Avaliação das características de personalidade de goleiros profissionais |
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*Psicóloga e Aluna Especial do Mestrado em Ciências do Movimento Humano da Universidade do Estado de Santa Catarina, do Centro de Educação Física, Fisioterapia e Desportos (UDESC/CEFID), vinculada ao Laboratório de Psicologia do Esporte e do Exercício - LAPE. ** Docente do Programa de Mestrado em Ciências do Movimento Humano Chefe do Departamento do Curso de Fisioterapia; Coordenador do Laboratório de Psicologia do Esporte e do Exercício - LAPE - CEFID/UDESC. |
Evânea Scopel Alexandro Andrade evaneascopel@ibest.com.br (Brasil) |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 84 - Mayo de 2005 |
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Introdução
O Brasil, que tem seus olhos primordialmente voltados ao futebol, mobiliza recursos financeiros e o que há de mais evoluído em termos de preparação física, técnica, tática e tecnológica, para que seus jogadores extrapolem o limiar de suas performances. Entretanto, apesar da grande ênfase na técnica, sabe-se que as questões emocionais desses atletas só vieram a ser levadas em conta recentemente. Luccas (1998, p. 68) afirma que: "Apesar da Psicologia já possuir uma longa história com os esportes, apenas muito recentemente é que ela tem-se incorporado como ferramenta indispensável à preparação de atletas. Ao menos em nosso país".
Contudo, se nos reportamos aos cursos de graduação de Psicologia, veremos que é dada pouca ou nenhuma atenção para o esporte. De acordo com Epiphanio (1999), assim como Rúbio (1999), os cursos de Psicologia no Brasil não incluem em seu currículo uma disciplina específica de Psicologia no ou do Esporte.
De qualquer modo, dentre as várias possibilidades de atuação que foram sendo organizadas pelo psicólogo que atua no âmbito esportivo, o diagnóstico de perfis individuais e grupais é considerado de fundamental importância para que intervenções posteriores possam ser realizadas de maneira eficaz. Para Brandão (2003), neste perfil é necessário investigar alguns aspectos da personalidade, concentração, estresse, estabilidade emocional (como o atleta reage antes, durante e após as competições), liderança e interação social.
Nesse sentido, para que se pudesse realizar um estudo que contemplasse a avaliação de algumas dessas características, investigou-se, dentro do futebol de campo, a posição de goleiro, visto ser esta uma função diferenciada daquela dos demais integrantes da equipe. Barretto (2003), em suas pesquisas, encontrou entre atletas que ocupam a posição de goleiro uma atitude mais introvertida, assim como Matarazzo (1997), que refere que jogadores de defesa tendem preferencialmente , a esta atitude.
Em alguns acompanhamentos realizados nos treinos, em que a pesquisadora participou, pode-se perceber as peculiaridades da posição deste atleta em relação às demais da equipe. Desde as vestimentas, dos treinos diferenciados e aparentemente mais exaustivos do que os do restante do grupo, até a pouca interação com estes. No entanto, é tarefa difícil encontrar na literatura as características de personalidade de goleiros, tendo em vista que há um número muito reduzido de material bibliográfico, se considerarmos a imensa quantidade de técnicos, preparadores físicos, preparadores de goleiros e médicos que trabalham com o desporto (Viana, 1995).
Para esse autor, a escolha de uma posição em uma equipe de futebol significa assumir responsabilidades. Quando alguém assume a função de goleiro, inúmeras dificuldades devem ser superadas, tais como: os diversos e exaustivos treinamentos, a incompreensão do torcedor diante de uma falha, a necessidade de auto-disciplina, o controle emocional e a solidão.
Esse integrante, de fundamental importância em uma equipe de futebol, treina diária e intensamente e deve estar preparado para entender as críticas da torcida, bem como ser "rigoroso consigo mesmo, disciplinado em suas ações e atitudes dentro e fora do campo, devendo controlar suas emoções utilizando-as adequadamente, a fim de maximizar o nível de seu desempenho" (Viana, 1995, p.11).
Há no esporte, principalmente no futebol, um momento em que toda a responsabilidade está nas mãos de um só atleta e este deve ter a noção de responsabilidade que incide sobre ele. Portanto, para Viana (1998), este jogador deve ter consciência de que "não pode" cometer nenhuma falha, daí a responsabilidade recaída neste integrante da equipe. Quando houver erros técnicos, estes serão mais visíveis e cobrados por torcedores e comissão técnica do que nas outras posições do jogo. Dessa forma, percebe-se que o goleiro tem funções específicas que dizem respeito à sua posição.
