Estudo comparativo entre dois diferentes protocolos de avaliação para ciclistas |
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* Membro do Grupo Fundamentos Metodológicos do Treinamento Desportivo - UNICAMP ** Faculdade de Educação Física - UNIP *** Faculdade de Educação Física - UNICAMP **** NEPAF/ FEFISA - Santo André (Brasil) |
Prof. Esp. Fernando Ruiz Fermino* Profa. Ms Fernanda Ramirez** Prof. Dr Paulo Roberto de Oliveira*** Prof. Ms Sérgio Garcia Stella**** fernandociclista@hotmail.com |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 84 - Mayo de 2005 |
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Introdução
O treinamento desportivo para ser bem sucedido deve conter além de um bom planejamento e organização, um eficiente sistema de controle com avaliações periódicas das diferentes capacidades condicionantes e coordenativas envolvidas na modalidade; dentre os critérios para determinação dos testes de controle, no desporto de alto nível destaca-se o princípio da especificidade.
Como no ciclismo de estrada as mudanças do suprimento energético acontecem gradualmente e não abruptamente, é apropriado determinar o limiar anaeróbio (LA), o qual permite quantificar e demarcar as intensidades do exercício, a partir do suprimento de energia pelo sistema aeróbio ou anaeróbio (GARRET & KIRKENDALL, 2003)
O constante aumento e avaliação das capacidades específicas de trabalho é o objetivo dos treinadores e desportistas, para isto são necessários alguns indicadores fisiológicos. O ciclismo é um desporto que demanda altos níveis de substratos aeróbios e anaeróbios, portanto, a determinação do LA é importante para a orientação do treinamento que se pretende realizar.
Uma variável utilizada para prescrição e monitoração do treinamento é a freqüência cardíaca no limiar anaeróbio, a qual pode ser obtida através de testes de esforço progressivo; para avaliação de ciclista geralmente utiliza-se ciclo ergômetros, geralmente pouco confortáveis, o que pode provocar a interrupção precoce do teste. Nada mais coerente do que avaliar o ciclista com a própria bicicleta de competição, respeitando o princípio da especificidade e, tornando a avaliação mais similar a realidade de competição do atleta.
MetodologiaOs atletas foram contatados com pelo menos uma semana de antecedência e orientados para não realizarem treinos intenso no dia anterior aos testes e não treinar nos dias dos mesmos.
Os testes foram realizados entre as dezesseis e dezoito horas. Antes do inicio das avaliações os ciclistas foram informados através de um roteiro e explicações orais sobre objetivos e procedimentos do estudo, assinando um termo de consentimento e preenchendo uma ficha com informações referentes ao treinamento diário.
Os atletas foram submetidos a dois testes de esforço progressivo em dois diferentes ergômetros com intervalo de uma semana entre as avaliações, um realizado no rolo estacionário e outro no ciclo ergômetro com mensuração da ventilação por minuto no ventilômetro Cefise, freqüência cardíaca no Polar e percepção subjetiva de esforço através da escala revisada de Borg. Os avaliados realizaram no primeiro momento o teste no rolo estacionário e no segundo momento no ciclo ergômetro.
O rolo estacionário possui um sistema de resistência magnética ajustável, figura 01, e permite adaptação da própria bicicleta de competição de cada ciclista, figura 2. O teste realizado no mesmo teve início com aquecimento na cadência de 90 rpm com a transmissão mais leve disponível em cada bicicleta durante cinco minutos, seguido de alongamento. Na seqüência, após a montagem do equipamento, o atleta recomeçava a pedalar na mesma cadência e adicionava-se carga no rolo até que a freqüência cardíaca se estabilizasse próximo de 120 bpm por três minutos; a cada minuto subseqüente o incremento utilizado passou a ser a própria transmissão da bicicleta, até a exaustão voluntária. Caso o atleta atingisse a última transmissão e tivesse condições de continuar, para cada minuto posterior aumentava-se a cadência em cinco rotações por minuto. As transmissões foram classificadas previamente da mais leve para a mais pesada, dividindo-se o número de dentes da coroa pelo número de dentes do pinhão.
A segunda avaliação foi realizada no cicloergômetro e o protocolo utilizado foi o de Ribeiro et al. (1985) apud Denadai (2000), com quatro minutos de aquecimento a 70 rpm com carga de 30 watts, com inicio imediato do teste; a primeira carga era de 30watts e adição a cada minuto de 30 watts até a exaustão voluntária. Imediatamente ao final de ambos os testes, os avaliados responderam um questionário informando os aspectos que julgaram como positivos ou negativos.
O método utilizado para identificação do LA foi o limiar ventilatório e a determinação da freqüência cardíaca segundo o principio de Conconi. Foram mensurados: a ventilação máxima por minuto (VE Max), limiar ventilatório (LV) através da análise do aumento exponencial da curva ventilatória, frequência cardíaca máxima (FC Max), frequência cardíaca no limiar de Conconi (LC) e freqüência cardíaca no limiar ventilatório (FC LV); para classificar a magnitude do exercício utilizou-se da percepção subjetiva de esforço (BORG).
