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Treinamento de força e efeito
hipotensivo: um breve relato

   
Mestrando em Bioengenharia - Universidade do Vale do Paraíba - SP
CEPAC - Universidade Gama Filho - RJ
Centro de estudos Pontal Fitness - RJ
 
 
Alex Souto Maior
alex.souto@ig.com.br
(Brasil)
 

 

 

 

 
Resumo
     A hipertensão arterial é um dos principais fatores de risco para a doença cardíaca, e assume importância inquestionável como problema de saúde pública por sua alta prevalência global. O objetivo dessa revisão foi relatar a partir de uma vasta busca bibliográfica as principais conclusões envolvendo treinamento de força e efeito hipotensivo. A conclusão mostrou um grande número de informações confrontando-se, assim, relantando-se um possível efeito hipotensivo agudo, mas um déficit de informações sobre os efeitos crônicos.
    Unitermos: Efeito hipotensivo. Treinamento de força. Hipertensão arterial.
 
Abstract
    The arterial hypertension is one of the main risk factors for the heart disease, and it assumes unquestionable importance as problem of public health for his/her high global prevalence. The objective of that revision was to tell starting from a vast bibliographical search the main conclusions involving training of force and effect hypotension. The conclusion showed a great number of information being confronted, like this, related-if possible effect sharp hypotension, but a deficit of information on the chronic effects.
    Keywords: Effects hypotension. Strength training. Arterial hypertension.
 

 
http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 82 - Marzo de 2005

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Introdução

    A hipertensão arterial (HA) é considerada um problema de saúde pública por sua magnitude, risco e dificuldades no seu controle. É também reconhecida como um dos mais importantes fatores de risco para o desenvolvimento do acidente vascular cerebral e infarto do miocárdio (MACMAHON et al., 1995). Um dos principais fatores de risco para a doença cardíaca é a elevação crônica da pressão arterial (PA). A prevalência de HA nos Estados Unidos foi verificada como um problema de saúde pública. Alguns estudos e consenso observaram que em média 58,4 milhões de americanos com mais de 18 anos apresentavam a pressão arterial sistólica em torno de 140 mmHg e a pressão arterial diastólica entre 90 mmHg (AMERICAN HEART ASSOCIATION, 2002; HAJJAR e KOTCHEN, 2003). Seguindo esta linha de conclusão, no Brasil a HA embora não apareça como causa isolada entre os óbitos cardiovasculares, está associada a 60% dos infartos do miocárdio e a 85% dos acidentes vasculares encefálicos (AVE), e assume importância inquestionável como problema de saúde pública por sua alta prevalência em nosso meio (RONDINELLI e MOURA-NETO, 2003).

    Os medicamentos utilizados no combate a HA apresentam uma discriminação dos grupos a serem tratados. Assim, o tratamento de um grupo de pacientes com uma determinada droga, mesmo que esta tenha demonstrado eficácia nos ensaios clínicos, é necessária uma precaução de que apenas uma parte dos pacientes a serem tratados será beneficiada com ela; para alguns, a doença seguirá sua história natural. Por isto precisamos compreender melhor qual a probabilidade de o indivíduo se beneficiar ou não com o tratamento medicamentoso (SOUZA e SILVA, 2003). O VI Joint National Committee recomenda ainda que a utilização de fármacos deva ser iniciada somente após a tentativa de controle da pressão arterial por pelo menos 6 meses através de modificação do estilo de vida e prática regular de exercícios físicos, naqueles hipertensos que não necessitam de tratamento imediato (JNC, 1997).

    O exercício físico regular contribui para a diminuição da PA em repouso, podendo ocorrer de duas maneiras distintas. Primeiramente, ocorreria efeito hipotensivo pós-exercício, que significa redução dos valores de repouso da PA após o término do esforço (MACDONALD, 2002). Essa resposta dá-se nas horas subseqüentes ao término da atividade física (THOMPSON et al., 2001), podendo perdurar alguns dias (ARAÚJO, 2001). Outra forma de redução da PA é através da resposta crônica, proporcionada pela continuidade da atividade física.

    A redução crônica da PA em relação ao repouso apresenta-se de forma consensual na literatura através do exercício aeróbio (WHELTON, 2002; KELLEY e MCCLELLAN, 1994). Sobre o treinamento de força, alguns dados apontam que a PA também pode reduzir-se através da continuidade do treinamento (BYRNE e WILMORE, 2000) ou não se alterar (FLECK, 1988). O treinamento de força apresenta uma grande escassez de estudos em hipertensos em relação ao efeito hipotensivo. Durante a execução deste tipo de atividade, o valor da PA tende a elevar-se rapidamente, podendo atingir valores importantes (POLITO et al. 2003). Mas a duvida ainda prevalece e alguns estudos mostram reduções na PA após o esforço (HARDY e TUCKER, 1999), mas outros dados não reportam alterações (ROLTSCH et al., 2001) ou mostram aumento (O'CONNOR et al., 1999).

    O objetivo do projeto é analisar as respostas pressóricas de populações hipertensas após 8 semanas de realização de um programa de treinamento de força. Procura-se obter resposta hipotensivas, com o propósito de minimização ou exclusão de tratamento farmacológico.


