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Aspectos da liderança na Pedagogia do Movimento.
Um fator psicológico no ambiente dos esportes, jogos e atividades físicas
Leadership aspects in Pedagogy of Movement: a psychological aspect inside the sports environment
Aspectos de liderazgo en la Pedagogía del Movimiento: un aspecto psicológico dentro del ambiente de los deportes

   
*Estudante de pós-graduação da Faculdade de Educação Física
da Universidade Estadual de Campinas (FEF-Unicamp);
Bolsista do CNPq -2004 em Mestrado em Educação Física;
Pesquisador em Educação Física Escolar e Psicologia do Esporte
**Professor Associado da Faculdade de Educação Física da Unicamp.
Orientador da linha de pesquisa "Aspectos Psicológicos do Movimento Humano"
no programa de pós-graduação da FEF-Unicamp.
Pesquisador em Educação Física Escolar e Psicologia do Esporte
 
 
Prof. Rubens Venditti Júnior*
rubensjrv@yahoo.com  
Prof. Dr. Pedro José Winterstein**
winterstein@fef.unicamp.br
(Brasil)
 

 

 

 

 
Resumo
    As perspectivas da Pedagogia do Esporte para o século XXI integram em suas premissas a necessidade de compreensão do esporte em sua pluralidade como fenômeno sociocultural. Nesta visão plural e multifuncional, surge a preocupação com aspectos que transcendem os fatores puramente técnico-táticos da aprendizagem motora. Os aspectos comportamentais são integrantes desta perspectiva. Daí a necessidade de compreender fatores psicológicos como as formas de liderança existentes dentro do ambiente esportivo. Este artigo tem como objetivo resgatar e associar os estudos de liderança oriundos da Psicologia Social, transformando-os em conhecimentos que colaborem na atuação profissional em Educação Física, através de intervenções e possibilidades de ambientes favoráveis ao desenvolvimento integral dos praticantes.
    Unitermos: Liderança. Pedagogia do esporte. Motivos. Motivação.
 
Resumen
    Las perspectivas de la Pedagogía de los Deportes para el siglo XXI integran dentro de sus principios la comprensión del deporte en su totalidad como fenómeno sociocultural. En esta visión plural y de relaciones múltiples, aparece la preocupación no solo con algunos aspectos referentes a las demandas técnicas y tácticas del aprendizaje motor. Los aspectos del comportamiento son componentes de esta nueva perspectiva. De esta manera, surge la importancia en entender aspectos psicológicos como tipos de liderazgos dentro del área deportiva. El objetivo de este artículo es rescatar y vincular los estudios de liderazgo originados en el área de la psicología social, transformándolos en conocimientos que colaboren en la actuación profesional del profesor de educación física, a través de intervenciones y posibilidades de ambientes favorables al desarrollo integral de los alumnos (participantes).
    Palabras clave: Liderazgo. Pedagogía del deporte. Motivos. Motivación.
 
Abstract
    Sports' Pedagogy's perspectives to 21.th century integrate within its principles the understanding of Sport in its plurality as a sociocultural fenoum. In this plural and multifunctional vision, appears the preocupation with some aspects wich pass through tecnical and tatical needings of motor learning. The behavioral aspects are components of this new perspective. This is the importance in understanding psychological aspects as leaderships types inside sportive area. The aim of this article is rescue and associate leadership's researches from Social Psychology area, making them implements wich help Physical Education teacher in his interventions and possibilities of creating favorable surroundings to human development of participants.
    Keywords: Leadership. Sports'pedagogy. Motives. Motivation.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 83 - Abril de 2005

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Apresentação

    O objetivo deste trabalho é resultado de nossos estudos no âmbito da Psicologia do Esporte, buscando compreensão de aspectos psicológicos presentes na área da Educação Física (EF), dentre os motivos sociais(MURRAY, 1978), principalmente os motivos de Poder e os fatores de Liderança presentes no âmbito esportivo e suas relações com a atividade física.

    Pretendemos discorrer sobre este tema, em especial sobre as Lideranças nos Jogos Desportivos Coletivos e suas perspectivas para aplicação na Pedagogia do Movimento, ou ainda nas relações interpessoais existentes no campo da Pedagogia do Esporte: entre os participantes; na relação professor-aluno(s) e na interação com dirigentes, pais e familiares.

    Podemos compreender o esporte atualmente como um fenômeno constante em nossa sociedade, dotado de pluralidade (DAÓLIO, 2003) de possibilidades e diversidade aplicacional (PAES, 2002). Este fenômeno passa então a ser constituído por diversos aspectos, além dos motores. São eles: filosóficos, sociais, educacionais, cognitivos e psicológicos.

    Neste modelo de Pedagogia do Esporte (PAES, 2002) proposto para o século XXI, os aspectos comportamentais e afetivos1 são integrantes de uma perspectiva, que considera o esporte como um fenômeno sócio-cultural (DAÓLIO, 1995; 2003) abrangente.

    Daí a necessidade de compreender fatores psicológicos tais como a motivação e os motivos sociais, dentre eles as formas de liderança existentes dentro do ambiente esportivo.

    Assim, poderíamos compreender as influências psicológicas nos praticantes, atuando de forma plural; considerando as relações, percepções, emoções, filosofia, contexto sociocultural e interesses (pessoais e coletivos) nas atividades em que nos envolvemos.

