Estudo do perfil dos municípios do estado de São Paulo sobre escolas de iniciação esportiva, competição e participação em jogos regionais e abertos
Study of the profile of cities of the state of Sao Paulo concerning the existence of initiation sportive schools, competition teams and participation in regional and open games |
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Laboratório de Avaliação Postural e Eletromiografia - DCE Faculdade de Educação Física - Unicamp - Campinas/SP (Brasil) |
Antonia Dalla Pria Bankoff Carlos Aparecido Zamai Ademir Schmidt | Paula Ciol Carla De Jesus Almeidan | Luciana David Daniela Miguel Crivelli cazamai@fef.unicamp.br |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 84 - Mayo de 2005 |
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Introdução
A reflexão sobre nossa cultura corporal, principalmente em relação aos jogos e ao esporte, remete-nos ao processo histórico no que diz respeito ao confronto de interesse dentro da sociedade. E para termos uma abordagem sobre as inter-relações do jogo e do esporte é preciso traçar esse esboço histórico que vem antes do processo industrial e que influenciou as dimensões sociais atuais, abafando o lúdico em determinadas situações e enaltecendo o trabalho competitivo em outras.
Na sociedade pré-industrial, trabalho e lazer não eram excludentes. As atividades de produção e trabalho misturavam-se com jogos, canções e danças (Bruhns, 1996). Os jogos estavam presentes em muitas atividades sociais da época. E o lúdico, por conseguinte, manifestava-se como auxiliador na manutenção da ordem social de uma comunidade.
Entretanto, com o advento da revolução industrial, outras prioridades foram aparecendo, entre elas o trabalho sistematizado que sugava o jogo lúdico dando lugar ao crescimento econômico. Paralelamente, um fenômeno surge rapidamente: o esporte moderno, que passa a ser mais coerente com a nova ordem voltada ao trabalho, não deixando espaço para o antigo jogo lúdico. Este vem mostrar-se subversivo, apresentando-se improdutivo numa sociedade onde valores dominantes voltam-se para a produção e o consumo (BRUHNS, 1996).
O desenvolvimento do ser humano começa com os Jogos Funcionais que são observáveis nos bebês e são meros exercícios das funções como, por exemplo, estender e recolher os braços e pernas, balbuciar sons incompreensíveis, agitar os dedos, tocar objetos ou movimentar a cabeça (Leil e Brunelle, 1978). Desta forma, segundo Eigem e Winkler (1989) não foi o homem que inventou o jogo, mas é o jogo que o torna completo.
Nesse contexto, pode-se observar que os jogos podem ocorrer em qualquer momento, lugar, classe social e em qualquer idade. São elementos que se inserem no chamado universo lúdico e trazem sempre uma promessa de prazer (Trevisan e Gomes, 1999). O jogo também faz emergir com intensidade a fantasia, a imaginação, a liberdade que alça vôo no imaginário vivido e que remete ao homem possibilidades novas de melhor compreender-se como ser que se constrói permanentemente na sua relação com o mundo (RETONDAR, 1999).
Assim sendo, o jogo torna-se um acompanhamento, uma parte integrante da vida, ornamentando-a e ampliando-a como contribuição vital para o convívio em sociedade, devido ao sentido que encerra, à sua significação, seu valor expressivo, suas associações espirituais e sociais; em resumo, como função cultural (HUIZINGA, 1980).
No universo infantil, os Jogos Tradicionais, que são jogos de domínio público, evoluíram ao longo dos séculos, e elevam a criança a um ideal de vida, ao trabalho, ao bem, ao dever, e é a única atmosfera na qual seu ser psicológico pode respirar e, conseqüentemente, agir. A criança é um ser que brinca/joga e nada mais. É pelo jogo que cresce sua alma e sua inteligência (CHATEAU, 1987).
