Adolescência, inclusão de deficientes e educação física |
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Mestre em Pedagogia do Movimento FEF/ Universidade Estadual de Campinas Integrante do grupo de Estudos Pesquisa Infância e Aprendizagem FEF/Universidade Federal de Goiás |
Profa. Cristina Borges de Oliveira cb811@hotmail.com (Brasil) |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 82 - Marzo de 2005 |
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Algumas considerações sobre a adolescência
Esse ensaio se fundamenta na necessidade de buscar dados que ensejem discussão e reflexão crítica sobre a inclusão educacional e sócio-cultural, considerando o esporte e o lazer de adolescentes que possuem algum tipo de deficiência - neste ensaio utilizamos os termos adolescência, adolescentes, jovem, e juventude enquanto sinônimos. È importante aqui salientar que, atualmente nas sociedades crescentemente urbanizadas, os adolescentes são associados, constantemente, aos processos de violência e criminalidade, de acordo com Aurélio (1971, p39).
Do Latim Adolescentia - Período caracterizado psicologicamente por intensos processos conflituosos e persistentes esforços de auto-afirmação. Corresponde à fase de absorção de valores sociais e elaboração de projetos que impliquem plena integração social.
Priorizamos neste texto a compreensão de tendências e características da produção científica e suas articulações e imbricações com as políticas públicas inclusivas, com os documentos internacionais que as orientam destacando, como uma das possibilidades da Educação Física para adolescentes com necessidades especiais, a compreensão do Esporte Adaptado suas variações e interfaces enquanto tema da cultura corporal a ser explorado. Como se pode notar, o tema e objeto de discussão encontram-se inseridos em uma preocupação ampla, havendo efetivamente, o compromisso de desenvolvermos reflexões que, ao invés de neutras, assumam um papel crítico e desmistificador, no sentido de colaborar para futuras ações propositivas em torno das políticas educacionais, de esporte e lazer a partir de uma ótica inclusiva que incorpore a perspectiva dialética do processo de discussão e assunção do adolescente deficiente nas relações sociais, culturais, educacionais, políticas, esportivas, artísticas entre outras.
Inicialmente faz-se importante tecer algumas considerações significativas sobre a adolescência. Para tanto, utilizamos neste artigo uma interessante reportagem chamada - Cérebro de adolescente - divulgada na revista temática jovem, edição especial n32, ano 37. VEJA 1859, jun 2004 - realizada com o neurologista americano Paul Thompson, do laboratório de neuromapeamento da Universidade da Califórnia. O material afirma que pesquisas e descobertas científicas recentes provam, o que de certa forma o senso comum já sabe, que não apenas o corpo, mas também a mente passa por grandes mudanças na adolescência.
Deste ponto de vista, a não utilização de preservativos, o decorrente número de casos de gravidez e DST/AIDS entre adolescentes, apesar das campanhas de sexo seguro, o aumento considerável de deficiências motoras adquiridas provenientes da imprudência no trânsito mais a associação de álcool e drogas licitas e ilícitas, os recorrentes casos de espancamento e violência de diferentes ordens contra homossexuais, negros, índios, deficientes - em função da intolerância e do preconceito - entre outros fatores, demonstra que os adolescentes assumem comportamentos considerados socialmente irresponsáveis, em parte, porque as estruturas mentais que inibem respostas intempestivas e atitudes impulsivas ainda não se consolidaram.
Segundo estudiosos da neurofisiologia as alterações mais significativas do cérebro nos últimos anos da adolescência têm lugar no córtex pré-frontal, área responsável pelo planejamento e autocontrole das emoções. Assim, antes do amadurecimento dessa área acontecer, nem sempre o adolescente está pronto para entender e processar todas as informações que, dialeticamente, ele necessita considerar quando toma uma decisão. O cientista Paul Thompson vem mapeando, na Universidade da Califórnia, o cérebro de adolescentes com técnicas avançadas de tomografia, desta maneira, vale a pena destacar que as descobertas surpreendem se considerarmos que até pouco tempo era uma idéia científica comum, entre os estudiosos em desenvolvimento humano, que o cérebro completava seu crescimento na infância e pouco se alterava daí em diante.
No entanto, outras pesquisas apontam que várias estruturas cerebrais seguem se desenvolvendo durante a adolescência, embora nem todas se desenvolvam. Fato interessante também de se destacar é que; a idade em que essas mudanças se processam varia, mas, de uma maneira geral, no início da adolescência ainda estão em processo/andamento algumas mudanças. De qualquer modo,
a ciência ainda não entendeu completamente essas alterações [...] De qualquer modo, a notícia de que o cérebro adolescente ainda não está pronto é alentadora. "Isso significa que temos mais tempo de aprendizado do que antes pensávamos (THOMPSON in VEJA, 2004, p.34-35).
