Perfil biopsicossocial de uma criança com indicadores de altas habilidades |
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*Doutor em Medicina da Educação Física e do Esporte (Universidade de Zaragoza - Espanha). Professor da Universidade do Sul de Santa Catarina - UNISUL, e professor da Universidade do Estado de Santa Catarina UDESC. Coordenador do Laboratório de Desenvolvimento Humano da UDESC. **Mestrandos do Programa de Pós Graduação em Ciências do Movimento Humano, do Centro de Educação Física, Fisioterapia e Desportos, da Universidade do Estado de Santa Catarina - CEFID/UDESC |
Francisco Rosa Neto* André Luiz de Oliveira Braz** Lisiane Schilling Poeta** Simone Adriana Oelke** d3sao@pobox.udesc.br (Brasil) |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 82 - Marzo de 2005 |
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A preocupação com pessoas que se destacam por possuírem algum talento especial existe desde os tempos antigos, e hoje, a atenção dada às crianças com altas habilidades constitui uma das áreas da Educação Especial.
A escola atual enfrenta divergências e resistências quanto ao atendimento a essas crianças. De um lado, têm-se professores despreparados para o trabalho que executam e para o atendimento das demandas que a sociedade exige; por outro lado, tem-se a atribuição que os professores determinam a essas crianças, de que elas não necessitam de um atendimento especial, pois "já sabem tudo" e "são boas em tudo" (NICOLOSO; FREITAS, 2002). No entanto, essas crianças, como qualquer outra de sua idade, necessitam de atendimento sério e competente.
Segundo a Organização Mundial da Saúde, os superdotados (altas habilidades) compõem cerca de 1 a 3% da população (NICOLOSO; FREITAS, 2002). Em contrapartida, Virgolim (2002), afirma que esta porcentagem se refere apenas àqueles talentos que se destacam por suas habilidades intelectuais ou acadêmicas (medidas pelo teste WISC de inteligência, que situa o QI médio em 100 pontos). No entanto, quando se incluem outros aspectos à avaliação dessas crianças, como por exemplo, liderança, criatividade, competências psicomotoras e artísticas, as estatísticas sobre altas habilidades tendem a aumentar significativamente.
Independente do ponto de vista, de acordo com Virgolim (2002), percebe-se que este grupo tem sido mal identificado e trabalhado no Brasil. Isto demonstra que este assunto ainda é polêmico, ressaltando-se o desconhecimento do tema por parte da comunidade, da escola e da família; necessitando de técnicas mais apuradas de identificação, instrumentos mais amplos e precisos de diagnóstico, e bons programas de desenvolvimento e estimulação do potencial destas crianças, para que se possa estabelecer políticas de aproveitamento de talentos e competências. O estudo realizado por Maia-Pinto e Fleith (2002), indicou que os professores do ensino fundamental e da educação infantil de escolas públicas e privadas de Brasília/DF consideram importante o papel da escola na educação dos alunos com altas habilidades, entretanto, não adotam medidas ou instrumentos para identificação, nem os atendem de forma diferenciada, como também nunca tinham trabalhado com alunos superdotados.
Quando uma criança muito habilidosa não é estimulada intelectualmente, podem aparecer alterações de comportamento como resposta à frustração que está experimentando. Conforme Ferreira e Souza (2001), é comum esses alunos se tornarem entediados, frustrados e retraídos diante da rotina escolar, que é determinada pela média da turma. Bulkool e Souza (2000) ainda enfatizam que em virtude da falta de apoio e de compreensão no meio ambiente, podem apresentar estados de indiferença, apatia e reações agressivas, chegando a ponto de ocultar seus próprios talentos. May (2000) ressalta que essas pessoas não apresentam altas habilidades em todas as áreas, e não são bem sucedidas em tudo, visto que suas habilidades intelectuais são avançadas, embora suas habilidades motoras e sociais são de idade apropriada. Este desenvolvimento irregular, segundo a autora, pode conduzir a frustração e a confusão para a criança e sua família.
De modo geral, pessoas com altas habilidades se caracterizam pela elevada potencialidade de aptidões, talentos e habilidades, evidenciando no alto desempenho nas diversas áreas de atividade do educando (BRASIL, 1995). Em geral, segundo Virgolim (2002), essas crianças não apresentam estas características simultaneamente, nem mesmo com graus de habilidade semelhantes, sendo que um dos aspectos mais marcantes desse tema relaciona-se ao seu traço de heterogeneidade. A essa confluência de habilidades chama-se de multipotencialidades, que representa mais uma exceção do que uma regra entre estes indivíduos. O que se observa com maior freqüência são crianças que se desenvolvem em mais de uma área específica, como poesia, ciências, artes, música, dança ou esporte, do que em outras (VIRGOLIM, 2002).
