efdeportes.com
Análise de um programa para desenvolvimento
dos padrões fundamentais de movimento em
crianças portadoras de síndrome de down

   
*Professora de Educação Física
**Docente da Universidade Estadual do Centro-Oeste
UNICENTRO/Campus Irati-Pr
Doutorando do Programa de Pós-graduação da Faculdade de
Educação Física da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP)
Bolsista do Cnp'q
 
 
Prof ª. Luciana Candido Guérios*
lcguérios@hotmail.com  
Prof. Ms. Nilton Munhoz Gomes**
niltonmg@dilk.com.br
(Brasil)
 

 

 

 

 
Resumo
    A Síndrome de Down é uma anomalia que compromete não apenas o desenvolvimento mental, como também o desenvolvimento motor em diferentes níveis. Diante desta realidade, faz-se necessário proporcionar às crianças portadores de Síndrome de Down práticas que promovam e estimulem seu desenvolvimento geral. Quanto mais próximo o portador de Síndrome de Down estiver do padrão normal de desenvolvimento em suas diferentes áreas (cognitivo, afetivo, social e motor) menos este será descriminado no ambiente escolar. Especificamente, a Educação Física, pode contribuir de maneira significativa neste processo, criando possibilidades concretas de desenvolvimento motor, tendo como conseqüência, avanços nas demais áreas. É sabido que nas aulas de Educação Física, por elas serem dinâmicas, muitas vezes os portadores de Síndrome de Down sofrem discriminações por não conseguirem realizar as atividades motoras como os demais alunos. Diante deste problema, o presente estudo teve como objetivo analisar o desenvolvimento motor de crianças portadoras de Síndrome de Down com idade entre 5 e 10 anos, bem como, avaliar a aplicabilidade de um programa de desenvolvimento motor específico para crianças portadoras desta Síndrome. A pesquisa caracterizou-se por ser do tipo estudo de caso. A coleta de dados se deu por meio de testes e observações dos padrões fundamentais de movimento em 03 alunos, utilizando-se um programa com atividades recreativas, que era aplicado duas vezes por semana, com duração de 60 minutos, num período de um mês, buscando aprimorar os padrões estudados (chutar, equilibrar e saltar). Para análise foi utilizada a matriz proposta por Gallahue & Ozmun (1998). Os resultados mostraram que a aplicação do programa beneficiou de maneira significativa os portadores de Síndrome de Down, possibilitando que o desenvolvimento motor dos participantes do estudo se aproximasse ao esperado para a idade em crianças tida como "normais", destacando que antes do início do programa, os participantes apresentavam um desenvolvimento motor bem abaixo da média esperada. Com isso, conclui-se que a Educação Física quando bem planejada, colabora com a expectativa de desenvolvimento geral do portador de Síndrome de Down, bem como, favorece em seu processo de inclusão, considerando que este será mais bem aceito pelos demais alunos por sua capacidade de realizar as atividades motoras de maneira satisfatória.
    Unitermos: Padrões fundamentais de movimento. Educação Física. Síndrome de Down.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 83 - Abril de 2005

1 / 1

Introdução

    A sociedade, desde a antiguidade até hoje enfrenta dificuldades sobre o que fazer com aqueles que não conseguem responder as expectativas da cultura.

    A escola na função de educar possui metas a serem cumpridas, mas não cabe a ela resolver os problemas que a sociedade não consegue resolver.

    Pensando nos objetivos da escola, deve-se lembrar sempre que a criança é um ser em desenvolvimento e antes de qualquer coisa deve-se priorizar a educação.

    A respeito disso, Romeu (1998, p.13), nos diz que "os objetivos, [...], são vistos como variáveis dinâmicas que devem ser constantemente reavaliadas e redefinidas em função das variações do ambiente externo e das relações entre este ambiente intra-organizacional". Portanto, estar atualizada constitui-se uma das obrigações da escola.

    A Síndrome de Down é uma anomalia que compromete não apenas o desenvolvimento mental, como também o desenvolvimento motor em diferentes níveis. O indivíduo portador de Síndrome de Down, porém, é normal e espera ser aceito como tal. Inúmeras teorias a respeito das causas da Síndrome de Down foram elaboradas.

