatores intrínsecos e extrínsecos.

    Já Bardi et. al. (2000, p. 165), afirmam que, "preocupar-se com a preparação psicológica do esportista é um dos meios preventivos mais eficazes para evitar que as tensões próprias da competição interfiram no resultado atlético".

    Silveira et. al. (2001), quando pesquisaram sobre a performance esportiva e distúrbios psicológicos de atletas de basquetebol masculino identificaram que, 58% informaram ser acometidos de medo, cometer erros e não atingirem suas metas, 47% medo de decepcionar seus pares e/ou técnicos, 41% sentimentos de inferioridade e princípios de depressão e 56% estresse causado pelo treinamento excessivo.

    De Rose Jr., Simões e Vansconcellos (1994), quando pesquisaram sobre as situações causadoras de stress em 19 jogadores de handebol de alto nível, idade média de 26 anos e com 12 anos de prática, identificaram que das 16 situações apontadas no questionário, 6 situações apareceram como maior evidência como causas de stress: 89,5% jogar em más condições físicas, 63,1% da arbitragem estar prejudicando sua equipe e ser excluído dos momentos decisivos do jogo, 57,9% estar perdendo por pouca diferença e o adversário estar segurando o jogo e 52,6% errar tiros de 7m em momentos decisivos e estar perdendo para uma equipe tecnicamente inferior.

    Bardi et.al. (1999), quando analisaram a interferência dos estados emocionais em atletas verificaram que, 73% temiam brigas entre torcidas, 68% conheciam ou já sentiram depressão, 58% estavam ansiosos, 46% que a mídia esportiva interferia no estado emocional, 73% gostavam da modalidade que praticavam e 59% não tinha acompanhamento psicológico.

    De Rose Jr., Deschamps e Korsakas (2001), quando estudaram as situações causadores de stress extracompetitivos em 19 atletas de alto nível (10 homens e 9 mulheres) com idades entre 23 e 38 anos, constataram que das 126 situações causadoras de stress somente 12 estavam relacionadas a aspectos extracompetitivos, ou seja, relacionamentos (7 situações), gerais (2 situações) e sociais (3 situações). Isto mostrou que neste estudo as situações extracompetitivas não diminuiu o impacto das mesmas no desempenho esportivo destes atletas.

    Outro estudo sobre tensões psicológicas realizado por Bardi et.al (2000), com 158 esportistas juvenis (17 a 19 anos), identificou que, 73% dos pesquisados não adotavam preparação psicológica por desconhecimento e 12% eram adeptos de mentalização e relaxamento.

    Machado et. al. (2001) quando investigaram 563 atletas de diversas modalidades sobre procedimentos de atletas que sofreram lesões desportivas e tiveram recuperação psicológica, constataram que as desordens psicológicas causadas pelo desgaste físico (luxações, entorses fraturas expostas, cortes, escoriações e hematomas) são situações colocadas em segundo plano.

    Já De Rose Jr., Deschamps e Korsakas (2001), quando estudaram o jogo de basquetebol como fonte de stress em 136 jogadores infanto-juvenis (61 moças e 75 rapazes) comprovaram que a média do nível de stress ultrapassava os 50%, ou seja, o valor atribuído pelas moças (2,68) foi maior para cada situação em relação aos rapazes (2,61) em uma escala que variava de 0 a 5 pontos.


Psicologia do Esporte

    Weinberg e Gould (2001), afirmam que a Psicologia do Esporte (PE) é mundialmente desenvolvida e sua história vem sendo construída desde 1895 até os dias atuais, tanto como área de concentração acadêmica quanto como profissão.

    Segundo Fonseca (2001), os autores que estudam sua a história são unânimes em reconhecer que sua evolução se verificou em 1965, com a realização do I Congresso Mundial de PE, em Roma, e que, nos últimos anos surgiram inúmeras associações científicas e/ou profissionais de investigação no mundo.

    Para Cillo (2002), a PE também já tem percurso e história consideráveis, ou seja, nas décadas de 60 e 70 começou a receber maior atenção e organização, tanto na Europa como na América do Norte. No Brasil, tivemos produção nas mesmas décadas com trabalhos aplicados no futebol, porém foi na década de 90 que ela começou a obter maiores investimentos, reconhecimento social e acadêmico.

    Martin e Tkachuk (2001) quando falam sobre a PE, dizem que ela utiliza-se de técnicas e princípios da análise do comportamento para melhorar o desempenho e satisfação de atletas e demais indivíduos envolvidos com esporte.