    Paes (2003) defende a perspectiva para este século considerando o ser humano enquanto "movimento, sentimento e pensamento", um indivíduo plural e cidadão integral.

    Compreendendo as manifestações de liderança presentes no ambiente da Pedagogia Esportiva, podemos nos apropriar destes conceitos, transformando-os em conhecimentos que auxiliem na atuação do profissional em EF, através de suas intervenções.


Introdução

    O corpo do trabalho inicia-se com a conceituação de motivos, motivação e liderança; seguindo com uma retomada histórica das discussões a respeito do que é inato e o que pode ser estimulado e adquirido nas características de liderança; e, em seguida, aplicações destes conhecimentos para a Pedagogia do Esporte no século XXI.

    Destacamos as interações entre as diversas formas de liderança em grupos e jogos coletivos, suas implicações na relação professor-aluno e no processo de ensino-aprendizagem. Enfocamos também as formas de detecção e intervenção para o trabalho com as lideranças e suas possibilidades para a manutenção coletiva e coesão grupal (WEINBERG e GOULD, 2001), passando a utilizar instrumentos e ferramentas que auxiliam no trato e relação com as lideranças existentes e também estímulos e oportunidades de liderança e sucesso individuais através do contato e prática com os jogos desportivos coletivos.


Motivos Sociais e Teoria da Motivação na compreensão das atividades físicas

    A motivação é um fenômeno presente no processo de ensino-aprendizagem que interfere no comportamento de professores e alunos (VENDITTI JR et al., 2004).

    Trata-se de um assunto altamente complexo que vem sendo estudado há muito tempo, tornando-se difícil o processo de conceituação. De acordo com Lima (1992, p.150), "[...] a motivação é um processo rico em detalhes, e por isso mesmo rico em maneiras de ser abordada pelas teorias".

    Segundo Winterstein (1992), a Teoria da Motivação parte da idéia de que existe um (ou vários) motivo(s) que leva(m) a pessoa a executar e a manter uma ação em direção a um objetivo e finalizá-lo.

    Ou seja, a motivação é um processo ativo, intencional e dirigido a uma meta. A partir disto, podemos dizer que mover-se em direção a um objetivo é estar motivado, havendo para este processo um (ou mais) "motivo(s)" que expliquem a intencionalidade do indivíduo. E sabemos que, quando não estamos interessados por alguma tarefa, não sentimos prazer, nem vontade de realizá-la. O contrário também é verdade: ao realizarmos uma tarefa e sentirmos prazer ou satisfação (emoções positivas e bem-estar), a tendência é voltarmos a executar esta ação. Este é o mecanismo da motivação; a busca pelo prazer/satisfação das necessidades individuais. Através deste processo, é possível compreendermos os motivos e os fatores que influenciam na escolha e realização das atividades físico-esportivos pelos indivíduos.

    A motivação é um fenômeno que envolve inúmeros fatores e que está presente em todas as atividades humanas, por isso permite interpretações que podem diferir entre si dependendo da área em que este conceito está contextualizado.

    Conforme Woolfolk (2000) discorre, várias explicações podem ser associadas a essas manifestações que direcionam nosso comportamento, tais como: impulsos, necessidades, crenças, valores, medos, objetivos, pressão social, autoconfiança, interesses, curiosidades, incentivos, expectativas e muitos mais, variando de acordo com traços pessoais ou características próprias de cada indivíduo. Todas estas variáveis interferem no processo de motivação de maneira dinâmica e complexa, sendo também encontradas nas diversas atividades físico-esportivas que compõem a área da EF.

    O estudo da motivação, ao que tudo indica, tem origem na psicanálise e surgiu a partir da necessidade de se explicar alguns comportamentos humanos e os fatores que interagem nas condutas das pessoas (KOBAL, 1996).

    Neste sentido, tem-se como ponto de partida a motivação sob um enfoque global, na qual estão inseridos diversos tipos de motivos que servem para orientar as ações dos indivíduos e, portanto podem ser classificados em diferentes grupos. No ambiente das atividades físico-esportivas, podemos buscar estes motivos e assim melhor compreender os comportamentos de nossos alunos, atletas, clientes e públicos dentro das intervenções em EF.

    Estes diversos motivos podem ser considerados como um conjunto de necessidades dos indivíduos, ou ainda as intenções que podem justificar a ação em mover-se ou direcionar-se a determinada(s) meta(s).

    Diferentes pessoas optam por uma mesma tarefa impulsionadas por diferentes motivos. Por exemplo: uma pessoa pode dar início à prática de hidroginástica em função de uma recomendação médica, buscando uma melhoria na sua qualidade de vida; enquanto uma outra pode iniciar a mesma atividade em busca de convívio social e descontração. Em ambos os casos, um ou mais fatores contribuíram para que essas pessoas realizassem uma determinada ação, que será ou não mantida, dependendo da interferência de novos motivos e da satisfação proporcionada pela atividade.

    Através deste exemplo cotidiano, percebe-se que a motivação trata-se de uma forma de expressão do ser humano que está interligada a uma grande variedade de condições e que depende da interação de fatores intrínsecos e extrínsecos.

    Os motivos são constructos hipotéticos, ou seja, não são observáveis diretamente; que são criados pelas pessoas para explicar suas ações (WINTERSTEIN, 1992). Tem a função de explicar comportamentos que deixam reconhecer a perseguição de um objetivo. São disposições relativamente estáveis, que podem revelar alguns perfis comportamentais e características de personalidade.