Entretanto, essa posição, também tem seus privilégios. A defesa de um pênalti, por exemplo, é um merecimento que cabe exclusivamente a ele, além é claro, de ser, conforme Viana "O único jogador, que na maioria das vezes, pode utilizar as mãos para pegar a bola, em jogo, na área de meta e na área de pênalti, e por isso tem, a seu favor uma considerável vantagem frente aos atacantes contrários" (p. 18).
Para que consiga desempenhar de uma forma adequada suas diversas funções, esse atleta deverá possuir atributos físicos e psicológicos diferentes daqueles indispensáveis aos demais jogadores. Csanádi (apud Viana, 1995) elenca algumas habilidades físicas e psíquicas que considera importantes para a execução adequada dessa função: estatura entre 1.75 a 1.90 m, peso proporcional à altura, força e potência muscular, elasticidade, velocidade de deslocamento, agilidade e resistência geral. Já em relação às habilidades psíquicas, considera que as importantes são: valentia e coragem, tranqüilidade, capacidade de reações múltiplas, força de vontade e confiança.
Tendo em vista estas diferenças, pensou-se, juntamente com a comissão técnica de uma das categorias que integram o Clube, em traçar algumas características de personalidade destes jogadores (goleiros), para que servisse de auxílio ao preparador, no sentido de compreender mais adequadamente o jeito de ser de cada goleiro, e assim poder lidar com cada um de acordo com esta maneira de ser. Sendo assim, é importante salientar que não se faz diagnóstico de características de personalidade de atleta simplesmente por fazer ou porque é solicitação de alguém.
Este deve ter um objetivo tanto para quem é avaliado quanto para quem solicitou este trabalho. Primeiramente, para o avaliado, espera-se que este delineamento de características sirva como um meio de ampliar seu autoconhecimento, no sentido de proporcionar-lhe a conscientização de alguns aspectos que ele, na maioria das vezes, já conhece, ou que ainda desconhece em si mesmo. Para quem solicitou este trabalho, se faz necessário em primeiro lugar a explicação do que compõe esse diagnóstico e para que serve, pois existe uma fantasia por parte de comissões técnicas do que seja este perfil. È imprescindível salientar a eles que o perfil é para ampliar seu conhecimento sobre determinado atleta ou grupo, e em cima das características diagnosticadas, neste caso, de personalidade, procurar lidar com cada qual de acordo com essas características. Dessa forma, indiretamente, atingirão um melhor desempenho, pois cada pessoa prefere ser tratada de acordo com o seu jeito de ser e agir no mundo.
Assim sendo, o presente estudo teve como objetivo identificar as características de personalidade (com base na Teoria Junguiana) de goleiros profissionais que atuam no futebol de campo, investigando também, quais as atitudes e funções psíquicas mais utilizadas por eles.
Dessa forma, espera-se que este pesquisa venha contribuir para o desenvolvimento da Psicologia do Esporte, pois esta é uma área bastante nova que ainda requer muitos estudos e aperfeiçoamentos para estruturar-se em bases sólidas enquanto ciência. Deseja-se que a partir deste trabalho, outros estudos com diferentes modalidades esportivas ou até mesmo com as outras posições dentro do futebol de campo , possam surgir.
MétodoEsta foi uma pesquisa do tipo descritiva exploratória (RUDIO, 1986), pois possibilitou a classificação e interpretação dos dados coletados, sendo estes levantados através de um questionário sem interferência do pesquisador (ANDRADE, 1999), bem como proporcionou maiores informações sobre o assunto em questão, ao mesmo tempo em que abriu novas possibilidades para pesquisas futuras.
Participaram deste estudo 14 goleiros profissionais que disputavam campeonatos regionais, estaduais e nacionais. Estes atletas estavam vinculados a um clube esportivo da cidade de Caxias do Sul (RS). A média de idade ficou em 19 anos (17 a 33 anos) e a carga de treinamento era superior a 15 horas por semana. Além disso, não possuíam outra profissão além do futebol.