    Já Samulski (2002), Weinberg e Gould (2001), Fonseca (2001) e Machado (1997), vão mais além, dizendo que ela é uma ciência que estuda o comportamento de pessoas no contexto do esporte, dos exercícios físicos, das atividades físicas, bem como, dos envolvidos em movimentos de recreação e lazer e a aplicação prática desse conhecimento.

    Samulski (2002) quando fala sobre as áreas que fundamentam a PE, faz uma relação entre três áreas:

  • Psicologia - em virtude de ter que recorrer a teorias e métodos psicofisiológicos que melhor se adaptem a situações esportivas específicas;

  • Ciência do esporte - estabelecendo uma relação interdisciplinar com a medicina do esporte, sociologia do esporte, teoria do treinamento e aprendizagem motora;

  • Prática esportiva - mediante ao fato de que a psicologia necessita do esporte para comprovar suas teorias e para poder aplicar seus métodos.

    Martin e Tkachuk (2001), quando apresentam um sumário de pesquisas publicadas em PE durante um período de 20 anos (1977-1997), identificaram que elas atendiam aos seguintes requisitos: a) delineamento de sujeito único, b) apresentação de dados individuais ao longo de sessões de observação, c) relato de uma concordância aceitável entre observadores e d) clara demonstração de efeito do tratamento. Também mostraram que, dos 21 pesquisadores analisados, a média de participantes que desenvolviam treinamento mental x treinamento físico, era aproximadamente de 6 participantes.

    Scala (2001), quando descreve sobre os objetivos da análise comportamental no esporte, aponta para dois objetivos:

  • promoção de saúde - ajudar o atleta a saber porque escolheu determinado esporte e quais seus objetivos com ele, pois para esta autora, a medida que o atleta cria esta consciência, adquire mais condições de prever e controlar seu comportamento;

  • melhora do rendimento esportivo - através de planejamento (estabelecer contingências), trabalhos de propriocepção (sentir o próprio corpo), técnicas de concentração (focar-se no objetivo), preparar o corpo para lidar com situações de ansiedade e ativação, relaxamento (controlar o corpo, aliviar tensões e recuperar a energia) e treinos de visualização (facilitar a aquisição e retenção de habilidade motora), comunicação (facilitar a relação entre as pessoas), relações interpessoais e liderança (organização do grupo na resolução de problemas).

    Samulski (2002), Weinberg e Gould (2001), Fonseca (2001) e Machado (1997), esclarecem que seus objetivos visam entender e analisar como os fatores psicológicos se modificam e afetam o desempenho físico de uma pessoa no esporte (ações esportivas) e nos exercícios (saúde, qualidade de vida e bem-estar).

    Fonseca (2001), quando indica os traços gerais da PE, demonstra que além dos fatores citados acima, o estudo da personalidade vem despertado cada vez menos interesse ao longo dos tempos.

    Indo ao encontro destes esclarecimentos, Schmitt (2001), quando fala sobre o compromisso social da Psicologia na PE, esclarece que para que o atleta possa atingir a performance com saúde e menos alienação, torna-se importante considerar o ser humano como ser criador, autônomo, ativo, pois para esta autora, não é coerente trabalhar num processo de alienação e depois contratar um psicólogo para resolver os problemas causados pelo treinamento, é preciso intervir.

    Já Fonseca (2001), diz que preocupar-se com PE consiste no reforço da qualidade dos programas de formação de treinadores e dirigentes desportivos, pois não adianta investir apenas nos psicólogos se o sistema não estiver preparado para extrair o máximo possível.

    Tendo em vista que a PE no Brasil possui alguns obstáculos e dificuldades a serem superados para se consolidar como uma forma de compromisso social no contexto do esporte, dificuldades na aplicação de métodos, técnicas e procedimentos que dêem sustentabilidade para pesquisas e, que, a efetividade de psicólogos em equipes, clubes, comissões técnicas ainda é uma barreira, Cillo (2002) e Samulski (2002), afirmam que é preciso ter um maior rigor metodológico na avaliação das intervenções na prática do esporte (aplicação de teorias e métodos), para que se possa avaliar melhor (comprovação de sua utilidade) e analisar os efeitos das técnicas aplicadas para não convertê-la em uma psicologia que simplifica todos os fenômenos.


Objetivos

    Esta pesquisa surgiu da necessidade de se elaborar uma proposta que pudesse dar suporte cognitivo para atletas que praticam esporte de rendimento , dentro do âmbito pessoal e profissional e, que especificamente, trabalhasse de forma prática, diferenciada e inovadora, ajudando-os a superar suas dificuldades (Proposta de Auxílio Cognitivo - PAC).