A dificuldade está em como identificar estes sujeitos nas escolas. O interesse deve ser em relação a comportamentos acima do "normal" para aqueles indivíduos que apresentariam um potencial aparente. Silvermann (2001) sugere algumas características que podem ser observadas a fim de se ter um perfil destes sujeitos: são excelentes pensadores; aprendem rapidamente; apresentam uma alta fluência verbal; são sensíveis às questões sociais; perfeccionistas; demonstram muita curiosidade em relação às coisas que os cercam.
De acordo com as diretrizes da Secretaria de Educação Especial (BRASIL, 1995), a identificação da criança com altas habilidades deverá ser feita o mais cedo possível, desde a pré-escola até os níveis mais elevados de ensino, objetivando o pleno desenvolvimento de suas capacidades e o seu ajustamento social. Segundo a entidade, cada aluno deve ser estudado em sua totalidade, podendo-se utilizar a combinação de dois ou mais procedimentos no processo de avaliação. Conforme Fleith (1999), a proposta é utilizar fontes múltiplas na identificação destes indivíduos, de forma a não privilegiar resultados em testes de inteligência. Além disso, algumas evidências têm indicado que estes indivíduos diferem entre si com relação às características sociais, emocionais e cognitivas (SILVERMAN apud FLEITH, 1999).
Winner (1998) sugere que a identificação seja feita, principalmente, por meio da observação sistemática do comportamento e do desempenho do aluno, sendo importante também conhecer sua história de vida, familiar e escolar, bem como seus interesses, preferências e padrões de comportamento social em variadas oportunidades e situações. As ações de identificação devem caracterizar um trabalho interdisciplinar e trans-disciplinar, ressaltando o compromisso de todos com um processo sócio-educacional global.
Considerando a relevância do tema e a importância do conhecimento referente a essa população e suas características, o estudo propôs traçar o perfil biopsicossocial de uma criança com indicadores de altas habilidades.
MetodologiaA pesquisa é caracterizada como descritiva, exploratória e estudo de caso, realizada em escolas particulares de Florianópolis, as quais deveriam abranger a educação infantil. O interesse em pesquisar nas escolas particulares é fundamentado no resultado da pesquisa de Yehia (1994), que demonstrou que a maioria das crianças com altas habilidades que procuram atendimento são oriundas de escolas privadas.
Foram visitadas 22 escolas localizadas dentro do perímetro urbano de Florianópolis, sendo que apenas 5 delas aceitaram participar da pesquisa. De um universo de 662 alunos da pré-escola (3 a 6 anos de idade), apenas uma criança correspondeu aos resultados mais significativos de altas habilidades. Esta criança foi selecionada intencionalmente pelos professores e orientadores da escola, a qual se sobressaía em atividades que requeriam habilidades cognitivas, e/ou criatividade, e/ou artes, entre outros, sobre os demais colegas de sala de aula. Portanto, a amostra deste estudo compreendeu uma criança matriculada na pré-escola, do sexo feminino.
Foram utilizados os seguintes instrumentos para a coleta dos dados:
Questionário para Identificação de Altas habilidades, de Mate e Moro (1997), envolvendo questões de desenvolvimento da linguagem, da auto-ajuda, da socialização, dos aspectos intelectuais/cognitivos, da criatividade, da motivação e dos aspectos atitudinais, com 72 questões fechadas, preenchido pelo professor e pais.
Questionário de Identificação das Altas Habilidades na Primeira Infância, elaborado por Vieira (2002). Este instrumento determina a freqüência do comportamento quanto aos aspectos intelectuais/cognitivos, atitudinais e sociais. Consta de 40 questões fechadas, a serem marcadas numa freqüência que varia em nunca, não observei, freqüentemente e sempre, preenchido pelo professor e pais.
Questionário do Perfil de Desenvolvimento de Inteligências (TKAC e col., 2002), que se limita em traçar um perfil das áreas de predominância em quatro áreas de inteligência (cognitiva, emocional, espiritual e motora), por meio de avaliação subjetiva dos professores. Consta de 20 questões fechadas, numa escala que varia de 0 a 3 pontos, sendo: 0 = nenhuma; 1 = pouco; 2 = suficiente; 3 = muito. Os maiores escores indicam a área de predominância de inteligência.