    Existem vários motivos, dentre a vasta listagem de motivos sociais de Murray (1978). Cada motivo envolve uma categoria de conteúdos de objetivos de ações. A liderança surge como uma conseqüência de uma categoria destes motivos sociais (MURRAY, 1978), vinculada diretamente à necessidade de contato social e de exercer influência em outros indivíduos (motivos de afiliação e poder, respectivamente) e está presente em diversas situações dentro do ambiente da EF.

    E através da compreensão dos aspectos da liderança, podemos explicar tanto os comportamentos dos alunos e atletas durante as situações de desafios presentes nas aulas, possibilitando a convivência com o sucesso, fracasso, tomadas de decisões e a auto-superação dos educandos; quanto para analisar o desempenho e atuação docente dos professores de EF, que muitas vezes utiliza-se destes motivos para exercer influência, persuasão e comando em seus alunos. São estas análises que nos aventuramos a permear neste trabalho.


Características, fatores e influências para a liderança

    Para iniciarmos a discussão, se fizéssemos um rápido levantamento, tentando elencar em um pequeno pedaço de papel, nomes de pessoas de renome, grandes personalidades ou figuras que exerceram grande influência ou liderança em suas áreas ou campos de atuação (música, literatura, política, esportes, sociedade, história, artes, dentre outros); podemos perceber um grande número de nomes e personalidades levantados num curto espaço de tempo.

    É fácil pensarmos em pessoas que foram grandes líderes, mas o difícil mesmo é determinar quais os fatores que os torna(ou) líderes ou pessoas de destaque e influência em suas áreas (WEINBERG e GOULD, 2001).

    Isto porque o processo de liderança possui muitas variáveis, que buscam explicar essas personalidades e os fatores que as tornam(aram) líderes através de "constructos hipotéticos", isto é, hipóteses com as quais buscamos explicar determinados padrões de comportamento dentro do ambiente das práticas físicas.


Liderança e Poder

    Podemos definir liderança como o "processo comportamental de influenciar indivíduos e grupos na direção de metas estabelecidas" (BARROW, 1977). Em termos gerais, um Líder é a pessoa que, em dado tempo e lugar- por suas ações- modifica, orienta, dirige ou controla atitudes, ações e comportamento social de um ou mais adeptos ou seguidores (ANDREOLLA, 1992).

    No âmbito esportivo esta influência pode ser entendida nas tomadas de decisões; como técnicas motivacionais e feedback (informações); nas relações interpessoais e nas posições de direção do grupo ou equipe com confiança, poder de persuasão e convencimento, além de convicção e legitimidade. O líder toma a iniciativa e parece conduzir ou até mesmo guiar o grupo ou equipe. Também sabe sempre para onde o grupo caminha ou objetiva alcançar, fornecendo recursos e estratégias para se alcançar a meta planejada (WEINBERG e GOULD, 2001). Muitas vezes, o líder faz uso de seu sucesso individual para com ele ajudar no alcance ao sucesso da equipe(individual em favor do coletivo/ altruísmo2).

    Para melhor compreender o fenômeno da Liderança no ambiente esportivo, também devemos levar em consideração os motivos de afiliação e poder, existentes na área dos jogos desportivos coletivos, que estão intimamente ligados ao fenômeno da liderança.

    O motivo de afiliação pode ser entendido como necessidade de contato e identificação de um indivíduo com seus iguais (WINTERSTEIN, 2003). Estaria ligado a questões de convívio e relacionamento grupal e coletivo, que permitem aos integrantes de determinado grupo ou equipe, se reconhecerem enquanto tais, satisfazendo a necessidade ou motivo de contato social (afinal, o homem é um ser social).

    MURRAY (1978) define afiliação como "uma preocupação, num ou mais caracteres suscetíveis de estabelecer, manter ou restaurar, em qualquer momento, uma relação afetiva com outra pessoa. Essa relação é descrita de maneira mais adequada, pela palavra amizade." Esta afetividade permite que ocorra a identificação, contato e reconhecimento do grupo ao integrante e vice-versa.

    Isto cria um certo padrão ou identidade no grupo, que caracteriza e define este grupo, instituindo-lhes certa coesão, identificação e reconhecimento como entidade coletiva: é o que chamamos de identidade coletiva ou identidade grupal; na qual os integrantes se reconhecem e depositam seus interesses pessoais, se unindo e relacionando na busca destas metas, transformando-as em ação coletiva e objetivos em conjunto.

    Já as relações de poder também podem ser analisadas no campo dos esportes, através das diversas fontes de poder existentes dentro das relações e do contexto esportivo.

    Podemos definir 'poder' como um motivo ou necessidade de exercer influência, ou de se impor diante de outras pessoas. Daí sua relação com a liderança, uma vez que permite a imposição ou influência de um (ou mais) indivíduo(s) sobre outros, através de relações hierárquicas de superioridade e inferioridade.

    Poder encontra-se também caracterizado como "a capacidade de influenciar ou dirigir o comportamento de outros através de sugestão, sedução, persuasão ou comando, fazendo assim com que outros façam algo sob influência " (WINTERSTEIN, 2003).

    Através da compreensão do motivo de poder, associado às questões de liderança, podemos perceber que a partir do motivo de afiliação e pela formação de grupos sociais, dentre eles as equipes de jogos e esportes coletivos, surgem relações entre os integrantes e influências entre estes- destacando aqui então os motivos de poder e as formas de liderança dentro de equipes esportivas coletivas.

