Aspectos emocionais e psicossomáticos no processo de recuperação psicomotora. Estudo piloto |
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* Docente do Programa de Mestrado em Ciências do Movimento Humano; Chefe do Departamento de Fisioterapia; Coordenador do Laboratório de Psicologia do Esporte e do Exercício - LAPE - CEFID / UDESC. ** Aluna do Mestrado em Ciências do Movimento Humano / CEFID - UDESC. Vinculada ao Laboratório de Psicologia do Esporte e do Exercício - LAPE - CEFID / UDESC. *** Aluna do Mestrado em Neurociências. Universidade do Estado de Santa Catarina - UFSC. **** Aluna Especial do Mestrado em Ciências do Movimento Humano CEFID / UDESC. Vinculada ao Laboratório de Psicologia do Esporte e do Exercício LAPE - CEFID / UDESC. |
Alexandre Andrade* d2aa@udesc.br Sabrina de Oliveira Sanches** sabrina.sanches@bol.com.br Ana Paula Fraga Lopes Lopes*** anapfragalopes@globo.com Viviane Pacheco Gonçalves**** vivi.g@terra.com.br (Brasil) |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 84 - Mayo de 2005 |
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Introdução
A preocupação com a compreensão do comportamento humano é uma questão que a muito tempo acompanha a humanidade. René Descartes (1596-1650), propôs uma explicação para o comportamento, na qual o cérebro tinha uma importante contribuição. Ele via mente e corpo de forma separada, mas interligadas (Kolb et al, 2002).
Durante muito anos a teoria dualista de Descartes dominou a compreensão da mente e corpo, contudo, atualmente a medicina psicossomática vem enfatizando uma visão mais integrada do ser humano, dedicando-se à compreensão da relação entre corpo e mente (Ikeda, 1999).
Segundo Feijó (1998), "somos nossos próprios corpos", pois ele é o local das percepções e o equipamento físico que utilizamos para expressar e comunicar nossas sensações.
Nosso corpo responde continuamente a alterações emocionais tanto positivas quanto negativas, porém, quando uma emoção negativa, ocorre em episódios repetidos ou durante longos períodos, como por exemplo, estresse emocional e ansiedade crônica, nosso corpo pode se sentir estagnado, perdendo sua capacidade de adaptação a diferentes estímulos e com isso o surgimento de doenças psicossomáticas torna-se muito mais propício (.Lederman, E. (2001).
O aparecimento de doenças após exposição ao estresse ainda não é totalmente compreendido. Enquanto muitos indivíduos se recuperam após um evento de estresse, outros desenvolvem sintomas somáticos persistentes, como dor crônica e fadiga e/ou distúrbios psicológicos, como depressão e ansiedade e desordem de estresse pós-traumático (Mclean, Claw 2004).
De acordo com Benson e Stark (1998), o aspecto psicológico do indivíduo pode influenciar tanto no surgimento como colaborar para recuperação de doenças. Atitudes saudáveis que a pessoa pode ter em relação a si mesma podem ser demonstradas não só através da pratica de exercícios físicos como também pelo controle de nossos pensamentos e sentimentos.
Neste contexto, percebe-se a necessidade de analisar mais profundamente os aspectos relacionados às emoções dos pacientes e as implicações na recuperação fisioterápica, para assim buscar um tratamento mais adequado.
Dessa forma, neste estudo objetivou-se investigar qual é a percepção dos fisioterapeutas em relação aos aspectos emocionais e psicossomáticos na recuperação dos pacientes, pois parece ainda não haver muita clareza das implicações do fator emocional neste processo. Tradicionalmente a doença é o objeto que tem recebido mais atenção dos profissionais da área da saúde e a abordagem que valoriza a totalidade do indivíduo é muitas vezes negligenciada.
Assim, realizou-se um estudo de caso, qualitativo e exploratório com 6 fisioterapeutas, com experiência profissional de no mínimo 10 anos, docentes de Universidades Brasileiras.
MétodoEste é um estudo de campo, de natureza descritiva (Rúdio,1986), sendo que a abordagem é do tipo qualitativa e interpretativa, com uma amostra intencional de 6 fisioterapeutas. Foi utilizada a entrevista semi-estruturada para a coleta das informações; o primeiro contato com os participantes da pesquisa (PP) foi feito através do telefone; não houve recusa de nenhum dos profissionais selecionados e o local da realização das entrevistas foi definida pelo próprio entrevistado. Na realização das entrevistas foram observados alguns cuidados:
informação ao participante sobre as características do estudo e seus objetivos;
garantia ao entrevistado do total sigilo de identificação;
esclarecimento sobre a necessidade de possível retorno para a realização de novas entrevistas visando aprofundamento e confirmação das informações registradas.