     A Síndrome de Down, assim como outras doenças genéticas e desordens cromossômicas conhecidas, provavelmente ocorreram em séculos e milênios anteriores, como afirma Pueschel (1993).

    Stratford (1997), afirma que no início do século XIX os cientistas começaram a estudar as causas da deficiência mental, e acreditavam que a causa primária era a regressão atávica, um tipo de retorno a forma mais primitiva da existência, que baseava-se nas descobertas do abade Mendel.

    A Síndrome de Down foi identificada em 1866, por John Langdon Down, que utilizou pela primeira vez o termo "mongolóide", como cita Bomfim (1995 p. 60).

    Sabe-se, no entanto que a Síndrome de Down não acontece por culpa dos pais, idéias defendida na época, mas por um problema cromossômico, um erro genético, o que torna tal anomalia comum.

    Bee (1996, p.484), define a Síndrome de Down como sendo "uma anomalia genética em que todas as células contêm três cópias de cromossomo 21 ao invés de duas. As crianças nascidas com este padrão genético normalmente apresentam retardo mental e características físicas específicas".

    As causas são diversas Pueschel afirma que:

No início dos anos 30, alguns médicos suspeitavam que a Síndrome de Down poderia ser resultado de um problema cromossômico. Lejeune relatou que a criança com Síndrome de Down tinha um pequeno cromossomo extra. Em estudos de tais crianças, ele observou 47 cromossomos em cada célula, ao invés dos 46 esperados e ao invés dos dois cromossomos 21 em cada célula o que levou ao termo trissomia 21. (1993, p.54).

    "A Síndrome de Down ocorre por um acidente genético, e é preciso deixar claro que nenhuma atitude tomada durante a gravidez ou antes dela poderia evitar o aparecimento da trissomia", nos diz Werneck (1993, p.89).

    Porém, Stratford (1997) afirma que a idade dos pais tem algo a ver com o problema, e apresenta a incidência relacionada à idade. Segundo ele aos 20 anos a probabilidade de nascer um portador de Síndrome de Down é de 1 em 2000, e aos 45 anos, é de 1 em 17. Sendo esta uma das prováveis causas, de ordem interna (genética), porém Bee (1996), afirma que pesquisas recentes no Canadá revelaram que homens que trabalham em serrarias, como técnicos de laboratórios, que estão regularmente expostos a toxinas como óleos, solventes, chumbos e pesticidas, correm um risco maior de terem filhos com Síndrome de Down do que os homens que trabalham em ambientes mais limpos, levantando assim outra hipótese para a anomalia.

    Observa-se que os autores ainda não chegaram a um consenso sobre a causa da Síndrome de Down. Enquanto não se chega a uma conclusão, pode-se afirmar que fatores internos e externos podem ser responsáveis pela ocorrência do nascimento de crianças com Síndrome de Down.

    As crianças portadoras de Síndrome de Down apresentam características físicas específicas, resultado dos genes do cromossomo 21 extra.

    A cabeça da criança com Síndrome de Down é um pouco menor quando comparada com as das crianças normais. A parte posterior da cabeça é levemente achatada (braquicefalia) na maioria das crianças, o que dá uma aparência arredondada a cabeça.

    O rosto de uma criança pequena com Síndrome de Down apresenta um contorno achatado, devido principalmente, aos ossos faciais pouco desenvolvidos e o nariz pequeno. Geralmente o osso nasal é afundado.

    A boca da criança com Síndrome de Down é pequena. Algumas crianças mantêm a boca aberta e a língua pode projetar-se um pouco. À medida que a criança com Síndrome de Down fica mais velha, a língua pode apresentar estrias.

    O pescoço da pessoa com Síndrome de Down pode apresentar uma aparência larga e grossa.

    Cerca de 40% das crianças com Síndrome de Down apresentam defeito cardíaco congênito, ou seja, podendo ser alto ou leve (curto).

    Os pulmões da criança com Síndrome de Down, no geral, não são anormais. Somente alguns bebês têm pulmões subdesenvolvidos (hipopláticos).

    As extremidades geralmente têm o formato normal. As mãos e os pés tendem a ser pequenos e grossos e o quinto dedo é muitas vezes curvado para dentro.

