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O destreinamento e a recuperação das
capacidades físicas de adolescentes
após o período de férias

   
Centro Universitário Toledo
Curso de Educação Física
(Brasil)
 
 
Alex Luiz Raimundo
Prof. Ms. Sérgio Tumelero

tumelero.prof@toledo.br
 

 

 

http://www.efdeportes.com/ Revista Digital - Buenos Aires - Año 10 - N° 80 - Enero de 2005

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Introdução

    As modificações induzidas pelo treinamento são transitórias ou passageiras. Todas as características secundárias adquiridas por meio do treino, perdem-se e retornam aos limites iniciais pré treinamento, após determinado período de inatividade. Pelo motivo exposto há sempre a necessidade de manutenção do treinamento em níveis contínuos para a manutenção de um estado de treinamento mais elevado.

    Embora ainda não se tenham explicações adequadas para inúmeros questionamentos relacionados com os efeitos da prática da atividade física envolvendo integrantes da população jovem, verifica-se que, nos últimos anos, uma grande quantidade de informações vem sendo acumulada com referência ao assunto. Certamente, as lacunas existentes têm a ver com o fato de alguns programas de atividade física induzirem modificações morfológicas e funcionais na mesma direção do que é esperado para o próprio processo de maturação biológica (GUEDES & GUEDES, 1995).

    Os especialistas em pediatria enfatizam que as crianças, tanto funcional quanto estruturalmente, não são semelhantes aos adultos (ASTRAND, 1992). Em pessoas adultas, tem-se assumido que as alterações que eventualmente, possam ocorrer caracterizam-se como uma resposta ao processo de adaptação do estresse imposto pelo esforço físico. Entretanto, em se tratando de crianças e adolescentes, as modificações que presumivelmente ocorrem até que atinjam o estágio de maturidade podem ser tão grandes ou maiores até do que as próprias adaptações resultantes de um programa de atividade física (GUEDES & GUEDES, 1995).

    Nesse sentido, parece ser fundamental, em estudos realizados com crianças e adolescentes, que se distinguam os efeitos do treinamento dos possíveis efeitos provocados pela ação do crescimento, desenvolvimento e maturação sobre as variáveis analisadas.

    Segundo ARAÚJO (1985), o crescimento pode ser definido como as mudanças normais na quantidade de substância viva; é o aspecto quantitativo do desenvolvimento biológico, é medido em unidades de tempo, resultando de processos biológicos por meio dos quais a matéria viva normalmente se torna maior. O crescimento enfatiza as mudanças normais de dimensão durante o desenvolvimento e pode resultar em aumento ou diminuição de tamanho e, ainda, variar em forma e/ ou proporção. O desenvolvimento, por sua vez, pode ser definido como um processo de mudanças graduais, de um nível simples para um mais complexo, dos aspectos físico, mental e emocional pelo qual todo ser humano passa, desde a concepção até a morte (BARBANTI, 1994); já, a maturação significa pleno desenvolvimento, a estabilização do estado adulto efetuada pelo crescimento e desenvolvimento (ARAÚJO, 1985).

    Para GALLAHUE (1989), o crescimento pode ser definido como o aumento na estrutura corporal realizado pela multiplicação ou aumento das células; o desenvolvimento como um processo contínuo de mudanças no organismo humano que se inicia na concepção e se estende até a morte; por fim, ainda segundo GALLAHUE (1989), a maturação refere-se às mudanças qualitativas que capacitam o organismo a progredir para níveis mais altos de funcionamento e que, vista sob uma perspectiva biológica, é fundamentalmente inata, ou seja, é geneticamente determinada e resistente à influência do meio ambiente. Por exemplo: a idade aproximada em que uma criança aprende a sentar, ficar em pé e caminhar é altamente influenciada pela maturação

    A perda nos níveis de adaptação adquiridos no treino estão intimamente relacionados ao período de tempo em que foram adquiridos. Como regra "quanto mais longo o período de treinamento mais longo será o período de destreino (ZATSIORSKY; 1999) e toda aquisição que se ganha lentamente e em um tempo prolongado mantém-se com mais facilidade e perde-se com mais lentidão do que as aquisições conseguidas rapidamente e em um tempo curto (BARBANTI; 1994).