Entendemos que mudanças importantes no desenvolvimento do jovem/adolescente ocorrem, e que dependem também, mas não apenas, do amadurecimento do córtex pré-frontal para a consolidação do senso de responsabilidade social que falta a tantos adolescentes. Por isso, defendemos, neste ensaio, a perspectiva que aponta as interações sociais como base significativa para a formação e desenvolvimento do indivíduo a partir de políticas de inclusão sócio-cultural, educacional, esportiva entre outras. Este ensaio utiliza como alicerce as aproximações do pensamento da escola soviética sobre deficiência a partir do seu maior representante, Lev Semenovich Vigotsky (1896-1934). O objetivo essencial é explicitar o desenvolvimento das idéias deste teórico soviético acerca da deficiência e suas implicações sociais, culturais e educacionais enquanto referência para a defesa das interações sociais entre todas as pessoas inclusive daquelas que apresentam alguma deficiência.(VALSINE 1999)
O conjunto da obra de Vigotsky reflete as preocupações de um cientista profundamente comprometido com seu contexto social, revelando seu entusiasmo pelo socialismo e o interesse em contribuir para a constituição de uma psicologia materialista histórica que pudesse ajudar na construção de um (novo) homem - solidário, cooperador - que consolidasse uma sociedade igualitária. Atualmente, suas idéias têm sido mal interpretadas pelos modismos pedagógicos, inclusive no contexto das políticas públicas de caráter neoliberal (DUARTE, 1996).
No entanto é bastante enriquecedor o diálogo entre diferentes correntes de pensamento, pois, percebe-se que algumas considerações podem ser complementares.
Adolescência, inclusão educacional, esportiva e EF: o desafio urgenteDiscorrendo um pouco sobre o processo de escolarização formal, concordamos com Mantoan (1997) quando afirma que, o acesso, permanência e avanço de jovens/adolescentes que possuem alguma deficiência no sistema escolar apresentam-se, historicamente, como o grande desafio para o Estado e para a sociedade brasileira. Neste contexto, a educação escolar - e ainda no interior de cada um destes distintos momentos de escolarização, destacamos especificamente a Educação Física - vivenciam grandes dificuldades em estabelecer uma ação pedagógica de qualidade, coerente com o momento vivido pelo adolescente deficiente, com vistas à sua inserção ampla na cultura e na vida humana possibilitando, assim, sua emancipação.
Em se tratando de adolescentes com deficiência, verificamos que a situação apresenta-se bastante complicada. Por isso é tão importante discutir e refletir criticamente sobre qual deve ser a base formativa que permita uma intervenção profissional que, realmente, favoreça a emancipação de jovens/adolescentes a partir da democratização do conhecimento, de sua participação na construção social tendo como possibilidade o esporte, a arte, a cultura o trabalho, a saúde e o lazer enquanto direito de cidadão, independente de raça, credo, orientação sexual e de qualquer necessidade especial. A título de esclarecimento destacamos que; pessoas com deficiência, deficiente, portador de necessidades especiais, são termos que no contexto deste ensaio podem ser tomados como sinônimos a utilização de tais termos não objetiva reforçar preconceitos, mas sim, delimitar a população estudada.
Contextualizando os processos que oportunizam a inclusão social da pessoa com deficiência não podemos negar os avanços que ocorreram, principalmente, nos últimos 25 anos. Porém, dialeticamente, alguns aspectos ainda são extremamente complicados no tocante à realidade sócio-educacional de jovens deficientes no Brasil (CARVALHO, 2000a; 2000b).
A educação brasileira ao se esforçar para dar conta do desafio, que é imposto, vem propondo formas educacionais, metodologias alternativas e fundamentação teórica variada para a concretização da igualdade de oportunidades educacionais para jovens/adolescentes que possuem alguma deficiência motora e/ou sensorial, ou ainda, deficiências múltiplas. No entanto podemos também compreender, que a complexidade da questão sócio-educativa-cultural voltada para inclusão, que permeia a área da Educação e conseqüentemente a Educação Física é bastante grande e merecedora de destaque.
São múltiplas as interfaces que a problemática comporta. A questão relativa à necessária transformação das atitudes e concepções acerca da deficiência e seus diferentes tipos, limites e possibilidades poderia ser um ponto de partida para pensarmos a amplitude e complexidade do desafio que a inclusão social, educativa, cultural e esportiva impõe para adolescentes deficientes. O estigma social que marca a adolescência de uma maneira geral, e em particular a adolescência de indivíduos com deficiência, em uma sociedade que se pauta pela produção de excedentes e pelo lucro traz implicações significativas para o desenvolvimento de políticas, práticas e discursos relacionados à educação escolar e a inclusão sócio-cultural deste grupo.
