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Perfil do crescimento somático de
escolares do Estado de Santa Catarina

   
*Mestrando de pós-graduação - UDESC
** Professor Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC
(Brasil)
 
 
Tamir Freitas Fagundes*
Ruy Jornada Krebs**

tamir@ucdb.br
 

 

 

 

 
Resumo
    Estudos com escolares são importantes na medida que possibilitam ao profissional de Educação Física avaliar e diagnosticar possíveis problemas referentes ao crescimento e desenvolvimento adequado destes escolares. Diante disto o objetivo deste estudo foi identificar as características do crescimento físico de escolares de 7 a 16 anos do estado de Santa Catarina - Br, buscando observar as possíveis diferenças entre os gêneros alem de situar as curvas percentílicas desta amostra com o padrão NCHS. A pesquisa foi do tipo descritiva exploratória e contou com uma amostra de 8607 escolares, 4329 do sexo masculino e 4278 do sexo feminino. O crescimento físico foi avaliado por meio da estatura e peso corporal. A análise dos dados procedeu-se através da estatística descritiva e da análise de variância univariada (ANOVA). Quanto aos resultados, verificou-se que a estatura e o peso corporal apresentaram curvas muito semelhantes em ambos os gêneros, os meninos apresentaram valores mais altos tanto em estatura como em peso corporal nas idades iniciais, sendo superados pelas meninas por volta dos 10 anos e voltando a superar as meninas após os 13 anos. Quando relacionados ao referencial NCHS os valores de estatura e peso corporal dos escolares mantiveram-se muito próximos. Entretanto com os valores de IMC estes apresentaram resultados diferenciados, meninos e meninas apresentaram valores menores de IMC para todas as idades nos percentis P10 e P50, enquanto que no percentil 90 ocorreram variações acima e abaixo dos valores de referência.
    Unitermos: Crescimento somático. Escolares. Estatura. Peso corporal.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 83 - Abril de 2005

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Introdução

    Estudos que avaliam crescimento físico de crianças e adolescentes buscam encontrar subsídios para intervenções na mais diversas áreas relacionadas à saúde. O acompanhamento do crescimento físico através da antropometria é indicado pela OMS (Organização Mundial da Saúde) como um método eficiente e de baixo custo em estudos populacionais (OMS,1995). Durante os primeiros anos de vida este controle é realizado em postos de saúde ou na rede hospitalar de forma mais sistemática até por volta dos dois anos de idade. Posteriormente quando a criança ingressa no sistema regular de ensino por volta dos 6 ou 7 anos este controle tem a possibilidade de ser realizado novamente através de avaliações periódicas (uma ou duas vezes ao ano), normalmente realizadas pelos professores de educação física da escola. Embora já de algum tempo estas medidas sejam realizadas em grande número das escolas, na opinião de Gaya (2004), este controle é ainda insipiente, e poucas escolas aproveitam estes dados corretamente, no seu estender as escolas deveriam se preocupar mais em controlar estes parâmetros e manter dados atualizados sobre os estágios de crescimento e desenvolvimento de nossos escolares.

    Em Santa Catarina vários estudos foram realizados no decorrer dos anos (Madureira (1987), Da Silva (1990), Machado (1997) Lopes (1999) Medeiros (2001) Arruda (2002), Soares (2004), com o objetivo de avaliar padrões de crescimento, estado nutricional e hábitos de vida de escolares, contudo percebemos que a continuidade das avaliações é o maior problema encontrado porque após o pesquisador coletar os dados para sua pesquisa dificilmente a uma continuidade das avaliações o que dificulta estudos a longo prazo.

    A partir do Projeto Esporte Escolar da Secretária de Educação e Inovação do Estado de Santa Catarina implantado no ano de 2001, com o objetivo de oferecer atividades extracurriculares aos alunos da rede estadual de ensino, no ano de 2003 foi implementado o Projeto Esporte SC, vinculado ao PROESP- BR ( Projeto Esporte Brasil), e entre vários objetivos do projeto um deles foi o de capacitar os professores de Educação Física para realizarem avaliações antropométricas e motoras periódicas dos escolares da rede estadual de ensino do estado e constituir desta forma normas para serem utilizadas no estado de Santa Catarina.