    Alguns aspectos morfológicos e funcionais como no caso das adaptações anaeróbias que perdem-se mais rapidamente do que as adaptações aeróbias e de força máxima. A hipertrofia muscular é tanto quanto vagarosa em sua evolução durante o treino quanto no destreinamento. Segundo FLECK & KRAEMER (1999), a redução da força durante o destreino dá-se em uma velocidade inferior quando comparada com o tempo para aquisição no treino. Vale lembrar, que os níveis de força muscular em períodos curtos de destreino, permanecem um pouco acima daqueles encontrados no pré treinamento.

    Para evitar uma drástica perda nos níveis de força alcançados, e criando condições para preservar um declínio mais vagaroso da mesma, deve-se programar períodos curtos de trabalhos contra resistência. A atitude de criar microciclos breves de treinamento de força, visando uma manutenção satisfatória da força com menor perda momentânea, faz-se lógica, necessária e econômica, assim como aproveita de maneira otimizada os efeitos residuais do treinamento.


Justificativa

    Adolescentes apresentam uma série de mudanças em seu desenvolvimento físico, essas mudanças, nem sempre são mensuradas, ainda mais se estes adolescentes têm em seu cotidiano uma prática esportiva agregada a sua vida escolar.

    Então, as férias escolares, concomitante à pausa nas práticas esportivas, seria um momento onde estes adolescentes perderiam um pouco de suas capacidades físicas adquiridas no decorrer do ano? Ou, sem todas as atividades do dia-a-dia, estes adolescentes, poderiam também desenvolver suas capacidades físicas, como a força, a agilidade e a resistência, mesmo sem estarem treinando?


Objetivos

    Este estudo foi realizado com o intuito de tentar verificar o quanto estes adolescentes desenvolvem de suas capacidades físicas, estando eles em sua vida diária normal (aulas e treinamentos), ou estando em férias?

    O objetivo deste é tentar informar aos profissionais de Educação Física, sobre as diferentes fases do desenvolvimento de crianças e adolescentes, em dois momentos distintos, sendo o período letivo agregado à prática esportiva e o período de férias, onde esta é também interrompida, proporcionando maiores informações para que estes possam desenvolver em seus alunos todas as potencialidades que vierem a apresentar, seja para detectar um talento esportivo ou para que os mesmos possam desenvolver uma consciência corporal que os levará a uma melhor qualidade de vida no futuro.


Metodologia

    As avaliações foram realizadas em dois locais: a quadra do CPP (centro do professorado paulista), e a quadra da EMEF Maria Adelaide situada no bairro Antônio Pagan.

    Foram realizados 4 (quatro) avaliações com os alunos do CPP , nos meses de outubro e novembro de 2003 e em março e junho de 2004 e duas avaliações com os alunos da EMEF Maria Adelaide, nos meses de outubro de novembro de 2003. Estas avaliações foram realizadas sempre realizadas às 14 horas.

    Participaram das avaliações crianças e adolescentes com faixa etária variando entre 9 e 17 anos. Apresentando média de altura de 1.55cm e média de peso de 48,5 kg.

    Todos os adolescentes envolvidos, participam das escolinhas de voleibol do projeto VOLEI FUTURO na cidade de Araçatuba - SP, realizando atividades em média de 1 hora e 15 minutos por dia e com freqüência de 3 vezes semanais.

    Os treinamentos são voltados para a iniciação esportiva, dando ênfase às atividades coordenativas, fundamentos específicos da modalidade, jogos reduzidos, tanto do voleibol quanto de outras modalidades que vão desenvolver melhores condições motoras gerais nestes jovens, além de atividades lúdicas.

    A freqüência cardíaca era avaliada através da contagem dos batimentos durante 15 segundos e multiplicando-se por 4. Antes de iniciar esta avaliação os alunos permaneciam sentados por 10 minutos, já que a maioria se locomovia de bicicleta até o local da avaliação.