Na adolescência surge o jogo como desafio e a competitividade de uma forma nunca apresentada até então. A iniciação esportiva e logo, os Jogos Esportivos como o futebol, voleibol, basquetebol, handebol entre outros, são considerados bons exemplos de competição, que seguirá o homem ao longo de sua vida.
Para Pozzobon (2000) os jogos esportivos exigem o conhecimento de regras específicas e de treinamento e podem ser ensinados de duas maneiras: tradicional e modificada. Os Jogos Esportivos Tradicionais orientam para o desenvolvimento da competência técnica, trabalhando separadamente a habilidade técnica escolhida. A esse modelo, desenvolvido por Read em 1988, dá-se o nome de modelo isolado, por basear-se na execução repetida de habilidades técnicas específicas, sem se preocupar em engajá-las e manejá-las dentro das exigências do jogo.
Já os Jogos Esportivos Modificados são um modelo alternativo, desenvolvido por Bunker e Thorpe (1982), no qual baseia-se na abordagem da compreensão de jogos. O ensino progride através da tática de jogo ao invés das habilidades técnicas esportivas, em considerações e argumentos táticos, no qual os jogadores reconhecem que os jogos podem ser interessantes e agradáveis quando auxiliados e encorajados a tomar decisões corretas baseados na consciência tática. A consciência tática é definida por Mitchell et al., (1994) como a habilidade para identificar os problemas que apresenta um jogo que está em progresso e selecionar as habilidades técnicas para resolver esses problemas.
Para Almond (1983); Almond e Waring (1992) a abordagem dos jogos esportivos modificados oferecem oportunidades reais para as crianças conceberem e desenvolverem seus próprios jogos. Pois neste modelo os jogadores constroem algo que é seu, envolvem-se em seu próprio aprendizado, compartilham idéias, trabalham de maneira cooperativa e naturalmente descobrem por que as regras são importantes num jogo e a que propósito elas servem. Portanto, tornam-se jogadores habilidosos, responsáveis por seu próprio currículo.
E são justamente esses jogadores que participarão de eventos competitivos como os JEB 's - Jogos Escolares Brasileiros que reúnem escolas das redes públicas e particulares de ensino de praticamente todos os estados brasileiros. Com a realização dos JEB's cria-se à possibilidade da inclusão desses jogadores nos Jogos Regionais, de acordo com cada modalidade, categoria e sexo.
Segundo Rubinstein, citado por Faria (1996), o jogo torna-se filho do trabalho e como tal ele reproduz as formas de atividade laboral em que o elemento jogo foi perdido. Assim sendo, o esporte vem trazer uma nova perspectiva de atividade motora de uma forma competitiva condizente com a sociedade industrial em que vivemos. As competições esportivas agora fazem parte de nosso cotidiano, e cada vez mais trazem inúmeras conquistas e desilusões. O jogo puro realizado com o intuito de comemoração, divertimento e até de uma sociabilização dá lugar, na grande maioria das vezes, aos campeonatos regionais, estaduais, nacionais e mundiais que privilegiam o esporte altamente competitivo e que reúne milhares de espectadores todos os anos. É o fenômeno esportivo que agora gera grande parte de nossas atividades sociais.
A exemplo deste fato estão os campeonatos realizados entre municípios de cada estado como os Jogos Regionais, que são disputados em várias modalidades esportivas entre municípios divididos em regiões específicas e que também são classificatórios para os Jogos Abertos do Interior, campeonato de grande importância, pois leva o município ganhador a um status da superioridade da prática social com primazia ao esporte. O surgimento dos Jogos Abertos realizados anualmente se deve ao aumento no número de municípios participantes e das modalidades esportivas, além de poder proporcionar o desenvolvimento da prática esportiva dos municípios do estado (JOGOS ABERTOS DO INTERIOR, 2000).