    Os dedos dos pés da criança com Síndrome de Down são geralmente curtos. Na maioria das crianças, há um espaço grande entre o dedão e o segundo dedo, com uma dobra entre eles na sola do pé.

    Muitos bebês com Síndrome de Down apresentam tônus muscular pobre, força muscular reduzida e coordenação muscular limitada. No entanto, à medida que a criança fica mais velha, o tônus muscular e a força muscular melhoram marcadamente.

    A pele é geralmente clara e pode ter uma aparência manchada durante a primeira infância. Nas crianças mais velhas e nos adultos com Síndrome de Down a pele pode ser áspera.

    Pueschel (1993) complementa, que nem todas as crianças com Síndrome de Down apresentam todas as características descritas acima, ou então, algumas apresentam características não mencionadas.

    Em relação à expectativa de desenvolvimento, o autor supra-citado afirma que "o crescimento físico da criança com Síndrome de Down é mais lento".

    O peso da criança com Síndrome de Down merece atenção especial pois na primeira infância o ganho de peso é menor devido a dificuldades na alimentação, porém, no segundo e terceiro anos de vida, ocorre um aumento de peso e a partir daí a criança pode tornar-se obesa.

    Pueschel (1993) comenta ainda que pesquisas comprovaram que a maioria das crianças com Síndrome de Down têm um desempenho na faixa entre leve e moderada de retardo mental, e somente algumas apresentam deficiência mental severa, o que ameniza a preocupação excessiva por parte dos pais.

    Visto que as aulas de Educação física são dinâmicas e utiliza-se de diferentes habilidades motoras, muitas vezes os portadores de Síndrome de Down sofrem discriminações por não conseguirem realizar as atividades motoras como os demais alunos.

    O desenvolvimento humano vem sendo visto, como mudanças que ocorrem no comportamento ao longo da vida. Para Gallahue & Ozmun (1998), bebês, crianças, adolescentes e adultos estão envolvidos num processo de aprendizagem de como mover-se com controle e competência diante das respostas.

    Para esta pesquisa utilizou-se do modelo de desenvolvimento motor proposto por Gallahue & Ozmun (1998), que o descrevem em quatro fases, desde a fase dos movimentos reflexos até a fase dos movimentos especializados, fases estas subdivididas em estágios.

    A fase dos movimentos reflexos é caracterizada por movimentos involuntários que são os movimentos realizados pelo feto desde sua vida uterina e formam a base para as fases de desenvolvimento motor. É dividida em dois estágios, estágio de codificação da informação, e estágio de decodificação da informação.

    A fase dos movimentos rudimentares caracteriza-se pelas primeiras formas de movimentos voluntários, que são vistos até cerca de dois anos de idade da criança. Estas habilidades variam de criança para criança dependendo dos fatores biológicos quanto ambientais. Também se divide em dois estágios, estágio de inibição dos movimentos reflexos e estágio de pré-controle.

    A terceira fase, fase dos movimentos fundamentais, é a fase na qual está inserida esta pesquisa. Ela representa um tempo no qual as crianças pequenas estão ativamente envolvidas em explorar e experienciar as capacidades de movimentos e seu corpo. É um período de descoberta de como executar uma variedade de movimentos, primeiro de forma isolada e depois em combinação com outros. As crianças estão aprendendo como responder com controle a uma variedade de estímulos e ganhando controle acentuado na performance dos movimentos, e com isso resolvendo tarefas mais complexas. Nesta fase as crinaças aprendem uma série de movimentos fundamentais. Gallahue (1989) classifica-os como locomotores, estabilizadores e manipulativos. Locomoção é um aspecto fundamental da aprendizagem para mover-se eficientemente e efetivamente em qualquer ambiente. Ela envolve a projeção do espaço externo alternando sua relativa locomoção, fixando pontos sobre uma superfície. Os padrões de movimento apresentados nesta categoria permitem a exploração do espaço. Os movimentos manipulativos envolvem o relacionamento de objetos com os indivíduos, caracterizando-se para a cedência de força para com os objetos e o recebimento de força vindo destes. A estabilidade envolve a habilidade para manter uma postura no espaço e em relação a força de gravidade.

