Morfologia de atletas de handebol: comparação por posição ofensiva e defensiva de jogo |
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*Bolsista de extensão CDS/UFSC **Bolsista PIBIC/Cnpq ***Prof. Dr. CDS/UFSC Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis-SC |
Daniel Giordani Vasques* Priscilla de Cesaro Antunes* Tiago José Silva** Adair da Silva Lopes** dgvasques@hotmail.com (Brasil) |
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http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 81 - Febrero de 2005 |
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Introdução
A dinâmica de jogo da modalidade esportiva handebol pode ser caracterizada pela alternância entre a parte ofensiva e a defensiva. Significa dizer que, em uma parte do jogo, os atletas atacam a equipe adversária com o objetivo de realizarem o gol e em outra, os atletas marcam o ataque da equipe adversária.
Os principais tipos de sistemas ofensivos são: o ataque em circulação, no qual os atletas estão em constante movimentação e troca de posicionamento; o ataque combinado, onde alguns jogadores têm posição fixa e outros, em circulação; e o ataque posicionado, no qual os jogadores têm posição fixa e quem circula é a bola. Exemplos desse sistema são o 3x3, onde se joga com três armadores, dois extremas e um pivô e o 4x2, onde se jogam com dois armadores, dois extremas e dois pivôs. No entanto, o mais utilizado, principalmente nas categorias de base, é o sistema posicionado 3x3 (MARTINI, 1980; BAYER, 1987; TENROLER, 2004).
Os tipos de sistemas defensivos mais utilizados são: o 4x2, onde quatro jogadores se posicionam perto da linha dos 6m e dois perto da linha dos 9m; o 5x1, quando os cinco jogadores se posicionam nos 6m e um nos 9m; e o 6x0, sistema no qual os seis jogadores de linha se posicionam perto da linha dos 6m. O 6x0 é o sistema mais utilizado, por ser considerado o mais "fechado" (MARTINI, 1980; BAYER, 1987; TENROLER, 2004). Neste sistema, quem marca mais perto das linhas laterais denomina-se "1", quem marca mais perto do centro denomina-se "3", e os intermediários denominam-se "2".
Nem sempre em uma partida de handebol existem somente sete atletas que podem ser considerados titulares. Em decorrência da especialização posicional decorrente da busca pelo rendimento máximo, algumas equipes possuem atletas somente de marcação e atletas somente de ataque.
Devido ao treinamento a que o atleta é submetido, ele adquire certas características que o diferenciam da população normal e de outras modalidades esportivas (PIRES NETO, 1986). No entanto, cada modalidade requer um determinado tipo de atleta (GLANER, 1996). Pode-se destacar, então, que o handebol possui atletas com características específicas.
Os fatores que influenciam na capacidade de jogo dos atletas são, segundo RUIZ & RODRÍGUEZ (2001): os fatores de capacidade física (condição física geral e específica), psíquicos (personalidade), técnico-táticos (técnica e tática de jogo) e corporais (morfologia corporal: estatura, envergadura, comprimento dos membros inferiores...). As características morfológicas são muito importantes no handebol, pois são elas que dão condição para o treinamento das qualidades físicas necessárias para um bom rendimento, além de auxiliarem diretamente nas ações de jogo. Existem estudos que indicam que equipes melhores colocadas em competições possuem atletas morfologicamente avantajados (BAYER, 1987; GLANER, 1996).
Distintas qualidades morfológicas para atletas de handebol são discutidas na literatura. A estatura destaca-se: o jogador deve ser alto e forte (BAYER, 1987). É importante, pois proporciona vantagem defensiva, por ocasionar um bloqueio mais elevado (MARQUES, 1987). Entretanto, um jogador de estatura mediana pode compensar sua relativa inferioridade morfológica com uma velocidade de execução muito grande ou com uma considerável mobilidade, ou com ambas (BAYER, 1987).
A massa corporal é fundamental, principalmente nas situações de 1x1, no ataque (fintas) e na marcação (MORENO, 1997). Para tanto, seleções de alto nível recorrem a jogadores mais pesados (BAYER, 1987), principalmente se esta massa corporal for predominantemente decorrente da massa corporal magra.
A envergadura facilita o arremesso ao gol, pois quanto maior for o raio de ação, maior será a potência do arremesso. Facilita também a marcação, tanto para bloqueios quanto na realização de faltas. Cercel apud MARQUES (1987) cita que a envergadura deve superar a estatura em 6% nos jogadores de handebol.
Um grande diâmetro palmar facilita ações de ataque como o manejo da bola, dribles, fintas, passes e arremessos (MARTINI, 1980). O diâmetro de atletas de handebol masculino deve variar entre 24-26cm (FISCHER et al, 1991-92).