    Outros fatores que fizeram com que desenvolvêssemos esta pesquisa foram:

  1. auxiliar no desenvolvimento de novos estudos, focando no desenvolvimento das individualidades biológicas de cada atleta;

  2. fosse realizada de forma prática, que não somente ficasse centrada na terapia realizada em consultório;

  3. ajudasse o atleta a ter mais autocontrole sobre suas habilidades, podendo assim, gerenciar seu próprio conhecimento, comportamento e tomar decisões;

  4. pudesse ser realizada dentro e fora dos locais de competição;

  5. auxiliasse o atleta no contexto psicológico tentando deixá-lo mais centrado nas suas decisões pessoais e profissionais.


Metodologia

    O presente estudo caracterizou-se como sendo do tipo pesquisa-ação, ou seja, é um tipo de pesquisa social com base empírica em estreita associação com uma ação, ou com a resolução de um problema coletivo, no qual, pesquisadores e participantes estão envolvidos de modo cooperativo e participativo (Thiollent, 1985).


Proposta de Auxílio Cognitivo (PAC)

    É uma forma de intervenção que se utiliza da técnica expositiva-dialógica (discussão), desenvolvida em três etapas: antes, intervenção e após, através de sessões individuais de 30 a 60 minutos com atletas de esporte rendimento, sendo desenvolvida dentro e fora dos próprios locais de treinos e competições.

    A base desta proposta segue o que propõe Morin (2000, p. 22), ou seja, "quanto mais desenvolvida é a inteligência geral, maior é a sua capacidade de tratar problemas especiais. A educação deve favorecer a aptidão natural da mente para colocar e resolver problemas e, correlativamente, estimular o pleno emprego da inteligência geral".

    Morin (2000) quando fala sobre os saberes da educação, aponta que o ser humano é a um só tempo físico, biológico, psíquico, cultural, social e histórico. Portanto, não devemos desintegrá-lo, mas sim, restaurá-lo de modo que cada um, onde quer que se encontre, tome conhecimento e consciência de sua identidade complexa e de sua identidade comum a todos os outros humanos, pois todas as percepções são traduções e reconstruções cerebrais com base em estímulos ou sinais captados e codificados pelos sentidos, sendo projetados pelos nossos desejos ou medos e as perturbações mentais trazidas por nossas emoções multiplicam os riscos de erro.

    Este processo, segundo esse autor, se dá pela interação de duas categorias: a) cultura - constituída pelo conjunto dos saberes, fazeres, regras, normas, proibições, estratégias, crenças, idéias, valores, mitos, acumulando em si, o que é conservado, transmitido, aprendido, e comporta normas e princípios de aquisição e b) vivendo em sociedade - que garantem a realização dos indivíduos, controlando sua existência e mantendo a complexidade psicológica e social.

    Outra fonte que serviu de base foi o desenvolvimento da categoria superação, ou seja, Silva e Rubio (2003), definem-a como uma característica inerente do esporte, sendo um termo recorrente na história de vida dos atletas, podendo ser encontrada em seus discursos mostrando a importância da persistência, preservação e busca por caminhos alternativos às dificuldades impostas ao longo da carreira para construir uma trajetória vitoriosa.

    Portanto, para estas autoras (...) "a superação se traduz na manutenção do desejo, na esperança de sua realização e na ação para a sua viabilização, e é esse conjunto de atitudes que levará o atleta a superar-se, cumprindo a função social de elemento de projeção por parte daqueles que buscam realizar esse tipo de sonho" (p.75).

    Com isto, esta proposta está focada no resgate das experiências vivenciadas pelos atletas dentro e fora do contexto esportivo, buscando gerar uma discussão acerca de quatro elementos conceituais (superação, potência interativa, concentração e promoção humana) analisando através de uma escala de pontos a potência interativa (estado de potência) de um ou mais atletas como pode ser visualizado abaixo:

Quadro 1. Definição dos elementos conceituais



Figura 1 - Esquema da Proposta de Auxílio Cognitivo - PAC

    Para desenvolvimento deste trabalho, criou-se uma Escala Interativa (EI) centrada nas dimensões da potência interativa (físico, mental, social, espiritual e moral) que deve ser explicada ao atleta antes de iniciar a intervenção, como pode ser observado no Quadro 2.

    Após o entendimento deste procedimento, o atleta deverá fazer sua própria avaliação através da EI, procurando demonstrar como está o seu estado de potência, ou seja, um estado que o direciona para um processo de ação, reflexão e ação.

Quadro 2. Definição das dimensões da EI

    Esta EI é constituída das cinco dimensões da Potência Interativa, mencionada anteriormente, que tem como pontuação máxima 50 pontos em virtude desta receber uma pontuação que varia de 0 a 10 pontos, como pode ser observado no Quadro 3.