    Conforme estudado, a primeiras execuções de um movimento fundamental requerem um mínimo de controle e podem evoluir até um estágio maduro, chegando aos movimentos complexos e por conseqüência movimentos especializados. E desta maneira, Gallahue (1989), em seu modelo apresenta a fase dos movimentos fundamentais divida em três estágios separados, mas quase sempre sobrepostos, o inicial, o elementar e o maduro. O estágio inicial da fase de movimento fundamental representa as primeiras tentativas orientadas a meta da criança ao desempenhar uma habilidade fundamental. O movimento é caracterizado pela perda ou seqüência imprópria das partes, com o uso restrito ou exagerado do corpo e com uma fluência rítmica e coordenação pobre. A integração espaço-temporal do movimento é pobre. O estágio elementar envolve um maior controle e uma coordenação rítmica dos movimentos fundamentais. A sincronização dos elementos temporal-espacial do movimento melhoram, mas os padrões de movimentos neste estágio ainda são geralmente restrito ou exagerados, embora melhor coordenado. Mesmo uma olhada casual dos movimentos das crianças e adultos revela que muitos não desenvolveram as habilidades de movimento fundamental no nível maduro. Embora algumas crianças possam alcançar este estágio principalmente através da maturação e com o mínimo de influência do ambiente, a grande maioria requer oportunidades para a prática, encorajamento e instruções em um ambiente que favoreça a aprendizagem. Fracasso no oferecimento de tais oportunidades pode tornar impossível para o indivíduo o alcance de um estágio maduro de uma habilidade dentro desta fase e poderá inibir aplicações futuras e o desenvolvimento para a próxima fase.

    Diante disto faz-se necessário propor a estas crianças, práticas de Educação Física que estimulem e promovam o desenvolvimento motor, para proporcioná-las uma maior aceitação perante a sociedade, pois quanto mais próximo o portador de Síndrome de Down estiver do padrão normal de desenvolvimento em suas diferentes áreas (cognitivo, afetivo, social e motor), menos este será discriminado no ambiente escolar e na sociedade.

    A educação está presente na vida das pessoas. Ela não se restringe apenas ao cotidiano escolar, mas é possível considerar a escola como uma das principais protagonistas deste processo.

    Dentro da escola, a Educação Física ocupa lugar de destaque entre os alunos. É apenas nas aulas de Educação Física que o aluno pode "bagunçar" um pouco, e fazer o que não é permitido dentro da sala de aula, brincar.

    A Educação Física na escola é um dos meios utilizados para auxiliar no processo de desenvolvimento motor dos alunos.

    TaniI (1988), em relato sobre a Educação Física na pré-escolar nas quatro primeiras séries do ensino de 1º grau, enfatiza que esta deve proporcionar as crianças oportunidades que possibilitem um desenvolvimento hierárquico do seu comportamento motor. Este desenvolvimento hierárquico deve, através da interação entre o aumento da diversificação e complexidade, possibilitar a formação de estruturas cada vez mais organizadas e complexas. Estas devem ser bem elaboradas, com oprtunidades para a prática, com atividades diversificadas, encorajamento e instruções que favoreçam a aprendizagem.

    E para os portadores de necessidades educativas especiais, qual a finalidade da Educação Física?

    Segundo Gomes e Almeida (2001, p.15), "a Educação Física Especial deverá buscar diversos recursos para que a facilitação e a apropriação motora ocorram, auxiliando o portador de deficiência neste intercâmbio deficiente-sociedade."

    Portanto, a Educação Física Especial deve ser prazerosa, devendo por meio de suas atividades, ter objetivos pré-determinados, e estar voltada aos participantes da aula.

A Educação Física Especial deve proporcionar ao aluno o conhecimento de seu corpo, levando-o a usá-lo como instrumento de expressão consciente na busca de sua independência e na satisfação de suas necessidades. Ela oportuniza, ainda, a evolução do aprendizado como conseqüência natural da prática das atividades propostas. Quanto mais espontânea e prazerosa for essa atividade, maiores benefícios trará para o desenvolvimento integral do aluno. Gomes e Almeida (2001, p.15)

    Os autores complementam que, entre as diferentes metodologias adotadas pela Educação Física hoje, seja no Ensino Regular ou Especial, ela está voltada para o ser humano em sua totalidade. Portanto, um ser humano em desenvolvimento.