     Deste modo, o objetivo deste estudo é identificar as características do crescimento físico de escolares de 7 a 16 anos do estado de Santa Catarina - Br, buscando observar as possíveis diferenças entre os gêneros além de situar as curvas percentílicas desta amostra com o padrão NCHS.


Material e Métodos

    Este estudo exploratório,foi realizado a partir de uma amostra de 8607 escolares, sendo 4329 do sexo masculino e 4278 do sexo feminino, oriundos da rede estadual de ensino do estado de Santa Catarina. Os escolares pertencem a 40 municípios de diferentes regiões do estado, nas quais as escolas participaram do Projeto PROESP - SC, pertencentes a 13 das 29 GEREI (Gerencia Regional de Educação e Inovação) que esta dividido o estado.Este projeto foi desenvolvido através de uma parceria entre o CENESP-UDESC e a secretaria de educação do estado. Os dados foram coletados entre o período de agosto a novembro de 2003, pelos professores de Educação Física das escolas estaduais que participaram do projeto e que foram capacitados para a aplicação da bateria de testes do projeto PROESP-BR, no mês de maio na cidade de Balneário Camburiú - SC, posteriormente à coleta dos dados estes foram enviados para o Laboratório de Desenvolvimento e Aprendizagem Motora do CEFID-UDESC.

     As medidas somáticas avaliadas foram (a) massa corporal: medido em Kg com resolução de 0,1 kg; (b) estatura: medida em cm entre o vértex e o plano de referencia do solo, com resolução de 0,1 cm.

    Para o tratamento dos dados primeiramente procedeu-se uma análise com o objetivo de verificar a normalidade das medidas obtidas através da inspeção dos gráficos boxplot para identificar a eventual presença de outliers severos, os quais foram retirados da amostra. A normalidade das distribuições foi verificada mediante cálculo das medidas de assimetria e curtose.

    Na análise descritiva utilizou-se a média, desvio padrão e percentis. Para inferirmos sobre as possíveis diferenças entre os gêneros, utilizou-se a Análise de Variância (ANOVA). O nível de significância foi de 5%. Para todas a análises estatísticas utilizou-se o programa estatístico SPSS for Windows 11.0.


Resultados e Discussão

     O crescimento físico dos escolares de Santa Catarina, é inicialmente apresentado através das comparações entre os gêneros em estatura, peso corporal e índice de massa corporal, e posteriormente a amostra é apresentada em relação às normas referências do NCHS. A tabela 1 apresenta a média e desvio padrão dos escolares dos 7 aos 16 anos de ambos os sexos.

Tabela 1. Comparação dos valores médios de estatura entre os gêneros.

    Podemos observar que diferenças estatísticamente significativas são encontradas entre os gêneros aos 7,11,12,14,15,16 anos. As meninas apresentaram estaturas superiores em relação aos meninos nas idades de 10,11,12 anos e os meninos tiveram médias de estatura superior as meninas nas idades de 7,8,9,14,15,16. Nota-se valores de médias muito próximos entre meninos e meninas nas idades de 8,9,10 e 13 anos. As maiores variabilidades (DP) em relação aos meninos ocorreram aos 14,13 e 15 anos respectivamente, por sua vez as meninas apresentaram maiores variabilidades aos 11,12 e 10 anos de idade. Essas maiores variabilidades podem estas associadas aos períodos em que ocorre o estirão de crescimento, autores como Malina e Bouchard (2002), Haywood e Getchell (2004), Rogol A. D. et al (2002) enfatizam que as meninas apresentam o surto de crescimento em média 2 a 3 anos antes que os meninos, proporcionando desta forma alcançar estaturas maiores que os meninos e que posteriormente com a diminuição do ganho estatural das meninas, os meninos voltam a superar as meninas por volta dos 14 - 15 anos de idade. Nesta fase a variabilidade é maior também devido ação do sistema hormonal que atua na liberação dos hormônios sexuais e de crescimento, caracterizando a puberdade como um período dinâmico de mudanças rápidas caracterizando o dimorfismo sexual entre meninos e meninas.

     Quando nos referimos aos valores médios das curvas de crescimento estatural de meninos e meninas (figura 1), notamos um aumento linear para ambos os sexos até os 14 anos de idade, apresentando dois cruzamentos nas curvas, a primeira inversão ocorre por volta dos 10-11 anos, onde as meninas apresentam valores médios maiores que os meninos, o segundo cruzamento acontece entre os 13-14 anos, ponto este em que os meninos voltam a superar as meninas. Estudos desenvolvidos por Gaya e col (2002) na região sul do Brasil identificou pontos semelhantes aos encontrados em Santa Catarina porem apresentando algumas diferenças como, por exemplo, na idade de 8 anos onde foi constatada diferença significativa entre os gêneros o que não ocorreu nos estudos de Santa Catarina.