Em se tratando de inclusão sócio-cultural a Educação Física apresenta-se como área acadêmica importante no que diz respeito às possibilidades de aprendizagens e participação de adolescentes deficientes em práticas da cultura corporal e de lazer. Inicialmente, as contribuições desta área se desenvolveram através do incentivo a Educação Física Adaptada (EFA) e, após a Segunda Guerra Mundial, a consolidação efetiva do esporte e todos os seus valores.
Interessante destacar que em um determinado momento histórico, o Brasil sofreu mudanças conjunturais fundamentais como o processo de urbanização e industrialização. E de acordo com a própria história, a Educação Física desempenhou função significativa no que diz respeito à difusão dos preceitos higienistas, a valorização dos princípios eugênicos, o fortalecimento corporal do trabalhador para o aumento da capacidade produtiva, entre outras ações. Desta maneira, valores como comparação, competição, rendimento, seleção dos mais aptos, são largamente difundidos pela Educação Física e seus profissionais exercendo, assim, inegável influência sobre a sociedade e, conseqüentemente, sobre o sistema educacional como um todo.
Em se tratando do Esporte Adaptado no tocante ao conceito definimos como sendo: aquelas experiências esportivas modificadas e/ou adaptadas para atender as necessidades especiais do indivíduo deficiente. Tal perspectiva destaca como fundamental a inclusão sócio-cultural de pessoas deficientes com aquelas que não possuem deficiência e também, com aquelas portadoras de algum tipo de necessidade especial. Apesar do Esporte Adaptado ter enfoque inicial oriundo da área médico/clínica com finalidade de prevenção, correção e reabilitação, o Esporte Adaptado também foi tomado como veículo de integração e reabilitação social e de movimentos, evidenciando-se assim, a defesa das interações sociais como necessárias para consideráveis avanços, reabilitações e reestruturação.
De acordo com Araújo et all (2004) a consolidação com maior visibilidade do esporte adaptado em âmbito nacional, teve seu iniciou em 1975, com a criação da (ANDE) - Associação Nacional Desporto para Excepcional, que congrega pessoas com diferentes tipos de deficiência. Entendemos que a participação crescente de pessoas com deficiência em práticas esportivas impulsiona a criação de outras entidades para atender as diferentes demandas, o que explicita, ao nosso ver, que o esporte adaptado foi-se consolidando a partir dos parâmetros fornecidos pelo esporte de alto rendimento.
Assim atualmente associações esportivas distintas compõem o Comitê Paraolímpico Brasileiro (CPB)1, a saber, destacamos algumas Entidades que compõem o cenário de competições Nacionais e Internacionais. Essas entidades supracitadas têm como principal objetivo incentivar o desenvolvimento do esporte adaptado organizando e/ou apoiando competições em âmbitos regionais, nacionais e internacionais, e também, junto ao Comitê Paraolímpico Brasileiro.
Políticas inclusivas para deficientes, produção científica da EF e as imbricações com as diretrizes internacionaisDefendemos a perspectiva que o Esporte Adaptado é um significativo ponto de discussão e reflexão para o comprometimento da Educação Física com o direito à prática destas atividades por pessoas deficientes, em particular, pela participação de adolescentes deficientes em programas esportivos recreativos e culturais. A defesa deste direito tem alcançado maior visibilidade a partir do final da década de 1970 quando surgem alguns documentos internacionais lançando as diretrizes e orientações a serem adotadas para ampliar as oportunidades de inclusão social das pessoas deficientes (OLIVEIRA 2003). Ênfase para o ano de 1981 que é declarado ano internacional da pessoa deficiente onde se destacam orientações e diretrizes a serem seguidas pelos paises signatários. Tais documentos respondem às pressões de grupos e movimentos organizados que lutam em pleito a melhoria da qualidade de vida das minorias, sendo também expressão da chamada nova ordem mundial pautada pelo paradigma da Educação pra Todos e Igualdade de oportunidades.