    Por meio da Educação Física espera-se que os alunos tenham condições de descobrirem suas potencialidades tanto corporais quanto cognitivas, e de serem participativos em uma sociedade.

    Seguindo este princípio, esta pesquisa torna-se relevante, pois é uma inovação na área da educação especial, vindo em auxílio de muitos professores, que perceberão que quando bem planejada a Educação Física contribui para a expectativa de desenvolvimento dos portadores de síndrome de Down.

    Embora muitas pesquisas tenham sido realizadas na Educação Física Escolar, ocorre ainda uma escassez na área da Educação Física Especial.Diante distoo objetivo do estudo foi analisar o desenvolvimento motor de portadores de Síndrome de Down com idade entre 5 e 10 anos, por meio de um programa específico, composto por atividades recreativas.


Metodologia

     A pesquisa caracterizou-se por ser do tipo estudo de caso. Segundo Gil (1991, p.58), este tipo de pesquisa "é caracterizado pelo estudo profundo e exaustivo de um ou de poucos objetos, de maneira que permita seu amplo e detalhado conhecimento".

     A coleta de dados se deu por meio de testes, baseados na matriz proposta por Gallahue & Ozmun (1998) que permitiu verificar o nível de maturidade dos movimentos fundamentais saltar na horizontal, chutar e andar sobre a trave de equilíbrio. Os testes foram filmados, para posterior análise dos dados.

     O programa específico de desenvolvimento motor, foi elaborado com atividades recreativas que promovessem um avanço no desenvolvimento motor dos sujeitos, e também desse condições de melhorar o nível de maturidade dos movimentos propostos, anteriormente citados.

    As atividades forma aplicadas na quadra poliesportiva da escola, e individualmente, sendo as mesmas atividades para os três alunos.

    Os dados forma analisados de forma qualitativa. Para análise do desenvolvimento motor utilizou-se a matriz proposta por Gallahue & Ozmun (1998).


Resultados

    Os resultados foram analisados conforme os objetivos propostos. Para a análise do desenvolvimento motor, utilizou-se de uma avaliação dos padrões fundamentais de movimento propostos por Gallahue & Ozmun (1998), especificamente neste estudo, foram: saltar na horizontal, chutar e andar sobre a trave de equilíbrio. Os resultados encontrados foram classificados de acordo com o seu nível de maturidade em inicial, elementar e maduro.

Tabela 1. Sujeito 1


A tabela 1 mostra o desempenho alcançado pelo sujeito 1, o qual apresenta idade igual a 5 anos.

    No movimento saltar na horizontal, a avaliação inicial mostrou que o participante se encontrava no estágio inicial, e que após as intervenções, passou para o estágio maduro. No movimento chutar, um avanço também foi detectado, pois antes das intervenções o mesmo se encontrava no estágio elementar, e ao término das intervenções passou para o estágio maduro. Por fim, no movimento andar sobre a trave de equilíbrio, o sujeito avançou do estágio inicial para o estágio elementar.

    Conforme observações, o sujeito 1 após as intervenções, apresentou melhora nos três movimentos testados, situando-se em um nível satisfatório de desenvolvimento motor, quando comparado a matriz de análise proposta por Gallahue & Ozmun (1998).

    O programa que foi composto de atividades recreativas, serviu como estímulo e motivação para que o sujeito, mediante as atividades propostas, pudesse realizá-las encarando como algo fácil.

    Adamuz e Zamberlan citados por Gomes e Almeida (2001, p.54) dizem que, "o ambiente do jogo e da brincadeira, são de suma importância para o aluno, porque aí ele está livre para explorar, criar, experimentar, descobrir, inventar, divertir-se de acordo com seu próprio ritmo.

    Acredita-se que a aceitação e participação do sujeito 1 durante as intervenções, possa ter sido um dos fatores que o levou a progredir positivamente.

Tabela 2. Sujeito 2


A tabela 2, apresenta os resultados obtidos nos testes realizados antes e após a aplicação do programa, pelo sujeito 2. O sujeito tem 10 anos.