Para assegurar a participação nessa competição disputada em duas categorias: até vinte e um anos e livre, é necessário que os municípios cumpram algumas exigências (Jogos Abertos do Interior, 2000). São elas:
Ter participado dos jogos regionais na modalidade, categoria e sexo;
Não ter sido eliminado ou desclassificado pela Coordenadoria de Esportes e Recreação;
Ter se inscrito na modalidade esportiva mesmo que esta não tenha sido realizada por falta de participantes;
O município que irá sediar os Jogos Abertos tem sua participação assegurada em todas as modalidades independente de sua classificação;
O município poderá participar com uma única equipe em cada modalidade, categoria e sexo.
Esses eventos, segundo o regulamento dos Jogos Abertos do Interior (2000) têm por finalidade desportiva e social difundir o esporte, bem como realizar a confraternização entre os desportistas dos municípios e estimular na população a necessidade das práticas esportivas. O esporte de alto rendimento cria cada vez mais um espaço abrangente e com ele, traz a preocupação mais voltada para a quantidade de conquistas que um município pode conseguir, ao invés da qualidade que um ser humano pode adquirir praticando essas atividades motoras.
O corpo passa a ser uma máquina submissa às leis do rendimento. E em contrapartida, os "jogadores" ficam à mercê de alcançar tais metas não só por uma superação pessoal, mas essencialmente por trazer consigo a vitória que deve ser conquistada a qualquer custo.
Dessa forma, é preciso analisar até que ponto tais campeonatos são realmente uma prática de socialização de uma comunidade, ou se são meros redutos aristocráticos buscando um crescimento econômico e social usando o esporte para atingir este fim. Ou seja, será que a prática esportiva nesses campeonatos privilegia todos os seus participantes em relação à igualdade de oportunidades, principalmente no âmbito financeiro e tecnológico? Ou será que existe uma hierarquia na qual quanto maior o município mais vantagens ele terá?
Este estudo teve como objetivo principal estudar a realidade sobre a existência de escolas de iniciação esportiva, equipes de competição, participação em jogos regionais e abertos, bem como, a participação média em modalidades nos respectivos jogos dos 645 municípios do Estado de São Paulo.
Material e métodoA Pesquisa
A pesquisa foi desenvolvida no Estado de São Paulo, marcando assim, uma experiência inédita dando-nos a oportunidade de estudar questões relativas ao esporte no referido Estado com seus 645 municípios, através da Faculdade de Educação Física da Unicamp, em parceria com a Secretaria de Esporte do Estado de São Paulo.
Para o desenvolvimento da pesquisa utilizou-se um questionário como instrumento de coleta de dados contendo perguntas abertas e fechadas sobre esporte, lazer e turismo nos municípios do Estado de São Paulo, seguindo Lakatos e Marconi (1995), onde as perguntas são respondidas por escrito e sem a presença do entrevistador.
Inicialmente, foi estabelecido um contato por telefone com o Secretário de Esportes das Prefeituras dos Municípios sobre o objetivo e a importância da pesquisa. Após este contato, os questionários foram enviados às prefeituras dos 645 municípios do Estado de São Paulo, através de correspondência simples pelo correio endereçadas aos Secretários de Esportes de cada Prefeitura. Colocou-se à disposição das prefeituras uma pessoa treinada para esclarecer quaisquer dúvidas no preenchimento do questionário por via telefônica, além de uma carta explicando a natureza da pesquisa, sua importância e a necessidade de obter respostas. Foi estabelecido um prazo de trinta dias para a devolução do questionário, sendo que o mesmo, após ter sido preenchido, poderia ser devolvido pelo correio ou por fax.
De posse dos questionários respondidos pelas Prefeituras Municipais, iniciou-se o processo de tabulação e análise dos resultados.
Análise e discussão dos resultadosDos dados obtidos do questionário, neste trabalho utilizamos apenas uma parte. Estes foram tabulados e dispostos em quatro figuras, verificando existência de escolinhas de iniciação esportiva, existência de equipes de competição, número de equipes participantes nos Jogos Regionais e Abertos e média da participação em modalidades. Para melhor entendimento e compreensão os municípios foram organizados e distribuídos em grupos de acordo com o número de habitantes, como mostra a Tabela 1.