    A influência exercida sobre os integrantes também pode ser compreendida como liderança de determinado(s) elemento(s) no grupo, daí a correlação entre liderança e poder, uma vez que os dois construtos psicológicos são intimamente ligados e relacionados a questões de influências, quer seja por sugestão, sedução (carisma), persuasão verbal e comando, imposição ou ordem direta.

    Para que existam relações de poder, estabelece-se uma hierarquia coletiva, na qual os seguidores acatam e são influenciados pelas decisões, atos e comportamentos de um ou mais líderes instituídos no grupo.

    Heckhausen (1980) afirma que as fontes para estas relações de poder dentro do grupo podem ser de diversos tipos:

  • punição/recompensa;

  • coação/obrigação;

  • poder legítimo ou delegado;

  • poder de exemplo ou modelo reforçador;

  • poder de experto, devido a determinados conhecimentos ou habilidades;

  • poder informativo e tecnológico; e

  • confiança e poder conquistado por relacionamento interpessoal.

    Estudando profundamente os dois motivos- liderança e poder- e, observando estas definições, podemos facilmente identificar as situações características que emanam no ambiente esportivo, uma vez que surgem equipes e grupos de esportes coletivos e estas fontes e relações surgem a partir do convívio e das atividades desenvolvidas pelo grupo:

  • na relação professor-alunos/atletas ou professor-classe(influências por conhecimentos, informações, habilidades do educador, confiança e afinidades);

  • na relação professor-aluno (influência de modelo reforçador, identificação do aluno com algum aspecto comportamental do professor, etc);

  • na relação interpessoal entre alunos (influência de algum colega através de força física, habilidades, carisma, confiança, convívio- são os líderes de determinado sub-grupo na classe);

  • na relação hierárquica institucional (administração, coordenadores, direção, inspetores, o próprio professor);

  • na relação pais-professores (influência por respeito, confiança, conhecimentos e habilidades, ou até mesmo por poder legitimado, no qual o professor é o retentor do poder e controle da classe ou da aula);

  • na relação pais-alunos (afetividade, respeito, confiança, habilidades, experiências vividas); dentre outras.


Inato ou adquirido?

    Uma discussão muito freqüente com relação à liderança, está relacionada ao determinismo inato e hereditário que compõe a formação da personalidade e características inatas de um líder (características de traço de personalidade- "trait theories"/ BANDURA, 1986); em contrapartida aos fatores adquiridos, aprendidos e estimulados que favorecem experiências de liderança.

    Analisando as abordagens, dentro do contexto principalmente na Psicologia Social, percebemos o desenvolvimento e evolução do conceito de liderança (vide esquema na figura 01): inicialmente consideravam a liderança como única e exclusivamente uma característica inata componente da personalidade de certos indivíduos, considerados líderes natos, até as abordagens que teorizam a liderança como um fator que pode ser estimulado e aprendido pelos indivíduos, tornando-se dinâmica, mutável e influenciável pelo meio.


Abordagens e linhas teóricas

    Analisando este eixo cronológico a respeito da liderança (VENDITTI Jr., 2003), observa-se que na década de 20, pesquisadores procuraram por vários traços ou características na personalidade de grandes líderes, principalmente para a psicologia ocupacional, buscando rendimentos e melhorias de desempenhos no comércio e indústria (produtividade).

    Defendiam a idéia de que havia pré-disposições e traços de liderança relativamente estáveis e comuns nestes indivíduos. Estes traços de personalidade também eram defendidos em outras características tais como inteligência, otimismo, independência e autoconfiança.

    Portanto, esta abordagem considera as características na personalidade dos grandes líderes, sem levar em consideração as situações em que estejam ou qualquer outra influência do meio ambiente.

    Porém, a abordagem de traço e as considerações de liderança inata e geneticamente inserida no perfil de personalidade de certos indivíduos teve seu declínio ao final da 2.ª Guerra Mundial (final dos anos 40 e início dos anos 50).

    Nesta época, STOGDILL(1948) revisou as pesquisas de traço, encontrando apenas pouca consistência nos traços de personalidade significativos aos estudos de liderança.

    Estas pesquisas de perfis de liderança por traço de personalidade também se aplicaram na identificação de técnicos esportivos da época, que não forneceu evidências para apoiar e definir este perfil almejado.

    Daí podemos concluir que os líderes têm uma variedade de traços de personalidade, não havendo traços específicos que tornem o indivíduo um líder bem sucedido(WEINBERG e GOULD, 2001, p.213).

    Após a revisão de STOGDILL (1948), no período posterior à 2.ª guerra mundial, surge a linha de abordagem comportamental, concentrando-se em descobrir comportamentos universais de líderes efetivos.

    Oriundos do eixo behaviorista da Psicologia Geral (DAVIDOFF, 1983), estes pesquisadores argumentavam que todo e qualquer indivíduo poderia vir a se tornar um líder aprendendo e observando os comportamentos de outros modelos de líderes - caracterizando esta abordagem como uma linha que considera a liderança como um fenômeno adquirido, através de estimulação e aprendizado social, ou seja o meio e a sociedade permitem o desenvolvimento de lideranças.

    Esta abordagem então passa a considerar a participação e influência do meio ambiente, pois os líderes não são inatos e nem tampouco nascem prontos: estes são feitos e estimulados pelo meio social.