    Para a avaliação do alcance vertical os avaliados posicionavam-se com os pés paralelos à parede, estendendo-se um dos braços sob uma trena afixada na parede, onde marcava-se os resultados.

    Para a impulsão vertical os alunos "sujavam" as pontas dos dedos no pó de giz e saltavam sem deslocamento a fim de tocar o ponto mais alto que conseguissem, sendo um salto apenas para cada aluno.

    Para a avaliação de agilidade utilizamos o teste adaptado de Chatorram, com uma distância 6 metros.

    Freqüência cardíaca no exercício, era avaliado imediatamente após a realização do teste de agilidade contando-se no pulso dos alunos durante 15 segundos e multiplicando-se por 4.


Resultados

    Para a freqüência cardíaca de repouso, representada no gráfico 1, os valores foram de 89 bpm para a primeira avaliação no núcleo Maria Adelaide e de 88 para a Segunda avaliação. Para as avaliações do CPP os valores foram de 84 na primeira avaliação e 86 bpm na Segunda avaliação.


Gráfico 1: valores da Fc de repouso

    Para a freqüência cardíaca, avaliada após a realização do teste de agilidade observamos valores de 120,2 bpm para a primeira avaliação do núcleo Maria Adelaide e de 124,2 bpm, para o mesmo grupo. Para o núcleo CPP os valores foram de 154 bpm para a primeira avaliação e de 146 bmp para a Segunda avaliação. Valores representados no gráfico 2.

    Na avaliação da agilidade os valores apresentados foram: 8,25 segundos para a primeira avaliação no núcleo Maria Adelaide e de 7,96 segundos para a Segunda avaliação. Para o núcleo do CPP os valores foram de 7,76 segundos para a primeira avaliação e de 9,21 segundos para a Segunda avaliação. Representa-se estes valores no gráfico 3.


Gráfico 2: Valores da Fc de exercício.


Gráfico 3: Valores da agilidade, medida em segundos

    Para capacidade de alcance vertical, os valores foram de 199,5 cm para a primeira avaliação do Núcleo Maria Adelaide e de 200 cm para a segunda avaliação. Com relação a primeira avaliação do CPP o valor é de 201 cm e de 199,8 cm para a Segunda avaliação. Estes valores estão representados no gráfico 4.

    O gráfico 5 representa a impulsão vertical, avaliada após a realização de um salto, onde constatamos que a altura atingida para ao núcleo Maria Adelaide foi de 232 cm para a primeira e de 235 cm para a Segunda avaliação. Para o núcleo CPP os valores foram de 227 e de 231 cm para a primeira e para a segunda avaliação, respectivamente.


Gráfico 4: Alcance vertical


Gráfico 5: comparação da impulsão vertical

    Para a impulsão real das 1ª e 2ª avaliações do Maria Adelaide e do CPP, observamos que a segunda avaliação de cada núcleo apresentou valores superiores quando comparados com as primeiras avaliações, estes valores estão representados no gráfico 6.


Gráfico 6: Impulsão real atingida, para as primeiras avaliações de ambos os grupos.

    A partir do gráfico 7, serão representadas as quatro avaliações realizadas no núcleo CPP.

    Com relação a FC de repouso para o grupo CPP observa-se que os melhores resultados foram atingidos na segunda avaliação (novembro de 2003), após o intervalo das férias (março de 2004) observamos, na terceira avaliação, os valores para a FC de 100 bpm. Estes resultados estão representados no gráfico 7.

    Com relação a FC em exercício foi observado que o menor índice apresentado foi para a avaliação de junho de 2004, onde observamos valores de 144,7 batimentos por minuto. Entretanto para a segunda avaliação de 2003 observamos valores de 146,7 batimentos por minutos, enfatizando a capacidade do exercício físico atuar sobre os valores de FC, mesmo em exercício. Estes valores representamos no gráfico 8.