Como procedimento para a análise e discussão dos resultados da pesquisa, optamos por discutir cada figura separadamente logo após a sua apresentação.
Tabela 1. Distribuição do número de municípios participantes da pesquisa e do número dos municípios que responderam.
Conforme ilustra a tabela 1, evidencia-se claramente que o número maior de municípios incluídos neste estudo encontra-se nos grupos A e B, respectivamente 0 a 10 mil e 10 mil e um a 30 mil habitantes totalizando 479 municípios que participaram da pesquisa e num total de 307 municípios que responderam, muito embora, nos demais grupos (C,D,E e F), o número de municípios seja bem menor, quando comparados com os grupos A e B, a relação entre o número de municípios participantes aos que responderam foi maior, por exemplo destacamos aqui o sucesso da pesquisa nos grupos F e D os quais responderam 100% dos questionários.
Figura 1. Existência de Escolinhas de Iniciação Esportiva.
A figura 1 mostra a existência de Escolinhas de Iniciação Esportiva de acordo com os grupos por habitantes. Os grupos A, B e C, de acordo com os resultados, possuem escolinhas de iniciação esportiva, sendo estas mantidas no grupo A= 90% , B= 77% e C= 70% pelas próprias prefeituras, ou seja, são escolinhas públicas. É interessante observar que a partir dos grupos D, E e F a porcentagem de escolinhas de iniciação esportiva mantida pelas prefeituras é quase a mesma das particulares, e à medida que o número de habitantes aumenta, a proporção de escolinhas de iniciação esportiva públicas mantidas pelas prefeituras diminui, quando comparado com os municípios dos grupos A, B e C, aumentando o número de escolinhas de iniciação esportiva particulares. Mesmo assim, considerando o número de habitantes dos grupos D, E e F este número é considerado baixo, levando em consideração a importância das escolinhas de iniciação esportiva nos âmbitos sociais, e esportivo para a criança e também para o município.
Figura 2. Existência de Equipes de Competição.
A figura 2 mostra a existência de equipes de competição e o número de modalidades esportivas praticadas pelos municípios, o que acredita-se ser fruto das escolinhas de iniciação esportiva, observada anteriormente no gráfico 1. Observando esta figura (2) verificamos que os grupos, especificamente A e B possuem número significativo de equipes, porém, os números de modalidades esportivas praticadas não chegam a 04 modalidades. É interessante que nas respostas as modalidades atletismo, ginásticas em geral e outras nem são citadas. Já os grupos C e D, embora todos os municípios possuem equipes, continua sendo muito baixo o número de modalidades desportivas praticadas, especificamente os resultados do grupo D, organizado em até 100 mil habitantes, demonstrando apenas 5,4 modalidades praticadas. Nos grupos E e F, também, todos os municípios possuem equipes e as modalidades de competição praticadas chegam a ser quase o dobro, quando comparadas com outros grupos.
Aqui, vale relembrar as falas de Huizinga (1980) quando declara que o jogo torna-se parte integrante da vida, ornamentando-o e contribuindo para o convívio em sociedade devido ao sentido que encerra. Nesse sentido, seria bastante interessante que os municípios com menos habitantes também pudessem manter o oferecimento do jogo aos seus atletas.
Figura 3. Participação em jogos regionais e abertos.
De acordo com os dados apresentados na figura 03, dos 167 municípios pertencentes ao grupo A, apenas 55 participaram dos jogos regionais e destes, somente 36 foram aos jogos abertos do interior. Do grupo B composto de 140 municípios, um grupo razoável participou dos jogos regionais (119). Por outro lado, um número reduzido de 23 municípios teve acesso aos jogos abertos. Quando estudamos os municípios do grupo C e D, verificamos que 54 e 49 municípios, respectivamente, participaram dos jogos regionais, e 34 e 42 municípios, respectivamente, dos jogos abertos. Para os grupos E e F os números de participantes foram bastante favoráveis tanto nos jogos regionais como nos jogos abertos, destacando-se o grupo F, o qual registrou 100% de seus municípios na participação dos jogos regionais.