    No quadro sistemático da figura 01, pode-se observar que na abordagem comportamental, existe a sigla LBDQ, que significa "Leadership Behavior Description Questionaire", que traduzindo seria "Questionário de Descrição de Comportamento de Liderança" (WEINBERG e GOULD, 2001).

    Usando este questionário, desenvolvido por pesquisadores de Ohio-EUA, no período da abordagem behaviorista, verificou-se que grande parte do que os líderes fazem se enquadram em duas categorias: consideração e estrutura inicial (WEINBERG e GOULD, 2001, p. 214-216).

    À primeira, podemos elencar a amizade, confiança mútua, afetividade e respeito entre o líder e seus seguidores. Já estrutura inicial no processo de liderança refere-se a comportamentos tais como estabelecimento de regras e regulamentos, canais de comunicação, métodos e sistematizações operacionais e organização, sempre com enfoque às metas e objetivos do grupo. A pontuação condizente nas duas categorias determinavam o indivíduo como líder efetivo e permitiam a detecção dos fatores comportamentais que facilitavam aas situações de liderança.

    Estes pesquisadores concluíam que líderes bem-sucedidos tendem a ter escore alto no LBDQ para as duas categorias de comportamento, quer seja na consideração coletiva quanto na estrutura inicial.

    No ambiente esportivo ou no âmbito das práticas físicas, dentre elas os esportes coletivos, os líderes exercem suas influências tanto por meio da comunicação e relações interpessoais, quanto na orientação e organização das metas da equipe.


Figura 01 - Linha do tempo dos estudos de Liderança (VENDITTI JR, 2003). Adaptado de WEINBERG e GOULD (2001)
Tipos de abordagens para os estudos de liderança (1920-2000)

    A partir dos anos 70, surge a abordagem interacional. Ora, se as abordagens antecessoras enfatizaram os fatores simplesmente pessoais, independentemente de serem inatas ou adquiridas, a abordagem interacional, oriunda principalmente de estudos em empresas, indústria e no ambiente de trabalho em geral- buscando rendimento e produtividade- enfoca suas considerações na interação entre os fatores pessoais já descritos pelas abordagens anteriores e também os problemas e situações circunstanciais, ou seja, consideram a especificidade de cada situação.

    Weinberg e Gould (2001) destacam que existem duas tendências de estilos de liderança- o líder orientado à tarefa e o que é voltado ao relacionamento:

Um líder orientado ao relacionamento concentra-se em desenvolver e em manter bons relacionamentos interpessoais; um líder orientado à tarefa focaliza-se em estabelecer metas e em garantir que o trabalho seja feito.(WEINBERG e GOULD, 2001, p.217)

    Mais adiante, determinam também que "a efetividade do estilo de liderança de um indivíduo é derivada de sua adaptação às situações" (WEINBERG e GOULD, 2001, p. 217).

    Essa abordagem ganha terreno. Vão surgindo novos pesquisadores interacionistas, que passam a ter bastante interferência nas implicações e estudos de lideranças efetivas em ambientes esportivos e atividades físicas.

    Até então, os modelos de liderança discutidos sempre haviam sido derivados de terrenos não-esportivos, tais como indústria, psicologia geral, psicologia social e setor militar, porém forneceram ótimas estruturas e conceitos para enterdermos o fenômeno da liderança aplicado no ambiente da EF e esportes.


Conceituando liderança para os esportes

    É exatamente no início dos anos 90 que a abordagem interacional passa a ter uma linha de aplicação nos esportes e exercício, fato este que impulsiona e define uma linha e eixo teórico paralelo que se amplifica nas Ciências do Esporte (WEINBERG e GOULD, 2001).

    Assim pode-se vislumbrar uma linha autônoma e específica de estudos e abordagens voltadas especificamente aos estudos de liderança e coesão grupal no campo desportivo (tal como sistematiza-se na figura 01, a linha inferior : 'anos 90/ ESPORTES').

    Dentro desta nova vertente de pesquisa, aparece o Modelo Multidimensional (CHELLADURAI, 1990; 1993) de liderança aplicada nos esportes, que passa então a ser uma das perspectivas atuais de conceituação de liderança esportiva, devido à especificidade para situações atléticas e esportivas.

    Pelo encaminhamento deste modelo, podemos perceber que desempenhos ideais e satisfação do grupo e dos membros deste, são obtidos quando os comportamentos requeridos, preferidos e reais de um líder são consistentes e adequados ao grupo, suas necessidades, características e objetivos coletivos que os identificam enquanto equipe.

    Percebemos que Chelladurai (1990) define alguns fatores que são observados nas características de liderança esportiva:

  • características individuais do líder;

  • características dos membros do grupo e peculiaridades do grupo em questão;

  • situacionalidade e/ou características circunstanciais; e

  • influentes externos, dentre eles o AMBIENTE (de atuação e das atividades esportivas).

    Aqui podemos fazer duas pertinentes associações. Primeiramente, àquela que está atualmente em voga: a discussão da necessidade do profissional de EF (professor, técnico, treinador, preparador físico etc.) em proporcionar e tornar o ambiente propício e favorável ao desenvolvimento humano dos praticantes; através de estimulação adequada, motivação, incentivo e sistematizações embasadas cientificamente, além de considerar as relações afetivas e interpessoais, filosóficas e socioculturais.