Gráfico 7: FC de repouso para o grupo CPP


Gráfico 8: FC em exercício para o grupo CPP

    Para a capacidade de realização dos exercício no menor tempo possível (agilidade) observou-se que os melhores índices foram para a última avaliação de 2003, apresentando valor de 7.51". Para a primeira avaliação, no ano de 2004 os valores foram de 8,18", confirmando assim a eficácia do exercício físico na capacidade de agilidade destes indivíduos. Estes valores serão representados no gráfico 9.


Gráfico 9: Capacidade de agilidade dos avaliados

    No cálculo da impulsão real, observou-se que para a avaliação de junho de 2004 os alunos/atletas alcançaram valores para a mesma de 32,33 cm. Para a segunda avaliação de 2003 (novembro), os valores foram superiores aos valores da primeira avaliação (outubro) apresentando-se com 31,3 cm. Representamos estes valores no gráfico 10.


Gráfico 10: Capacidade de impulsão real dos indivíduos, calculado medindo-se a diferença entre o
alcance vertical e o ponto mais alto do toque após o salto.


Conclusões

    A prática de uma modalidade esportiva, para adolescentes, tende a ser a forma mais comum de atividade física. Sendo assim, ao avaliarmos adolescentes atletas verificamos a importância e relevância que o exercício tem no desenvolvimento da capacidade física do indivíduo.

    Observou-se que na grande maioria das avaliações os melhores resultados foram apresentados após longo período de treinamento, confirmando a eficácia do exercício para melhoria das capacidade físicas dos adolescentes, mesmo sendo atletas de iniciação esportiva, onde são agregados outros valores como o lúdico e a sociabilização à atividade esportiva.

    Em relação ao destreinamento, foi observado que a pausa nas atividades cotidianas, faz com que estes adolescentes percam um pouco de suas capacidades físicas, na maioria das vezes, entretanto, quando se retorna as atividades, as aquisições físicas conseguidas são mais facilmente recuperadas.

    Concluí-se então, neste trabalho que o planejamento das atividades físicas para adolescentes deve ser tratado de forma coerente, a seu cotidiano, sabendo que os melhores resultados, em sua maioria, vão ser apresentados após longo período de treinamento.


Referências bibliográficas

  • ARAÚJO, C. G. S. Fundamentos biológicos: medicina desportiva. Rio de Janeiro, Ao Livro Técnico, 1985.

  • ASTRAND, P. O. Crianças e adolescentes: desempenho, mensurações, educação. Revista Brasileira de Ciência e Movimento, v. 6, n. 2, p. 59-68, 1992.

  • BARBANTI, V. J. Dicionário de educação física e do esporte. São Paulo, Manole, 1994.

  • FARINATTI, P. T. V. Criança e atividade física. Rio de Janeiro, Sprint, 1995.

  • FLECK, Steven J. & KRAEMER, Willian J.; Fundamentos do Treinamento de Força Muscular. Editora Artmed, 1999.

  • GALLAHUE, D.L. Compreendendo o Desenvolvimento Motor. Bebês, Crianças, Adolescentes e Adultos. São Paulo: Phorte, 1ª Edição, 1989.

  • GUEDES, D. P. Crescimento, composição corporal, e desempenho motor em crianças e adolescentes do município de Londrina-Pr. São Paulo, 1994. 189p. Tese (Doutorado) - Escola de Educação Física, Universidade de São Paulo.

  • GUEDES, D. P.; GUEDES, J. E. R. P. Influência da prática da atividade física em crianças e adolescentes: uma abordagem morfológica e funcional. Revista da Associação dos Professores de Educação Física de Londrina, v. 10, n. 17, p. 325, 1995.

  • STANGANELLI, L. C. R. Mudanças no VO2máx e limiar anaeróbico em crianças pré-púberes ocorridas após treinamento de resistência aeróbia. Festur, v. 3, n. 2, p. 42-5, 1991.

  • WEINECK, J. Biologia do esporte. São Paulo, Manole, 1991.

  • ZATSIORSKY, V. M. Ciência e pratica do treinamento de força. São Paulo: Phorte, 1999.

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