Esta figura reflete a desigualdade existente na realização destes jogos (regionais) exatamente por ser regional, sem a preocupação de levar em consideração as questões aqui mostradas através dos resultados.
Essa condição coloca em foco, de novo, a ascensão injusta aos níveis mais elevados do desporto para esses municípios. Gradativamente, eles vão perdendo a oportunidade de ver seu município gerando ou tendo destaque em competições importantes no estado, como é o exemplo dos jogos regionais e abertos. Não obstante, eles ainda devem suportar a idéia de ver seus atletas sendo campeões por outros municípios, atletas estes que iniciaram sua vida desportiva justamente em regiões mais carentes.
Os dados aqui expostos mostram mais uma vez o acesso desigual à prática desportiva, seja ela de caráter público ou privado, e assim, um aspecto bastante curioso levantado por este estudo e que motivou formulação desse artigo é que os próprios objetivos preconizados pelos jogos regionais e abertos do interior que são "coroar o desenvolvimento da prática desportiva dos municípios do Estado de São Paulo" (Jogos Abertos do Interior, 2000), não conseguem atender igualmente todos os municípios do estado. Os objetivos ressaltam ainda "esses eventos têm por finalidade desportiva e social difundir o esporte, bem como realizar a confraternização entre os desportistas dos municípios e estimular na população a necessidade das práticas saudáveis como o esporte" (JOGOS ABERTOS DO INTERIOR, 2000).
Figura 4. Média de participação em modalidades.
A figura 04 ilustra a participação média de modalidades tanto nos jogos regionais quanto nos jogos abertos do interior. De acordo com este, os grupos A e B, respectivamente, 55 e 119 municípios participaram com médias de 3,5 e 3,8 modalidades nos jogos regionais e apenas uma média de 2,5 e 2,6 modalidades foram classificados para os jogos abertos do interior.
A participação média nos grupos C e D aumenta, comparada aos grupos anteriores. Nesses registramos uma participação média de 5,5 e 8 modalidades nos jogos regionais e 3 e 2,5 respectivamente, nos jogos abertos do interior.
O índice mais alto levantado na participação média com modalidades mais uma vez foi constatado nos grupos E e F, municípios com o maior número de habitantes. O grupo E composto de 14 municípios participaram com uma média de 14 modalidades nos jogos regionais e destas 8,5 se classificaram para a competição final que ocorre nos jogos abertos do interior.
Observando os resultados, os jogos abertos do interior do Estado de São Paulo são realizados apenas para os grandes municípios.
No grupo F, municípios com mais de 150 mil habitantes totalizando 33 municípios, a participação média nos jogos regionais foi de 17 modalidades, sendo que destas também 8,5 se classificaram para os abertos.
Outro aspecto curioso e relevante de menção, embora não ilustrado nas figuras aqui apresentadas, mas que também foi constatado em nossa pesquisa, é que as modalidades mais freqüentemente disputadas nos jogos são sempre as mesmas. Percebemos claramente que as modalidades de voleibol, basquetebol, handebol e futebol são predominantes. Quando buscamos levantar a origem dessa situação verificamos que já na iniciação esportiva oferecida pelos municípios, estas são as modalidades que são propostas. A modalidade de atletismo, por exemplo, que não demanda de uma infraestrutura tão dispendiosa não é uma prática difundida e o número de atletas participantes nessa modalidade é bastante inexpressivo. Assim, fica claro que a demanda de participantes em jogos e manutenção de escolinhas de iniciação esportiva, bem como de equipes de treinamento, poderiam ser elevadas se sugestões como essa chegassem até os representantes e dirigentes esportivos de cada município.