    Outros fatores importantes são as características genéticas e as condições sócio-econômicas que podem influenciar de forma determinante nos valores de estatura atingidos na idade adulta. Neste sentido estudo desenvolvido por Corso et al (2001) verificou os efeitos das variáveis sócio-econômicas, ambientais e biológicas no crescimento de escolares de famílias de baixa renda, concluindo que as variáveis sócio-econômicas são hierarquicamentes superiores a outros fatores de risco, por sua vez Cole (2003), associa a tendência secular de aumento da estatura dos seres humanos em paises desenvolvidos a melhoria da saúde da população, a melhores condições nutricional e a diminuição das doenças infecciosas, especialmente após a década de 40.

Figura 1. Representação gráfica das médias de estatura dividida por gênero de escolares do estado de Santa Catarina- Br.

Tabela 2. Comparação dos valores médios de peso entre os gêneros.

    Em relação ao peso corporal (Tabela 2), foram identificadas diferenças significativas aos 9,11,13,14,15,16 anos. Os meninos apresentaram maior peso corporal em relação às meninas nas idades de 9,13,14,15,16 anos, enquanto as meninas apresentaram um valor médio maior apenas na idade de 11 anos, não foram detectadas diferenças significativas nas idade de 7,8,10 e 12 anos. Gaya e col (2002) em seus estudos identificou diferenças significativas nas idade de 8,11,12,14,15, 16 e 17 anos, ou seja retirando a idade de 17 anos que não faz parte dos estudos de Santa Catarina as idade de 8 e 12 anos apresentaram características diferenciadas quando relacionamos os dois estudos. As maiores variabilidades de peso corporal nos meninos ocorreram nas idades de 15,14 e 13 anos respectivamente, enquanto isto nas meninas as maiores variabilidades foram identificadas nas idades de 11 e 13 anos.

    Quando analisamos os valores médios de peso corporal relacionado por idade e gênero (figura 2), podemos observar que os valores para meninos e meninas seguem uma progressão muito semelhante até a idade de 13 - 14 anos. Semelhante ao que ocorreu nas curvas de estatura foi identificado dois cruzamentos. O primeiro em torno dos 10 anos de idade onde as meninas superaram as médias dos meninos, o segundo cruzamento ocorreu entre às idade de 13-14 anos onde os meninos superaram as meninas, mantendo uma tendência de aumento nos valores de peso corporal e por sua vez as meninas apresentam um aumento mais contido indicando uma estabilização. Esta relação nos cruzamentos é muito semelhante aos resultados encontrados nos estudos de Gaya e col (2002).

     Estas características do peso corporal seguem características muito semelhantes aos apresentados pela estatura, entretanto devemos considerar que o peso corporal pode sofrer influências de fatores externos de uma maneira mais determinante do que a estatura que tem um determinante genético muito forte.

Figura 2. Representação gráfica das médias de peso corporal dividida por gênero de escolares do estado de Santa Catarina - Br.

     Outra variável importante neste estudo é o Índice de Massa Corporal (IMC), uma vez que ele estabelece uma relação entre o peso corporal e a estatura, indicando se há ou não uma adequação destas variáveis (Tabela 3). Ocorreram diferenças significativas entre os gêneros nas idades de 9,10,13,14,15 anos. Os meninos apresentaram médias maiores nas idades de 9 e 10 anos, as meninas obtiveram médias superiores nas idades de 13,14,15 anos, entretanto nas idades de 7,8,11,12 e 16 anos os valores médios encontrados não apresentaram diferenças significativas.

Tabela 3. Comparação dos valores médios de IMC entre os gêneros.