Escala de inteligência Wechsler para crianças (2002), composta por vários subtestes, onde cada um mede aspectos diferentes da inteligência. São agrupados em Escala Verbal e de Execução, sendo que o desempenho da criança nesses subtestes é resumido em três medidas: QI Verbal; QI de Execução; e QI Total.
Teste do Desenho da Figura Humana (GOOUDENOUGH-HARRIS, 1991), que avalia a noção do esquema corporal, favorece a observação da motricidade fina e da percepção visual.
Testes que compõe a Escala de Desenvolvimento Motor "EDM" (ROSA NETO, 2002), que avalia as áreas da motricidade fina e global, equilíbrio, esquema corporal, organização espacial e temporal, e lateralidade, identificando o perfil motor geral.
Questionário biopsicossocial, que trata questões relativas aos antecedentes pré, peri e pós-natal da criança, desenvolvimento neuropsicomotor, ambiente familiar e rendimento escolar.
Para traçar o crescimento físico, foram coletados o peso e a estatura.
Procedimentos:Após aprovação do Comitê de Ética em Pesquisas Envolvendo Seres Humanos, foi entrado em contato com professores e orientadores das escolas particulares de Florianópolis para uma pré-seleção de alunos da pré-escolas considerados por eles com indicadores de altas habilidades, sendo indicada uma criança. Foi aplicado a professora da criança, o questionário de Mate e Moro (1997) e o questionário elaborado por Vieira (2002), para avaliação do potencial cognitivo dessa criança. Como a aluna fora matriculada desde os 5 meses de idade na escola, considerou-se relevante aplicar estes questionários para todos àqueles professores que acompanharam os anos escolares da menina, totalizando 3 professoras. A escala para avaliar o perfil de desenvolvimento de inteligências também foi preenchido pela professora de sala.
A mãe da criança foi convidada a comparecer na escola para preencher uma cópia do questionário de Mate e Moro (1997), o questionário de Vieira (2002) e o questionário biopsicossocial.
O teste do QI medido pela escala de inteligência de Wechsler (WECHSLER; FIGUEREDO, 2002) foi aplicado por uma psicóloga da Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC, nesta própria instituição, sendo necessário dois encontros para a avaliação. O teste do desenho da figura humana, a avaliação motora e a avaliação do crescimento físico (peso e estatura) foram realizados na própria escola em uma sala reservada. Os dados foram coletados entre os meses de agosto e de 2003 e maio de 2004.
Para o tratamento estatístico dos dados qualitativos utilizou-se a análise das distribuições de freqüências simples; os dados da escala do Perfil de Desenvolvimento de Inteligências foram analisados a partir da somatória dos escores obtidos pelos alunos nas quatro áreas; para a análise da Figura Humana utilizou-se os critérios de pontuação do teste de Gooudenough-Harris (1991), onde é atribuído um ponto para cada um dos 51 elementos presentes no desenho, sendo que, o número de pontos obtidos no desenho corresponde a idade mental da criança. Também foi utilizada a classificação dos níveis de desenvolvimento proposta por Rosa Neto (2002); para a análise do perfil motor utilizou-se o Programa EDM (ROSA NETO, 2002) desenvolvido para a bateria de testes, indicando os resultados que condizem com o desenvolvimento motor da criança avaliada; para a análise do perfil de crescimento e estado nutricional foi utilizado o Sistema de Monitoração de Crescimento Infantil (SIMOC) de Rosa Neto e col. (2000), o qual indicou o nível de crescimento e o estado nutricional da criança.
Resultados e DiscussãoCaracterísticas da amostra
Aluna matriculada no ensino pré-escolar, com idade de 6 anos (nascimento: 03/10/97). Nasceu de parto cesárea, não apresentando fatores de risco. Filha única de pais casados. Seu desenvolvimento neuropsicomotor foi dentro da normalidade: andou aos 14 meses de idade, começou articular as primeiras palavras com 12 meses com clareza para a idade. Quanto ao rendimento escolar, começou a freqüentar a escola aos 5 meses de idade e de acordo com o relatório escolar seu rendimento é excelente e sua conduta é normal.
Crescimento físico
Os resultados indicam que, tanto no peso como na altura, a criança encontra-se no percentil 90 e o Índice de Massa Corporal de 17,92. A altura foi considerada normal para a idade e a relação peso/altura, considerada harmônica.
Avaliação do Potencial Cognitivo - Altas habilidades
Concordância nas respostas dadas pelos professores e pais no questionário para identificação de altas habilidades (MATE; MORO, 1997):
Desenvolvimento da linguagem: apresentou um vocabulário avançado aos 24 meses, o que conseqüentemente, contribuiu para a precocidade na aquisição de palavras e identificação de pessoas.