Considerando as informações fornecidas pelos 460 municípios e identificadas neste estudo, pode-se inferir que a prática de esportes e respectivas modalidades e sua conseqüente participação em competições regionais e estaduais privilegia apenas os municípios com mais de 50 mil habitantes. No entanto, é importante frisar que esses municípios representam apenas 21,4% dos municípios estudados, ou seja, os outros 78,6% ficam em grande parte desprovidos da possibilidade de participar com igualdade de condições em eventos esportivos como os jogos regionais e jogos abertos do interior oferecidos pelo governo do estado e sediados pelos municípios.
Considerações finaisFicou bastante evidente em nosso estudo que apenas uma minoria de municípios e seus atletas obtêm os privilégios propostos pelo Governo do Estado através da realização dos jogos regionais e jogos abertos do interior.
Com base em nosso estudo, uma possível sugestão para amenizar essa participação desigual nos jogos e sua proposta atual, seria a criação de eventos esportivos específicos para os municípios com menor número de habitantes. Do contrário, esses nunca chegarão a gozar dos mesmos direitos dos municípios mais populosos que conseqüentemente, apresentam maior poder aquisitivo e maior possibilidade de patrocinar as equipes e sua posterior participação em eventos esportivos, sejam eles regionais ou estaduais.
Observando e analisando mais profundamente os resultados apresentados, especificamente sobre os jogos regionais e jogos abertos do interior do Estado de São Paulo, percebe-se claramente uma disputa desigual quanto às inscrições referentes ao número de modalidades esportivas pelos municípios participantes, parece mais uma luta dentro de uma arena entre "Leões e Gatinhos", aqui os Leões, são os municípios que se inscrevem com até 17 modalidades e os Gatinhos são os municípios que se inscrevem com até 03 modalidades por região. Na opinião destes autores, é necessário re-estudar os jogos regionais, quem sabe um projeto piloto que possa acontecer por região, porém, levando em consideração o número de população por município, diminuindo assim estas desigualdades no âmbito do esporte a nível estadual.
Considerando o fato de que somente participam dos jogos abertos os municípios que se classificaram nas modalidades dos jogos regionais, fica bem evidente que os municípios menos populosos e menos favorecidos de verbas para incentivo e prática de esportes, acabam perdendo seus poucos atletas para os demais municípios, ou seja, esses participam dos jogos, mas por outros municípios. Por outro lado, não é possível que o governo do estado e seus representantes na Secretaria de Esportes, não tenham percebido estas desigualdades, no sentido de propor uma modificação quanto a realização dos jogos regionais do Estado de São Paulo.
Como contribuição, propomos aos dirigentes esportivos do Estado de São Paulo a criação e realização de um evento esportivo de natureza regional ou estadual específico para municípios com menos de 50 mil habitantes, minimizando, por exemplo, o acesso desigual e desfavorável à prática esportiva.
A criação desse evento se justifica também pela necessidade do município e cidadão, desde a mais tenra idade, de poder gozar e usufruir os benefícios que o jogo proporciona. O jogo é um elemento que se insere no universo lúdico e traz sempre uma promessa de prazer para quem o pratica. Faz emergir com intensidade a magia, a liberdade possibilitando ao homem compreender-se melhor (TREVISAM e GOMES, 1999; RETONDAR, 1999).
Além dos aspectos abordados no parágrafo anterior, são relevantes de menção a confraternização, sociabilização e difusão que o esporte promove entre os atletas e municípios. Outro aspecto crucial oportunizado pelo acesso a pratica esportiva ou de atividades físicas está relacionada ao âmbito da saúde da população em geral. Por esta e outras razões, o estado não pode deixar de oferecer à sua população oportunidades iguais de tão grande importância.
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revista
digital · Año 10 · N° 84 | Buenos Aires, Mayo 2005 |