O handebol do Estado de Santa Catarina possui um nível elevado de resultados em relação à média brasileira. Os Joguinhos Abertos de Santa Catarina são a maior competição do esporte no Estado para atletas até 18 anos e o handebol é uma de suas principais modalidades coletivas (FESPORTE, 2004).
Este estudo objetivou comparar a morfologia dos atletas de handebol juvenil masculino do Estado de Santa Catarina por posição de jogo ofensiva e defensiva.
MetodologiaOs sujeitos deste estudo foram atletas juvenis do sexo masculino, que participaram dos 17º Joguinhos Abertos de Santa Catarina da modalidade de handebol. Foram mensurados 73 atletas, sendo os 6 titulares de cada uma das 12 equipes, com exceção dos goleiros, que não participaram da amostra. Um atleta não participou da amostra do ataque, por jogar somente na defesa e outro atleta não participou da amostra da defesa, por jogar somente no ataque. Isso porque esta equipe foi a única que apresentou essa característica.
O termo de consentimento livre e esclarecido, além de autorizar a participação dos atletas, teve como objetivo esclarecer ao técnico ou responsável, o objetivo da pesquisa e as variáveis a serem analisadas. Foi requisitada para o técnico ou responsável, de cada uma das 12 equipes participantes do campeonato de handebol masculino, a mensuração dos atletas titulares de sua equipe.
A coleta de dados foi realizada nos dias 19 e 20 de Setembro de 2004. Os materiais e equipamentos necessários foram deslocados até os locais de mensuração.
Os protocolos utilizados para mensuração das variáveis foram: GLANER (1996) para diâmetro palmar; LOHMAN et al (1991) para envergadura e PETROSKI (2003) para massa corporal (MC), estatura (ES), diâmetro biestilóide rádio-ulnar (DRU), perímetro do antebraço (PA), dobras cutâneas subescapular (SE) e abdominal (AB). Também foi calculado o somatório das duas dobras cutâneas (2DC). A ficha de coleta conteve, além das variáveis mensuradas, os dados demográficos: nome, idade (ID), equipe, posições ofensiva e defensiva e a data da avaliação.
A composição corporal foi estimada pelo método antropométrico de dobras cutâneas. A densidade corporal (D) foi estimada (em g/ml) por meio da equação generalizada de FORSYTH & SINNING (1973), a qual é recomendada por PETROSKI (1995) para atletas do sexo masculino:
O percentual de gordura (%G) foi estimado pela equação de SIRI (1961):
Para a obtenção da massa de gordura (MG) e massa corporal magra (MCM), foram utilizadas, respectivamente, as seguintes equações:
Utilizou-se estatística descritiva (médias e desvios padrões para caracterizar a amostra) por posição de jogo (ofensiva e defensiva), e análises de variância ANOVA one-way e testes post-hoc de Scheffe (p<0,05) entre os atletas por posição de jogo ofensiva e defensiva.
Resultados e discussãoCom o objetivo de caracterizar a amostra estudada, na TABELA 1 são apresentados os valores médios e desvios padrões dos atletas de handebol masculino dos Joguinhos Abertos de Santa Catarina de 2004 (n = 73).
TABELA 1 - Valores médios e desvios padrões dos atletas de handebol masculino
dos Joguinhos Abertos de Santa Catarina de 2004.
A TABELA 2 mostra e compara, por meio do ANOVA one-way e teste post-hoc de Scheffe, os valores médios e desvios padrões dos atletas dos Joguinhos Abertos de Santa Catarina 2004 por posição ofensiva de jogo.
TABELA 2 - Valores médios, desvios padrões e comparação dos atletas
dos Joguinhos Abertos de Santa Catarina por posição ofensiva de jogo.
*p<0,05 na ANOVA one-way; letras distintas representam médias significativamente diferentes por meio do teste post-hoc de Sheffe.
Pôde-se verificar, ao analisar os atletas por posição ofensiva de jogo, que os extremas possuíram os valores médios de todas as variáveis abaixo dos pivôs e dos armadores. Isto confirma outros estudos nos quais os extremas foram morfologicamente menores (GLANER, 1996; GLANER, 1999). BAYER (1987) destaca que os jogadores menores compensam sua inferioridade morfológica com uma maior velocidade e mobilidade e este, provavelmente, é o caso do extrema.
As variáveis que diferiram significativamente entre as posições ofensivas de jogo foram a MC, o PA e a MCM. A MC é muito importante na parte ofensiva, principalmente nas situações de 1x1 (fintas) (MORENO, 1997). A MCM é uma variável da composição corporal diretamente relacionada à MC. Os armadores e pivôs obtiveram valores médios da MC e da MCM superiores aos extremas e provavelmente obtiveram maior vantagem nas situações de 1x1. Os armadores possuíram os valores médios do PA significativamente superiores aos dos extremas.