Desenvolvimento cognitivo: identificou pelo menos 6 cores aos 18 meses e construiu um quebra-cabeça de 20 peças aos 2,6 anos.
Aspectos atitudinais e sociais: é altruísta, perfeccionista na realização de suas atividades, tem popularidade entre os amigos, mas ao mesmo tempo, é persuasiva para com eles. A questão mais enfatizada foi a de que a criança precisa ter êxito e reconhecimento pelos seus atos e atividades. A presença dos itens "b" e "c", segundo Mate e Moro (1997) são características essenciais para a criança ser considerada com altas habilidades.
Aspectos intelectuais/cognitivos: conhece e domina um amplo vocabulário avançado para sua idade, procura novas informações de seu interesse, é curiosa e rejeita as atividades de rotina.
Criatividade: possui alta sensibilidade com as pessoas de convívio, bom senso de humor, imaginação fértil, pensamentos e idéias flexíveis.
Motivação intrínseca, eficiência na tarefa e rendimento: apresenta grande capacidade e concentração, mostrando-se eficiente e na maioria das vezes individualista na realização de suas tarefas.
Concordância das respostas entre pais e professores no Questionário de Identificação das Altas Habilidades na Primeira Infância (VIEIRA, 2002):
Aspectos cognitivos - sempre observados: expressa idéias com facilidade, questiona sobre o funcionamento das coisas, reproduz com facilidade melodia e música e também executa durante outras atividades;
Aspectos cognitivos - freqüentemente observados: pensa para resolver problemas, concentra-se em assuntos de seu interesse, utiliza-se da dramatização para expressão idéias e interpretar histórias, poemas e canções, faz experimentos em busca de descobertas principalmente os relacionados à natureza.
Aspectos do comportamento atitudinal e social - sempre observados: é perseverante, preocupa-se com a natureza; quanto aos aspectos freqüentemente observados, foi indicada uma preferência pela participação em grupo.
Costa (2000), estudando a percepção dos adolescentes de 14 a 16 anos que procuram o NAPPAH (Núcleo de Atendimento a Pessoa Portadora de Altas Habilidades) em Porto Alegre-RS, realizou um levantamento das características desses adolescentes mostrando que todos esses alunos, assim como a aluna do presente estudo revelou excelente rendimento acadêmico e precocidade na alfabetização. Porém, apresentaram variações individuais em relação às áreas de maior talento.
Questionário do Perfil de Desenvolvimento de Inteligências (TCKAC e col., 2002)Os resultados apontaram que a inteligência motora foi a área de maior destaque entre as quatro inteligências observadas (cognitiva, espiritual, emocional e motora). As pontuações ficaram assim distribuídas: inteligência cognitiva (12 pontos), inteligência espiritual (11 pontos), inteligência emocional (13 pontos) e inteligência motora (14 pontos).
Teste do QI da Escala de inteligência de Wechsler para crianças (WECHSLER; FIGUEREDO, 2002)Conduta durante o teste: a menina a princípio, pareceu estar um pouco apreensiva diante da situação e de alguém que ela não conhecia e que iria avaliá-la. Contudo, logo pareceu sentir-se à vontade, demonstrando certa ansiedade apenas quando não sabia responder ou realizar as atividades.
Demonstrou bastante curiosidade e interesse pelas atividades e principalmente de interagir/dialogar com a examinadora.
Os resultados do QI são apresentados na tabela 1.
Tabela 1: Resultados do teste do QI
Este resultado indica que a criança apresenta um QI de 135, caracterizando-se como muito superior de acordo com esta escala. Este resultado está acima dos resultados encontrados por Méio et al (2001) quando avaliaram o desenvolvimento cognitivo de 12 crianças pré-escolares, por meio do teste de WPPSI-R, identificando o escore total de 82, escore verbal de 89 e escore executivo de 91.
De acordo com o "Clube de Talentos", realizado dentro de uma escola de Brasília-DF (WECHSLER, 1988), as crianças que tiveram desempenho superior em um ou mais dos testes (teste do desenho da figura humana, WISC e rendimento acadêmico) eram convidadas a participar do programa para crianças consideradas superdotadas.
Nos Estados Unidos, Yarborough e Jhonson apud Wechsler (1988) apontaram que, apesar de haver acordo de que os teste de QI não são justos para todas as crianças, e que não avaliam certos tipos de aptidões e talentos, eles ainda continuam sendo os maiores critérios para identificação e aceitação de crianças em programas para superdotados. Segundo a mesma autora, outros testes de identificação de superdotados muito utilizados nesses programas são os testes de aptidões múltiplas e de rendimento escolar.