As orientações e diretrizes internacionais promovem a visibilidade da juventude que possui deficiência e das problemáticas associadas a ela, o que acaba por refletir-se também no campo da Educação Física. Podemos notar que no Brasil a partir da década de 1980 especialmente, no que se refere à produção teórica, intensifica-se no interior da Educação Física, o interesse pela temática deficiência. Na Educação Física, autores como Rosadas (1989), Carmo (1989), Silva (1999), Ferreira (1997), entre outros, constituem-se como marcos inauguradores desta discussão. De acordo com a pesquisa de Oliveira (2003) podemos observar que entre os anos 1980 e 1990 ocorre um crescimento do número de trabalhos e estudos apresentados em congressos e afins, relacionados à temática deficiência, e que apesar de existirem diferenças no que se refere aos problemas e objetivos abordados, ao tipo de deficiência, alguns procedimentos teórico-metodológicos e epistemológicos comuns, embasou a maior parte dos textos analisados na pesquisa.
Neste período a produção científica e teórica da Educação Física brasileira, expressa-se em estudos, projetos, cursos, congressos entre outros, sobre a Educação Especial e as características da deficiência em suas variadas formas. O avanço das discussões e proposições realizadas pela Educação Física brasileira, e pelos amantes do esporte adaptado pode ser identificado através da estruturação de cursos de pós-graduação lato sensu e strictu sensu na área EF adaptada ou atividade motora adaptada; a partir da inserção de disciplinas temáticas específicas sobre o assunto em diversos cursos de graduação em Educação Física, da criação e consolidação da Sociedade Brasileira de Atividade Motora Adaptada (SOBAMA), do surgimento do Grupo de Trabalho Temático (GTT) Educação Física/Esporte e Portadores de Necessidades Especiais do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte (CBCE) entre outras importantes iniciativas.
Há uma demanda grande de produção e intervenção dos profissionais de Educação Física em vários campos de atuação como: escola, clínicas de reabilitação e re-educação, organizações não governamentais (ONGS) como APAES e similares, no esporte adaptado e de rendimento, bem como, nos cursos de formação de professores. Esta inserção de profissionais trabalhando com a deficiência, e o aumento na produção científica representa uma preocupação concreta para com as temáticas que envolvem a pessoa deficiente e sua possibilidade de inclusão e aprendizagem na escola, no trabalho, no esporte, na cultura e no lazer, servindo de importante referencial para a elaboração de caminhos a serem trilhados.
No entanto dialeticamente, de acordo com os resultados da pesquisa de Oliveira (2003) nos anais dos congressos nacionais do Colégio Brasileiro de Ciências do Esporte especialmente na década de 90, pode-se notar que as discussões e estudos apresentados no GTT "Educação Física/Esporte e Pessoas Portadoras de Deficiência" se referem às possibilidades de integração do deficiente no contexto da educação especial enquanto modalidade educacional, não contemplando ainda o aporte legal que legitima a inclusão sócio-educativa-cultural.
Apesar da proximidade de objetivos entre educação especial e educação inclusiva, existem dialeticamente, distâncias consideráveis entre as duas possibilidades, conforme Carvalho (2000 a) chama a atenção para o artigo 58, do capítulo V da LDB/96 que trata da educação especial, nos seus incisos 1o e 2o que tem a seguinte redação:
#1o Haverá quando, necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular para atender as peculiaridades da clientela de educação especial. #2o O atendimento educacional será feito em classes escolas ou serviços especializados, sempre que em função das condições específicos dos alunos, não for possível sua integração nas classes comuns do ensino regular.
A letra da lei permite compreender, ainda segundo Carvalho (2000 a) a educação especial enquanto conjunto de recursos educacionais postos à disposição dos alunos no ambiente escolar, com o objetivo de melhoria da qualidade educacional. Tal compreensão afasta a educação especial da categoria de subsistema educacional. Assim, o adjetivo especial não mais referir-se-á a uma modalidade da educação, contudo, poderá qualificar todas as formas e modalidades de educação escolar, considerando também que todos os alunos são especiais.
A aprendizagem e a interação social, defendida por Vygotsky, de jovens/adolescentes com deficiência apresenta-se atualmente como um dos principais desafios a ser enfrentado pela escola e pelos professores, é cerne do debate que diferencia a educação especial enquanto modalidade educacional ou conjunto de recursos. Destaco aqui os questionamentos mais comuns feito pelos responsáveis daqueles que não possuem deficiência, mas estão em escolas de caráter inclusivo, a saber: A deficiência pega? O nível de ensino vai cair? Quem são os maiores beneficiados, os normais ou aqueles que possuem necessidades especiais? É possível que o aluno que não possui nenhum tipo de deficiência aprenda algo com alunos que saem do padrão de normalidade? Existem trocas reais de conhecimento entre ambos? Uma Educação que inclui e celebra as diferenças apresenta-se como uma ameaça ou uma oportunidade?