    Em relação ao índice de massa corporal (IMC), a relação entre os gêneros analisados em cada faixa etária (figura 3), apresenta três momentos distintos. Não há quase variabilidade entre as idades de 7 e 8 anos, entretanto dos 8 aos 11 anos de idade os meninos apresentam valores de IMC superior aos das meninas, demonstrando uma relação mais intensa entre o peso corporal e a estatura, ou seja os meninos aparentam serem mais fortes que as meninas possivelmente influenciado por fatores ambientais, pois é nesta faixa etária que os meninos iniciam a participação em esportes formais e sistemáticos , diferente das meninas que normalmente praticam atividades de menos intensidade. Em torno dos 11 - 12 anos de idade os valores voltam a se aproximar, possivelmente influenciado pelo início do processo de maturação das meninas (idade de menarca), onde há um aumento do acumulo de gordura corporal nas meninas decorrente da ação hormonal Guedes e Guedes,(1997). Esta prevalência persiste a partir dos 12 anos mantendo os valores de IMC das meninas superior aos dos meninos até a idade de 16 anos, quando o aumento da massa muscular dos meninos influenciado pela ação hormonal (testosterona) eleva os valores de IMC.

Figura 3. Representação gráfica das médias de Índice de Massa Corporal (IMC) dividida por gênero de escolares do estado de Santa Catarina-Br.

Figuras 4 e 5. Comparação dos percentis de peso corporal dos escolares do sexo masculino e feminino de Santa Catarina em relação ao padrão NCHS.

    A partir dos referenciais do NCHS (OMS), as figuras 4 e 5 apresentam as comparações dos padrões de referência com os valores referentes ao peso corporal dos escolares de Santa Catarina. Para este estudo foram selecionados os percentis 10,50 e 90. Quando analisamos os escolares do sexo masculino identificamos as seguintes características: os valores de P10 - SC e P10 - NCHS apresentam uma similaridade muito grande, estando as duas curvas muito próxima uma da outra, em relação ao P50 e P90 para ambas as curvas ( NCHS e SC), os valores foram ligeiramente superior em favor dos escolares de Santa Catarina dos 7 aos 14 anos, ocorrendo após esta idade um pequeno declínio nos valores de P50 e uma diferença um pouco mais acentuada nos valores de P90, quando comparados aos padrões do NCHS.

    Em relação aos valores dos escolares do sexo feminino de Santa Catarina, eles apresentaram as seguintes características: os valores de P10 e P50 apresentaram os valores de peso corporal superior em favor das meninas quando comparados com os padrões do NCHS, em relação aos valores de P90 os escores médios foram maiores em favor das escolares de Santa Catarina até a idade dos 12 anos , mantendo-se próximos até os 13 anos, vindo a ocorrer um declínio nos valores médios dos 13 aos 16 anos. Em estudos semelhantes Gaya e col. (2002), identificou valores um pouco maiores ou muito próximos em favor da sua amostra pesquisa quando comparada com o referencial NCHS até a idade de 14 anos aproximadamente, onde, a partir deste momento os valores percentílicos dos adolescentes sul brasileiros apresentam uma queda considerável em relação ao referencial.

Figuras 6 e 7. Comparação dos percentis de estatura dos escolares do sexo masculino e feminino de Santa Catarina em relação ao padrão NCHS.

     Os gráficos 6 e 7 apresentam respectivamente as comparações dos percentis do padrão NCHS e dos escolares do sexo masculino e feminino de Santa Catarina. Em relação aos meninos os valores de P10 (NCHS e SC) se apresentaram muito próximo um do outro, ocorrendo um pequeno declínio após os 13 anos. Em relação ao P50 e P90 os valores estão um pouco superior aos padrões do NCHS até por volta dos 14-15 anos, ocorrendo após esta idade um pequeno declínio. Em relação as meninas os três valores de percentil utilizados P10, P50 e P90 apresentaram um configuração muito semelhante, os valores estiveram muito próximo aos de referência ou um pouco superior. Os valores estiveram um pouco a cima dos 7 aos 13 anos, ocorrendo depois um pequeno decréscimo nos valores.

    Estudos de Gaya e col (2002), referentes a escolares do Sul do Brasil identificaram valores próximos aos encontrados em Santa Catarina, entretanto nota-se que o declínio das curvas tanto de peso corporal como de estatura foi mais acentuado a partir dos 14 anos quando comparados com os estudos de Santa Catarina. Estudo semelhante desenvolvido por Prista (2002), em Maputo, capital de Moçambique constatou que os escolares estudados por ele apresentaram valores bem inferiores aos referencias do NCHS, identificando como possíveis causas à condição sócio - econômica da população Moçambicana principalmente das crianças e dos adolescentes devido a duas décadas de conflito armado no País.