    Em segundo destaque, a questão da aprendizagem social que justifica e permite compreender melhor a influência do meio e a necessidade portanto do profissional estar atento a estes fatores e assim promover o aprendizado, interação e integração dos praticantes (alunos, atletas, crianças, adultos, pessoas com necessidades especiais, homens ou mulheres, etc.).

    A aprendizagem social pode ser mais enfocada nos estudos de Bandura (1986), que estabelece uma teoria de aprendizagem social-cognitiva, que se torna portanto muito pertinente nesta discussão dentro da Pedagogia do Esporte, uma vez que a necessidade clara e pungente da oportunidade de estímulos do ambiente são função obrigatória do profissional de EF, que é responsável em beneficiar o ser humano em sua plenitude, através da visão plural do fenômeno esportivo enquanto pertencente ao cenário sócio-cultural.

    Ao correlacionar o fenômeno esporte e as questões comportamentais dentro do ambiente esportivo, com a influência sócio-cultural na aprendizagem e cognição de nossas práticas, pode-se fazer uso da reciprocidade triádica (BANDURA, 1986) que considera que a aprendizagem possui fatores pessoais, ambientais e comportamentais que influnciam as ações humanas, dentre elas a oportunidades situacionais de liderança.

    Através desta interação presente na reciprocidade triádica (BANDURA, 1986), pode-se compreender os mecanismos que participam psicológica e culturalmente na formação e articulação de conceitos, habilidades, desenvolvimento, cognição e transposição de limites e dificuldades, inclusive as questões motivacionais e os estímulos de liderança da prática física, muito destacadas através desta abordagem interacionista.

    Bandura (1986) reconhece em seu modelo sócio-cognitivo a influência do meio e métodos de aprendizagem, justificando-se aqui a importância das experiências não somente motoras dentro das práticas esportivas e a necessidade de preparo do agente pedagógico e organização do ambiente destas atividades para que se experimentem situações de êxito e satisfação para que se estimule o desenvolvimento humano integral, que também podem ser compreendidas e aplicadas no modelo multidimensional de liderança nos esportes; pois por este modelo, ocorre a interação entre indivíduo(s) e ambiente através das atividades desenvolvidas no ambiente desportivo.

    Retornando ao Modelo Multidimensional, de CHELLADURAI (1993) e HORN (1993), encontram-se fatores muito importantes no estudo dirigido das lideranças em ambiente esportivo. Estes fatores são diretamente relacionados aos antecedentes de liderança, às experiências anteriores dentro do campo esportivo que proporcionam a posição de liderança em estudo.

    Estas condições antecedentes têm sido foco de estudo de muitos pesquisadores que caracterizam que dentro da importância de experiências anteriores ou dos antecedentes de liderança, que afetam consistentemente o(s) comportamento(s) do líder há intensa influência dos fatores abaixo:

  1. idade e maturidade;

  2. sexo(gêneros);

  3. nacionalidade e antecedentes culturais dos líderes em análise; e

  4. o tipo de esporte também estabelece relação para a construção dos antecedentes de liderança.

    Por outro lado, existe uma corrente de pesquisadores que se têm focalizado nas conseqüências do comportamento do líder e resultados para a coletividade da equipe. Estes pesquisadores analisam como o comportamento do líder e o processo de liderança da equipe afetam o desempenho e a satisfação dos integrantes do grupo, para assim manterem-se coesos, unidos e integrados.

    Os traços pessoais unicamente não garantem nem são responsáveis pelo processo de liderança. Mas, algumas pesquisas identificaram algumas componentes de liderança. Estas componentes da liderança são quatro (MARTENS, 1987):

  • QUALIDADES DO LÍDER; dentre elas a integridade, flexibilidade, lealdade, confiança, responsabilidade, franqueza, preparação, desenvoltura, autodisciplina e paciência.

  • FATORES CIRCUNSTANCIAIS; sensibilidade e interação com o meio externo e à situação ou ambiente específico das tarefas do grupo. Influências quanto à finalidade da tarefa, tamanho da equipe, disponibilidade e tempo; além da tradição das lideranças nas situações antecessoras.

  • CARACTERÍSTICAS DOS SEGUIDORES; importância de caracterizar, definir e compreender as especificidades dos atletas e/ou praticantes de determinado grupo ou ambiente esportivo.

  • ESTILOS E TIPOS DE LIDERANÇA; destacando-se os tipos tais como os líderes laissez-faire, a liderança paternalista, a autocrática, e finalmente a democrática (vide figura 02 abaixo com as diferentes possibilidades de liderança nos esportes).

    Analisando SINGER (1986), ANDREOLLA (1992) e SAMULSKI (1992; 2002) em estudos de liderança anteriores a este trabalho, podemos determinar vários tipos de líderes num grupo.

    Temos o líder autocrático, que concentra o poder de decisão, um ditador auto-suficiente, que não promove outras lideranças e nem estimula iniciativas dentro do grupo (modelo 03/ figura 02).

    Também tem-se o líder paternalista (modelo 02), que ao invés do domínio utiliza-se do assistencialismo, concentrando em sua pessoa toda a situação de execução e solução, ou seja, tudo deve passar por ele.

    Outro tipo de líder seria o "Laissez-faire" (modelo 01), que não toma iniciativa nenhuma, não coordena, não dirige e não assume a responsabilidade. Estabelece poucas ou nenhuma relação entre ele e seus seguidores. O grupo facilmente se desintegra pela indefinição e insegurança na identidade grupal além do surgimento de conflitos que nunca são resolvidos em tempo hábil.