Para identificar as características de personalidade e verificar quais as atitudes e funções psíquicas mais utilizadas por esses atletas, utilizou-se o "Questionário de Avaliação Tipológica" (Zacharias, 1994). Este instrumento consta de 102 questões fechadas sobre situações comuns do cotidiano e o atleta deveria escolher uma das duas respostas que lhe eram apresentadas (a , b). Sua escolha deveria refletir o que ele efetivamente faria e não o que gostaria de fazer nestas situações.
O questionário foi aplicado na presença da pesquisadora, que explicou detalhadamente os procedimentos para o preenchimento do instrumento.
Os dados foram tratados com estatística descritiva e os goleiros assinaram um Consentimento Informado, antes do início da testagem , autorizando a utilização dos dados coletados para pesquisas.
Limitação do estudoPor ser utilizado somente um instrumento de avaliação psicológica, os dados aqui apresentados dizem respeito a uma das inúmeras formas de proceder diagnosticamente em uma população esportiva específica. Portanto, as características de personalidades diagnosticadas através deste teste são apenas parte de toda uma dinâmica de funcionamento de personalidade.
Apresentação e discussão dos resultadosGráfico 1. Avaliação tipológica em relação a atitude dos goleiros profissionais
Considerando os dados, verifica-se que o grupo de goleiros profissionais apresenta, de uma maneira geral, a extroversão como a atitude que prevalece. Tendo essa atitude como predominante, pode-se considerar que são jogadores que descarregam suas emoções na medida em que elas surgem, podendo dessa forma agir impulsivamente frente às situações. De acordo com Matarazzo (1997), são atletas que gostam de variedade e ação durante suas atividades e são impacientes com treinos longos e lentos. Também preferem realizar suas tarefas com as outras pessoas, diferentemente dos introvertidos, que realizam suas atividades individualmente. Isso pode ser considerado um ponto favorável do perfil psicológico destes atletas, se levarmos em conta que os treinamentos desses goleiros requerem, para cada fundamento técnico, uma forma diferente de treino, ao mesmo tempo em que necessitam de muita ação para realizá-los, tornando-se, por vezes, trabalhos bastante exaustivos. Além do que, esta atitude promove uma grande sociabilidade, permitindo que a pessoa se sinta bastante à vontade no meio de outras pessoas, no sentido de focalizar sua atenção para o mundo externo das pessoas e coisas, ao contrário dos introvertidos, que dirigem sua atenção para o mundo interno das idéias e da compreensão.
Essa sociabilidade e facilidade de quem utiliza a extroversão enquanto atitude, no trato com as pessoas, é um ponto positivo para quem está na função de goleiro, pois o trabalho que desenvolvem requer a interação com os membros da equipe e da comissão técnica. Tendo em vista que uma das tarefas do goleiro é orientar seus companheiros de equipe, pois é o único jogador que tem a visão geral do posicionamento do time adversário, é importante que tenha uma atitude mais extrovertida para que consiga exercer essa função com maior eficiência, podendo, dessa forma, ajudar seus colegas.
Entretanto, observa-se no gráfico que um número relativo de goleiros apresentou a atitude de introversão no presente estudo. Estes dados corroboram a literatura, uma vez que Barreto (2003), encontrou entre atletas que ocupam a posição de goleiro uma atitude mais introvertida, assim como Matarazzo (1997), que refere que jogadores de defesa tendem, preferencialmente, a esta atitude. Se nos reportamos à posição de goleiro, saberemos que esta se dá de uma maneira mais individualizada, pois interage menos com os demais membros da equipe e seus treinos tendem a ser mais solitários, condizentes com uma atitude introvertida. Dessa forma, os resultados do presente estudo corroboram parcialmente a literatura na área.