Quadro 3. Demonstração da Escala Interativa (EI)


Análise da Escala Interativa

    Para realizar a análise da EI, após sua aplicação, o pesquisador deve verificar o total de pontos atribuídos pelo atleta em cada dimensão para ter parâmetro de como está o seu estado de potência naquele momento e, após a intervenção, deverá realizar o mesmo procedimento para poder comparar e verificar quais os efeitos da PAC.


Forma de Trabalho

    Após a elaboração desta PAC, realizou-se uma pesquisa com três atletas, com a finalidade de avaliar a proposta a partir da percepção destes atletas.

    No que se referiu ao consentimento dos participantes, foi firmado acordo verbal confirmando que todos estavam cientes de sua participação neste estudo, bem como, houve autorização para publicação dos dados obtidos nesta pesquisa.

    Para o desenvolvimento da PAC, adotou-se como forma de trabalho, as seguintes etapas:

Quadro 5. Descrição da forma de trabalho utilizada com os atletas


Característica dos participantes

a. Atletismo - 22 anos, 68 kg, 1,86 m, 8 anos de experiência e que participava da prova de marcha atlética (10 e 20 Km).

  • Tempo de intervenção - 7 meses.

b. Voleibol - 24 anos, 96 Kg, 1,96 m, 5 anos de experiência e que jogava na posição de ponta.

  • Tempo de intervenção - 5 meses.

c. Taekwon-do - 25 anos, 82 Kg, 1,85 m, 8 anos de experiência e que estava no grau de I Dan.

  • Tempo de intervenção - 3 meses.


Resultados e discussão

    A análise dos resultados Tabela 1, foi realizada através do total de pontos atribuído em cada dimensão por atleta e após comparado entre as duas etapas (antes e depois), chegando-se a assim, a diferença em pontos após a intervenção. Outro fator importante encontrado foi analisar o total de pontos atribuído na EI por modalidade nos dois períodos com o objetivo de verificar a evolução do trabalho.

Tabela I. Resultado da Escala Interativa (EI) realizada pelos atletas


Dif - Diferença em pontos após a intervenção
* Dimensões que mais se destacaram

    No que se referiu a evolução do estado de potência do atleta de atletismo, percebeu-se as seguintes mudanças:

Quadro 7. Análise das características apresentadas pelo atleta de Atletismo antes da intervenção

Quadro 8. Análise das características apresentadas pelo atleta de Atletismo após a intervenção

     Este aumento na pontuação, em média (5,7 pontos) por dimensão, pode ser relacionado devido a sua dedicação máxima nos treinos (aproximadamente 2 horas/dia), por uma maior conscientização corporal, pela busca por melhores resultados nas competições e torneios em que disputou, força de vontade em superar a dificuldade financeira, conquistar um lugar de destaque no cenário esportivo, melhor interação com os colegas de equipe e por passar a desenvolver técnicas de concentração antes, durante e após os treinos, bem como nas competições.

     No que se referiu ao atleta de voleibol, percebeu-se as seguintes mudanças:

Quadro 9. Análise das características apresentadas pelo atleta de Voleibol antes da intervenção

Quadro 10. Análise das características apresentadas pelo atleta de Voleibol após a intervenção

    Neste caso, os valores não foram altos se comparado com o anterior, em média (1,9 pontos) por dimensão. Isto pode ser esclarecido devido a infra-estrutura que a sua equipe possuía, do bom salário que recebia como atleta, da moradia, da boa relação que passou a ter com os seus colegas de equipe, da facilidade que começou a ter em fazer amizades, da importância que ele tinha dado para a equipe nas competições que disputava, do marketing que a equipe desenvolvia no cenário esportivo e do grau de importância que a equipe passou a possuir nas competições que estava participando.

    Já com relação ao atleta de Taekwon-do, notou-se que:

Quadro 11. Análise das características apresentadas pelo atleta de Taekwon-do antes da intervenção

Quadro 12. Análise das características apresentadas pelo atleta de Taekwon-do após a intervenção

    Estas melhoras nas pontuações, em média (2,4 pontos) por dimensão, ocorreu devido ao desempenho máximo que submeteu-se, dedicação e disciplina no tratamento e vontade de competir mesmo machucado. Acredita-se que sua pontuação poderia ter sido maior, se não fosse a lesão na coxa nas vésperas do Campeonato Mundial.

    Após esta análise em cada atleta, conseguiu-se perceber Tabela 2, que as dimensões que mais se destacaram foram a espiritual com uma média de (4,5 pontos) e a moral, com uma média de (6,3 pontos). Isto pode inferir, ou seja, deduzir que os atletas realmente precisavam deste tipo de intervenção.