    Já o líder democrático (modelo 04) estabelece e possibilita as inter-relações promovendo as iniciativas, a participação e cooperação. Distribui de maneira organizada o poder de decisão facilitando a comunicação e integração do grupo, que passa a ficar mais coeso. Há autores que estabelecem a denominação de líder apenas ao modelo democrático, generalizando os outros com o termo de "dirigentes".


Figura 02 - Tipos/estilos de liderança:. 01- lider laissez-faire/ 02- líder paternalista/ 03- líder autocrático/ 04- LÍDER DEMOCRÁTICO. Adaptado de SINGER (1986) e ANDREOLLA(1992)
Legenda: L -líder do grupo/ elementos sem identificação- seguidores/ linhas- estabelecem as formas e direcionamento das relações e ações.

    Através de aprofundamento nos estudos, acrescentamos aos quatro componentes da liderança efetiva um quinto e último componente; relacionado inclusive às características e qualidades do líder, mas que merece atenção especial principalmente nas funções de Agente Pedagógico que são pertinentes na Pedagogia do Esporte. Este componente se resume às características de:

  • CARISMA, EMPATIA, CAPACIDADE DE OUVIR; pesquisas demonstram que muitas personalidades influentes e líderes de destaque possuem a inteligência interpessoal (GARDNER, 1995) e habilidades em comunicação social e relacionamentos através da capacidade de ouvir e paciência ou serenidade, além da questão do carisma (Revista VEJA, 2002) e da empatia (capacidade de se colocar na posição do outro, seu seguidor).


Aplicações e instrumentos. Sociometria

    Dentre os fatores de liderança presentes no ambiente esportivo, além do estilo e comportamentos individuais que foram analisados, os relacionamentos e as relações que os atletas estabelecem com seus grupos é muito importante no processo de liderança.

    Desta forma liderança e coesão grupal se correlacionam. A coesão grupal é fundamental para a formação, consolidação e manutenção da equipe e suas características; e a compatibilidade entre o líder e os membros do grupo também passa a ser importante para aumentar os sentimentos de coesão.

    Para determinarmos a relação entre coesão, desempenho e lideranças esportivas, precisamos principalmente ser capazes de medir e observar a coesão grupal. Esta nos permite analisar criteriosamente o grupo, suas características e as relações existentes na equipe. A partir da análise e observação das relações e com as informações complementares a respeito dos atletas e dos objetivos da equipe, podemos através de análises e medidas psicométricas, estudar as relações de liderança e poder existentes nesta equipe ou grupo esportivo.

    Existem dois tipos de medidas desenvolvidas: os questionários e sociogramas (WEINBERG e GOULD., 2001; p. 194-195).

    Os questionários possuem itens que medem atração interpessoal ou classificações diretas de proximidade ou atração pelo grupo. Porém, este instrumento não possui confiabilidade e/ou validade quando se trata de analisar um questionário de coesão nos esportes, pois a padronização dos questionários desenvolvidos (Sport Cohesiveness Questionanaire- MARTENS, LANDERS e LOY, 1972) até então não tinham aplicabilidade ou especificidade convalidada para os esportes.

    WEINBERG et all (1984, apud WEINBERG E GOULD, 2001) desenvolveram então um questionário chamado de Instrumento de Coesão Multidimensional no Esporte, que incluía quatro grandes dimensões de coesão: a) atração pelo grupo; b) unidade de propósito; c) qualidade do trabalho em equipe; e d) papéis valorizados.

    Outro modelo muito utilizado e desenvolvido mais recentemente foi o Questionário de Ambiente Grupal (BRAWLEY, CARRON e WIDMEYER, 1987), que diferencia os itens integração do grupo e atrações individuais pelo grupo em sub-escalas voltadas à tarefa e fatores sociais (afiliações).

    Os questionários são a forma mais popular de medir a coesão e identificar as lideranças vigentes e as relações dentro de uma equipe esportiva. Porém, estes não mostram claramente o modo como os indivíduos se relacionam uns com os outros ou se existem indivíduos que estejam isolados no grupo.

    O sociograma é o instrumento da sociometria, que serve principalmente para medir coesão social, revelando afiliações e atrações entre membros do grupo, assim paralelamente, esboça as relações de liderança existente neste contexto coletivo.

    ANDREOLLA (1992) complementa que, na sociometria, o líder é o sociocentro das relações que ocorrem no grupamento, tidas como escolhas sociométricas.

    Pelo sociograma, podemos também observar a presença ou ausência de "panelinhas" ou subgrupos fechados dentro da equipe; percepções pessoais dos membros acerca da união do grupo; escolhas de amizades e afiliações internas; grau de percepção de sentimentos interpessoais entre os atletas; isolamentos sociais de membros do grupo marginalizados; e grau de atração do grupo.


Proposições

    Existem diversas situações de liderança no ambiente esportivo, diversas características das equipes e de seus membros, além de diversos comportamentos de liderança. Estes são basicamente adequados em várias situações; e através da interação entre as demandas do ambiente, da situação e dos seguidores com as características deste ou daquele líder a ser selecionado, determinam-se as relações coletivas dentro do grupo esportivo a ser analisado.