Cada entrevista foi devidamente gravada em fita e posteriormente transcrita na íntegra para posterior análise de conteúdo (Bardin, 1977).
Discussão e resultadosTodos os participantes da pesquisa percebem existir relação entre os aspectos emocionais e o processo de recuperação dos pacientes, sendo que neste estudo 66,6% dos participantes relataram casos em que o emocional do paciente influenciou negativamente no tratamento e, 50% dos fisioterapeutas referiram que o emocional colaborou para a boa evolução. Segundo Chaitow (2002), o aspecto emocional pode tanto ser uma das principais causas de doenças, como também um fator agravante de disfunções previamente estabelecidas por outros fatores.
Quadro 1. Percepção dos PP sobre os aspectos emocionais e o processo de recuperação em fisioterapia
Com relação aos aspectos educacionais a maioria dos PP (66,6%), acredita que a grade curricular esta direcionada aos aspectos físicos do tratamento, não sendo abordado em nenhuma disciplina específica o tema "aspecto emocional" e o processo de recuperação. F6: "É, nós ainda ao planejarmos o curso temos um olhar técnico e se tivermos que escolher entre mais disciplinas para treinamento de habilidades ou uma de filosofia, naturalmente nós vamos para as habilidades".
No entanto, 66,6 % dos PP relatam que, durante a formação universitária o assunto é abordado por alguns professores de forma isolada. 16,6% defendem que o tema não é abordado em aula. Desta forma, sugerem a reformulação do currículo, sendo que 33,3% apontam dificuldades para esta reformulação, tais como: o aumento do custo do curso em razão de um currículo extenso.
Quadro 2. Percepção dos PP sobre o currículo do curso de Fisioterapia
Por fim, no que se refere ao interesse dos acadêmicos em relação aos aspectos emocionais dos pacientes, todos os PP acreditam que os acadêmicos percebem esta relação, no entanto, 50% dos entrevistados acreditam que esta percepção depende de características individuais do aluno, sendo que a percepção desta relação torna-se mais forte durante a fase do estágio curricular e posteriormente com a experiência profissional. Os depoimentos a seguir refletem esta questão: F3 "...depende muito também da bagagem que a aluno trás, (...) da forma como o aluno percebe o mundo e o processo de saúde,..."
Quadro 3. Atitude dos acadêmicos frente ao aspecto emocional e o processo de recuperação em Fisioterapia na percepção dos PP.
Considerações finaisConsiderando os objetivos do estudo e as informações compartilhadas e analisadas, podemos considerar que todos os entrevistados percebem a existência da relação entre os aspectos emocionais e a recuperação dos pacientes, sendo que o estado emocional pode influenciar tanto de forma positiva quanto negativa no tratamento. Eles destacam ainda a importância do apoio familiar nesse processo bem como o vinculo terapeuta-paciente e a motivação para o tratamento. Segundo os PP este assunto não é abordado por nenhuma disciplina específica durante a graduação, porém alguns professores abordam o assunto isoladamente. Quanto à percepção dos alunos referente ao assunto, os entrevistados consideram que depende da individualidade, sendo que o interesse é maior durante o período de estágio curricular e com a experiência profissional. A grade curricular esta direcionada aos aspectos físicos do paciente e os PP consideram necessária sua reformulação.
Referências
Bardin, L. (1977). Análise de conteúdo. Lisboa: Edições.
Benson, H. et al. (1998). Medicina Espiritual - O poder essencial da cura.11ª ed. São Paulo: Campus.
Chaitow, L. (2002). Sindrome da Fibrmialgia - Um guia para o tratamento. São Paulo: Manole.
Feijo, O. G. (1998). Psicologia para o Esporte - Corpo e movimento. 2ª ed. Rio de Janeiro: Shape.
Ikeda, D. (1999). Vida um enigma, uma jóia preciosa. Rio de Janeiro: Record.
Kolb, B. et al. (2002). Neurociências do Comportamento.São Paulo: Manole.
Lederman, E. (2001). Fundamentos da Terapia Manual - Fisiologia, Neurologia e Psicologia. São Paulo: Manole.
Mclean, S. A. et al. (2004). Predicting Chronic Symptoms after an Acute "stressor" - Lessons Learned from 3 Medical Conditions. Medical Hypotheses, 63,653-658.
Rudio, F. V. (1986). Introdução ao projeto de pesquisa científica. Petrópolis: Vozes.
revista
digital · Año 10 · N° 84 | Buenos Aires, Mayo 2005 |