Gráfico 2. Avaliação tipológica em relação a função psíquica dominante dos goleiros profissionais
Verifica-se que a sensação predominou, como função psíquica dominante. Isso significa que a maioria dos jogadores recebe a informação do meio através dos órgãos do sentido e observa o que é concreto, pois são muito dependentes do ambiente físico/material, deixando de lado uma atitude mais reflexiva, o que os torna mais práticos que teóricos. Por utilizarem o corpo (órgãos do sentido) para a execução de seu trabalho, pode-se cogitar que a predominância da sensação se dê em função dos treinos que são organizados de forma mecânica, não proporcionando ao atleta a necessidade de refletir sobre o que está treinando, mas sim apenas executar, inúmeras vezes, o fundamento técnico exigido, até que o faça com a maior perfeição possível. Dessa forma, pode-se pensar que os órgãos do sentido estão em constante estimulação, fazendo com que essa função psíquica (sensação) predomine perante as demais. Em relação as suas preferências em situações de treino, Matarazzo (apud Franco, 2000), diz que os sensitivos gostam que sejam mostrados exemplos, de uma maneira simples e prática, do que eles precisam executar em suas atividades, se adaptando facilmente à rotina. Essas são também características importantes que um goleiro deve possuir, pois devido aos constantes treinos, se faz indispensável que o atleta tenha certo grau de tolerância para se adaptar à rotina, tendo em vista que serão sempre os mesmos movimentos que deverá treinar. Assim, mesmo com a predominância da atitude de extroversão entre os goleiros, que os levaria a ser impacientes com treinos longos, detectou-se que eles têm facilidade em se adaptar às rotinas impostas pelos treinamentos e pelas competições, talvez em virtude da função sensação. Essa situação parece ser positiva para esses atletas, em virtude da elevada carga de treinamento, muitas vezes com exercícios repetitivos, e as constantes competições que requerem desses jogadores períodos longos de concentração em hotéis, tornando-se isso, de certa forma, uma rotina. A pressão pelo desempenho ideal também pode ser considerada, além é claro de um fator de estresse, uma constante em suas vidas.
O que a maioria dos goleiros deixou transparecer na análise dos dados foi que a área intuição está sendo pouco explorada. Isso significa que as impressões das situações que vivenciam não são influenciadas pela imaginação, o que no esporte pode acarretar uma falta de criatividade ou de confiança no "sexto sentido". De acordo com Matarazzo (apud Franco 2000), muitas vezes os atletas, na busca da perfeição de um movimento, acabam deixando de lado seus lampejos intuitivos, não valorizando o pressentir de uma jogada que pode vir a acontecer. Esses dados vêm de encontro com os fatos observados pela pesquisadora, durante os treinamentos, uma vez que estes não propiciam tais situações de simulação das jogadas. Se o chute do preparador de goleiros é para esquerda, ele o será até que se mude o fundamento a ser treinado. Dessa forma, o atleta fica condicionado àquele movimento e sua imaginação não é estimulada. Apenas nos jogos simulados entre as equipes é que se reproduzem as situações de jogo "da vida real". Acredita-se que o desenvolvimento balanceado da atitude oposta, neste caso a intuição, seja imprescindível para que se possa executar um trabalho mais integrado.
Gráfico 3. Avaliação tipológica em relação a função psíquica auxiliar dos goleiros profissionais
No que diz respeito à função auxiliar, ou seja, aquela que dá suporte à função dominante, observou-se no presente estudo que a maioria dos atletas utiliza a função pensamento enquanto auxiliar. Isso significa que, apesar de terem uma atitude de extroversão, que proporciona a eles uma preferência por estar com pessoas, uma tendência à sociabilidade, pode ser que esses relacionamentos sejam, por vezes, baseados na razão, suprimindo-se questões ligadas a sentimentos. Até certo ponto isso se torna prejudicial, pois têm uma tendência em querer que os outros sejam tão lógicos e analíticos quanto eles. Isso pode vir a ser um ponto de conflito, visto que, enquanto time, cada qual tem seu jeito peculiar de ser. Por outro lado, sendo pessoas que conseguem valorizar a lógica sobre o sentimento, pode-se supor que em momentos em que a torcida, por exemplo, critica, estes não permitem que a emoção tome conta daquele momento, mantendo a frieza e não alterando seu desempenho. Sendo assim, utilizar o pensamento nestas situações se tornaria um ponto favorável. Entretanto, é importante que possam trabalhar sua função sentimento, pois o desenvolvimento equilibrado das duas funções é que irá permitir uma forma mais adequada de ser e agir no mundo.
Tabela 1. Tipo Psicológico dos goleiros profissionais
No que concerne ao "Tipo Psicológico", a tabela 1 mostra que há a predominância dos tipos "Sensação Introvertida com Pensamento" e "Sensação Extrovertida com Pensamento". Observa-se que as funções dominante e auxiliar são as mesmas nos dois tipos psicológicos, mudando somente a atitude (Introversão e Extroversão), ou seja, a forma de direcionar a energia psíquica é peculiar a cada uma, porém, há uma tendência em serem pessoas que vivem no "aqui-e-agora" e serem intensos na busca incansável pelo prazer, ou seja, vivem o "agora" e pensam depois.