Os questionamentos supracitados expressam, na verdade, as visões e pensamentos historicamente estabelecidos e arraigadas no imaginário coletivo acerca da deficiência enquanto incapacidade, incompetência, improdutividade e impossibilidade, como se as pessoas deficientes fossem incapazes de constituírem-se como sujeitos autônomos, inteligentes, criativo e produtivos. É evidente que estas concepções colocam a impossibilidade de qualquer troca real entre pessoas ditas normais e aquelas com algum tipo de deficiência. A existência de políticas públicas que assegurem oportunidades educacionais, programas de esporte e lazer são, de suma importância para uma maior visibilidade deste grupo, porém, ainda não garantem a transformação de pré-concepções e valores que estão arraigadas historicamente no imaginário social.
Entendemos, enquanto parte da construção dessas mudanças que, a existência de uma produção científica que esteja em processo de avaliação contínua é essencial para as desejadas e necessárias alterações das concepções e preconceitos em relação à possibilidade de aprendizagem e a importância das interações sociais de adolescentes com deficiência neste processo de absorção de saberes. Consideramos que a pesquisa e a produção científica possuam a potencialidade de alavancar, orientar e estimular importantes processos de mudança nos indivíduos de uma maneira geral, nos profissionais que lidam direta ou indiretamente com adolescentes deficientes e, conseqüentemente, nas instituições que os atendem, pois a produção acadêmica pode apresentar caminhos já percorridos e, assim, possibilitar novas idéias a serem perseguidas, facilitando o intercâmbio de informações e soluções enquanto experiências vivenciadas.
Em se tratando de defender a perspectiva de inclusão sócio-educativa de adolescentes deficientes perpassa segundo Ferreira & Rodrigues (1996), pela necessidade do trabalho educativo e inclusivo com a criança deficiente dar-se desde a mais tenra idade fazendo com que as carências orgânicas e afetivas possam ser minimizadas, oportunizando a criança estar segura e apta para o alcance de fases posteriores da vida como a adolescência. No entanto, apesar do anunciado avanço, é preciso reconhecer que a relação entre poder público, infância e sociedade, no Brasil, tem sido marcada pela incoerência entre o discurso social e político de valorização e cuidado à criança e o adolescente e práticas permeadas por descaso e omissão e por desvios de verbas de áreas carentes como saúde e educação.
Autores como Carmo (1989), Mantoan (1997), Carvalho (2000) Jannuzzi (1992) Oliveira (2003) denunciam que, apesar do lastro legal - um dos mais avançados do mundo - o Brasil apresenta sérios problemas no que diz respeito à oferta de condições concretas para o atendimento à infância e adolescência, especialmente aquelas empobrecidas, em seus distintos aspectos. Pode-se notar essa afirmativa nas ambigüidades do discurso oficial e o quadro real de uma infância e adolescência abandonada e explorada desde tempos remotos, e pior ainda, em tempos atuais os adolescentes, especialmente aqueles muito pobres e de pele mais escura, estão sendo percebidos como uma ameaça social. Então, o perigo aciona seus alarmes principalmente em centros urbanizados. Tal contexto deve servir como elementos que fornecem impulsos para o engajamento de professores, pesquisadores e famílias na busca por caminhos que possibilitem de fato, e não somente de direito a inclusão - sócio-cultural, educacional, esportiva e artística, entre outras formas - de adolescentes que possuem necessidades especiais, todavia, pleiteiam direitos adquiridos de forma organizada, para conseguirem exercer com dignidade a sua cidadania.
Nota
Associação Brasileira de Desportos para Cegos (ABDC); Confederação Brasileira de Desportos de Surdos (CBDS); Associação Brasileira de Desporto para Amputados (ABDA); Associação Brasileira de Desporto em Cadeira de Rodas (ABRADECAR); Associação Nacional de Desportos para Deficientes (ANDE); Associação dos Deficientes físicos da Amazônia (ADEFA); Associação de Esporte Adaptado de Roraima (AEA); Associação Desportiva para Deficientes (ADD); Associação para integração Esportiva do Deficiente Físico (CIEDEF); Associação Niteroiense de Deficientes Físicos (ANDEF); Associação Pontagrossense de Esporte para Deficientes Físicos (APEDEF); Associação dos Deficientes Físicos do Paraná (ADFP) entre outras. Existe ainda enquanto Entidade independente a Associação Brasileira de Desportos para Deficientes Mentais (ABDEM), Federação Nacional das APAEs (FENAPES) e a Associação Olimpíadas Especiais do Brasil.
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revista
digital · Año 10 · N° 82 | Buenos Aires, Marzo 2005 |