Tabela II. Comparativo dos efeitos da Intervenção


* Dimensões que mais se destacaram

    Como pode ser observado na Tabela 2, antes, segundo a média de percepção dada pelos atletas, ficou estimada em (5,46 pontos), onde a dimensão social foi a que apresentou maior pontuação (7 pontos), precedida da dimensão física (6,83 pontos), mental (6 pontos), espiritual (4,5 pontos) e moral (3 pontos), demonstrando que as dimensões (moral e espiritual) deveriam ser as mais exploradas no desenvolvimento do trabalho.

    Já após, a média de todas as dimensões melhoraram, ou seja, subiu para (8,79 pontos), onde a dimensão social atingiu a pontuação máxima (9,83 pontos), precedida da dimensão moral (9,3 pontos), mental (9,16 pontos), espiritual (9 pontos) e física (-6,66 pontos). Esta última, segundo a percepção do atleta de Taekwon-do, pode ser explicada pela lesão ocorrida na coxa, antes e após a competição do Mundial.

    Cabe ressaltar que estas melhoras nas pontuações, segundo a percepção dos atletas, pode estar associada à dedicação e disciplina que estes se propuseram a passar, em virtude das sessões realizadas (dentro e fora do contexto esportivo), do convívio e, principalmente, pela confiança no trabalho realizado.


Conclusão

     Após o desenvolvimento desta pesquisa, conseguiu-se perceber que, todos os atletas melhoraram seus resultados (estado de potência) com exceção do atleta de Taekwon-do no que se referiu a dimensão física.

    Conseguiu-se identificar como ocorreu a evolução da intervenção, ou seja, percebeu-se por onde começou o ciclo da mudança do estado de potência através das percepções apontadas pelos atletas, bem como, notou-se que a resposta dada perante a proposta variou de indivíduo para indivíduo.

    Verificou-se que as dimensões que mais se destacaram foram a espiritual e a moral, mostrando que estas podem ser categorias importantes a serem observadas, exploradas e valorizadas na utilização desta PAC.

    Percebeu-se que a PAC pode ser mais uma forma de intervenção a ser utilizada como auxílio na performance de atletas, bem como, apontar que esta proposta necessita de mais pesquisas, para que se possa realmente incluí-lo como um modelo, método, técnica ou procedimento no contexto esportivo.

    Ficou evidente que é de extrema importância, dar suporte psicológico para o atleta juntamente com sua equipe, para que se possa desenvolver uma boa competição, bem como, tenha sucesso pessoal e profissional.

    Observou-se que havia de fato a necessidade desse tipo de intervenção, pois sabemos que na maioria das vezes é desprezada por clubes, comissão técnica, técnicos e até mesmos atletas. Acredita-se que muitas vezes possa ser notado pelo desconhecimento e/ou falta da importância comprovada.

    Notou-se como é importante este tipo de acompanhamento em todos os períodos de treinos, uma vez que, os trabalhos desenvolvidos na maioria das vezes estão voltados para o rendimento físico durante a competição.

    Percebeu-se que trabalhos com este enfoque, devem estar presentes cotidianamente no planejamento dos treinamentos, que as sessões de trabalho sejam realizadas no próprio ambiente desportivo para se ter noção da realidade de cada atleta e saber qual a cultura esportiva adotada por seu clube.

    Outro fator que pode ser apontado, seria a análise das categorias superação, concentração, e promoção humana através de outras escalas como uma forma de aperfeiçoamento da própria PAC, que esta poderia ser mais uma fonte de estudos do comportamento humano, principalmente no contexto esportivo, pois na maioria das vezes estas são algumas das fontes de energia adotadas pelos atletas na busca de vencer seus obstáculos, dificuldades e desafios.

    Seria interessante que cada equipe tivesse um psicólogo, e que este pudesse atuar de forma permanente em todas as situações esportivas, ou seja, fizesse parte da comissão técnica das equipes nos jogos, competições e amistosos.

     Cabe destacar também, que não se faz necessário somente tentar aplicar e desenvolver um conhecimento e/ou teoria com atletas, mas sim, adaptá-la a realidade na qual este está inserido levando em consideração sua cultura de origem e nível de conhecimento, tentando assim, discutir qual a melhor forma de desenvolver esta intervenção.

    Uma variável importante a ser apontada no sucesso do trabalho foi a confiança atribuída na realização das intervenções, mostrando que um trabalho realizado com competência e ética é a base para qualquer compromisso social.


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revista digital · Año 10 · N° 84 | Buenos Aires, Mayo 2005  
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