Teste do Desenho da Figura Humana (GOOUDENOUGH-HARRIS, 1991)Os resultados do desenho indicaram que a criança atingiu 15 pontos, equivalente ao Índice de Esquema Corporal de 6 anos e 9 meses (Quociente= 114), correspondendo a um índice "normal alto", conforme a EDM (ROSA NETO, 2002), o que significa que a criança está um pouco acima da média no que se refere a noção do esquema corporal, avaliado através do Teste da Figura Humana.
O mesmo teste foi utilizado para identificação precoce de superdotados, realizado em Porto Alegre, por Maldaner (1996), com o objetivo de verificar se o teste é capaz de fazer uma triagem inicial de crianças superdotadas na faixa etária de 3 anos e três meses a 4 anos e 11 meses de ambos os sexos, matriculados na pré-escola. Os resultados apontam que este teste pode ser usado como indicativo para o objetivo de triagem de pré-escolares superdotados, entretanto, deve-se considerar que um teste não substitui outro, devendo haver complementação para a identificação.
Perfil motor (ROSA NETO, 2002)O Desenvolvimento Motor Geral foi classificado pela EDM (ROSA NETO, 2002) como "superior", sendo que os maiores resultados foram na organização espacial, motricidade fina e organização temporal, todas com classificação "muito superior" segundo a EDM. A idade motora geral (IMG) foi de 88 meses, indicando uma idade positiva de 17 meses.
Os resultados deste estudo foram superiores a outros estudos realizados por Batistella (2001), Rosa Neto e col. (2004) e Rosa Neto, Costa e Poeta (no prelo). No estudo de Batistella (2001), avaliando o perfil motor de escolares de 6 a 7 anos de idade das escolas estaduais do município de Cruz Alta/RS, a média dos resultados do desenvolvimento motor geral foi classificada pela EDM como "normal médio". Entretanto, os maiores resultados alcançados foram na motricidade global e no equilíbrio, ambas classificadas pela EDM como "normal alto". A organização espacial e a organização temporal foram as áreas que apresentaram as maiores dificuldades, sendo classificadas como "normal baixo" pela EDM. Rosa Neto e col. (2004) estudando crianças de 4 a 12 anos de idade avaliadas em um programa de psicomotricidade com dificuldade de aprendizagem, encontraram perfil motor classificado como inferior. Os coefientes de todas as áreas avaliadas apresentaram grandes déficits sendo que os maiores comprometimentos foram observados no equilíbrio, no esquema corporal, na organização espacial e temporal - todos eles com classificação inferior. Os mesmos resultados também foram encontrados por Rosa Neto, Costa e Poeta (no prelo), realizado em escolares de 5 a 14 anos de idade com problemas de aprendizagem, onde a classificação do desenvolvimento motor foi "inferior" e as maiores dificuldades foram na organização temporal (muito inferior), no equilíbrio (muito inferior) e na organização espacial (inferior). Estes achados demonstram que a criança com indicadores de altas habilidades apresentou mais facilidade nas habilidades que exigem mais atenção e concentração, discordando dos resultados das demais pesquisas que encontraram as maiores dificuldades na organização temporal e espacial, justamente nas habilidades de melhor desempenho na amostra do presente estudo.
A lateralidade na amostra deste estudo foi classificada como "cruzada" (mão e pé direito e olho esquerdo). Nos estudos de Batistella (2001) e Rosa Neto e col (2004) foram encontrados predominância na lateralidade "destro completo", seguido da lateralidade "cruzada", "indefinida" e "sinistra completa".
Considerações finaisOs resultados indicaram que existe concordância entre pais e professores nas características de altas habilidades apresentadas pela criança. No entanto, o estudo demonstra a necessidade de validação de instrumentos para identificação e caracterização dessa população, uma vez que é possível encontrar crianças com altas habilidades matriculadas em escolas públicas ou privadas, na intenção de favorecer o desenvolvimento e a aprendizagem de tarefas motoras e cognitivas, da linguagem, da auto-ajuda, da socialização, dos aspectos intelectuais/cognitivos, da criatividade, da motivação e dos aspectos atitudinais destas crianças.
A partir da avaliação biopsicossocial e motora, o profissional da área da educação física poderá diagnosticar e classificar as crianças em nível superior ou inferior aos padrões, podendo desta forma, orientar a criança através de treinamento ou encaminhamento, sendo que o treinamento poderá seguir um programa normal ou específico, dependendo da necessidade apresentada pela criança.
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digital · Año 10 · N° 82 | Buenos Aires, Marzo 2005 |