    Nos três movimentos analisados, saltar na horizontal, chutar e andar sobre a trave de equilíbrio, o sujeito evoluiu do estágio inicial para o estágio elementar. Contudo de acordo com a matriz proposta por Gallahue & Ozmun (1998), o sujeito 2 deveria apresentar-se no estágio maduro, pois é possível alcançar a maturidade nos movimentos com 6 ou 7 anos de idade.

    A frequência e participação durante as intervenções, que propunham atividades estimulantes do desenvolvimento motor por meio de atividades lúdicas, promoveram um avanço no desenvolvimento motor do sujeito.

    Gomes e Almeida (2001, p.23) citam Dinelo que afirma que "é brincando e jogando que a criança aprende a ocupar seu espaço de vida, fantasia e cria todas as espécies de" mundos" que a preparam para vida. É por meio de jogos e brincadeiras que os aspectos psicomotores se desenvolvem".

    Conforme a matriz de análise proposta por Gallahue & Ozmun (1998), o participante apresenta um nível insatisfatório de desenvolvimento motor, porém comprova os benefícios de um programa de desenvolvimento motor, que possibilitou em poucos dias um avanço no desenvolvimento motor do participante.

Tabela 3. Sujeito 3


A tabela 3 apresenta os resultados obtidos pelo sujeito 3, com 10 anos de idade.

    O sujeito, nos movimentos saltar na horizontal e andar sobre a trave de equilíbrio, encontrava-se no estágio inicial antes das intervenções, e após as mesmas avançou para o estágio elementar. Já no movimento chutar, o sujeito iniciou a pesquisa no estágio elementar, avançando para o estágio maduro ao término da pesquisa.

    Foi possível observar que nos movimentos saltar na horizontal e andar sobre a trave de equilíbrio, o resultado alcançado não é satisfatório de acordo com Gallahue & Ozmun (1998), porém no movimento chutar, o sujeito alcançou o nível maduro, vindo de encontro à matriz de análise proposta pelo autor.

    A utilização de atividades lúdicas durante as intervenções, foram uma das formas de estimular o sujeito a desenvolver-se, seja no aspecto intelectual, social, emocional. Assim, Gomes e Almeida (2001, p.24) diz que, "jogos e brincadeiras desempenham papel importante no desenvolvimento psicomotor da criança".

    Dessa forma, acredita-se que a escolha de atividades recreativas para aplicação do programa, tenha sido a causa da aceitação pelo sujeito 3, que freqüentemente participou do programa, avançando nos níveis de desenvolvimento motor.

    Após a apresentação e análise dos dados, foi possível observar um avanço no desenvolvimento motor de todos os participantes. Porém alguns apresentaram um nível insatisfatório, de acordo com a matriz de análise proposta por GALLAHUE & OZMUN (1998).

    Zausmer citada por Pueschel (1993, p. 118) comenta que "muitas vezes o bebê com síndrome de Down apresenta atraso na iniciação de habilidades motoras..." a autora enfatiza que para a criança com Síndrome de Down, é importante vivenciar desde muito cedo o maior número possível de movimentos prazerosos e eficientes, pois estes serão essenciais para o desenvolvimento de habilidades mais complexas no futuro.

    As atividades acompanhadas de prazer são uma das formas de a criança participar com motivação das atividades, aprimorando sua capacidade de desenvolvimento.

    Como a criança portadora da Síndrome de Down, apresenta seus níveis de desenvolvimento mais lento, quando comparados às crianças "normais", cabe aos pais e educadores dessas crianças a função de estimulá-los por meio de atividades lúdicas, visando prepará-los para a aprendizagem de habilidades mais complexas.

    Zausmer apud por Pueschel (1993) afirma que profissionais especialistas em desenvolvimento infantil, podem auxiliar os pais de crianças portadores de Síndrome de Down na escolha de brinquedos e atividades lúdicas indicadas para auxiliar no processo de aprendizagem, bem como melhorar a coordenação motora fina.

    Piaget (1975) comenta sobre os jogos dentro de um programa de atividades lúdicas. O autor enfatiza que, os jogos estão diretamente ligados ao desenvolvimento mental infantil, ou seja, é preciso dar as crianças oportunidades de criar e raciocinar durante jogos e brincadeiras. Dessa forma a criança estará desenvolvendo-se e preparando-se para aquisições futuras de habilidades mais complexas.