Efeito hipotensivo, treinamento de força e evidências

    O efeito hipotensivo relacionados a programas de treinamento de força foi verificado por HILL et al. (1989), que investigaram as respostas pressóricas após o programa de treinamento de força. Os resultados mostraram uma significativa redução na pressão arterial diastólica após 1h do término dos exercícios, contrariamente, nenhum efeito hipotensivo foi encontrado na pressão arterial sistólica. O'CONNOR et al. (1993) examinaram as respostas pressóricas entre 30 min e 2h após a sessão de exercício de força, e concluíram que não houve nenhuma mudança significativa na pressão arterial diastólica, mas observaram elevação significante em relação à pressão arterial sistólica. Subestimando estes relatos, KELLEY e KELLEY (2000) estudaram 320 indivíduos (homens e mulheres), que 182 indivíduos foram submetidos a um programa de treinamento de força e 138 dos indivíduos fizeram parte do grupo controle. O objetivo deste estudo foi verificar a resposta hipotensiva dos indivíduos normotensos. O resultado do estudo apresentou reduções significativas de aproximadamente 3 mmHg no grupo que realizou o programa de treinamento de força. Estas diminuições eram equivalentes a reduções de 2 e 4%, respectivamente, para pressão arterial sistólica e pressão arterial diastólica. Embora estas mudanças modestas podem não ser importante de um ponto de vista clínico, porém, em populações hipertensas proporciona redução de 5-9% de risco de doenças coronarianas, 8-14% de acidente vascular encefálico e 4% de mortalidade.

     É importante ressaltar os critérios básicos para a exclusão dos indivíduos (amostra) durante a realização das pesquisas, são eles: a) problemas osteomioarticulares ou metabólicos que limitassem ou contra-indicassem a prática dos exercícios programados; b) quadro de infarto de pelo menos dois anos, insuficiência cardíaca, cardiopatia isquêmica ou angina instável; c) participação em outros programas regulares de exercícios; d) quadro de insuficiência renal (creatinina > 1,5); e) quadro de anemia (Hb < 10g/dl); f) aumento de dosagem ou mudança de classe dos medicamentos utilizados; g) absenteísmo superior a 25% do número de sessões previstas (PINTO et al., 2003). Estes critérios são importantes para mostrar a baixa margem de erro do estudo.

     Alguns estudos mostram respostas hipotensivas agudas até 40 minutos após uma sessão de treinamento de força, mas utilizando indivíduos normotensos (POLITO et al., 2003). Em uma busca bibliográfica, foi constatado a redução da PA sistólica (130 ± 3 mmHg antes a 121 ± 2 mmHg depois) e diastólica (69 ± 3 mmHg antes a 61 ± 2 mmHg depois) depois de um programa de treinamento de força de 3 vezes por semana durante 8 semanas, utilizando jovens (21 ± 0.3 anos), normotensos e mensurando a PA através do método auscultatório (CARTER et al., 2003). A medida mais fidedigna seria pelo MAPA (antes, durante e depois do programa de treinamento de força ), porém, um determinado estudo avaliou suas amostras somente após o término do programa de treinamento de força. Os resultados não demonstraram redução significativa da PAS e PAD (ROLTSCH et al., 2001).

     Em relação à idade, MARTEL et al. (1999) estudaram idosos (homens e mulheres), que executaram um programa de treinamento de força contendo 9 exercícios, durante 6 meses e 3 vezes por semana. As mensurações da PA ocorreram antes e depois do treinamento. Os resultados demonstraram reduções significativas na PAS dos homens (antes 134 ± 3 e depois 127 ± 2 mm Hg) e sem alteração nas mulheres. A PAD apresentou redução em ambos os grupos (antes 81 ± 3 e depois 77 ± 1 mm Hg - homens / antes 78 ±2 e depois 74 ±2 mm Hg - mulheres).

     Alguns estudos pesquisaram o efeito hipotensivo em pacientes hipertensos mesclando alguns tipos de treinamento (aeróbio, força e flexibilidade). No estudo de BLUMENTHAL et al. (1991) realizado em hipertensos leves, observou-se que a redução significativa da PA em relação aos níveis basais foi semelhante nos indivíduos dos três grupos experimentais: submetidos a tratamento ativo, placebo e nenhuma intervenção. O tratamento ativo constituía-se de condicionamento aeróbico através de caminhadas e corridas durante quatro meses a 70% do VO2max; o grupo placebo realizava exercícios de alongamento, flexibilidade e força, de intensidades não determinadas; aos pacientes sem intervenção foi solicitado apenas que aguardassem convocação para eventual participação futura no programa. Contrapondo o estudo citado, PINTO et al. (2003) utilizaram pacientes hipertensos, divididos em dois grupos, que participaram nove meses de um programa de treinamento extramuros, ou seja, aqueles nos quais os indivíduos realizam seus exercícios fora de ambiente controlado, como hospitais, clubes e similares. Portanto, abdica-se, em grande parte, do controle fisiológico do treinamento, uma vez que não há acompanhamento direto da atividade física. O 1º grupo realizava caminhadas a 60-85% da FCmax estimada para a idade e exercícios de flexibilidade, com freqüência mínima de três vezes por semana e duração de 30 minutos por sessão. No 2º, os pacientes foram submetidos a um programa de exercício comunitário, de caráter fundamentalmente aeróbio a 75-85% da FCmax obtida em teste de esforço máximo, duração de 60 minutos por sessão em, no mínimo, três vezes por semana, além de exercícios de flexibilidade e força muscular. Nos resultados, o 2º grupo demonstra ser mais eficiente que o 1º, mas de qualquer forma as repercussões sobre a PA, apesar de identificadas estatisticamente, revelaram-se menos consistentes.


Conclusão

     De acordo com a revisão da literatura, a grande parte dos estudos baseia-se em indivíduos normotensos, o que não é uma proposta fidedigna. Ainda é muito precária a confirmação de um efeito hipotensivo crônico pelo treinamento de força em populações hipertensas, já que grande parte dos estudos realiza a mensuração da PA minutos ou poucas horas após a sessão de treinamento, com isso, podem-se observar ou não o efeito hipotensivo agudo.


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