Segundo Zacharias (2000) as pessoas que têm como predominância o tipo psicológico "Sensação Introvertida com Pensamento", caracterizam-se por buscarem atividades que requeiram concentração e grande responsabilidade, ao mesmo tempo em que se dedicam ao trabalho a que se propõem de forma disciplinada e perseverante. Esse autor relata ainda que pessoas com este perfil demonstram interesse em trabalhos práticos nos quais esteja bem claro o quê e como se deve fazer, evitando tudo o que for teórico. Se nos reportamos à posição de goleiro, veremos que essas características são importantes para a função, pois os treinamentos e competições exigem elevada concentração, responsabilidade, disciplina, perseverança e praticidade. Vale ressaltar que uma das dificuldades que esse tipo psicológico enfrenta é a tendência a esperar que as outras pessoas sejam tão lógicas e analíticas quanto eles mesmos, por isso é importante que utilizem sua percepção para compreender os demais, destaca Zacharias (2000).
Em relação ao tipo psicológico "Sensação Extrovertida com Pensamento", caracteriza-se por pessoas que apreciam esportes. De acordo com Zacharias (2000), são tolerantes e se adaptam facilmente às situações. Essa facilidade faz com que muitas vezes as pessoas com as quais convivem adaptem-se também, pois, segundo esse autor, são pessoas que se caracterizam por grande popularidade e por isso suas sugestões e pontos de vista geralmente são ouvidos e seguidos. Tais características também seriam importantes para um goleiro, pois, como dito anteriormente, uma de suas funções é orientar a equipe e tendo essa facilidade em liderar, esse papel se tornaria mais viável. Estes indivíduos têm interesse em tudo o que for da ordem da praticidade, não se interessando por assuntos teóricos. Novamente percebe-se aqui a preferência pela prática, tão importante para a posição de goleiro, levando em conta que seus treinamentos se processam exclusivamente em cima desse aspecto. Além disso, as pessoas com esse perfil de preferências são capazes de ver as coisas como elas são e não como elas gostariam que fosse. Têm grande habilidade de discernir o que precisa ser feito em determinado momento, pois suas decisões são baseadas na análise lógica do pensamento e não em seus valores pessoais, por isso são ótimos para aliviar situações tensas. Também demonstram grande capacidade para a concentração, ressalta Zacharias. As pessoas que pertencem a esse tipo psicológico apresentam um bom desempenho em profissões onde a coragem física, o gosto pela ação e a capacidade de adaptar-se a diferentes situações, estejam presentes. Nesse tipo psicológico, pode-se verificar também que existem características psicológicas que se tornam pertinentes e importantes para quem desempenha a função de goleiro dentro de uma equipe de futebol de campo.
Considerações finaisA partir dos resultados encontrados neste estudo, o que se observou é que parecem existir certas características psicológicas comuns a goleiros, tendo em vista que, dos dezesseis tipos psicológicos possíveis, predominaram dois, nos quais apenas a atitude muda, sendo as funções as mesmas nos dois tipos: Sensação Introvertida com Pensamento e Sensação Extrovertida com Pensamento. Além disso, a atitude dominante foi a extroversão e a função psíquica que predominou foi a sensação. O que pode ter contribuído para a grande similaridade no perfil encontrado é o fato de que o teste utilizado no presente estudo trabalha com uma classificação por tipos, que nem sempre é fidedigna, pois não capta as peculiaridades de cada indivíduo dentro do perfil mais amplo. De qualquer modo, o Questionário de Avaliação Tipológica (QUATI), apesar de não ser um instrumento muito conhecido na região sul do Brasil, principalmente em função da predominância de uma orientação freudiana, tem muito contribuído como instrumento diagnóstico de características de personalidade de atletas. Dessa forma, um dos pontos positivos desta pesquisa, foi a grande credibilidade que a Psicologia passou a ter nesses locais, pois essa testagem veio a confirmar, de uma maneira científica, o quê as comissões técnicas observam nesses jogadores.
Infelizmente não houve a comparação com atletas de outras posições dentro do futebol de campo, mas os resultados apontam na direção de características psicológicas peculiares de goleiros em relação às demais posições.
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digital · Año 10 · N° 84 | Buenos Aires, Mayo 2005 |