Figuras 8 e 9. Comparação dos percentis do IMC dos escolares do sexo masculino e feminino de Santa Catarina em relação ao padrão NCHS.

    Os gráficos 8 e 9 apresentam as comparações dos percentis do IMC ( Índice de Massa Corporal ) dos escolares do sexo masculino e feminino de Santa Catarina em relação ao padrão NCHS. Nota-se que os valores dos meninos de Santa Catarina são inferiores aos do referencial nos percentis P10 e P50, entretanto quando analisamos os valores de P90 percebemos que os meninos de Santa Catarina apresentam valores superiores aos do padrão NCHS até próximo dos 14 anos, ocorrendo após esta idade um declínio. As meninas por sua vez, apresentam uma característica muito semelhante aos dos meninos nos percentis P10 e P50, mantendo-se sempre em patamares menores que o referencial NCHS, entretanto no P90, observamos valores muito próximo ao do referencial do 7 aos 14 anos, com exceção da idade de 11 anos que apresenta valores mais altos, iniciando a partir dos 14 anos um afastamento mais acentuado dos padrões de referência, com as meninas apresentando valores mais baixos.

    A OMS (1995), indica que a utilização de referenciais de IMC precisa ser analisada de maneira cuidadosa, pois é possível ocorrer variações acentuadas quando utilizamos os padrões NCHS de IMC, estudos comparativos desenvolvidos na França demonstraram grandes diferenças entre o sexo masculino nas idades de 9 a 25 anos. A Organização Mundial da Saúde (OMS), recomenda a utilização de medidas de dobra cutânea para serem relacionadas com os valores de IMC, pois sabemos que podem ocorrer valores altos de IMC sem necessariamente estar relacionado a índices altos de gordura corporal. Estudos de Gaya e col.(2002), utilizando os critérios de Sichieri e Allan (1996) para o IMC identificou respectivamente 19% dos meninos e 18% das meninas com valores de baixo peso corporal em relação à estatura e 15% dos meninos e 10% das meninas com valores de sobrepeso ou obesidade, enfatizando a realidade brasileira que convive por um lado com índices significativos de escolares com baixo peso e por outro com índices altos de sobrepeso e obesidade. Kac & Santos (1996), estudaram escolares de ascendência japonesa, os resultados demonstraram que as crianças apresentaram médias bem abaixo dos referenciais NCHS, levantando duvidas acerca da utilização de uma única referencia como parâmetro para avaliação.


Conclusão

    Com base nos resultados encontrados nas duas variáveis morfológicas estudadas, os escolares de Santa Catarina apresentaram as curvas de peso corporal e estatura dentro das características consideradas como esperadas para esta população, ou seja, as meninas apresentando uma desaceleração em ambas as variáveis a partir dos 13 - 14 anos de idade e os meninos mantendo um aumento linear tanto na estatura como no peso corporal. Quando relacionados com os referenciais do NCHS (P10, P50, P90) os dados de Santa Catarina se mantiveram muito próximos aos do referencial, um pouco acima durante as idades iniciais e na fase pubertária as curvas de peso corporal e estatura dos escolares catarinenses se estabilizaram um pouco abaixo dos valores propostos pelo NCHS.

    Entretanto com os valores do IMC estes foram diferenciados, meninos e meninas apresentaram índices menores de IMC para todas as idades nos percentis P10 e P50. Enquanto que no percentil P90, os valores dos escolares do sexo masculino foram maiores do que o referencial até a idade de 14 anos, apresentando após esta idade um declínio, as meninas por sua vez apresentaram no P90 valores inconstantes em relação ao referencial, inferiores em alguns momentos e superiores em outros.

    Especificamente em relação ao IMC os resultados vão de acordo ao que sugere a OMS (Organização Mundial da Saúde), de que as características ambientais e a formação étnica das populações estudadas podem levar a valores muito variados, contudo os estudos indicam uma boa relação do IMC com os parâmetros referenciados a saúde de escolares. Acredita-se que a busca por padrões brasileiros para a avaliação de nossos escolares possa vir a contribuir com as instituições envolvidas na melhoria da qualidade de vida de nossas crianças e adolescentes.


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revista digital · Año 10 · N° 83 | Buenos Aires, Abril 2005  
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