    As intervenções foram em número de nove, e notou-se que apesar de poucas o avanço foi visível. A elaboração de programas como este, de longa duração e composto por atividades lúdicas pode implicar em avanços ainda maiores, aproximando e/ou igualando o desenvolvimento motor dos sujeitos aos parâmetros normais de desenvolvimento.

    Outro aspecto a ser observado é o de que a matriz de análise dos padrões fundamentais de movimento proposta por Gallahue & Ozmun (1998) não é específica para portadores de Síndrome de Down, pois não existe testes próprios para analisar o desenvolvimento motor de portadores desta síndrome. Porém, tal matriz de análise foi utilizada normalmente, e detectou-se após as intervenções que um dos sujeitos alcançou o nível de maturidade ideal, comprovando que portadores de Síndrome de Down apesar de apresentarem um leve atraso motor, quando estimulados, apresentam níveis elevados ou acima dos parâmetros considerados como normais.

    Apesar de a matriz proposta não ser específica para portadores de Síndrome de Down, esta apresentou-se como excelente ferramenta, para alcançar os objetivos do estudo. Talvez aqui esteja mais um desafio, a elaboração de testes e programas específicos para portadores de deficiências, não só para portadores de Síndrome de Down, mas também para outras anomalias.


Conclusão

    Os resultados mostraram que a aplicação de um programa específico de desenvolvimento motor beneficiou significativamente os participantes, aproximando-os dos padrões normais de desenvolvimento.

    Antes do início do programa as crianças apresentavam-se abaixo da média esperada, e após a aplicação do mesmo, o avanço foi considerável. Algumas habilidades chegaram ao nível de maturidade que "teoricamente" não se encontrariam se comparado com a idade.

    Vale ressaltar que o planejamento das aulas de Educação Física voltada aos portadores de necessidades especiais é indispensável.

    Nesse caso, as atividades tinham como objetivo explorar o desenvolvimento motor das crianças, que não se limitaram a realizá-las, colaborando assim com a expectativa de desenvolvimento geral de portadores de Síndrome de Down, e favorecendo o processo de inclusão, considerando que este será aceito pelos demais alunos, quanto a capacidade de realizar atividades motoras.


Referências

  • BEE, Helen. A Criança em Desenvolvimento. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996.

  • BETTI, Mauro. Educação Física e Sociedade. São Paulo: Movimento, 1991.

  • BOMFIM, Romildo Vieira do. A Educação Física e a Criança Portadora de Síndrome de Down: Algumas Considerações. Revista Integração. Rio de Janeiro. V.07, n. 16, p. 60-61. 1995.

  • GALLAHUE, D. Understing Motor Development: infants, children, adolescents, adults. Indianápolis: Benchmark Press, 1989.

  • GALLAHUE, D. & OZMUN, J. Understing Motor Development: infants, children, adolescents, adults. Boston: Mc Graw Hill, 1998.

  • GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. São Paulo: Atlas, 1991.

  • GOMES, Nilton Munhoz; ALMEIDA, Maria A. Atividades Recreativas, Alfabetização e Deficiência Mental. Sertanópolis - PR, 2001.

  • PUESCHEL, Siegfrield M. (org). Síndrome de Down: guia para pais e educadores. Campinas - SP: Papirus, 1993.

  • ROMEU, Sônia Aparecida. Escola: objetivos organizacionais e objetivos educacionais. São Paulo: EPU, 1987.

  • STRATFORD, Brian. Crescendo com a Síndrome de Down. Brasília: CORDE, 1997.

  • TANI, Go et all. Educação Física escolar: fundamentos de uma abordagem desenvolvimentista. São Paulo: EPU, 1988.

  • WERNECK, Claudia. Muito Prazer, eu existo: um livro sobre as pessoas com Síndrome de Down, Rio de Janeiro: WVA, 1993.

Outro artigos em Portugués

  www.efdeportes.com/
http://www.efdeportes.com/ · FreeFind
   

revista digital · Año 10 · N° 83 | Buenos Aires, Abril 2005  
© 1997-2005 Derechos reservados