    Esta variedade pode ser observada no Modelo Multidimensional até então analisado no trabalho. O desafio é determinar que estilo melhor se ajusta às circunstâncias e se o indivíduo é suficientemente flexível para adaptar seu estilo dominante a uma determinada situação de liderança. Entendemos o ambiente esportivo como um sistema muito dinâmico e a liderança servindo de facilitadora na potencialização para resultados e metas positivas para a equipe, canalizando os esforços e ações para tal.

    Podemos entender uma equipe desportiva coletiva como um conglomerado no qual seus membros devem cooperar na coesão grupal, além de competirem contra outro agrupamento também coeso, muitas vezes contando com a presença de espectadores e torcidas.

    Essa dinâmica circunstancial e seus multifatores pode ser entendida e observável no desempenho que ocorrerá frente a outras pessoas (espectadores); com outras pessoas (grupo) e contra outras pessoas(adversários).

    A partir destas características de interação competitiva e cooperativa, acentuada pela tensão e observação de terceiros, se estabelecem fortes vínculos entre a formação e estruturação coletiva com as figuras e funções de liderança internas.

    Por isso, se faz necessário o conhecimento e atuação de formas de liderança no grupo, bem como técnicas ou instrumentos que busquem detectar características para estimular ou promover lideranças e depois estabelecer estratégias de desenvolvimento das formas de liderança.

    Liderança pode ser entendida pela interação entre a personalidade do indivíduo e a situação, já que toda a situação exige talentos especiais para enfrentá-la e resolver problemas advindos desta mesma situação. Mudando-se as condições do grupo e/ou as condições de liderança pode ocorrer uma mudança dos líderes.

    Podemos citar como individualidades ou características pessoais do líder: suas habilidades, experiências de liderança anteriores, atitudes, personalidade, criatividade e/ou flexibilidade, idade, inteligência, aspectos hereditários e aspectos físicos. Todos estes colaboram para uma possível posição de liderança, também influenciada por condições tais como natureza e tamanho do grupo, oportunidades e necessidades situacionais (ambiente).

    Além de alguns fechamentos e proposições da necessidade e utilidade dos instrumentos psicológicos e construtos comportamentais para nossa atuação para a Pedagogia do Esporte gostaríamos de deixar também algumas provocações acerca deste tema, tais como:

  • Como podemos trabalhar e estimular lideranças nas atividades em Pedagogia do Esporte?

  • O profissional de EF está preparado para a detecção e compreensão dos fenômenos de interação, coesão grupal e lideranças efetivas?

  • Como desenvolver e trabalhar as lideranças visando metas, trabalhando motivação, aderência e possibilidades de desenvolvimento humano de nossos alunos?

    Deixamos ao leitor estas inculcações e esperamos com isso abrir canais de discussão e reflexões sobre a importância em se compreender e reestruturar a área da Psicologia do Esporte adequadamente às nossas práticas profissionais, para diversos públicos e locais de trabalho. Finalizamos com uma pequena reflexão, buscando também atentar para a necessidade dos valores no processo educativo e a importância das relações pessoais na EF:

NÃO ANDE A MINHA FRENTE, POIS POSSO NÃO TE SEGUIR. NÃO ANDE ATRÁS DE MIM, POIS POSSO NÃO TE LEVAR A LUGAR ALGUM. FIQUE AO MEU LADO, ME DÊ SUA MÃO E SEJA APENAS MEU AMIGO... (DESCONHECIDO)


Notas

  1. Acreditamos ser de fundamental importância na formação acadêmica em nossa área científica que tenhamos contato e possamos compreender os mecanismos psicológicos dos nossos alunos, pois ao trabalharmos EF e formação de indivíduos, permearemos o ramo das relações humanas, tendo que compreender e adequar as práticas para as necessidades de cada público de trabalho. Muitas vezes, um dos maiores diferenciais destas clientelas quase sempre está nas diferenças comportamentais, tendo o profissional de EF a necessidade de conhecer e atuar com o auxílio dos conhecimentos e dos aspectos psicológicos, motivacionais e do relacionamento humano (dentro de sua intervenção pedagógica).

  2. Altruísmo- Sentimento de quem põe o interesse alheio acima do seu próprio. (FERREIRA, 2001, p. 35).


Informações complementares

  • Sugerimos como material complementar aos leitores e pesquisadores as obras cinematográficas "Duelo de Titãs" (Titans) e "Momentos Decisivos" (Hoosiers), que tratam do assunto liderança no ambiente esportivo e questões de coesão grupal e motivos de poder, discutidos neste trabalho. Estas obras permitem a análise de diversas formas de liderança e exemplificam muitas situações de liderança presentes no ambiente esportivo. Estes materiais podem ser utilizados tanto em situações de discussão acadêmica e formação profissional acerca do assunto, quanto para aplicação e intervenções em equipes desportivas, nas quais exista a possibilidade de trabalhos psicológicos integrados ao treinamento desportivo.

  • Os autores deste trabalho são integrantes e pesquisadores do GPEM- Grupo de Estudos Psicopedagógicos em Educação Motora- da FEF-Unicamp, cadastrados à plataforma LATTES-CNPq/Brasil.

  • O pesquisador Rubens Venditti Júnior, um dos autores deste trabalho, é estudante do programa de pós-graduação da FEF-Unicamp e participou do programa de Bolsas de Estudos fomentado pelo CNPq (2004), para estudantes e pesquisadores de pós-graduação.


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