A TABELA 3 mostra e compara, por meio do ANOVA one-way e teste post-hoc de Scheffe, os valores médios e desvios padrões dos atletas dos Joguinhos Abertos de Santa Catarina 2004 por posição defensiva de jogo.
TABELA 3 - Valores médios, desvios padrões e comparação dos atletas
dos Joguinhos Abertos de Santa Catarina por posição defensiva de jogo.
Pôde-se verificar, ao comparar os atletas por posição defensiva de jogo, que houve aumento de todas as variáveis do marcador 1 para o marcador 3. Demonstrando assim, que o marcador mais próximo do centro da quadra (3) apresenta morfologia mais avantajada do que os das demais posições (1 e 2). Possivelmente isso se deve ao fato de o maior número de arremessos e fintas ocorrer a partir da região central.
As variáveis que diferiram significativamente entre as amostras foram: MC, ES, ENV, DPA, DRU, PA e MCM. O marcador 3 obteve os valores médios da MC, da ES, do PA e da MCM significativamente superiores aos marcadores 1 e 2. A MC é muito importante na marcação de fintas (MORENO, 1997). Por isso, os marcadores centrais (3) provavelmente tiveram mais facilidade nas marcações deste tipo que os demais. A MCM, diretamente relacionada à MC, provavelmente, também facilitou marcações de fintas. A ES é muito importante na realização de bloqueios mais elevados (BAYER, 1987) e, provavelmente, os marcadores 3 obtiveram maior êxito neste quesito que os outros marcadores. Por conseguinte, a região central da quadra (3) é a que mais favorece as fintas e os arremessos, em razão de os atacantes possuírem maior ângulo para arremates ao gol e, por isso, os técnicos possivelmente tenham posicionado seus atletas com maior MC e ES nesta região.
Os marcadores 3 obtiveram valores médios da ENV, DPA e DRU significativamente superiores aos marcadores 1. A ENV é diretamente proporcional à ES e facilita a marcação, tanto para bloqueios como na realização de faltas. Os técnicos possivelmente tenham posicionado seus atletas com maior ENV na região 3.
Verificou-se que as três variáveis que diferiram significativamente entre as posições ofensivas diferiram também entre as defensivas: MC, PA e MCM. Enfim, estas variáveis, assim como a ES, a ENV, o DPA e o %G, são muito importantes para que os atletas que jogam no ataque e na defesa consigam obter um maior rendimento (MARTINI, 1980; BAYER, 1987; MARQUES, 1987; FISCHER et al, 1991-92; GLANER, 1996; MORENO, 1997).
Conclusões
Com base nos resultados encontrados, pode-se concluir que os atletas diferem mais quando comparados por posição defensiva do que quando comparados por posição ofensiva de jogo.
Quando comparados por posição ofensiva de jogo, verificou-se que os extremas foram morfologicamente menores que os armadores e os pivôs (principalmente nas variáveis MC, PA e MCM). A inferioridade morfológica dos extremas pode ter sido compensada por outras qualidades físicas inerentes a jogadores desta posição, como agilidade, velocidade e mobilidade.
Ao comparar os atletas por posição defensiva de jogo, verificou-se que houve aumento de todas as variáveis do marcador 1 para o marcador 3. Os marcadores do centro da quadra, região onde mais ocorrem fintas e arremessos, são morfologicamente avantajados em relação aos demais, principalmente nas variáveis MC, ES, ENV, DPA, DRU, PA e MCM.
Os atletas que jogam nas posições mais centrais da quadra são morfologicamente avantajados em relação aos demais, enquanto que os que jogam mais próximos das laterais da quadra são morfologicamente menores.
Em decorrência da inferioridade morfológica apresentada pelos extremas e pelos marcadores 1, supõe-se que, em sua maioria, sejam os mesmos atletas, assim como ocorre com os armadores e os marcadores 3. Recomenda-se, portanto, que sejam realizados estudos com o objetivo de identificar as possíveis relações entre posição ofensiva e defensiva de atletas de handebol.
Referências
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GLANER, M.F. Morfologia de atletas pan-americanos de handebol adulto masculino. [Dissertação de mestrado - Mestrado em Ciência do Movimento Humano] Santa Maria (RS): Universidade Federal de Santa Maria, 1996.
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MORENO, F.M.A. Detección de talentos en balonmano. Educación Física y Deportes [periódico on line] v.2, n.6, 1997. Disponível em: PETROSKI, E.L. Desenvolvimento e validação de equações generalizadas para a estimativa da densidade corporal em adultos. [Tese de doutorado - Doutorado em Ciência do Movimento Humano] Santa Maria (RS): Universidade Federal de Santa Maria, 1995.
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TENROLER, C.A. Handebol: teoria e prática. Rio de Janeiro: Sprint, 2004.
revista
digital · Año 10 · N° 81 | Buenos Aires, Febrero 2005 |