AmostraPara o estudo foram utilizados 7 ciclistas brasileiros do sexo masculino (24.29±2.05 anos; 181.29±52 cm; 74,91±9.69 Kg) com experiência competitiva média 4,42 ± 3,21 anos.
Instrumentos
Dois questionários, um com objetivo de avaliar o teste no rolo estacionário e outro no ciclo ergômetro.
Ficha de caracterização com o intuito de obter informações referentes ao treinamento diário dos atletas.
Rolo estacionário da marca Blackburn modelo Mag Track Stand.
Ciclo ergômetro da marca Cefise.
Bicicleta do próprio atleta.
Ventilômetro Cefise Skill.
Freqüencímetro Polar modelo Xtrainer Plus.
Balança da marca Welmy com precisão de 100grs.
Estadiômetro da marca Kawe Germany
Escala revisada de esforço percebido de Borg 1996.
Tratamento estatísticoOs resultados obtidos foram inicialmente agrupados em valores de média e desvio-padrão. Para comparações entre as diferentes situações experimentais, foi empregado o Teste-t: duas amostras em par para médias.
Para a determinação das relações entre as variáveis, obtidas nos 2 testes, foi utilizado o coeficiente de correlação linear de Pearson.
O nível de significância adotado para todas as análises foi de 5%.
ResultadosNa tabela abaixo são demonstrados os resultados das variáveis mensuradas em condições diferentes, os valores são expressos em média e desvio padrão.
Tabela 1. Apresentação dos resultados
(p<0.05)
Os valores médios encontrados no teste realizado no rolo estacionário e no ciclo ergômetro foram respectivamente: LC 172,00 ± 8,25 vs 169,14 ± 8.33 r= 0,98; FC LV 169,71 ± 8,99 vs 167,29 ± 10,91 r= 0,79; FC max 185,29 ± 7,32 vs 184,43 ± 10.21 r= 0,89; LV 84,14 ± 18,45 vs 78,57 ± 18,96 r= 0,79; VE max 120,00 ± 21,09 vs 112,57 ± 19,34 r= 0,85; PSE LC 6,29 ± 1,38 vs 6,00 ± 1,29 r= 0,84 e PSE LV 5,57 ± 2,15 vs 5,86 ± 1,35 r= 0,78. Podendo observar que a correlação entre o rolo estacionário e ciclo ergômetro é alta para todos os indicadores. Os resultados apresentados nas duas condições não demonstram diferenças estatisticamente significantes, porém os valores no rolo estacionário com exceção do PSE LV apresenta-se maiores.
Discussão
Para a determinação do limiar anaeróbio (LA), não foram encontradas diferenças estatisticamente significantes entre o teste no rolo e no ciclo ergômetro, os valores respectivamente foram: no limiar de Conconi (LC) 172,00 ±8,25 vs 169,14 ±8.33, embora apresentasse maior dificuldade para identificação do momento de deflexão da curva de FC, a mesma apresentou valores semelhantes ao da frequência cardíaca no limiar ventilatório (FC LV) 169,71 ± 8,99 vs 167,29 ± 10,91, recomendando-se assim o método de Conconi porém com certo cuidado em alguns casos para identificar o momento de deflexão da curva de FC. Tornando-se assim possível a aplicação do teste no rolo estacionário fora do ambiente de laboratório.
Através da análise dos questionários identificou-se que cinco dos ciclistas avaliados utilizam a FC para monitoração do treinamento.
Todos os avaliados sentiram-se mais próximos da situação de competição durante a realização do teste no rolo, em relação à postura na bicicleta, pegada no guidom, conforto do selim, além da cadência utilizada aproximar-se mais da habitual.
O uso da sapatilha durante o teste no rolo estacionário torna possível a plena fixação dos pés nos pedais, permitindo-se assim maior utilização dos músculos flexores do quadril e do joelho assimilando-se a situação de treino e competição.
Considerando-se o feed back dos avaliados, é necessário ajuste no teste do rolo estacionário quando o ciclista atingir a ultima transmissão, e para dar continuidade ao incremento da carga sugere-se que o aumento da cadência seja menor que 5 rpm,.
No cicloergômetro as críticas relatadas se deram principalmente a geometria do equipamento e a pegada no guidom, dificultando a adequação a uma postura confortável.
A cadência de 70 rpm sugerida no protocolo por Ribeiro et al (1985) apud Denadai (2000) foi considerada abaixo da comumente utilizada pelos atletas durante os treinos e competições, quando a mesma geralmente ocorre acima de 90 rpm.
O sistema de fixação dos pés nos pedais, no cicloergômetro não é totalmente adequado, pois não permite a plena utilização dos músculos flexores do quadril e do joelho.
Conclusão
Pela similaridade das respostas fisiológicas apresentadas, geometria do equipamento, pegada do guidom, conforto do selim, postura mais confortável, plena fixação dos pés nos pedais, cadência próxima à de competição, sugere-se a realização do teste cardiorrespiratório de ciclistas no rolo estacionário com o próprio equipamento de competição, permitindo que a avaliação reproduza mais fielmente a situação competitiva do ciclista.
Referencias bibliográficas
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revista
digital · Año 10 · N° 84 | Buenos Aires, Mayo 2005 |